Folha de S. Paulo
Menos fiéis e mais distantes
Quando o papa Francisco chegar amanhã ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, desembarcará em um país ainda majoritariamente católico –57% da população, segundo o Datafolha–, mas onde a presença do catolicismo diminuiu de forma acentuada com o avanço dos evangélicos nas últimas décadas. Francisco encontrará fiéis que pouco vão às missas, contribuem financeiramente com a igreja em proporção menor que os evangélicos e são bem mais tolerantes em relação a temas como o casamento gay e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, alvos da condenação do Vaticano. O papa chega ao país num momento histórico particular, marcado pela onda de protestos que começou a sacudir o país em junho e na semana passada voltou a assustar as autoridades envolvidas com a segurança do papa e os preparativos da Jornada. Os organizadores esperam receber mais de 5 milhões de fiéis do mundo inteiro. Se as expectativas dos líderes da Igreja Católica no país se confirmarem, a primeira viagem internacional de Francisco e os eventos da Jornada se transformarão em símbolos da nova direção que o papa quer imprimir à igreja para reagir à perda de fiéis.
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Católicos vão pouco à missa e contribuem menos com igreja
Em sua primeira viagem internacional como pontífice, o papa Francisco encontrará um Brasil em que a presença católica continua em declínio, com fiéis relativamente distantes da Igreja nas missas, no dízimo e na convicção sobre assuntos polêmicos, como casamento gay e adoção por casais do mesmo sexo. As conclusões vêm de pesquisa do Datafolha realizada nos dias 6 e 7 de junho, com 3.758 entrevistados em 180 municípios do país. A margem de erro dos resultados é de dois pontos percentuais.
Segundo o levantamento, 57% dos brasileiros com mais de 16 anos se declaram católicos, patamar mais baixo da história do país. Em 2007, pesquisa semelhante feita pelo Datafolha apontou 64%. Em 1994, eles eram 75%. O segundo maior bloco religioso do Brasil é o de evangélicos pentecostais (membros de igrejas como a Assembleia de Deus), com 19%. Em seguida estão os evangélicos não pentecostais (de igrejas protestantes com séculos de existência, como os metodistas e os batistas), com 9%.
Papa enfrenta no Rio temor de protestos e crítica a gastos
“Papa, veja como somos tratados.”A frase, de uma das várias convocações nas redes sociais para manifestações durante a visita de Francisco, sintetiza o clima que o pontífice encontrará ao desembarcar amanhã no Rio para a Jornada Mundial da Juventude. Estima-se que ele será visto por uma multidão que pode chegar a 2 milhões de pessoas na praia de Copacabana e mais 1,2 milhão de peregrinos no Campus Fidei, área do tamanho de 151 campos de futebol na zona oeste do Rio.
A estreia de Francisco, primeiro papa latino-americano, em viagens internacionais vai acontecer em um ambiente bem diferente do que vivia o Brasil -e o Rio, em particular- quando a cidade foi anunciada por Bento 16 como a sede da Jornada, há dois anos, em Madri. Os protestos que há quase dois meses acontecem no país têm grande força no Rio, personificados na figura de Sérgio Cabral, um governador assolado por reclamações contra sua gestão e contra a atuação de sua polícia na repressão aos manifestantes.
Fisco vê má-fé em planejamento tributário
A Receita Federal montou uma operação de guerra contra grandes empresas que, amparadas pela legislação tributária, encontram formas de reduzir o imposto. Juntas, essas companhias descontaram cerca de R$ 110 bilhões da base de cálculo de seu imposto, fazendo acender um sinal de alerta. O fisco então passou a enquadrar essas operações como “planejamento tributário abusivo”. “Elas romperam o limiar do possível”, diz Iágaro Jung Martins, coordenador da fiscalização da Receita.
A controvérsia levou centenas de corporações ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), no qual está sendo travada uma discussão que pode significar um rombo para o leão ou o fim de muitas empresas. Algumas dessas companhias podem ter de arcar com grandes multas (a média é de R$ 500 milhões por empresa), mas há casos, como o do Santander, em que a autuação chegou a R$ 6 bilhões.
Mesmo com salário melhor, periferia de SP perde médico
Na tarde da última sexta, a dona de casa Diana Alves dos Santos, 21, deixava uma unidade de saúde na zona leste de São Paulo levando nos braços o filho Kauã, três meses, enrolado em um cobertor. Desolada e sem dinheiro, planejava caminhar sob garoa fina e vento forte pelos 2,4 km que separam a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Castro Alves, onde estava, do hospital Cidade Tiradentes. Kauã acordou com bolinhas no corpo, tosse e “amuado”. Na AMA Castro Alves não havia pediatras. Os pais que ali chegavam eram orientados a procurar o hospital, onde a espera era de até 2h30 na tarde da mesma sexta.
No prédio da AMA, também funciona uma UBS (Unidade Básica de Saúde), onde é possível marcar as consultas de rotina. Mas quem quisesse ser atendido pelo único ginecologista dali teria que esperar, pelo menos, até outubro. “Quem não tem dinheiro para passar no médico está lascado”, desabafava a aposentada Anita dos Santos, 70, que também usa o sistema público de saúde na região. “Parece que as coisas pioraram nos últimos anos”. A impressão da piora da aposentada tem sustentação. Levantamento da Folha feito com base em dados da prefeitura mostra que algumas áreas periféricas perderam médicos nos últimos quatro anos –ainda que a média de médicos em AMAs e UBSs na cidade tenha aumentado 18% no período.
Em carta ao PT, Dilma faz novo apelo por plebiscito
Em carta de quatro páginas encaminhada ontem ao PT, a presidente Dilma Rousseff defendeu a realização de plebiscito para a reforma política e disse que, ao lado do ex-presidente Lula, está ouvindo a “voz das ruas” para dar respostas à sociedade brasileira. Dilma enviou o texto para explicar por que não foi à reunião do diretório nacional da sigla, em Brasília, em que seria convidada de honra.
A ausência incomodou petistas, em especial o ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão e membro da direção do partido. Ele criticou a decisão da presidente em reunião da corrente majoritária da legenda anteontem. “Eles [brasileiros] querem um novo sistema político, mais transparente, mais oxigenado e mais aberto à participação popular que só a reforma política balizada pela opinião das ruas, por meio de um plebiscito, poderia criar”, afirmou Dilma na carta. A presidente justificou a ausência ao dizer que, com a vinda do papa Francisco ao Brasil, precisava atender a demanda de organização e segurança do evento, que envolve “todo o governo”.
