IstoÉ
Como o PT perdeu poder nos fundos de pensão
O desejo de mudança chega à Previ, à Funcef e à Petros, que movimentam R$ 280 bilhões, e dirigentes sindicais petistas e executivos ligados ao governo perdem força. Saiba como isso pode influenciar até no resultado das eleições presidenciais
O sentimento de mudança captado em pesquisas eleitorais e que ameaça a hegemonia do PT chegou primeiro aos fundos de pensão. Em menos de um mês, eleições realizadas em dois dos principais fundos de previdência complementar do País destronaram dirigentes sindicais e executivos ligados ao governo. Além do risco de perder o controle sobre recursos que se tornaram essenciais à política de investimentos do governo federal, o Palácio do Planalto teme que o voto de protesto nos fundos contamine as urnas em outubro. A primeira derrota ocorreu na Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, o terceiro maior. Lá, a oposição colheu expressivos 45% dos votos, contra 31% da chapa petista. Duas semanas depois, foi a vez da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, o maior em patrimônio e contribuintes. Numa disputa acirrada, os opositores venceram com 31%, nove pontos percentuais à frente dos governistas. A onda anti-PT agora ameaça a Petros, dos servidores da Petrobras, o segundo maior do País.
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Previ, Petros e Funcef reúnem mais de R$ 280 bilhões em patrimônio, quase metade dos R$ 624 milhões de mais de 250 fundos em operação. Por trás dessas cifras astronômicas, está o interesse de seis milhões de contribuintes ativos, aposentados e pensionistas. O futuro dessas pessoas depende da saúde financeira das entidades que administram poupanças acumuladas por toda uma vida. E não se trata apenas de indivíduos, mas de famílias inteiras. No frio cálculo eleitoral, são 30 milhões de votos, mais da metade do total obtido por Dilma Rousseff no segundo turno de 2010.
Imagine agora toda essa gente insatisfeita com o rumo de seus investimentos. Pois é exatamente isso que está acontecendo. Em 2013, os fundos de previdência fecharam seus balanços com um déficit histórico de R$ 22 bilhões e o saldo negativo só cresceu na primeira metade deste ano. A Previ acumula R$ 5 bilhões de prejuízo, a Petros tem algo próximo a R$ 3 bilhões, enquanto a Funcef já ostenta um saldo negativo de R$ 4 bilhões. Para se defender, os comandos das entidades culpam a difícil conjuntura econômica. Levantamento da Abrap, associação que reúne o setor, indica que 262 planos de benefícios fecharam o ano passado no vermelho, um aumento de quase 100% na comparação com 2012.
Para os associados, porém, a justificativa não cola. Entre as principais bandeiras levantadas pelas chapas vitoriosas estão justamente as críticas à ingerência e ao aparelhamento promovido pelos petistas. “Nos últimos anos, ficou patente o interesse do governo em viabilizar seus projetos em detrimento da rentabilidade da previdência”, afirma o novo diretor de administração da Funcef, Antônio Augusto de Miranda. Ele pondera que no governo de Fernando Henrique o uso dos fundos era explícito. Após a chegada de Lula ao poder, criou-se um novo marco regulador que prometia proteção. Abriu-se a oportunidade de eleição para conselheiros e, posteriormente, para diretores. Essa dinâmica, porém, retroagiu quando o PT percebeu o poder que tinha nas mãos. “O governo passou a usar os fundos para viabilizar concessões públicas e empreendimentos em que o mercado não tinha interesse”, avalia.
PublicidadeO momento infernal de Dilma
Pesquisa feita por instituto americano e confirmada por levantamento encomendado pelo PT provoca mau humor nos principais auxiliares da presidenta e obriga o partido a mudar os rumos da campanha
Coube ao marqueteiro João Santana, que há poucas semanas insistia em profetizar uma acachapante vitória da presidenta Dilma Rousseff sobre “os anões da oposição” ainda no primeiro turno da disputa presidencial, jogar um balde de água fria no comando da pré-campanha petista. Na segunda-feira 2, durante jantar no Palácio da Alvorada, Santana foi rápido e objetivo. Tendo em mãos os dados de uma pesquisa contratada pelo PT, ele afirmou: “Está diminuindo de forma considerável e rápida a confiança do eleitor na capacidade do governo para realizar mudanças.” A constatação azedou o humor do ex-presidente Lula, do presidente do PT, Rui Falcão, do ex-ministro Franklin Martins e dos ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Aloizio Mercadante (Casa Civil), que dividiam a mesa com Dilma. O que todos ali já sabiam é que a pesquisa reportada por Santana confirmava outra enquete realizada entre os dias 10 e 30 de abril pelo Pew Research Center, um instituto americano que rastreia os ânimos dos cidadãos em 82 países. O resultado desse estudo é arrasador para a campanha de Dilma. Ele mostra, entre outras coisas, que apenas 26% dos brasileiros estão satisfeitos com o País, 86% desaprovam a maneira como a presidenta lida com a corrupção, 85% criticam a maneira de Dilma enfrentar questões como segurança e saúde. E, o que é mais surpreendente, o número de insatisfeitos saltou de 49% para 72% de 2010 para cá. “Essa frustração só tem paralelo com a de países que enfrentam convulsões sociais, rupturas institucionais e crises como a do Egito”, disse Juliana Horowitz, responsável pela pesquisa americana.
