IstoÉ
Acordo espinhoso
O líder na corrida ao governo de Minas Gerais, Hélio Costa (PMDB), voltou a ser assombrado por um fantasma que o atormenta desde seus primeiros anos como ministro das Comunicações no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por decisão do Ministério Público (MP), foram reabertas as investigações envolvendo um milionário acordo judicial entre a Telebrás, em última instância sob o comando de Costa, e a VT UM Produções, do empresário Uadji Menezes Moreira, amigo de longa data do então ministro. O caso foi revelado por ISTOÉ em 2006 e, na época, o que mais intrigou o Ministério Público não foi o valor pago pela Telebrás nem o fato de Moreira ser íntimo de Costa. As investigações foram motivadas pelo fato de a estatal ter aberto mão de recorrer das decisões em instâncias judiciais superiores, como determina a lei. Após uma breve batalha nos tribunais, a Telebrás simplesmente desistiu da briga e optou por fazer um acordo com a VT UM.
Por meio de sua assessoria, o ex-ministro afirmou que esse processo já foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que nenhuma irregularidade foi encontrada. De fato, o STF inocentou a direção da Eletrobrás e o próprio ministro. O problema é que, ao julgar o caso os ministros do Supremo não tinham conhecimento de um relatório da Advocacia-Geral da União (AGU), ligada ao próprio Executivo, mostrando que os cofres públicos tiveram um prejuízo de ao menos R$ 169 milhões pelo fato de a Telebrás não ter recorrido da decisão judicial que a considerou ré em um processo movido pela VT UM, por conta de um imbróglio envolvendo um sistema de sorteios por telefone. De posse desses documentos, o procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União, Marinus Marsico, decidiu reabrir as investigações, que devem ter como destino final o mesmo STF.
País dividido
A eleição presidencial não mostra um país dividido apenas entre um Sul rico e serrista e um Norte pobre fechado com Dilma Rousseff. A divisão geográfica, típica das últimas eleições, já não é suficiente para explicar integralmente o empate técnico, na faixa de 37%, que se verifica entre os dois candidatos à Presidência da República. O equilíbrio na separação das forças, na verdade, é mais profundo. A última pesquisa do Instituto Datafolha sobre as intenções de voto revela que o Brasil está cindido de cima abaixo, em todas as faixas de renda e de escolaridade. Os números da pesquisa do Datafolha, realizada entre os dias 17 e 20 de julho, comprovam que, mesmo dentro destas grandes áreas territoriais que tendem mais para um ou outro candidato, o eleitorado está rachado. A petista e o tucano praticamente empatam entre os pobres, a classe média e até entre os ricos. Situação idêntica acontece quando se abrem os dados por escolaridade: os entrevistados com ensino fundamental e os com formação superior também dividem-se por igual na preferência eleitoral.
Cartão-postal fora de foco
Dois dias antes de deixar o governo de São Paulo, o tucano José Serra inaugurou, ainda com obras por fazer, o trecho sul do Rodoanel Mário Covas. Uma obra de repercussão nacional – que seria capaz de desafogar o trânsito da maior cidade do País –, apresentada a todo o Brasil como um dos principais cartões-postais da campanha do PSDB. “Essa obra é um ganho para a economia brasileira”, disse Serra no discurso de abertura de uma pista por onde ainda não se podia trafegar. Quatro meses depois, a obra de R$ 5 bilhões tem se mostrado exemplo de má gestão e de falta de planejamento. Por insegurança, pouca iluminação, ausência de pontos de apoio e até má sinalização, os caminhões com destino ao porto de Santos, que deveriam desocupar as avenidas paulistanas e trafegar pelas pistas do Rodoanel, estão fazendo exatamente o movimento inverso. “É claro que não queremos ficar nos congestionamentos de São Paulo, mas não podemos colocar nossa carga à disposição dos assaltantes no Rodoanel”, diz Norival de Almeida Silva, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de São Paulo. Ele afirma que a maior parte das seguradoras já comunicou aos seus clientes que as cargas roubadas no trecho sul não serão cobertas.
Todos querem ser Lula
Próximo de deixar o poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exerce um papel, nessas eleições, que nenhum de seus antecessores imaginou cumprir, mesmo os mais populares, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Em fim de governo, ele não é diretamente atacado por ninguém e, apesar de não ser candidato a nada, transformou-se no personagem central da disputa. Segundo a última pesquisa Datafolha, Lula exerce influência sobre quase dois terços do eleitorado – 42% dizem que votarão “com certeza” no candidato apoiado pelo presidente e 23% afirmam que “talvez” o façam. Por isso, na eleição presidencial, Lula é o principal cabo eleitoral. Herdeira de parte da popularidade do presidente, Dilma Rousseff já combina os eventos de campanha com a agenda do Planalto. Nas disputas estaduais, os candidatos também se esforçam para colar sua imagem à de Lula, independentemente dos partidos políticos aos quais são filiados. Além de implorar pela mensagem de apoio no rádio e tevê, fazem questão da companhia do presidente em seus santinhos. Adversários tentam aderir de alguma maneira. Oposicionistas fazem questão de posar ao lado de Lula no material de campanha. “Apoio Lula desde 2006”, justifica o candidato ao governo do Piauí, João Vicente Claudino (PTB), que faz oposição ao PT no Estado.
Debate limitado
Na quinta-feira 5, às 22 horas, na Rede Bandeirantes, será dada a largada para os debates entre os candidatos à Presidência. Desde o famoso confronto entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, os debates são considerados fundamentais para a definição de votos nas eleições presidenciais. Prova disso é que José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), decidiram cancelar todos os compromissos, a partir da segunda-feira, para se preparar para o confronto. Serra aposta todas as fichas no confronto de ideias, Dilma está mais preocupada com a edição do debate. Escaldado, o staff da candidata petista fez as seguintes imposições para que ela topasse participar do evento: a emissora só pode usar nos programas pós-debate a primeira resposta, quando a pergunta é igual para todos, e as considerações finais. “Não temos nenhuma preocupação com o debate. Dilma está preparada e tem conteúdo”, avaliou João Santana, o marqueteiro da campanha.
A ameaça de Collor
No início da tarde da quinta-feira 29, o repórter Hugo Marques, da sucursal de ISTOÉ em Brasília, recebeu um telefonema na redação. Imediatamente reconheceu a voz do senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Melo e ligou o gravador. Fez bem. Collor ameaçou agredi-lo e ainda o xingou. “Quando eu lhe encontrar vai ser para enfiar a mão na sua cara, seu filho de uma puta. Você vai ter que colocar aí, dizendo que você como mau jornalista …”, esbravejava o ex-presidente quando o repórter desligou o telefone. “Desliguei o telefone porque não queria alimentar um confronto”, diz Marques. “Ele certamente gostaria de obter alguma reação mais agressiva de minha parte, mas criar um confronto pessoal não me interessa. Apenas acho lamentável que um senador da República ligue para uma redação e ameace uma pessoa dessa forma.”
A reação destemperada de Collor se deveu a uma matéria publicada na última edição de ISTOÉ, que revela que os três principais candidatos ao governo de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, Collor e Ronaldo Lessa, correm o risco de ter as candidaturas impugnadas pelo TRE. A exemplo de seus adversários, Collor não obteve o nada consta que lhe permitisse concorrer, segundo apurou ISTOÉ na Justiça Eleitoral.