PF vê fraude em contrato do governo Campos
A Polícia Federal pediu ao Ministério Público de Pernambuco a abertura de investigação sobre contratos da empresa Ideia Digital com a gestão do governador Eduardo Campos (PSB), cotado para disputar o Planalto em 2014. A empresa assinou contratos de R$ 77,5 milhões para informatizar escolas–já foram pagos R$ 51,2 milhões. Para a PF, um dos contratos tem indícios de superfaturamento. A Ideia Digital é suspeita de financiar ilegalmente campanhas do PSB e do PSD. A investigação da PF aponta que verbas de convênio do Ministério da Ciência e Tecnologia com a Prefeitura de João Pessoa foram desviadas para financiar campanha do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), em 2010. O dinheiro teria sido desviado em contrato com a Ideia Digital, vencedora de licitação para implantar um projeto de internet grátis em João Pessoa. Na época, Coutinho era prefeito de João Pessoa. Em dois contratos em 2011, o governo de Pernambuco usou os critérios presentes no caso da Paraíba. Outro contrato foi assinado em 2012.
Skaf empata com famosos em anúncios
Graças ao bordão “Dança, gatinho” e a um quadro de namoro na TV em que se fantasia para imitar cantores famosos, o apresentador Rodrigo Faro, da Record, tornou-se um requisitado garoto-propaganda nos últimos tempos. De janeiro a junho deste ano, ele apareceu 1.090 vezes nos intervalos comerciais de TV em São Paulo, como porta-voz de sete marcas. Mas Faro não foi páreo para Paulo Skaf, o empresário que quer ser o candidato do PMDB ao governo do Estado em 2014.
Levantamento feito a pedido da Folha pelo Controle da Concorrência, que monitora inserções do mercado publicitário, mostra que Skaf teve 1.151 aparições em comerciais veiculados pelas entidades que ele preside, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e as regionais do Sesi e do Senai. Se fosse uma celebridade, ele estaria em 23º lugar no ranking dos famosos mais presentes em anúncios, com apenas dez inserções a menos que o global Luciano Huck e 61 a mais que Faro. As aparições como porta-voz da Fiesp, do Senai e do Sesi garantiram a Skaf um espaço que seu partido, que visa torná-lo mais conhecido para as eleições de 2014, jamais teria como oferecer com os recursos assegurados pela atual legislação eleitoral.
Barbosa cria empresa para comprar imóvel em Miami
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, comprou um apartamento em Miami (EUA), no ano passado, usando uma empresa que abriu para obter benefícios fiscais no futuro. O valor do imóvel é estimado no mercado entre R$ 546 mil e R$ 1 milhão. O ministro, que pagou o apartamento à vista em maio de 2012, não quis informar seu valor real. Ao criar uma empresa para realizar a transação, Barbosa diminuiu o custo dos impostos que eventualmente seus herdeiros terão que recolher nos EUA para efetuar a transferência do imóvel depois da morte do ministro.
De acordo com a legislação em vigor, o Estado da Flórida poderia ficar com até 48% do valor do imóvel na hora da transferência para os herdeiros se ele fosse registrado em nome do presidente do STF. Como o apartamento foi adquirido por uma pessoa jurídica, não haveria cobrança de imposto. As ações da empresa poderiam ser transferidas aos herdeiros sem tocar na propriedade do imóvel. Dois corretores de imóveis em Miami e dois advogados brasileiros disseram à Folha que o procedimento é perfeitamente legal e costuma ser adotado por outros brasileiros que investem em Miami.
O Estado de S. Paulo
Tombini diz que falta de confiança abala economia
O presidente do Banco Centrai (BC), Alexandre Tombini, afirma que está em campanha para recuperar a confiança das pessoas na economia. Para ele, o processo de retomada do crescimento foi prejudicado por um abalo de confiança que trava os investimentos. “É necessária uma reversão dessa confiança para a economia continuar no processo de recuperação gradual”, diz o presidente do BC. Questionado sobre se o governo vai cumprir a promessa de fazer um ajuste nas contas públicas, Tombini afirma que essa decisão não passa por ele. Mas entende que o governo não pode deixar dúvidas sobre suas intenções e assumir um compromisso. “O importante é que o governo defina. E, quando definir, forneça um detalhamento à sociedade sobre como isso será alcançado.”
Ministro do TCU muda certidão e fica 2 anos mais novo
Raimundo Carreiro, que foi secretário-geral do Senado, apresentou registro de 1946 para conseguir o salário integral de aposentado pela Casa; mas, após chegar ao tribunal, foi à Justiça provar que nasceu em 1948, evitando a saída compulsória em 2016 Nomeado há seis anos para o Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro Raimundo Carreiro envelheceu, sem truque de beleza ou matemática, só quatro de lá para cá. Depois de assumir o cargo, conseguiu na Justiça mudar sua data de nascimento de setembro de 1946 para setembro de 1948 e, assim, esticar em dois anos a permanência na corte, tida como o “céu” de políticos e servidores públicos em fim de carreira. A manobra adia a aposentadoria do ministro, obrigatória aos 70 de idade, e lhe assegura a posse na presidência do tribunal no biênio 2017-2018, escanteando colegas de plenário.
O comando do TCU é definido anualmente numa eleição pró-forma, que ratifica acordo de cavalheiros previamente costurado. O presidente exerce mandato de um ano, renovado sempre por mais um. Pela tradição, o escolhido é sempre o ministro mais antigo de casa que ainda não exerceu a função. O próximo da fila é Aroldo Cedraz, que tomou posse em janeiro de 2007, dois meses antes de Carreiro, e sucederá a Augusto Nardes no período 2015-2016. Em seguida, será a vez de Carreiro, que, com nova certidão de nascimento, tirou a cadeira de José Múcio Monteiro. “Pode ser consequência (assumir a presidência), mas não que o objetivo seja esse”, diz Carreiro. A decisão que o “rejuvenesceu” foi obtida na Comarca de São Raimundo das Mangabeiras, município do interior do Maranhão em que cresceu, foi vereador e se tornou influente. Para remoçar dois anos, Carreiro mostrou à Justiça certidão de batismo da Igreja de São Domingos do Azeitão, lugarejo vizinho a Benedito Leite, onde veio ao mundo. Preenchido à mão e de difícil leitura, o documento registra o nascimento de “Raimundo”, filho de Salustiano e Maria, em 6 de setembro de 1948, e não nos mesmos dia e mês de 1946, como no registro civil original do cartório.
