IstoÉ
O projeto marajá
Os magistrados reagem com veemência quando são tratados como marajás do serviço público. Mas o brasileiro já está acostumado a ver tentativas de acumular regalias no Poder Judiciário. É o que acontece neste momento: o Congresso sofre pressão para aprovar a toque de caixa um projeto que cria supersalários para os servidores da Justiça. Com o apoio de todos os presidentes de tribunais superiores e de nove ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a proposta dá reajuste médio de 56,4% aos 100 mil funcionários do Judiciário. O projeto iguala o salário de simples técnicos ao de funcionários do alto escalão do Executivo. A remuneração inicial do analista judiciário, de nível superior, pula, por exemplo, dos atuais R$ 6.551,52 para R$ 10.283,59. Mas pode chegar a R$ 33.072,55, no topo da carreira, se o profissional ocupar cargo em comissão e tiver doutorado. A proposta também premia quem tem apenas o ensino fundamental, como operadores de xerox e copeiros. No ápice da carreira eles podem ganhar até R$ 8.479,71.
Se a benesse for aprovada, o impacto no Orçamento da União será de cerca de R$ 6 bilhões. O texto já passou pela Comissão de Trabalho e Administração da Câmara e precisa ser analisado pela Comissão de Finanças e Tributação antes de ir ao plenário da Casa. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, adverte que o governo não poderá aprovar novos aumentos salariais além dos já acordados para este ano. “Não há recursos para esse aumento. É algo que tem de ser mais bem discutido”, diz ele. Mas a pressão do Judiciário é grande. O principal argumento é de que, com a defasagem dos salários em relação a outras carreiras, é impossível manter os bons servidores, o que comprometeria a velocidade de tramitação dos processos. “É preciso buscar a aprovação como forma de atender não só ao anseio do servidor como também para permitir que o Judiciário tenha um corpo funcional equilibrado”, alega o presidente do STF, Cezar Peluso.
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Na tentativa de forçar o reajuste, servidores do Judiciário em todo o País permaneciam em greve até a última semana. O governo, por ora, tem se mantido pragmático, preocupado com o rombo no Orçamento. Resta saber como se comportará o Congresso.
Está dando errado
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, iniciou o mês de junho vislumbrando um céu de brigadeiro no horizonte da corrida eleitoral. No início do mês, o tucano já constatava o crescimento da principal adversária, Dilma Rousseff, do PT, mas comemorava o fato de as pesquisas não creditarem a ele uma queda acentuada. Serra minimizava a dificuldade de escolher um vice e apostava nas alianças regionais e na superexposição que teve na tevê durante o mês para entrar em julho com pelo menos seis pontos percentuais à frente de Dilma. Nada deu certo.
A última pesquisa CNI/Ibope, realizada depois dos programas nacionais do PSDB e do PTB, mostrou Dilma pela primeira vez numa segura liderança – 40% a 35% – com Serra em declínio e dono da maior rejeição entre os candidatos (30%). E a campanha do PSDB chega ao fim do mês numa situação completamente adversa, a ponto de tucanos emplumados questionarem a possibilidade de vitória de Dilma antes mesmo de a campanha ganhar as ruas. “Tenho sérias dúvidas sobre a possibilidade de Serra vencer. E olha que estou tentando ajudar”, disse o ex-presidente Fernando Henrique a interlocutores, durante tour pelo Exterior.
Como o mundo vê nossos candidatos
O Brasil está na vitrine internacional. Luiz Inácio Lula da Silva é o presidente brasileiro mais popular da história, o País ganhou status de global player e ostenta índices de crescimento que o credenciam como uma das principais potências da próxima década. Nesse cenário, como os três principais candidatos a suceder “o cara” são vistos lá fora? Se por um lado José Serra (PSDB) se destacou como ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso e governador de São Paulo, Dilma Rousseff (PT) é imediatamente associada à gestão de Lula, enquanto Marina Silva (PV) aparece como dona de uma coleção de prêmios internacionais, como o Champions of the Earth, o maior reconhecimento das Nações Unidas para o setor ambiental.
“Os observadores estrangeiros, governos e mercados estão atentos, principalmente à Dilma e ao Serra”, afirma o historiador Timothy Power, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford, na Inglaterra. “Isso porque é a quinta eleição presidencial consecutiva polarizada entre os partidos que Dilma e Serra representam.”