A dupla da impunidade
Donos de um passado marcado por cassação e casos de corrupção, José Roberto Arruda e Luiz Estevão se unem na corrida ao governo do DF num explícito deboche à lei da Ficha Limpa
A história recente do País mostra que escândalos de corrupção não escolhem partidos ou ideologias. Poucos homens públicos, hoje, são capazes de ostentar um currículo sem nenhuma mácula. Dois personagens, no entanto, possuem o dom de superar os seus pares pela insistência em não deixar as páginas policiais, como se tivessem uma compulsão pelo malfeito. São eles os políticos brasilienses José Roberto Arruda (PR) e Luiz Estevão (PRTB). Este ano, numa composição política que desafia a lei da Ficha Limpa e o bom senso do eleitor, eles marcharão juntos na campanha eleitoral ao governo do DF. Nas últimas semanas, Estevão confirmou apoio à candidatura de Arruda ao Palácio do Buriti. “É o sujo apoiando o mal lavado”, lamenta o cientista político da UnB David Fleischer.
Arruda e Estevão exibem trajetórias e comportamentos parecidos e estão sempre a postos para reiniciar um novo ciclo vicioso, que só não foi interrompido até hoje por conta da impunidade e da morosidade da Justiça. As semelhanças entre eles são evidentes. Ambos debutaram na vida pública em Brasília, pertencem à mesma geração de políticos, foram flagrados em práticas ilegais, condenados e presos. Arruda, aliás, foi o primeiro governador preso no exercício do mandato. Estevão, o primeiro senador cassado da história do País. Na esteira de seus infortúnios, eles agiram de modo harmônico: submergiram, experimentaram o ocaso político e, depois, retornaram cândidos pedindo mais uma chance com a promessa de fazer diferente. Arruda regressou à vida pública. Estevão, à empresarial. Não há sinais de que mudaram. Pelo contrário. Num país em que ladrões de latas de leite vão rapidamente para a cadeia, Estevão, por exemplo, acusado de desviar R$ 400 milhões dos cofres públicos, desfilava pela capital federal até o início do ano a bordo de uma Ferrari. Em abril, a Justiça determinou a penhora do carro como forma de garantir o pagamento de dívidas.
Processos é que não faltam para a dupla. Desde 2000, quando foi cassado, Estevão recorre de uma condenação a 31 anos de prisão por desvios na obra do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. Na ocasião, ele chegou a ser preso preventivamente, mas foi solto dias depois. Hoje, ele devolve aos cofres públicos quase meio bilhão de reais por conta das irregularidades no TRT. Mesmo assim, tem esse valor abatido ao alugar imóveis para a própria União. Arruda, por sua vez, então governador do DF, ficou preso entre fevereiro e abril de 2010 na Superintendência da Polícia Federal, após a divulgação de vídeos contendo imagens em que ele aparece recebendo dinheiro de propina de Durval Barbosa, delator e um dos operadores do esquema de corrupção montado na capital, com distribuição de mesadas para parlamentares, secretários e funcionários. Menos de dois meses depois, Arruda foi solto quando o Superior Tribunal da Justiça (STJ), por oito votos a cinco, entendeu que ele não ofereceria mais riscos à investigação. Em 16 de março de 2010, teve seu mandato cassado pelo TRE do Distrito Federal por infidelidade partidária. Embora tenha sido denunciado pelo Ministério Público Federal como chefe da organização criminosa, Arruda ainda não foi julgado pela Justiça nesse processo.