Papa fará 16 trajetos em carro aberto
O papa Francisco exigiu e vai subir no papamóvel aberto e percorrer trajetos sem a proteção de vidros blindados em 16 ocasiões em apenas uma semana no Brasil Pelos planos, o.pontífice ficará mais de três horas exposto à multidão, caso não haja chuva nem manifestações que obriguem mudanças da agenda. As informações foram divulgadas pelo Vaticano, em seu programa oficial em Roma. A decisão de manter o contato direto com o povo foi do papa, que insiste que chegou o momento de a Igreja “sair” para as ruas. Em maio, o Vaticano chegou a divulgar que o veículo seria blindado, mas, ao saber, Francisco ordenou a mudança. Será a primeira vez que um papa circulará fora de Roma no jipe aberto em mais de 30 anos.
Ontem, organizadores da viagem do papa no Vaticano se mostraram surpresos com as informações divulgadas anteontem no Rio pelas autoridades de que a chegada do pontífice havia sofrido mudanças e que, por exigência do papa, o carro fechado seria trocado por um aberto. O Vaticano negou que tenha havido mudanças e, para provar, mostrou que em seu guia – pronto há uma semana – o trajeto em carro aberto sempre esteve previsto.
Procurados pela reportagem, os responsáveis no Rio pela organização do trânsito e da segurança durante a Jornada insistiram que houve, sim, alteração. Segundo eles, o passeio do papa pelo centro em carro aberto não estava previsto na agenda oficial do Vaticano enviada às autoridades brasileiras. A agenda oficial no site do Vaticano não menciona nenhum roteiro de papamóvel. As informações sobre esses trajetos sempre foram, extraoficiais.
Em carta ao PT, Dilma diz que sabe ouvir
Na tentativa de conter o mal-estar provocado por sua desistência de comparecer à reunião do Diretório Nacional do PT, a presidente Dilma Rousseff enviou ontem uma carta de quatro folhas ao partido, na qual defende o plebiscito para a reforma política, diz ter ouvido a “voz das ruas” e pede ajuda para mudar o sistema eleitoral. Dilmafezelogios ao PT ejustificou a ausência alegando que “infelizmente” não pôde estar presente porque precisou convocar uma reunião com ministros para discutir a segurança da visita do papa Francisco ao Brasil, na próxima semana. A mensagem foi um gesto para aplacar a fúria de militantes pe-tistas, que, no dia anterior, escancararam as queixas contra o afastamento do governo. Ao lembrar que já se reuniu com governadores,prefeitos e movimentos sociais, apresidente afagou o partido ao se referir à “aguerrida” bancada do PT.
“Desde o início eu ouvi. Nós ouvimos. Ouvimos as ruas porque nós viemos das ruas. Nos formamos no cotidiano das grandeslutas do Brasil.Arua é o nosso chão,anossabase”, escreveu Dilma. “Mas não basta ouvir, é necessário fazer. Transfor-maressa extraordináriaenergia em realizações para todos.” O parágrafo foi feito sob medida para rebater as críticas do PT e de outros aliados de que Dilma não ouve ninguém. Nenhuma resolução foi aprovada ontem porque houve divergências sobre o peso que os protestos de junho deveriam ter no texto. A polêmica foi empurrada para a Executiva Nacional.
Alvejado, Vaccarezza fica em posto
A cúpula do PT decidiu manter o deputado Cândido Vaccarez-za (SP) na coordenação do grupo de trabalho dareformapolíti-cada Câmara, masele ficará enfraquecido no posto, depois de ter sido alvo de um tiroteio por parte dos colegas de bancada. Nareunião de ontem do Diretório Nacional do PT, muitos criticaram Vaccarezza, que não estavapresente, por suas declarações de que nenhuma mudança no sistema político valerá para 2014, mesmo se houver um plebiscito. “Foi chumbo grosso”, resumiu o secretário-geral do PT, Paulo Teixeira.
A proposta que previa o afastamento de Vaccarezza, apresentada pela corrente Mensagem ao Partido, foi rejeitada por 43 votos contra 27. “Para o PT, Vaccarezza está na comissão porindicação do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, do PMDB”, afirmou o líder do PT no Senado, Welling-ton Dias. “Quem defende as posições do PT nesse grupo é o deputado Ricardo Berzoini.” Vaccarezza não compareceu à reunião. Em nota, ele disse que não se pode transformar a discussão em uma “arena”. “Reafirmo omeu compromisso pessoal com a aprovação do plebiscito na Câmara”, escreveu.
Esquerda do PT dá guarida a réus do mensalão
Condenados no processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal e sob risco de serem presos neste ano, José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha foram excluídos da chapa de candidatos ao Diretório Nacional formada pela corrente majoritária do Pt, a Construindo um Novo Brasil (CNB). O gesto provocou protesto de alas mais à esquerda e de “centro” no PT.
O candidato à presidência do PT Markus Sokol convidou os três para compor sua chapa. “Não é justo o que a CNB fez com eles. Se a Executiva do PT considerou o julgamento do mensalão uma farsa, como ago-raos exclui dachapade candidatos?”, perguntou Sokol, que integra a corrente de extrema-esquerda O Trabalho. Romênio Pereira, do grupo Movimento PT, também se solidarizou com os réus do mensalão e convidará Genoino para integrar a chapa apresentada pela tendência. Em artigo publicado no site Brasil 247, o militante doPT Breno Altman, amigo de Dirceu, disse que a exclusão do ex-ministro e dos deputados Genoino e João Paulo da chapa que apoia a reeleição do presidente do PT, Rui Falcão, é “aviltante” e representa uma “bomba de efeito imoral”.
Médicos espanhóis apostam no Brasil
Os seis anos que Ángela Álvarez Sellan, de 30, estudou Medicina foram apenas o começo de sua luta por estabilidade profissional. Após deixar a Universidade de Olviedo, a médica espanhola apostou suas fichas para ingressar no mercado de trabalho em um centro de saúde de Madri, que lhe oferecia contratos temporários precários, renovados a cada três meses. Agora, Ángela tem uma nova alternativa: migrar para o Brasil. Espalhados pelo país, centenas de médicos espanhóis têm demonstrado à embaixada e aos consulados brasileiros disposição de fugir da crise econômica e migrar para o outro lado do Atlântico, ganhando experiência e um salário que consideram bom – R$ 10 mil, ou € 3,3
mil, superior à média espanhola. Mas muitos ainda hesitam diante da falta de informação do Ministério da Saúde sobre onde viverão e quais recursos disporão para o atendimento.
As incertezas foram reveladas ao Estado por Ángela e outros médicos na primeira semana de inscrições para o Mais Médicos. Dados divulgados na quinta-feira, em Brasília, indicam que 11,7 mil pessoas se candidataram. Ángela espera se juntará lista dos 915 profissionais estrangeiros que se inscreveram no site do Ministério da Saúde para preencher as 10 mil vagas abertas no Brasil Como muitos profissionais da saúde na Espanha, ela vê no Mais Médicos uma chance de fugir da instabilidade e das crises econômica e social.