Entre os observadores e analistas estrangeiros há também o consenso de que o processo eleitoral de 2010 não será marcado pelo conceito de change election, uma referência à eleição na qual existe um desejo generalizado de mudança. Ao contrário do registrado nos Estados Unidos em 2008 – quando o democrata Barack Obama foi eleito contrapondo-se à gestão do conservador George W. Bush –, está claro para os especialistas que a continuidade das políticas públicas deve ser a tônica no Brasil.
A torre das donzelas
Durante quase três anos, Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência da República, morou na Torre das Donzelas. A construção colonial não pertencia a nenhum palácio. Encravada no presídio Tiradentes, em São Paulo, ganhou o singelo nome por abrigar presas políticas do regime militar. Para chegar à Torre, Dilma e suas companheiras atravessavam um corredor com celas em uma das laterais. Os cubículos eram ocupados pelas corrós, as presas correcionais, tiradas de circulação por um mês, em geral por vadiagem ou prostituição. Essas mulheres costumavam ficar seminuas ou com a roupa virada pelo avesso, para se apresentarem em trajes limpos quando liberadas.
“Terrorista! Linda! O que você está fazendo aqui?”, gritavam as corrós ao verem passar uma nova presa política. Depois do corredor, havia um pequeno pátio. Em seguida, vinha a Torre. Dilma atravessou o corredor das corrós em fevereiro de 1970, aos 23 anos, após mais de 20 dias nos porões da repressão política. “Ela chegou fragilizada pela tortura, mas logo se recuperou”, lembra a jornalista Rose Nogueira, 64 anos, que passara pelo mesmo processo três meses antes.
Petistas convencem Palocci a disputar vaga na Câmara
O PT de São Paulo decidiu incluir o nome do ex-ministro Antonio Palocci na lista de candidatos a deputado federal que será oficializada hoje na convenção do partido. Para convencer Palocci a concorrer, a direção do PT fez dois acertos: ele terá mais tempo de televisão e contará com o apoio de prefeitos de prestígio, que funcionarão como cabos eleitorais. Palocci havia comunicado ao PT que não concorreria por estar totalmente dedicado à coordenação da campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. Para o partido, porém, a participação do ex-ministro na eleição passou a ser estratégica.
O comando petista acredita que Palocci pode puxar votos para a legenda em São Paulo e aumentar o potencial eleitoral da bancada. Além disso, a candidatura do tesoureiro da campanha de Dilma, José Di Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema, pode ser inviabilizada pela Lei da Ficha Limpa. O ex-prefeito tem condenação do Tribunal de Justiça de São Paulo por contratação de empresa sem licitação na prefeitura. Ele ainda analisa o caso juridicamente.
Veja
Lula cancela ida à cúpula do G20 para monitorar estragos da chuva
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou a viagem que faria na tarde deste sexta-feira para Toronto, no Canadá, onde participaria da reunião do G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo). A informação foi dada pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que despachou nesta manhã com o presidente, no Palácio da Alvorada. De acordo com o ministro, Lula ficou impressionado com as imagens que viu, ontem, no Nordeste, ao visitar algumas cidades atingidas pelas chuvas. Por isso, ele decidiu monitorar de perto o auxílio às vítimas.
Já chegam a 51 os mortos pela enxurrada em Alagoas e Pernambuco. Pelo menos 155.000 pessoas precisaram abandonar suas casas nos dois estados. Em Pernambuco, 59 municípios foram afetados pela chuva. Do total, nove estão em estado de calamidade pública e 30, em situação de emergência. Em Alagoas, 28 municípios sofrem com as tempestades, 15 dos quais decretaram calamidade.
Casa de Renan caiu. Literalmente
Na semana passada, antes da chuva arrasar Murici, cidade a 55 quilômetros de Alagoas, o clã Calheiros – que domina o cenário político local há décadas – tinha decorado a mansão e prometido espalhar telões para reunir os vizinhos durante os jogos da Copa do Mundo. O cenário mudou com a enchente que destruiu boa parte do município de 26,9 mil habitantes. A casa literalmente caiu.
