Reportagem publicada na edição de hoje do Correio Braziliense denuncia que as ambulâncias compradas pelas prefeituras a partir de emendas apresentadas pelo deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) eram as mais valorizadas do mercado. O Ministério Público Federal descobriu que, quando se tratava do parlamentar, os veículos chegavam a ser negociados 60% mais caros que modelos similares.
A diferença superfaturada teria retornado ao bolso de Capixaba. É o que comprovaria, segundo integrantes da CPI dos Sanguessugas, a documentação entregue pelo empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin à Justiça Federal no Mato Grosso, cuja cópia chegou ao Congresso na quinta-feira.
A matéria, assinada pelo repórter Marcelo Rocha, afirma que a compra de dois veículos em Ji-Paraná (RO), a partir de recursos disponibilizados por emendas parlamentares, é um exemplo de como funcionava o esquema. Em outubro de 2000, foi adquirido um Renault Trafic, ano de fabricação 2000, por R$ 69.472,70.
Passados nove meses, em 27 de julho de 2001, a mesma cidade adquiriu uma outra Renault Trafic, ano de fabricação 2001, por R$ 45.650. Sem levar em conta índices inflacionários e a valorização do próprio automóvel, o carro custou 52% a mais. O que explicaria tamanha diferença no preço? Segundo o Correio Brazilienza, a primeira compra foi realizada a partir de uma emenda de Nilton Capixaba.
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O nome do parlamentar aparece novamente nas investigações do Ministério Público Federal ligado à compra de um carro em Cabixi, também em Rondônia. A prefeitura da cidade adquiriu uma GM S10 em abril de 2002 ao preço de R$ 88 mil. Um mês antes, São Francisco, outro município rondoniense, adquiriu veículo do mesmo modelo ao preço de R$ 56 mil. A diferença de cotação entre um e outro chegou a 57%. Mais uma vez, o carro mais caro foi adquirido com recursos viabilizados por uma emenda de autoria de Capixaba.
Levantamento realizado pela Controladoria Geral da União (CGU) identificou que, das 65 emendas ao Orçamento da União apresentadas por Capixaba para a compra de ambulâncias ou equipamentos hospitalares, 63 viabilizaram negócios com as empresas ligadas ao grupo Planam. O deputado de Rondônia não foi localizado ontem pela reportagem do Correio Brazilienze, mas em declarações anteriores negou qualquer participação no esquema.
Recibos
Documentos que comprovam essas irregularidades começaram a ser analisados ontem pela CPI dos Sanguessugas, depois de serem recebidos da Justiça Federal do Mato Grosso. A maior parte da papelada foi apresentada ao juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara Federal mato-grossense. A documentação é composta por recibos de depósitos em contas bancárias, planilhas contábeis e até comprovantes de que veículos foram entregues pela Planam a congressistas a título de pagamento de propina.
Para analisar essa documentação, a CPI decidiu dividir as investigações em blocos. Um deles cuidará especificamente dos parlamentares envolvidos, outro do esquema de corrupção no governo federal. Pelas informações já apuradas, as irregularidades atingiram pelo menos três ministérios: Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia. O presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), promete apresentar um relatório com os nomes dos envolvidos na primeira quinzena de agosto.
Mas ontem começaram a circular boatos no Congresso de que o comando da comissão vem sendo pressionado a protelar as investigações. A intenção seria evitar que os nomes de parlamentares envolvidos com a máfia das ambulâncias sejam preservados durante o processo eleitoral.
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