No páreo, Marina agora busca estrutura
Marina Silva foi o nome de destaque nas últimas pesquisas eleitorais. Beneficiada pela perda de popularidade de Dilma Rousseff, a ex-ministra do Meio Ambiente disputaria o 2.° turno com a presidente e teria chances de vitória. Apesar dos índices favoráveis, Marina, se conseguir de fato criar a Rede Sus-tentabilidade, não conseguirá montar palanques pelo País. O projeto político esbarra na dificuldade de encontrar aliados para o seu programa “sonhático”.
Uma candidatura independente e sem palanque é uma aposta colocada em xeque por cientistas políticos. De concreto até agora, apenas três deputados anunciaram filiação àlegen-da: Walter Feldman (SP), Domingos Dutra (MA) eAlfredo Sirkis (RJ). A expectativa é de que esse número aumente após aRe-de conseguir o registro na Justiça Eleitoral. O futuro partido já trabalha com a possibilidade de formação de palanques em pouquíssimos Estados. “No momento em que você tem um partido que vai disputar um espaço no âmbito institucional, é e vidente anecessidade de lançar candidaturas. Mas nós sabemos que é muito provável que haja Estados onde não se tenha um palanque regional específico para a candidatura nacional”, avalia Feldman.
Temer considera ‘razoável’ a redução de ministérios
Em entrevista paraojornal Zero Hora, o vice-presidente Michel Temer fez coro ao seu partido, o PMDB, e disse considerar razoável a redução dos atuais 39 ministérios no governo Dilma Rousseff. A declaração reforçou o clima de confronto explícito entre o partido e a presidente. “É razoável reduzir o número de ministérios, mas essa é uma decisão dapresidente”, disse Temer, ressaltando que a diminuição de ministros não implica na redução de gastos. “Se vocêlevar aestrutura de um ministério extinto para outro não vai conseguir reduzir nada”, completou. Segundo ele, o PMDB não teria problemas em perder cargos no governo.
Líder do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (RJ) tenta emplacar um projeto de emenda constitucional (PEC) que reduz de 39 para 25 o número de ministérios. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) também defende publicamente a ideia.
Cabral aposta na área social contra crise
Acossado por manifestações em sua residência, no Leblon, e no Palácio Guanabara, sede do Executivo, em Laranjeiras, o governador Sérgio Cabral tentaromper o acuamento político e até físico apostando no apoio da população mais pobre do Estado. O plano é manter em pé o projeto de eleger seuvice, o também peeme-debistaLuiz Fernando Pezão, como seu sucessor em 2014. Cabral tem usadoboaparte de suaagendaparaanunciarprogra-mas sociais em cidades do interior do Estado ao lado de Pezão.
Diferentemente de outros mandatários, Cabral não conse-guiuretomar arotinaapós o auge do movimento emjunho. Mudou a agenda, restringiu contatos com a imprensa e até anunciou que não usaria mais helicóptero para ir trabalhar. Não adiantou.Nasemanapas-sada, pela sexta vez, um ato pediu o seu impeachment, na rua Aristides Espínola, onde reside. A demonstração degenerou em depredação nazona sul carioca. Tentando romper a impressão de acuamento, o governador, na semana passada, primeiro tentou responsabilizar adversários – os alvos são o ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).
O Globo
Jornada Mundial da Juventude: Entre bênçãos e protestos
De prontidão. Base do Exército montada próxima ao Campus Fidei, em Guaratiba. Número de militares acionados para proteger um só homem é o maior que a cidade já viu. Na Rio-92, foram 35 mil militares para 192 chefes de Estado. As manifestações e protestos violentos dos últimos dias na cidade levaram a Polícia Federal a dobrar o número de policiais que irão cuidar da segurança pessoal do Papa Francisco no Rio. No planejamento inicial, divulgado há dois anos, eram 750 policiais. Agora, serão 1.500 homens. O aumento ocorreu principalmente na vigilância aproximada: serão 240 policiais diariamente, 40 deles destacados para agirem como sombra do Papa. Os 200 restantes estarão espalhados num raio de até 500 metros, muitos em trajes civis e infiltrados entre os fiéis. O grupo está autorizado a revistar e até deter qualquer pessoa considerada suspeita.
O esquema de segurança dos policiais federais que terão a missão de acompanhar passo a passo os deslocamentos do Papa Francisco no Rio foi fechado na última sexta-feira. E levou em consideração também todas as mudanças na agenda do pontífice, que ficará mais exposto, desfilando pelo Centro do Rio em um papamóvel aberto, sem blindagem. Também foram levados em conta no planejamento os protestos marcados para acontecer durante a Jornada Mundial da Juventude. Seriam quatro.
Projetos sob suspeita
No momento em que as concessões de grandes obras de infraestrutura se tornam a principal arma do governo para puxar o crescimento, uma nova gigante se consolida no setor de elaboração de projetos: a Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), formada pelos principais bancos do país, incluindo o BNDES, e que, por isso, precisou de autorização do Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) para funcionar. Com apenas 17 funcionários, a empresa é responsável por fazer o desenho de todos os 162 terminais de portos que serão licitados, de aeroportos e seis mil quilômetros de rodovias. Tantos contratos provocaram reações e suspeitas de favorecimento à empresa por parte do governo federal, o que resultou em dois processos no Tribunal de Contas da União (TCU) e mais dois no Ministério Público Federal. Em um deles, uma concorrente questiona o motivo de a EBP ter vencido uma concorrência no Galeão, mesmo cobrando R$ 4 milhões a mais em sua proposta.
A estreita proximidade da empresa com o aparato estatal levou o deputado Augusto Coutinho (DEM-PE) a fazer uma denúncia aos órgãos de controle. Ele alega que houve um claro direcionamento na condução dos projetos dos portos. Não foi feita licitação para escolher o responsável pelo redesenho dos terminais depois da nova lei aprovada pelo Congresso Nacional.
Violência aumenta onde renda cresce
Entre 2001 e 2011, período em que estados das regiões Norte e Nordeste registraram aumento na renda per capita acima da média nacional, um efeito indesejado ocorreu: o crescimento das mortes violentas. Para especialistas, a causa dessa aparente contradição é que as mudanças sociais e econômicas não foram acompanhadas por estruturas de segurança pública de melhor qualidade. O contraste entre o bom momento econômico e a piora nos indicadores de segurança pode ser constatado num cruzamento de indicadores de renda per capita e taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes feito pelo GLOBO nos microdados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) e nos registros do DataSus.
