IstoÉ
Como eles espionam
A cerca de 2,5 mil quilômetros do Recife (PE), numa região inóspita do Atlântico Sul, existe uma pequena ilha de colonização britânica chamada Ascensão. É lá que os agentes de Barack Obama captam aproximadamente dois milhões de mensagens por hora. São basicamente conversas telefônicas, troca de e-mails e posts em redes sociais. É dessa pequena ilha que os técnicos da NSA, uma das agências de inteligência dos Estados Unidos, vêm bisbilhotando as conversas da presidenta Dilma Rousseff e de alguns de seus ministros mais próximos, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ na última semana. A ilha de Ascensão tem apenas 91 quilômetros quadrados e seria irrelevante se não estivesse numa posição estratégica, a meio caminho dos continentes africano e sul-americano. Ao lado de belas praias, sua superfície abriga poderosas estações de interceptação de sinais (Singint), que se erguem como imensas bolas brancas. Elas integram um avançado sistema de inteligência que monitora em tempo real todas as comunicações de Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e Venezuela e fazem parte de um projeto conhecido como Echelon, que envolve, além dos Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Canadá.
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O indicativo mais forte de que a invasão de Obama nas conversas da presidenta Dilma e seus ministros se deu a partir da ilha está nos próprios documentos exibidos por Edward Snowden, denunciando o esquema. Neles, lê-se, na parte inferior, o grau de classificação “top secret” (ultrasecreto), o tipo de documento Comint/REL (comunicação interceptada) e sua divulgação (USA, GBR, AUS, CAN, NZL), exatamente as siglas que indicam os países do sistema Echelon. “Há um alto grau de probabilidade de que a NSA já tenha entrado não apenas no sistema de comunicações da presidenta, mas em todos os sistemas nacionais críticos”, alerta o consultor em segurança Salvador Ghelfi Raza, que já trabalhou para o governo de Barack Obama.
As antenas da ilha de Ascensão conseguem captar as mensagens logo depois de serem produzidas, antes mesmo que elas cheguem aos satélites para serem distribuídas. Uma vez recolhidas, as informações são lançadas em um gigantesco computador instalado no Fort Meade, em Maryland, nos EUA. Lá, são processadas em um programa chamado Prism (Prisma), que localiza, por intermédio de palavras-chaves, aquilo que os bisbilhoteiros procuram, entre os milhões de dados recebidos por hora. A partir daí as informações são submetidas a um outro programa, que quebra a criptografia. Ainda em Maryland, computadores traduzem as informações coletadas. Feita a análise, o que for de interesse do governo americano será distribuído aos agentes espalhados por todo o mundo para continuar o serviço de monitoramento. Muitas vezes empresas americanas ligadas à telefonia e à internet são acionadas para informações complementares. Com acesso à rede, por um técnico autorizado, é possível captar todo o tráfego de dados, sejam arquivos de vídeo, sejam fotos, trocas de mensagens ou chamadas de voz sobre IP.
A cooperação de grandes corporações, como Microsoft, Google, Facebook ou mesmo os gigantes da telefonia, Verizon e At&T, é fundamental para o funcionamento da rede da NSA. Documentos vazados pelo WikiLeaks mostram ainda que os EUA contam com dezenas de empresas de segurança da informação, num total de 1,2 milhão de técnicos, agentes e autoridades. Na ilha de Ascensão, que serviu à Inglaterra na Guerra das Malvinas, também estão instalados o serviço de inteligência criptológica britânico (GCHQ), estações de monitoramento de testes nucleares e uma das duas estações da emissora de rádio “The Counting Station”, apelidada de “Cynthia”, pela qual a CIA se comunica com seus agentes secretos espalhados pela América do Sul e África.
A sensatez contra a bagunça
Em junho, as manifestações que tomaram as ruas brasileiras surpreenderam os políticos e os especialistas sociais de plantão. Com bandeiras diversas, milhões de pessoas ocuparam as ruas e mostraram que o País vive o período democrático mais maduro de sua história. Mas, passados os primeiros atos, o País se recolheu. Não pela falta de respostas às genéricas reivindicações. Pelo contrário, a pequena fatia concreta da demanda levada às praças acabou atendida e, como não se via há muitos anos, a sociedade pautou a agenda política. O que fez os brasileiros refluírem foi a apropriação do movimento por grupos interessados mais em barbarizar do que em reivindicar. Alguns até com alguma causa, que tende a perder legitimidade na medida em que partem para a depredação. Outros empenhados apenas em se juntar aos manifestantes com o objetivo de quebrar o que veem pela frente, seja público, seja privado. De comum entre eles: a covardia. Escondem-se atrás de máscaras. Vândalos sabem que cometem crimes comuns, mas buscam se posicionar entre manifestantes pacíficos para dar ao vandalismo alguma pseudoconotação política. Em um primeiro momento, a violência praticada por uma polícia despreparada acabou ajudando a fermentar a mobilização. Depois, a violência dos vândalos foi decisiva para o esvaziamento das ruas. Na semana passada, porém, uma nova postura adotada por policiais, promotores e juízes de vários Estados reafirmou o amadurecimento da democracia brasileira.