Murici é a terra natal do senador Renan Calheiros (PMDB). Até janeiro, o prefeito da cidade era Renan Filho. Ele deixou o cargo para se candidatar a deputado. Quem assumiu a prefeitura foi o vice, irmão do senador, Remi Calheiros, que já havia comandado o município por dois mandatos.
A imagem de poder transmitida pela ampla mansão da família, no entanto, foi abaixo na última sexta-feira. Os mais de sete cômodos da casa foram tomados pela água até o teto. Algumas paredes caíram, a sala ficou destruída e a cozinha, repleta de lama. Na sala de jantar, restaram apenas restos de uma pilha de livros e colchões arrastados pela água. Empregados dos Calheiros conseguiram salvar 60 copos e taças que estavam em uma estante.
Presidente do STF quer mudar regra que proíbe nepotismo
Nesta quarta-feira, o ministro Cezar Peluso divulgou nota dizendo que vai propor mudanças na súmula 13, aprovada pelo tribunal em 2008, que veta o nepotismo no Legislativo, no Executivo e no Judiciário. A decisão veio dois dias após o ministro contratar um casal para ocupar cargos em comissão no Supremo (em que não é preciso fazer concurso), pondo Peluso no olho do furacão.
O magistrado afirma que a proposta tem o objetivo de pôr fim a dúvidas sobre o texto da súmula, inclusive entre os próprios integrantes da corte, que não foram sanadas. E que vai “evitar absurdos” que a “interpretação superficial ou desavisada” do texto pode ensejar.
“Para atender a tais ponderações e propósitos, igualmente manifestados por alguns Ministros da Corte, bem como para evitar absurdos que a interpretação superficial ou desavisada da Súmula pode ensejar, o Presidente do STF está encaminhando aos senhores Ministros proposta fundamentada de revisão da redação da mesma Súmula, para restringi-la aos casos verdadeiros de nepotismo, proibidos pela Constituição da República”, cita a nota, divulgada no site do tribunal.
A discussão abriu a porteira para que representantes de outros Poderes cogitem rever a norma. O diretor-geral do Senado, Haroldo Tajra, por exemplo, disse que haverá impacto no Legislativo e no Executivo.
Ministério Público recomenda paralisação de obras de Angra 3
O Ministério Público Federal recomendou, na noite de quinta-feira, que as obras de construção da Usina Nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis, no litoral sul do estado do Rio, sejam paralisadas. A suspensão, temporária, é para que seja feito um estudo de probabilidade de acidentes severos, documento que não foi apresentado para a obtenção da licença definitiva para a construção da usina, em 31 de maio deste ano. As obras de Angra 3 estão orçadas em 8,4 bilhões de reais.
De acordo com o procurador Fernando Amorim Lavieri, A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) prevê que a análise ainda pendente seja feita antes do licenciamento de usinas nucleares – não no relatório final de segurança, como determina a licença concedida para Angra 3 pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
Senado também aprova reajuste para servidores
Depois da Câmara, foi a vez de o Senado aprovar, na quarta-feira, o plano de cargos e salários dos servidores da Casa. O aumento vai ter impacto de 9,82% na folha de pagamento deste ano, o que representará um gasto extra de 217 milhões de reais no segundo semestre e de 464 milhões de reais no ano que vem.
O reajuste médio dos servidores da Casa, conforme proposta aprovada em votação simbólica, no início da noite, será de 25%. O aumento agora precisa ser apreciado pelo plenário da Câmara e depois seguirá para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O prazo final para a sanção é 2 de julho.
Época
De inimigo a salvador
No final de março, poucos dias antes de deixar o cargo de governador de São Paulo para se lançar na disputa pela Presidência da República, o candidato do PSDB, José Serra, participou de uma reunião com seus aliados políticos mais próximos na casa de Andréa Matarazzo, o atual secretário da Cultura do Estado. A decisão de concorrer ao Palácio do Planalto, pela segunda vez, já havia sido tomada. Faltava a Serra, no entanto, definir quem seria o candidato dos tucanos a sua própria sucessão no Palácio dos Bandeirantes.