No grupo de dez estados que mais registraram aumento na taxa de mortes violentas, nove são do Norte e do Nordeste, e oito tiveram crescimento da renda per capita acima da média nacional (22%). No período analisado, só seis unidades da federação viram suas taxas de violência diminuir: Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Amapá, Roraima e Rondônia. Desse grupo, apenas os dois últimos tiveram crescimento da renda acima da média nacional. Os dados utilizados pelo GLOBO contemplam todos os tipos de óbitos registrados no SUS por causas não naturais. Incluem homicídios, vítimas de trânsito, suicídios e acidentes. Os homicídios, no entanto, são o fator que mais explica o crescimento da violência, de acordo com especialistas, seguido de acidentes de trânsito.
No Sudeste, Minas destoa e vê índice de violência subir
Na contramão dos outros estados da Região Sudeste, Minas Gerais viu aumentar seu índice de mortes violentas, segundo o DataSus, entre 2001 e 2011: de 49 para 73 por 100 mil habitantes (crescimento de 48%). No caso mineiro, houve aumento tanto entre mortes no trânsito quanto assassinatos. Em 2011, 33% das mortes violentas foram por acidentes de transporte e 30% por homicídios no estado. Os casos de assassinatos também crescem, inclusive no interior. Na última quinta-feira, um dermatologista foi baleado durante troca de tiros entre policiais e bandidos que explodiram um caixa eletrônico em Uberlândia. Marcus Vinícius Buissa estava de plantão e, ao ouvir o estrondo da explosão, saiu da clínica para ver o que ocorria e foi a atingido no peito. Um PM foi preso suspeito de ser o autor do disparo.
Governo diz que estado ainda tem uma das taxas mais baixas de assassinatos
A Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais, em nota, contestou os resultados obtidos com o cruzamento de dados do DataSus e da Pnad, elaborados pelo GLOBO, e apresentou leitura distinta. “Minas continua com a 22ª posição do ranking nacional de mortes por homicídios, na avaliação do período 2001/2011, delimitado pela pesquisa. Ou seja, manteve, nos últimos dez anos, a 6ª melhor taxa de homicídios do país. Quando a avaliação dos homicídios ocorre entre os jovens de 12 a 24 anos, o estado possui a 11ª melhor taxa, entre os 27 estados da federação”, diz a nota do governo, citando dados do Mapa da Violência, divulgado na semana passada. O secretário de Defesa Social, Rômulo Ferraz, alegou dificuldades na agenda para não dar entrevista ao GLOBO.
Mortes de motoclicistas crescem 367% em dez anos
Cada vez mais motociclistas morrem em acidentes de trânsito no Brasil. Os dados do Ministério da Saúde revelam que, entre 2001 e 2011, o número de condutores de motos que morreram em acidentes aumentou 367%, passando de 3.130 a 11.485. A quantidade de motos nas ruas também cresceu, mas não tanto quanto a de óbitos. De 2001 a 2011, a frota de motocicletas no Brasil mais que triplicou, passando de 4 milhões para 15,6 milhões de veículos, um aumento de 287%. Em 2001, 13% do total da frota brasileira eram de motos. Dez anos depois, eram 22%, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
Clínicas prometem tratamento de ‘cura gay’
O jovem F.G., de 21 anos, dormia quando três enfermeiros entraram em seu quarto e o imobilizaram. A pedido de sua mãe, o então jogador de futebol foi levado sedado de Belo Horizonte para o interior de São Paulo, onde foi internado de maneira involuntária em uma clínica de reabilitação para viciados em drogas. O atleta, que nega ser dependente químico, acusou a mãe de tê-lo internado apenas pelo fato de ser homossexual. O namorado do jovem foi impedido pela família de vê-lo no tempo em que permaneceu no local. Ele ficou na clínica por mais de dois meses, nos quais chegou a permanecer por algum tempo em uma espécie de “solitária”.
O caso, que desde 2009 tramita em segredo judicial e foi levado ao Ministério Público, não é a única denúncia feita por violação de direitos humanos a homossexuais contra clínicas de reabilitação ou comunidades terapêuticas. Um relatório produzido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), com a colaboração da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), revela indícios de que instituições que oferecem tratamento a dependentes químicos no país tratam com preconceito gays e lésbicas e, algumas delas, inclusive submetem os internos a processos de conversão da sexualidade.
Projeto poderá ser retomado após recesso
A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, de indeferir a tramitação do Projeto de Decreto Legislativo 234/2011 não foi suficiente para solapar de vez a proposta apelidada de “cura gay”. O deputado federal Anderson Ferreira (PR-PE), que reapresentou o texto que modifica norma que proíbe psicólogos de tratarem a homossexualidade como doença, tem discutido com a Frente Parlamentar Evangélica a possibilidade de ingressar com recurso para que o projeto seja deliberado em plenário ainda neste ano. A decisão, segundo ele, deve ser tomada após o recesso parlamentar, que termina em agosto, quando a bancada evangélica deve se reunir para posição definitiva. Caso não ingresse com recurso neste ano, há a possibilidade de reapresentar a proposta em 2014.
Organizações negam que convertam homossexuais
Procuradas pelo GLOBO, clínicas de reabilitação e comunidades terapêuticas, citadas no relatório do Conselho Federal de Psicologia, negaram que oferecem tratamento de conversão da sexualidade a internos homossexuais. Em nota, o presidente da Fazenda Esperança, em Sergipe, Maurício Bovo, argumentou que sempre cumpriu com o determinado na legislação e afirmou que “não há nenhum tipo de segregação e preconceito com o homossexual que procura a entidade, o qual é bem acolhido como todas as pessoas”. “A proposta de mudança de vida não que dizer que a pessoa tenha que deixar de ser homossexual. Ela é livre em sua escolha”, afirmou.
A presidente da Associação Beneficente Metamorfose, em Goiás, Sônia Maria Borges, negou que a clínica ofereça conversão a homossexuais e alega que a mensagem da entidade de recuperação a dependentes químicos foi mal interpretada pelo Conselho Federal de Psicologia. – Nós colocamos a palavra de Jesus: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres “. Para nós, a conotação é essa. Na minha clínica, a palavra “livre” se refere a livre das drogas, da depressão, do que eles querem ser livres. Eu não disse do homossexualismo, eu disse do que eles quiserem ser livres. Se é do homossexualismo, que seja do homossexualismo. A gente prega a liberdade de ser feliz – disse.