Uma determinação que começou com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ganhou dimensão nacional e passou a ser aceita pelo Judiciário. Desde a semana passada, mascarados que estiverem em manifestação serão levados à delegacia, onde terão de tirar a máscara e se identificar. Depois poderão voltar. A medida já aplicada em Pernambuco, no Rio de Janeiro e em São Paulo tende a se espalhar por todo o País e poderá intimidar os vândalos. O mascarado que se recusar a tirar a máscara poderá ser conduzido à força para a delegacia. Não se trata de proibir a presença deles nas manifestações. Mas, para isso, terão de antes se identificar aos policiais. Por outro lado, os policiais que forem escalados para patrulhar as manifestações deverão estar identificados e suas ações serão filmadas. Assim, espera-se conter a violência de alguns fardados que insistem em não se adaptar a um regime de liberdades. Como diz o historiador Maurício Parada, da PUC do Rio de Janeiro, democracia e manifestações populares devem caminhar juntas.
Até, tu, Psol?
Desde sua fundação, há quase oito anos, o PSOL parecia resistir como uma espécie de reserva moral da política brasileira. Na última semana, porém, o partido rasgou a fantasia e se igualou às demais legendas já flagradas em malfeitos. Na segunda-feira 2, a presidente do partido no Rio de Janeiro, a deputada estadual Janira Rocha, 52 anos, foi desmascarada após aparecer em gravações admitindo ter cometido uma série de fraudes e desvios de dinheiro público. As ações nada republicanas da parlamentar vieram à tona depois que dois de seus ex-assessores, Marcos Paulo Alves e Cristiano Ribeiro Valladão, foram presos tentando vender para a deputada estadual licenciada Cidinha Campos (PDT), atual secretária estadual de Defesa do Consumidor, por R$ 1,5 milhão, um dossiê com documentos e fitas gravadas.
Na delegacia, Alves denunciou que, dos R$ 7.200 de seu salário, R$ 4 mil eram retidos por Janira sob o pretexto de “cotização”, e que a prática era comum a outros funcionários. Em áudio entregue pelo assessor à polícia, a parlamentar confirma o delito. “Pode até ser que algumas coisas feitas aqui, como a cotização, não sejam legais para fora. Mas isso não me envergonha”, alegou ela. Os dirigentes do PSOL fluminense juram que o dinheiro não era repassado para a legenda. Segundo o secretário-executivo Honório Oliveira, “se realmente existiu, nunca chegou aos cofres do partido”. Procurada, a deputada alegou que a “contribuição” era voluntária e esporádica. Ainda assim, a prática seria ilegal de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em outro áudio, ao qual ISTOÉ teve acesso, Janira assume ter desviado dinheiro do Sindicato dos Previdenciários do Rio (Sindsprev) para sua campanha eleitoral. A deputada dirigiu a entidade por seis anos. “Todos sabem que o dinheiro foi para a minha campanha”, reconheceu. Na mesma gravação, ela também sugere que falsificou a prestação de contas do sindicato: “A gente pode botar no relatório que o dinheiro foi para atividades políticas mobilizadoras. Não pode dizer que foi para a construção do PSol, para eleger deputado. Isso é crime”, disse ela no áudio. Em meio às denúncias, Janira se afastou da presidência regional e da liderança do partido na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e, agora, enfrenta processos na Corregedoria da Alerj e na Comissão de Ética do PSOL. Um pode determinar a cassação do seu mandato e, o outro, a sua expulsão do partido.
Época
A fiscal que fiscalizava
A administradora de empresas Maria Suely Fernandes, funcionária de carreira do Banco do Brasil, sempre quis trabalhar com projetos sociais. Há três anos, graças à indicação do PT, teve sua chance. Aos 29 anos, conseguiu uma vaga na Fundação Banco do Brasil, braço filantrópico da empresa, dominado pelo PT há dez anos. Com um orçamento anual de R$ 200 milhões, ele se dedica a financiar projetos sociais. Suely era filiada ao PT de Minas Gerais desde a adolescência e fora indicada ao cargo pelo sindicalista Jacques Pena, ex-presidente da fundação e quadro influente do partido em Brasília – ele foi um dos coordenadores da campanha presidencial de Dilma na capital da República, em 2010. Quando assumiu o posto, Suely recebeu uma missão delicada: fiscalizar – ou não – a correta aplicação do dinheiro investido pela fundação em projetos sociais, a maioria deles ligados ao PT. Suely e o sindicalista Pena logo descobririam ter cometido os maiores erros de suas vidas.