Bancada escravocrata
Enquanto um grupo de parlamentares responde no STF por manter trabalhadores em condições análogas à escravidão, proposta no Congresso quer dificultar a caracterização desse crime
A possibilidade de erradicar o trabalho escravo no Brasil nunca foi tão exaltada. Na semana passada, a promulgação de uma proposta que expropria terras de fazendeiros flagrados praticando esse crime, a chamada PEC do Trabalho Escravo, escondeu as articulações em defesa dos próprios interesses de parlamentares acusados justamente de manter trabalhadores em condições análogas à escravidão. ISTOÉ teve acesso a inquéritos que apuram a relação de políticos de diferentes Estados com o trabalho escravo, além de processos administrativos que resultaram apenas em acordos trabalhistas. Na maioria dos casos os acusados foram enquadrados por manter trabalhadores em “condições degradantes”. O deputado Beto Mansur (PRB-SP), teve a condenação mais recente. O Tribunal Superior do Trabalho o condenou a pagar R$ 200 mil por danos coletivos. O caso caminha a passos lentos no STF. O recém-chegado à Câmara Ursenir Rocha (PSDB-RR) também é investigado pelo tribunal. No inquérito contra ele constam fotos de funcionários de sua fazenda alojados em condições desumanas, dormindo no chão e sem instalações sanitárias.
A acusação de manter funcionários em condições “degradantes” é o principal problema para os parlamentares. Não por acaso, é justamente esse termo que a frente ruralista entusiasta da nova proposta tenta expurgar do texto que ainda será regulamentado na PEC promulgada na semana passada. Se isso acontecer, nenhum dos congressistas que atualmente é réu em processos correria o risco de condenação. Por isso a proposta arrancou tantos elogios. “A regulamentação da proposta trará segurança jurídica para o campo e vai evitar a expropriação de terras de forma irresponsável”, disse o senador Jayme Campos (DEM-MT). Campos assinou recentemente um Termo de Ajuste de Conduta para se livrar das acusações de manter empregados nas suas fazendas sem salários e em estrutura física precária.
Invasão estrangeira
Mais de 800 mil fanáticos por futebol já começaram a chegar ao Brasil para embalar a Copa do Mundo. Quem são eles, como se prepararam e o que farão durante a maior competição esportiva do planeta
Quando começa uma Copa do Mundo? A resposta óbvia, e correta, é no momento em que abre oficialmente a festa de abertura e, em seguida, a bola rola, com o jogo inaugural, tradicionalmente capitaneado pelo país anfitrião. Mas um Mundial de futebol se inicia bem antes disso. Quando chegam os atores da competição, as seleções e as torcidas dos países envolvidos na disputa, que colorem e transformam a atmosfera das cidades-sede com sua vibração. Ainda há poucos times no País – até a sexta-feira 6, haviam chegado oito delegações –, mas, se depender dos estrangeiros que já estão aqui e daqueles que chegam nas próximas semanas, a Copa do Brasil, que se inicia protocolarmente no dia 12 de junho, às 17h, com Brasil e Croácia, na Arena São Paulo, já está a todo vapor. “Turistas de 186 países vêm nos visitar e serão 30 bilhões de espectadores em todos os jogos, no mundo todo”, diz o ministro do Turismo Vinícius Lage. Segundo a Fifa, foram vendidos pouco mais de 2,9 milhões de ingressos, 40% deles para torcedores de fora. Levantamento recente do Ministério dos Esportes revela que serão mais de 800 mil pessoas vindas do exterior durante a competição. “Sendo que meio milhão virá pela primeira vez ao Brasil por conta da Copa do Mundo. Isso alavanca a economia nacional”, afirma o secretário-executivo do Ministério dos Esportes, Luis Fernandes. A expectativa é que gastem cerca de R$ 2,5 bilhões por aqui.
O fato de ser a primeira Copa realizada no continente americano no século 21 colaborou também para uma grande procura. Os sul-americanos, por exemplo, se valem da proximidade para assistir ao Mundial, da maneira que for possível. No Chile, uma caravana gigantesca foi organizada para partir de Santiago, cruzar a Cordilheira dos Andes e estacionar em Cuiabá, onde a seleção realiza sua primeira partida contra a Austrália, na sexta-feira 13. Serão entre 800 e 3200 carros dirigindo em comboio por cinco dias, percorrendo 800 quilômetros diários. “Fazemos de tudo para ver o Chile ser campeão. Somos uma torcida apaixonada e aventureira”, diz Alberto Schmidt, chefe de operações do grupo. São esperados até 70 mil chilenos no Brasil durante a competição, quatro mil vindos somente do grupo de Schmidt.