Festa de associação reúne parlamentares
Para comemorar 25 anos, a Aneor promoveu um jantar que reuniu deputados, senadores e ex-ministros dos Transportes. O evento, no dia 5 de junho, aconteceu num tradicional espaço de festa em Brasília, e serviu para o presidente da entidade, José Alberto Pereira Ribeiro, criticar o “excesso de atribuições” do TCU. O deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) esteve na festa. Em 2010, ele recebeu para a campanha R$ 120 mil de uma das empreiteiras que integram o conselho consultivo da Aneor. Jardim diz desconhecer o projeto que cria o Conselho de Controle Externo: – Não me pediram para apresentar a PEC.
Ex-ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos também foi ao jantar. Indicado pela presidente Dilma para o cargo de diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ele está em quarentena remunerada: – Comigo nada foi tratado. Achei que deveria prestigiar o setor, é natural, mas fiquei num canto, mais reservado. Os deputados Sandro Mabel (PMDB-GO) e André Zacharow (PMDB-PR) registraram em suas agendas o comparecimento à festa, mas dizem não ter ido ao evento. Já o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE) discursou sobre os 25 anos da Aneor, no plenário da Câmara, mas nega ter participado do jantar.
O presidente em exercício do TCU, ministro Aroldo Cedraz, critica mudanças que “impliquem menor rigidez no controle dos gastos públicos”. Em resposta ao GLOBO por e-mail, o ministro diz ser irreal a interpretação de que o tribunal dificulta o andamento de obras públicas. Apenas 0,6% dos contratos de obras rodoviárias receberam determinação de restrição pelo TCU. “Muitas das paralisações decorrem de falhas no planejamento ou falta de projetos.”
Aliados cobram solução para a articulação política
A ascensão do ministro Aloizio Mercadante (Educação) a principal articulador político do governo Dilma Rousseff, em vez de melhorar a relação com o Congresso, está causando um curto-circuito. Como o ministério responsável por essa tarefa continua ocupado pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), parlamentares reclamam que não sabem a quem procurar. A base aliada cobra uma solução. Além disso, a avaliação no Congresso é que Mercadante reforçaria o que Dilma teria de mais problemático: a falta de jogo de cintura para fazer política.
Principal conselheiro de Dilma no governo, Mercadante não teve sucesso nos assuntos em que foi protagonista ultimamente. A votação do projeto que destina dinheiro do petróleo para educação ficou para agosto, diante do risco de a Câmara desfigurar a proposta. Petistas reclamam ainda que uma bandeira do partido, a Assembleia Constituinte exclusiva para fazer a reforma política, foi enterrada pelo atropelo na forma como foi proposta, sem entendimento com o PMDB.
Ministro diz que dialogar com políticos é papel de todos
No governo, o crescimento de Mercadante é atribuído ao fato de o petista não ter medo da presidente, o que é raro, e à sua capacidade de argumentação. Ele teria conquistado assim a confiança de Dilma. O ministro da Educação foi acumulando funções e desidratando principalmente a ministra das Relações Institucionais. Mercadante rechaçou, por meio de sua assessoria de imprensa, que exerça o papel de articulador político do governo, garantindo que só trata da tramitação de matérias no Congresso que têm relação com sua pasta.
O ministro reconheceu, no entanto, que houve uma “exceção” devido à situação atípica de junho, quando o país foi paralisado por manifestações de rua. Mercadante participou diretamente da elaboração dos cinco pactos anunciados pela presidente, incluindo a proposta de Assembleia Constituinte – depois transformada em plebiscito, que também não vingou. O ministro da Educação afirmou que só faz a macropolítica, e que as miudezas continuam a cargo de Ideli. Mercadante disse ainda, por meio de sua assessoria de imprensa, que toda vez que recebeu demandas que não diziam respeito à sua pasta, indicou o Ministério de Relações Institucionais como o local apropriado. Ele reconhece que dialoga com os partidos e justifica que ajudar na articulação política é tarefa de todos os ministros.
Rachado, PT desautoriza petista Vaccarezza, que PMDB defende
O racha dentro do PT sobre quem representa o partido nas discussões sobre reforma política e plebiscito no Congresso tomou conta ontem da reunião do Diretório Nacional. Após um debate tenso, o PT resolveu encampar a posição do líder petista na Câmara, José Guimarães (CE), que, na véspera, divulgou nota dizendo que o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) não representa a bancada de 89 deputados e nem o partido na comissão especial que discute a reforma política.
Para o PT, quem representa o partido é o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). Para mostrar afinidade com a presidente Dilma Rousseff – que não foi ao encontro, mas mandou uma carta se explicando -, o PT manteve o discurso de que é possível fazer o plebiscito este ano e aplicar a reforma em 2014. Na prática, o PT reconheceu que Vaccarezza é o presidente da comissão – até porque foi escolhido pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) -, mas deixou claro que ele não representa o partido. Mas o Diretório Nacional rejeitou, por 43 a 27 votos, moção proposta por Joaquim Soriano, que queria afastar Vaccarezza da comissão. A aprovação da nota de Guimarães como posição do PT foi a saída menos traumática para o caso. Alguns defenderam que fosse aprovada uma moção contra Vaccarezza, criticado porque expressou o pensamento político predominante de que a reforma política só terá efeitos em 2018.
Dilma renova apelo por plebiscito e diz que sabe ouvir
Em carta de quatro páginas dirigida ao PT para justificar sua ausência no encontro da cúpula do partido, ontem, a presidente Dilma Rousseff fez um novo apelo pela realização de um plebiscito sobre reforma política. Ela disse ao partido que “está junto” com o ex-presidente Lula e que sabe ouvir a voz das ruas. “Desde o início, eu ouvi. Nós ouvimos. Ouvimos as ruas porque nós viemos das ruas. Nos formamos no cotidiano das grandes lutas do Brasil. A rua é o nosso chão, a nossa base. Mas não basta ouvir, é necessário fazer. Transformar esta extraordinária energia em realizações para todos”, escreveu ela.
