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Sem Dilma, Suplicy lamentou o bolo do desencontro no Facebook com uma frase: “Fiquei triste, mas não desistirei”. Mais de 46 mil dos seus seguidores que também esperavam o resultado da audiência curtiram.
Este não foi o primeiro bolo de Dilma em Suplicy. Um dia após a primeira eleição dela, em outubro de 2010, ele foi barrado na entrada da casa da petista quando tentava entregar flores para parabenizar a nova presidente. Em dezembro, ao ser diplomada para o seu segundo mandato, a presidente reeleita prometeu recebê-lo pela primeira vez antes que o mandato do senador expirasse. Ele esperou até o derradeiro minuto, mas Dilma não o chamou.
“Muitos foram recebidos, mesmo não sendo do PT. Era justo que me recebesse ou, como ela mesma me disse, ‘mais do que justo’”, reclamou o senador no Facebook em uma postagem na noite de 31 de janeiro, nos últimos minutos de mandato.
Paulo Coelho
Entre junho de 2013 e outubro de 2015, Suplicy enviou 24 cartas à presidente solicitando uma audiência. Até o escritor Paulo Coelho intercedeu pelo amigo. Mas nem o mago sensibilizou a presidente a conversar com o autor da lei de 2004 que instituiu a Renda Básica de Cidadania, o programa que substituiria o Bolsa Família e distribuiria, inicialmente para os pobres, dinheiro para complementar sua renda. A lei ainda não foi regulamentada. A medida, que prevê que um dia o benefício seja pago a todo morador do país, é considerada utópica mesmo por pessoas próximas ao senador.
PublicidadeOutras personalidades tiveram mais sorte que Suplicy. Entre 2013 e o ano passado, Dilma recebeu três vezes o empreiteiro Marcelo Odebrecht, hoje preso pela Operação Lava Jato, acusado de corrupção.
Quando era senador, Suplicy foi recebido no Planalto pelos ex-presidentes Lula, Itamar Franco e até pelo tucano Fernando Henrique Cardoso. Mas Dilma não viu necessidade de se encontrar com um senador de três mandatos que recebeu 6 milhões de votos dos paulistas na última eleição, 2,2 milhões a mais que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, que obteve a pior votação de um petista paulista em disputa pelo Palácio dos Bandeirantes desde 1998.
Em 2010 Suplicy perdeu a eleição para José Serra, em parte por falta de apoio do PT que não repassou dinheiro para financiar sua campanha. Ele se virou com uma vaquinha entre amigos que arrecadou R$ 2,5 milhões, insuficientes para enfrentar a máquina do adversário.
Persistência
A insistência do ex-senador em ser recebido pela presidente mostra sua perseverança quando tem um objetivo. Para aprovar o programa de renda mínima insistiu décadas. Chegou a ser chamado de monotemático. As sucessivas recusas de Dilma em atender Suplicy revelam um político cada vez mais isolado no seu partido. O PT abandonou Suplicy faz tempo. Mas ele continua fiel aos princípios que levaram o administrador, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) a aceitar o convite do então sindicalista Luiz Inácio da Silva para fundar o Partido dos Trabalhadores, em 1980.
Hoje ele virou um incômodo com seus apelos públicos ao partido e ao governo para a reflexão. A lealdade às suas convicções impõe um custo político elevado ao ainda petista. Pela sua capacidade técnica, poderia ser ministro de Estado ou dirigente da legenda. Mas sua insistência no discurso da ética e da transparência constrange a companheirada. “Eles não gostam de quem é crítico, e ele não é afinado totalmente. O PT só quer ouvir quem é da patota”, critica o senador e também ex-petista Cristovam Buarque (PDT-DF).
O ex-senador irrita o PT porque manteve a consciência crítica e as práticas comuns a antigos companheiros. Quando tinha mandato abriu mão do veículo oficial dos senadores e chegou a andar de bicicleta em Brasília no dia nacional sem carro. Durante os 24 anos ocupando um apartamento funcional, só pediu para pintar o imóvel uma só vez. Suplicy costuma cantar músicas de Bob Dylan, Racionais MC’s e Cat Stevens em público. “Canto para dar sentido àquilo que prego”, justifica-se.
Leia a íntegra da reportagem na Revista Congresso em Foco
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