Para desgosto de Pena e do grupo petista que controla a fundação, Suely ignorou o apadrinhamento do partido. Resolveu fazer seu trabalho – e era boa nele, segundo funcionários da fundação que conviviam com ela. Descobria tudo, fossem pequenas falhas na apresentação de projetos, fossem fraudes complexas em contratos milionários. Os casos acumulavam-se. Revelavam, pelas semelhanças e nomes dos beneficiários, que a fundação desviava, sistematicamente, dinheiro para gente do PT. Ingênua, Suely relatava as falcatruas encontradas – a maioria envolvendo seu padrinho político, Jacques Pena – a seus superiores na fundação e no Banco do Brasil. Era ignorada. Ela insistiu, insistiu, insistiu… até que, em dezembro passado, convencida de que ali ninguém nada faria, juntou seus relatórios e denunciou as fraudes ao Ministério Público do Distrito Federal e à Polícia Civil de Brasília.
A polícia e o MP passaram a investigar o caso. Os dirigentes da fundação, ao saber da colaboração de Suely com as autoridades, promoveram-na ao almoxarifado. Não tardou para que ela deixasse a fundação e voltasse ao serviço no Banco do Brasil. Foi então que Suely finalmente percebeu com quem estava se metendo. Poucos dias depois de deixar a fundação, segundo relatos, recebeu um torpedo no celular com seu nome, local de trabalho e nome e idade de seu filho, que tem 6 anos. Suely interpretou o torpedo como uma ameaça velada. Comunicou o ocorrido aos delegados que investigavam a fundação. A polícia não conseguiu rastrear a origem da ameaça.
Fernando Gabeira: “O Estado se tornou uma extensão do PT”
Ex-guerrilheiro, ex-deputado federal, jornalista e escritor, Fernando Gabeira já se reinventou várias vezes. Aos 72 anos, decidiu deixar a política – embora continue filiado ao PV e ainda dê palestras ocasionais para militantes do partido – e voltar ao jornalismo. Em seus artigos, publicados quinzenalmente no jornalO Estado de S. Paulo, tem batido no PT, no governo e no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gabeira lançará um programa de reportagens na GloboNews, com estreia prevista para domingo dia 8. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele afirma que o socialismo deixou de ser uma opção viável de poder e critica o aparelhamento do Estado pelo PT.
Facebullying: o assédio no trabalho chegou às redes sociais
Fazia quase dez anos que o gerente Marcelo da Silva Fraga trabalhava na empresa de seguros SulAmérica, em Porto Alegre, quando começou a receber mensagens anônimas ofensivas, com palavrões, em seu e-mail corporativo. “Fiquei sabendo da festa dos anos 70, e que você estava bem viadinho (sic), com uma piruca (sic) muito ridícula”, dizia uma delas. Marcelo foi até a direção da empresa e contou sobre as mensagens, que rapidamente se espalharam pela caixa postal de colegas de trabalho. Com o apoio da SulAmérica, ele conseguiu judicialmente que o provedor de internet rastreasse a conta-fantasma. Ela fora criada num computador da própria empresa, no Departamento de Informática. O usuário, que estava de férias, negou ter criado a conta. Qualquer um poderia ter sentado em sua mesa durante sua ausência.
Dias depois, Marcelo recebeu pelo correio um envelope amarelo, com seu nome como destinatário e sem remetente. Dentro, havia um pó branco. Imediatamente Marcelo levou o envelope para uma delegacia e pediu a análise. Segundo seu advogado, o pó foi identificado como cocaína. “Estavam armando contra ele”, afirma Marco Túlio de Rose, advogado de Marcelo. Mais uns dias se passaram, e Marcelo recebeu a notícia de que fora chamado pelo Departamento de Recursos Humanos. A caminho de lá, viu um grupo de outros gerentes e diretores fazendo uma festa.
A comemoração tinha balões e serpentina. Testemunhas disseram depois que a festa fora organizada para “comemorar a vitória dos que queriam o afastamento de Marcelo” e que “pessoas ligadas à diretoria participaram”. As testemunhas foram ouvidas durante o processo que Marcelo abriu na Justiça contra a SulAmérica, alegando ter sofrido assédio moral. Ele ganhou uma indenização de R$ 20 mil por dano moral. A relatora do processo considerou que a “empresa não tomou as medidas adequadas para punir o infrator” e que a festa, organizada por diretores, ofendeu a honra de Marcelo. Nunca ficou provado quem criou a conta falsa de e-mail nem quem enviou o envelope.
Essa seria apenas mais uma história de assédio moral corporativo, não fosse um detalhe: o uso do e-mail como forma de atingir a vítima. O assédio moral virtual é a evolução das piadas ofensivas de colegas e chefes abusivos que sempre existiram. Fazer fofoca e futricas é tão antigo quanto a humanidade. As habilidades de falar mal dos outros e criar situações humilhantes dentro do ambiente de trabalho apareceram já nas pequenas oficinas da Idade Média. No mundo moderno, tais atos ganharam um nome (assédio moral) e passaram a ser punidos na Justiça. Agora, as conversas maldosas deixaram a salinha do café, os corredores escuros e ganharam visibilidade: estão na internet – onde todo mundo pode ver.
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Carta Capital
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