Dilma destacou que as ruas pediram novo sistema político, “mais transparente, oxigenado e mais aberto à participação popular, que só a reforma política balizada pela opinião das ruas, por meio de um plebiscito, poderia criar”. Foi justamente a questão da viabilidade de um plebiscito para a reforma política em 2014 que gerou o racha no PT. Para Cândido Vaccarezza (PT-SP), a reforma só terá efeitos em 2018. Na carta, Dilma explicou aos petistas que faltou ao encontro porque se reuniu ontem com quatro ministros, no Palácio da Alvorada, para tratar da visita do Papa Francisco ao Rio. Participaram da reunião os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo; das Relações Exteriores, Antonio Patriota; da Defesa, Celso Amorim; e da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
Bancada da Saúde já se prepara para duas batalhas no 2º semestre
Formada por mais de cem deputados, a bancada da Saúde se articula para duas importantes batalhas na volta do recesso parlamentar. A primeira, em meados de agosto, para derrubar vetos da presidente Dilma Rousseff ao projeto do Ato Médico. Será o primeiro teste para medir a força da bancada, já armada para outra guerra: a votação da medida provisória do programa Mais Médicos, neste segundo semestre, que trata da vinda de médicos estrangeiros ao país e do estágio de dois anos dos estudantes de Medicina no SUS.
Os deputados já estão se articulando, com intensa divulgação das medidas e suas consequências no Congresso, nas redes sociais e com grupos organizados. Um dos mais críticos é o líder do DEM, o deputado e médico Ronaldo Caiado (GO). Sobre o Ato Médico, ele diz que o veto ao artigo 4º é prejudicial porque permite que outras categorias façam prescrição terapêutica, emissão de laudos e outras atividades restritas aos médicos. – Na terceira semana de agosto, estaremos preparados e motivaremos a classe médica para mostrar o mal que o marqueteiro e o “primeiro-ministro” deste governo fizeram com esses vetos. O veto da Dilma tirou a coluna vertebral do médico. Quem vai querer ter um laudo anatomopatológico examinado por um técnico e não um médico? Ganharemos de lavada – aposta Caiado.
Financiamento do setor deve voltar à pauta do Congresso
A bancada da Saúde no Congresso é forte, mas, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), é dividida em pelo menos três grupos, o que pode favorecer o governo. Um dos grupos defende a Saúde pública e gratuita; outro patrocina os interesses da saúde privada; e um terceiro apoia e defende as Santas Casas de Saúde, que fazem filantropia com recursos públicos. Um tema unifica a bancada: o aumento de verbas para o custeio do setor.
Por isso, junto com as polêmicas do Mais Médico e do Ato Médico, voltou forte o debate sobre a aprovação do projeto que vincula 10% da receita corrente bruta da União a gastos com Saúde. Há projetos nesse sentido no Senado e na Câmara. No Senado, deve haver votação em agosto. – Dilma terá a janela de oportunidade para acertar o financiamento da Saúde. A MP acelerou essa discussão, desnudou essa crise. Vamos aprovar os 10% da receita a partir de janeiro do ano que vem. Isso irá à pauta – diz o coordenador da Frente Parlamentar da Saúde, Darcísio Perondi (PMDB-RS), que é médico. Segundo Perondi, 229 deputados integram a frente, mas só 40 estão na linha de frente da luta por avanços na área. O gaúcho diz que os vetos de Dilma ao Ato Medico foram um desrespeito ao Congresso, que negociou a proposta por mais de 11 anos.
Agora ministros, ex-senadores ganham aposentadoria e salário
Três ex-senadores que ocupam atualmente cargo de ministros – dois no governo Dilma Rousseff e um no Tribunal de Contas da União (TCU) – recebem aposentadorias do Senado tendo contribuído apenas por oito anos para o Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC). Os pagamentos são bem maiores do que os benefícios pagos aos trabalhadores comuns, depois de 35 anos de contribuição ao INSS. O teto para um funcionário da iniciativa privada, pago pela Previdência Social, é de R$ 4.157 (brutos). Os ministros do Executivo recebem entre R$ 5.063 e R$ 11.452 em valores líquidos de aposentadorias do Senado, e mais o salário da atual função, R$ 19.833 em maio. O benefício é legal.
Ideli Salvatti, ministra de Relações Institucionais, recebe mensalmente R$ 5.063 líquidos como aposentada do Senado. Ela foi deputada estadual por dois mandatos em Santa Catarina e, depois, ficou oito anos no Senado, mas não contribuiu para o plano de previdência da Assembleia Legislativa de seu estado. Hoje, Ideli está sem mandato parlamentar. César Borges, ministro dos Transportes, recebe R$ 11.452 líquidos do Senado. Ele foi deputado estadual na Bahia por oito anos, antes de se tornar vice-governador, depois governador e senador de um mandato. Como ex-governador, não recebe nada, mas, como ex-parlamentar estadual, ganha mais R$ 6 mil.
Senadora é cortejada por presidenciáveis
Novata no mandato, mas não no cenário político nacional, a jornalista Ana Amélia Lemos (PP-RS) foi eleita com 3,5 milhões de votos para o Senado em 2010. Ela veste a camisa do agronegócio e da indústria do Rio Grande do Sul, e encarna o perfil do novo que pode enfrentar o PT, do governador Tarso Genro, na disputa pelo Palácio Piratini no ano que vem.
Por causa das bandeiras que defende, seus adversários a chamam de “Miss Farsul” – Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, que agrega arrozeiros e fumicultores. Ela diz que é alvo de preconceito. – Não gosto de rótulos: conservadora, vanguardista, liberal. Para mim têm pouco significado. Acredito em causas, em ter agilidade e resultados – diz ela. Com posições firmes, é considerada conservadora na defesa dos interesses econômicos de seu estado. No Senado, é uma das primeiras a chegar e das últimas a sair. Come de marmita que esquenta no gabinete e, pelo perfil de “operária” do Parlamento, tem sido alvo de cobiça dos presidenciáveis Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), para formação de palanque no Sul.
Mulher do vice-governador de SC morre em lipoaspiração
Ivane Fretta Moreira, de 60 anos, mulher do vice-governador de Santa Catarina, Eduardo Pinho Moreira (PMDB), morreu anteontem em decorrência de complicações durante uma cirurgia de lipoaspiração abdominal. A causa teria sido uma embolia pulmonar. Em nota, o Hospital Baía Sul, de Florianópolis (SC), informou que Ivane chegou ao local às 13h de sexta-feira precisando de suporte de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A lipoaspiração abdominal tinha sido realizada pouco antes, no Ilha Hospital & Maternidade, uma clínica particular.
Segundo a nota, ela foi transportada em uma UTI móvel até o hospital e chegou com “bradicardia (diminuição da frequência cardíaca), perda de nível de consciência e midríase fixa, ou seja, com sinal de sofrimento cerebral grave, o que foi confirmado pelo neurologista”. O óbito foi constatado às 17h50m, após médicos da família de Ivane também terem participado das tentativas de ressuscitação. Alexandre Buffon, diretor técnico do Ilha Hospital & Maternidade, garantiu que os procedimentos pré-operatórios, assim como os equipamentos usados na cirurgia, estavam dentro das exigências de segurança para o procedimento.