Após algumas rodadas de discussão, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, deu uma bronca: “Não há mais tempo para indecisão. Como vamos resolver nossos problemas em outros Estados se não resolvemos nem em São Paulo, onde temos um nome na liderança absoluta das pesquisas e com reais chances de vencer?”. Guerra se referia ao ex-governador Geraldo Alckmin, que lidera – ainda hoje – com folga todas as pesquisas de intenção de voto para governador de São Paulo.
Há três meses, Serra também aparecia nas pesquisas para a eleição presidencial bem à frente da candidata do PT, Dilma Rousseff. Os tucanos e seus aliados trabalhavam com a possibilidade de Serra abrir em São Paulo, com ou sem a candidatura de Alckmin, uma vantagem sobre Dilma de até 4 milhões de votos (em um colégio de quase 30 milhões de eleitores). Esse otimismo era uma das razões que levavam o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e o então vice-governador, Alberto Goldman (PSDB), a trabalhar pela escolha de Aloysio Nunes Ferreira, o ex-secretário da Casa Civil paulista, como o candidato dos tucanos ao governo de São Paulo.
Nem eles esperavam tanto
Em agosto do ano passado, alguns integrantes da cúpula do PT e do primeiro escalão do Palácio do Planalto se reuniram para traçar as linhas gerais da candidatura à Presidência da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O grupo analisou o desempenho de Dilma nas andanças pelo país ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e fixou uma meta para um ano depois. Nos planos dos participantes do encontro, a candidata deveria chegar a julho deste ano em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, com 5 pontos atrás do oposicionista José Serra. Dez meses depois dessa avaliação, Dilma superou todas as expectativas de governistas e oposicionistas. Uma pesquisa realizada pelo Ibope a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na semana passada, mostra que, menos de duas semanas antes do começo da campanha oficial, marcada para o dia 5 de julho, Dilma ultrapassou José Serra (PSDB) pela primeira vez. Ela chegou a 40% das intenções de voto, Serra se manteve estável em 35% e Marina Silva ficou com 9%. No cenário com todos os candidatos, Dilma tem 38% em comparação a 32% de Serra (leia o quadro abaixo).
A pesquisa também mostra que Dilma cresceu em todas as faixas de renda do eleitorado e em todas as regiões. Empatou com Serra no Sudeste, onde o tucano estava muito forte, e manteve a vantagem nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Serra só venceria na Região Sul e entre os eleitores com renda mensal acima de dez salários mínimos. O avanço nos domínios de Serra foi muito animador para o governo e o PT, porque ocorreu em um período em que o tucano teve aparições na TV nos programas dos partidos que compõem sua aliança. Antes da divulgação, a expectativa entre os tucanos era de que Serra se beneficiaria dessa exposição pública e voltaria a assumir a liderança das pesquisas (os dois estavam empatados). “O resultado nos surpreende e não bate com os números que conhecemos”, afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). “Nas nossas pesquisas estamos na frente.”
Pastor Sóstenes Apolos da Silva: “Nós vivemos de acordo com a Bíblia”
São quatro dezenas de ovelhas espalhadas pela sala. Marrons, brancas, pretas. De vidro, de acrílico, de pelúcia. “Essas dão muito menos trabalho do que as minhas ovelhas reais”, diz o pastor evangélico Sóstenes Apolos da Silva, dono da coleção. Há 31 anos, ele é pastor da Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica do Brasil, com 8,4 milhões de fiéis, segundo o último Censo. E é o líder religioso da candidata à Presidência pelo PV, Marina Silva. A igreja presidida pelo pastor Sóstenes em Brasília é a frequentada por Marina. Além de guiá-la espiritualmente, ele se engajou na campanha. Tem ajudado Marina a circular pelo meio evangélico. “O problema é que ela é pouco conhecida”, diz o pastor. “Marina ainda é confundida com a Heloísa Helena (também dissidente do PT e candidata à Presidência pelo PSOL em 2006).”
Marina é assídua na igreja. É fácil encontrá-la sentada na quinta ou sexta fileira de bancos do salão durante os cultos de domingo. Antes de ser evangélica da Assembleia de Deus, foi católica. Na juventude, estudou para tornar-se freira. Depois desistiu. Em nome de convicções religiosas, ela já disse ser contra o casamento gay (depois defendeu a união civil entre homossexuais, desde que não haja bênção religiosa), a legalização do aborto, o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas e a descriminalização das drogas. Tudo em discordância com as ideias do estatuto do PV. Para o pastor, não há contradição porque Marina e o PV dividem a bandeira do meio ambiente, e ela mantém a postura cristã. Em meio à coleção de ovelhas, ele conversou com ÉPOCA.