“Em Itaquera, agora nóis é tudo playboy”
Como a bilionária Arena Corinthians transformou um bairro esquecido da periferia de São Paulo, abriu perspectivas para milhares de moradores e colocou a zona leste da cidade no centro do mundo
É terça-feira à tarde e o carro da reportagem está rodeando o Itaquerão, o estádio que vai receber a primeira partida da Copa do Mundo. A uns 500 metros da entrada principal, numa rua ladeada por prédios coloridos do conjunto habitacional Cohab – edifícios verdes, amarelos, laranjas e vermelhos –, uma gritaria chama a atenção. O carro para diante de um boteco enfeitado com bandeiras do Brasil, e dá para ver o nome Bar da Rose ao lado da televisão. No aparelho de LCD passa um daqueles modorrentos amistosos pré-Copa e alguém manda aumentar o som. Em pé, com a mão no peito, pelo menos 20 sujeitos cantam bem alto o “Hino Nacional”, mais por farra do que por patriotismo. Enquanto deixam a camaradagem fruir, movida por incontáveis litros de cerveja, o assunto não poderia ser outro: o estádio construído no quintal da casa deles. “Isso aqui ficou uma maravilha”, diz o “autônomo” (foi ele mesmo quem fez o gesto clássico de aspas) Luciano Silva Costa, 35 anos, enquanto ergue os óculos escuros para dar uma piscadinha. “Agora nóis é tudo playboy.”
Só quem nasceu e cresceu na zona leste de São Paulo sabe como esse pedaço da capital foi, desde sempre, o túmulo do progresso da cidade. A região foi a última a ter shopping center. Nos anos 80, quando abriram um McDonald’s no Tatuapé, a criançada até fez festa. Na mesma época chegaram as primeiras concessionárias de marcas bacanas de carro, o primeiro hospital decente, a primeira balada com shows ao vivo de bandas legais. A Radial Leste, a avenida que faz a conexão com o centro, até hoje é um inferno com 30 quilômetros de congestionamentos diários. O rio Aricanduva, que corta bairros populosos como Penha e Vila Carrão, inundou e destruiu casas e famílias durante 30 anos e só recentemente, com os piscinões, saciou sua sede. Só quem nasceu e cresceu na zona leste sabe que ela é a única região da cidade que apelida seus moradores. Quem nasce e cresce na zona leste é chamado pelos outros de “ZL”, como se isso fosse ofensivo. Não existe “ZN”, “ZO” ou “ZS”. Nesse aspecto, os moradores da Zona leste sempre estiveram à frente dos outros, que jamais possuíram uma identidade própria.
A Arena Corinthians foi a vingança definitiva dos moradores da zona leste. No próximo dia 12 de junho, quando Brasil e Croácia entrarem em campo, 1,5 bilhão de pessoas do mundo inteiro terão seus olhos voltados para Itaquera, o bairro de 523 mil habitantes escolhido para a construção do estádio. “A gente ficou orgulhoso, mas o que conta mesmo é que a vida vai melhorar”, diz o técnico de raio X Alexandre Alves, um são-paulino de 30 anos. Para ele, o Mundial será uma benção. “O pessoal da Ambev pagou R$ 25 mil para a gente autorizar a pintura do prédio.” Alexandre vive em um dos edifícios da Cohab a poucos metros da entrada do Itaquerão e que foram escolhidos pela fabricante de cerveja para fazer desenhos alusivos à festa do futebol. Segundo ele, os moradores ainda não decidiram se vão dividir o dinheiro ou se farão melhorias na construção.
Legado para o Brasil
A Copa do Mundo impulsionou uma série de obras de infraestrutura e mobilidade no País, como o BRT Transcarioca, que acaba de ser inaugurado no Rio de Janeiro e une o aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca
Muito se discute sobre as vantagens e desvantagens em sediar a Copa do Mundo. Ainda que se fale dos estádios caríssimos, é inegável que o País se beneficiará de relevantes investimentos em infraestrutura, mobilidade urbana e serviços por causa do Mundial. Alguns legados são de extrema importância para a população – como o BRT Transcarioca, (sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus), que acaba de ser inaugurado no Rio de Janeiro, unindo o Aeroporto Internacional Galeão/Antonio Carlos Jobim à Barra da Tijuca. Um percurso de 39 quilômetros que demorava três horas para ser percorrido e, agora, consome 1h10 – e por apenas R$ 3. Este era um daqueles projetos engavetados havia décadas e que só viraram realidade por causa da realização do evento esportivo no Brasil. “Era uma obra aguardada há quase 50 anos, uma eterna promessa. Com a Copa conseguimos firmar a parceria com o governo federal, financiar toda a construção e entregá-la antes do Mundial”, disse a ISTOÉ o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB).