Quebra de banco atrasa entrega de 5,7 mil moradias
A falência do Banco Morada, em 2011, não afetou apenas investidores que apostaram na instituição financeira. Muito longe da sede, no Rio de Janeiro, famílias pobres tiveram o sonho da casa própria adiado por causa da fraude contábil que levou o banco à ruína. Nestes dois anos, deixaram de ser construídas 5.699 moradias do programa Minha Casa Minha Vida. Isso porque o dinheiro público repassado ficou preso na massa falida.
Vários beneficiários moravam em casas precárias – de taipa, por exemplo – que foram derrubadas na esperança de um teto melhor. Antes de as novas serem construídas, o Morada quebrou e deixou parte dessas famílias na rua. No entanto, o governo promete que o problema começará a ser resolvido esta semana. De acordo com o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, os R$ 21,3 milhões do programa que estavam no Banco Morada começarão a ser liberados. Os recursos eram destinados às obras em cidades com menos de 50 mil habitantes. Os contratos – onde o governo federal arca com a maior parte do pagamento – já estavam em andamento. Nas cidades pequenas, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil não atuam por causa de uma norma incluída na lei que criou o programa Minha Casa Minha Vida pelos parlamentares no Congresso Nacional. Só bancos privados cuidam desse dinheiro.
Obras ficam sem controle em municípios pequenos
O construtor Israel Castro, representante da empresa Castor, que foi contratada para o projeto, mas é acusada de não ter entregue todas as obras, diz que solicitou informações ao Ministério das Cidades várias vezes. Queria receber R$ 380 mil de construções já feitas. Diz que, como tem uma empresa pequena, o dinheiro faz bastante diferença no caixa. – A gente sempre tenta informação e não obtém nenhuma informação coerente – conta Castro.
Israel não poderia receber informação do governo federal porque ele é invisível para a administração pública. Como a regra criada pelo Congresso diz que, em municípios pequenos, o repasse é feito pelos bancos privados, o Ministério das Cidades não tem controle sobre as construtoras, assessorias e fiscalização das obras, a não ser os dados repassados pelas instituições financeiras.
Correio Braziliense
A missão de Francisco em meio aos protestos
O papa Francisco desembarca amanhã no Brasil com a difícil missão de aproximar o Vaticano dos fiéis, melhorar a imagem da igreja e recuperar espaços perdidos para outras religiões que crescem no país mais católico do mundo. Porém, além disso, há agora um inédito ingrediente nessa visita que preocupa os governantes brasileiros: o país vive um novo momento social, com o registro de manifestações contra as políticas públicas e as autoridades que comandam a nação. Os protestos, registrados em sua grande maioria no mês de junho, chegaram na última quarta-feira às ruas do Leblon e de Ipanema e acenderam o sinal de alerta em relação à fragilidade da segurança no Rio de Janeiro. O esquema para garantir a proteção do papa no país é o maior já montado na história de grandes eventos no Brasil. Serão mais de 18 mil homens apenas na capital fluminense.
Ontem, o papa Francisco visitou a Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e pediu proteção aos participantes da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Ele solicitou a intercessão da Mãe de Jesus “para a sua próxima visita apostólica, para os jovens que vão se reunir para a JMJ e a todos os jovens do mundo”. Durante a visita ao país, interlocutores do Vaticano informam que Francisco vai cobrar da classe política que deixe de “oprimir” o povo por “interesses egoístas”, e que o papa pedirá ainda “respeito” pelos pobres. A maneira humilde e espontânea do novo papa tem chamado a atenção dos fiéis, que veem um líder mais carismático e próximo do povo. Em contrapartida, essas características o torna mais vulnerável diante de multidões e, consequentemente, deixam mais alertas as pessoas envolvidas na segurança do pontífice. O deslocamento em veículo aberto pelas ruas do Centro do Rio, informação divulgada na sexta-feira pelo Comitê Organizador Local da jornada, a pedido de Francisco, pegou até a Secretaria de Transporte do Rio de surpresa. O órgão não previa qualquer interdição na área central, por onde, agora, circulará o papamóvel.
Dilma falta a reunião do PT para discutir segurança
Na antevéspera da chegada do papa Francisco, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião no Palácio da Alvorada para revisar os detalhes da atuação do governo federal na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Na manhã de ontem, a presidente se encontrou com os ministros da Defesa, Celso Amorim; da Justiça, José Eduardo Cardoso; da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho; e das Relações Exteriores, Antônio Patriota. Eles fizeram uma checagem das ações de segurança, logística e demais atividades que envolvem diretamente a presidente no maior evento mundial da Igreja Católica. Ela deixou de participar da reunião do Diretório Nacional do PT para discutir esses pontos com os subordinados. “A vinda do papa Francisco, que está tão próxima, me impõe deveres aos quais eu não posso faltar”, disse Dilma, em carta enviada ao partido.
O pontífice desembarca amanhã às 16h, no Rio de Janeiro, e logo depois circulará de papamóvel pelas ruas do Centro. O desfile foi incluído de última hora, na sexta-feira. Como o carro é aberto e o líder da Igreja Católica ficará próximo da população, uma das preocupações do governo é com a segurança de Francisco. Durante a semana, Cardoso estava apreensivo com o fato de o papa circular em carro aberto, com receio de que pudessem ocorrer protestos de rua.
Inflação alta já desequilibra setor de serviços
Termômetro da economia, o setor de serviços é o que melhor afere o impacto da inflação no orçamento das famílias e, consequentemente, nos negócios dos brasileiros. Do último trimestre de 2012 para o primeiro deste ano, o percentual de crescimento desse setor despencou mais que pela metade, chegando a 0,5% — o pior desempenho para o período desde 2005, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O fôlego do mercado de trabalho nos segmentos de serviços também desabou na última medição do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged): de abril para maio, o saldo de contratações menos demissões saiu de 79 mil para 24 mil, queda de quase 70%. Todos os meses deste ano apresentaram resultados inferiores aos de 2012. Nos primeiros cinco meses, de acordo com os dados mais atualizados do Ministério do Trabalho, o recuo é de 28%. Os patrões que ainda não começaram a demitir estão congelando vagas ou encontrando outras formas de cortar despesas para encarar um período de vacas magras. Caso o segmento não esboce reação, a economia brasileira, já baqueada pelo baixo crescimento e pela inflação alta, terá de conviver com o agravante da volta do desemprego a patamares mais elevados, justamente por conta do arrocho no nível ocupacional do principal setor da atividade. “Seria o pior dos mundos”, alerta Flávio Serrano, economista do Espirito Santo Investment Bank.