A trava dos impostos
Não é que a insatisfação fosse desconhecida, mas ela parece ter atingido um nível recorde. Segundo uma nova pesquisa divulgada na semana passada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), feita em parceria com o Ibope, 81% dos empresários e altos executivos do país acreditam que os impostos são, hoje, o fator que mais afeta negativamente os negócios no país (leia o quadro abaixo). O Ibope ouviu 211 associados da Amcham em todo o Brasil, cujas empresas têm, em média, 333 funcionários, entre os dias 28 de abril e 17 de maio.
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defenda em várias oportunidades a atual carga tributária brasileira, de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) – a maior entre os países emergentes –, há uma percepção crescente na sociedade de que os brasileiros pagam impostos demais – e recebem serviços de menos.
Além de as críticas à sede tributária do governo representarem quase uma unanimidade entre os empresários, 58% reclamam ainda da falta de clareza da legislação tributária e 51% dizem que a burocracia na cobrança dos impostos também atrapalha o andamento dos negócios. Entre os entrevistados, 89% disseram que a organização tributária é a questão que mais dificulta a atração de investimentos estrangeiros ao país.
José Goldemberg: “O Brasil quer a bomba atômica”
O Brasil aderiu ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) em 1998, durante o governo FHC. O tratado tem 189 signatários. Entre as exceções estão Israel, Paquistão, Índia e Coreia do Norte – países detentores de arsenais nucleares. Desde 2008, os Estados Unidos pressionam o Brasil a assinar o Protocolo Adicional do TNP. Mais restritivo, o protocolo obriga os países a abrir quaisquer instalações suspeitas à inspeção. O Irã não aderiu e construiu uma usina secreta, revelada em 2009. O Brasil se recusa a assinar o protocolo e defende o direito do Irã de ter a energia nuclear – oficialmente apenas para fins pacíficos. Para o físico José Goldemberg, uma autoridade internacional em assuntos de energia, essas são evidências, somadas a outras, de que o Brasil busca a posse de armas nucleares.
Época – Por que o senhor afirma que o governo Lula vê com simpatia a posse da bomba?
José Goldemberg – Motivos não faltam. Eles vão desde o apoio ao programa nuclear do Irã até as declarações de membros do primeiro escalão, como o vice-presidente José Alencar. Ele defende o desenvolvimento de armas atômicas. Parece uma volta aos tempos da ditadura.
Qual era a posição dos militares com relação à construção da bomba?
O governo Geisel fez o acordo nuclear com a Alemanha. Era caríssimo. Previa a construção de oito reatores com grau crescente de nacionalização. Cobria todas as etapas da tecnologia nuclear, incluindo o enriquecimento e o reprocessamento de urânio. Lê-se na ata de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, em 1975, que o projeto era para fins pacíficos, mas seria mantida aberta a opção militar. Do ponto de vista técnico fazia sentido. Para quem domina o ciclo nuclear pacífico, o militar não é tão diferente. Claramente, em 1975, o governo deixou a porta aberta para fazer armas nucleares.
CartaCapital
Não é preciso combater à sombra (Mino Carta)
Pergunto aos meus aloprados botões por que o candidato tucano José Serra não sobe nas pesquisas a despeito de todos os esforços despendidos a seu favor pela mídia nativa e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No caso de FHC, refiro-me às informações de fonte respeitável, segundo as quais o príncipe dos sociólogos confessa ao pé de ouvidos tucanos o fracasso do seu empenho, maciço e infatigável, em prol do amigo de sempre. Amigo? Quanto à mídia, de que lado fica está na cara. E com que denodo, com que paixão.
Saiu na quarta-feira 23 a pesquisa CNI-Ibope e os números mostram que quem cresce é Dilma Rousseff. Acima do chamado empate técnico. Tivessem braços, os botões os abririam a 180 graus. Até tocar o firmamento. A manifestar todo o seu espanto. Disponho de botões muito sensíveis, bem mais do que eu, de sorte que, diante da minha expressão incolor, abalam-se a me submeter a um teste. O seguinte, que me apresso a repassar aos leitores.