A construção deste BRT foi o único compromisso assumido pela prefeitura carioca com a Fifa, a entidade máxima do futebol. É uma obra de mobilidade fundamental para os jogos que acontecem na cidade, mas, sobretudo, é importante para a população por ser o primeiro transporte de alta capacidade a atender o Aeroporto Internacional, que até então contava apenas com táxis e ônibus comuns. Durante o Mundial, quem chegar à cidade pelo aeroporto para assistir aos jogos poderá utilizar a via expressa para ir ao Maracanã, ao Centro ou à zona Sul utilizando a conexão com o metrô na estação Vicente de Carvalho. Se for estrangeiro, não ficará perdido: as estações Galeão 1 e 2 contam com profissionais com noções de inglês para auxiliar os turistas. Os BRTs, claro, têm bagageiros. Depois da Copa, muita gente vai embarcar e desembarcar nas 47 estações que passam por 27 bairros e se integram com metrô e trens.
Época
Por que amamos tanto a Seleção
A história de amor entre os brasileiros e o escrete canarinho – e por que muita gente chega a torcer contra
A cena eletrizou o Brasil e emocionou o mundo. Antes do jogo entre Brasil e México pela fase de grupos da Copa das Confederações, os jogadores da Seleção e a torcida no estádio Castelão, em Fortaleza, começam a cantar o Hino Nacional. Pelo regulamento da Fifa, os hinos podem durar no máximo 90 segundos. Por isso, a gravação que acompanha o canto é interrompida logo depois do “Ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve…”. Neste momento, as câmeras de TV mostram o rosto do jogador Thiago Silva, capitão da Seleção Brasileira. Ele está de olhos fechados e, como se não notasse a interrupção, continua a cantar: “Brasil, de um sonho intenso, um raio vívido, de amor e de esperança à terra desce…”. A câmera se afasta e revela que ele não é o único. Todos os outros jogadores cantam a capela e também os quase 60 mil torcedores.
Só param quando as notas musicais se transformam num grito (Nélson Rodrigues diria “um brado retumbante”): “Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil…”. Ao final, todos explodem em aplausos. “Nunca vi nada igual em minha vida”, disse depois do jogo o árbitro Howard Webb. Três anos antes, ele apitara a final da Copa de 2010. “Mesmo sendo inglês, fiquei emocionado com o hino brasileiro.” O hino a capela se tornou a marca da torcida brasileira na Copa das Confederações, até a vitória final, contra a Espanha, em que o coro atingiu o tamanho do Maracanã – 75 mil pessoas.
A cena é ainda mais impressionante quando se leva em consideração que, fora dos estádios, o Brasil explodia em protestos contra a corrupção e pela melhoria dos serviços públicos. No dia 19 de junho, data da partida, os protestos já começavam a ficar violentos, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, cogitava cancelar a Copa das Confederações. O torcedor estava dividido: até que ponto o apoio à Seleção significava compactuar com a bagunça e as denúncias de desvios que marcaram a organização da Copa do Mundo no Brasil? Quando o time de Neymar entrou em campo, a torcida abraçou a Seleção. Um ano se passou. Embora os protestos de junho tenham arrefecido e se convertido em reivindicações pontuais de alguns grupos e sindicatos, os torcedores têm sentimentos ambíguos às vésperas da Copa do Mundo.
Aldo Rebelo: “Dilma não pode ter medo de vaia”
O ministro do Esporte fala da reta final na organização da Copa, afirma que apupos não matam ninguém e torce por uma final contra a Argentina. “Eles tremeriam”, diz
Em meio à correria dos últimos preparativos para a abertura da Copa do Mundo do Brasil, na próxima quinta-feira, dia 12, em São Paulo, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, recebeu ÉPOCA para falar sobre o Mundial. Ele diz que, aos 45 do segundo tempo, só resta aos brasileiros torcer pela Seleção e pelo sucesso do evento. Num momento em que tantos brasileiros têm vergonha de abraçar a Seleção, por causa da desorganização do torneio e das denúncias de superfaturamento, Rebelo diz que não fez isso nem na ditadura. Ele acha também que a Copa não está aí para resolver os problemas do Brasil e afirma que a juventude que vai às ruas protestar contra o evento padece de “ignorância”.