Quem elaborou as perguntas abaixo e as dirigiu a quem? Primeira pergunta: “Por que para a democracia é positivo experimentar uma alternância de poder, depois de ficar oito anos na oposição?” Segunda pergunta: “Como o senhor conseguiu governar seu estado sem nunca sofrer derrota na Assembleia local e sem lançar mão de propinas e outras formas de coerção sobre deputados estaduais?”
Formuladas por quem? A) Veja; B) Time Magazine; C) Herald Tribune.
Dirigidas a quem? A) Franklin Delano Roosevelt; B) Ronald Reagan; C) José Serra.
Fiquei sem resposta. Eles gargalharam, como certos cães os meus botões conseguem rir. Com bons motivos. Haviam manipulado as perguntas para provocar minha dúvida e bondosamente esclareceram: a primeira pergunta fez referência explícita ao governo Lula. A segunda acrescenta a Prefeitura de São Paulo às conquistas do candidato tucano e fala em “mensalões”. Daí ficou fácil. Trata-se de perguntas feitas por Veja a Serra para uma entrevista das célebres páginas amarelas, publicada na edição datada de 23 de junho.
Primor de jornalismo engajado. Partidário. E também hipócrita. Como é do conhecimento do mundo mineral, a rapaziada alega independência, equidistância, isenção. Comovedor, neste sentido, o editorial do Estadão de 22 de junho, intitulado “A confissão do chanceler”. Cuida-se ali de malhar Lula e seu ministro Celso Amorim por terem saído para a mediação com o Irã, incentivados a tanto pelo próprio presidente Obama.
Extraordinário o rumo tomado pelo texto do jornal, a circum-navegar a lógica. Concorda com Amorim, segundo quem Brasília levou uma rasteira de Washington, pois Obama, um mês antes da tentativa turco-brasileira em carta dirigida a Lula, diz textualmente que um acordo com Teerã “representaria uma oportunidade clara e tangível de começar a construir uma confiança mútua”.
Apesar do incentivo do presidente americano, reconhece o editorial, nos EUA “a linha-dura personificada por Hillary Clinton prevaleceu sobre os moderados da Casa Branca”. E então, onde fica a confissão do chanceler? Chegamos à conclusão de que vingou mais uma vez a prepotência do mais forte e que Obama enredou-se em um jogo indigesto, além da conta para ele mesmo. De todo modo, ainda neste caso, que jornalismo é este? Talvez valha como exercício de humorismo.
Às vezes me imaginei entre os 300 das Termópilas, a esperar no desfiladeiro pela investida fatal do exército persa. Parece-me agora que a história começa a ser escrita de forma oposta. Já me permiti comentar neste espaço o crescente fracasso dos persas, digo, da mídia nativa. Ficou claro em 2002, e mais ainda em 2006, que ela atira fora do alvo. A maioria a ignora e este é sinal peremptório de tempos diferentes. A habitual ofensiva contra o governo Lula, destinada agora a abalar a candidatura Dilma, atinge a obsessão e, frequentemente, beira o ridículo.
Dilma na liderança, diz IBOPE
Em nova pesquisa divulgada nesta quarta-feira 23 pelo IBOPE, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, a candidata do PT Dilma Roussef apareceu pela primeira vez à frente do candidato da oposição José Serra, do PSDB. A petista está com 40% das intenções de voto na pesquisa estimulada contra 35% do candidato tucano. A verde Marina Silva aparece em terceiro com 9%. O campo da pesquisa foi feito de 20 a 22 desse, mês em 141 municípios com 2.002 eleitores, depois que Serra, ferindo a lei, apareceu como estrela principal nos programas do DEM e do PPS.
Em pesquisa realizada para a TV Globo e para o jornal O Estado de S. Paulo apresentada no dia 6 de junho, o IBOPE encontrou percentual idêntico de intenção de voto estimulada para Dilma e Serra, com 37% para cada. Marina vinha logo atrás com 9%. Na última pesquisa do instituto Datafolha, publicada no dia 24 de maio, Serra e Dilma também apareceram empatados com 37%. Marina apresentava um resultado melhor, com 12% das intenções de voto.
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