ÉPOCA – O que o senhor sente quando vê a nova geração fazer manifestações contra a Copa?
Aldo Rebelo – É um pouco de ignorância do que representa o futebol para o país. O futebol é, no Brasil, a primeira grande plataforma de promoção social dos pobres e dos negros. Quando um país tão desigual na primeira metade do século passado conheceu a primeira celebridade, ela era pobre, mestiça, negra. Ela veio do futebol: Fausto, a maravilha negra da Copa de 1930, no Uruguai. Depois, vieram Friedenreich, Domingos da Guia, Leônidas da Silva, mais tarde Garrincha, Pelé, Didi. Essas pessoas se consagraram no país a partir do futebol. Devemos muito ao futebol. Tivemos o Vasco da Gama, enfrentando o preconceito contra os jogadores operários e negros, e o Palmeiras, enfrentando em São Paulo o preconceito contra os imigrantes. Isso tornou o futebol uma grande instituição, sem que o mercado ou o Estado tivessem participação relevante. Quando o Estado chegou ao futebol com a primeira regulamentação de 1940, de Getúlio Vargas, e criou o Conselho Nacional de Desportos, o futebol já era uma instituição nacional. Os grandes clubes já eram instituições consagradas, como Palmeiras, Corinthians, Flamengo, Vasco. Mais recentemente chegou o mercado, para beneficiar, por um lado, porque os jogadores passaram a ganhar mais, e o futebol passou a ter mais dinheiro. E também trouxe os riscos inerentes à mercantilização desse esporte tão universal e tão querido.
O dia em que (quase) perdemos a Copa
O negociador Luis Fernandes acalmou o secretário-geral da Fifa – e se tornou o bombeiro oficial do Mundial
Na noite de 20 de junho do ano passado, quando o Brasil foi às ruas, a indignação de muitos encontrou a fúria de poucos. A violência se revelou em chamas e pancadaria. Em Brasília, sobreveio a tentativa de invasão do Itamaraty, com pedras e coquetéis molotov. O mundo se assustou. Da Fifa, veio a ligação para um celular de Brasília: Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, dizia que a Fifa cogitava seriamente cancelar a Copa das Confederações – medida que, no limite, levaria ao cancelamento da Copa do Mundo. O celular de Brasília pertencia ao cientista político Luis Fernandes, secretário executivo do Ministério do Esporte, o segundo na hierarquia da Pasta, depois de Aldo Rebelo. Fernandes assumira o cargo em janeiro de 2012, dois meses antes de Valcke ensaiar um “chute no traseiro” do governo brasileiro pela desorganização das Copas. Reconhecido por suas habilidades diplomáticas e poder de persuasão, ele foi escolhido pelo Planalto para ser o interlocutor com a Fifa – e tentar salvar a Copa. Naquele momento, Fernandes já conseguira conquistar um pouco da confiança de Valcke. Garantira, apesar de todas as evidências em contrário, que a Arena Pernambuco seria concluída a tempo da Copa das Confederações. O estádio ficara pronto. Agora, Fernandes precisava usar o que amealhara de credibilidade com Valcke para convencer a Fifa a não suspender a Copa das Confederações.
Desde 2007, quando o Brasil fora escolhido como sede da Copa de 2014, a relação com a Fifa era conflituosa. A noite de 20 de junho não foi apenas o ápice das manifestações nas ruas. Foi o ápice da tensão nessa conturbada relação. O Brasil não levava as exigências da Fifa a sério – não levava a Copa a sério. Houve atrasos e desculpas demais, em todos os aspectos que compõem um evento desse porte: construção de estádios, ampliação de aeroportos e hotéis, investimentos em segurança pública. A hostilidade entre o governo federal e a Fifa piorou consideravelmente em 2011, à medida que as obras dos estádios atrasavam muito além do razoável. Como se não bastasse, o intermediário dessas duras negociações era Ricardo Teixeira, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol e do Comitê Organizador Local (COL), braço da Fifa no Brasil. Dilma detestava Teixeira. Ficou irada quando ele disse, em Zurique, durante o anúncio das sedes brasileiras na Copa das Confederações, que Salvador e Recife poderiam ser excluídas do torneio.
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De como uma esquerda forte pode contribuir decisivamente para o progresso de uma nação e o aprimoramento da democracia
Na entrevista publicada em CartaCapital na edição passada, Lula pronunciou uma frase-chave: “Eu sempre sonhei em ser classe média”. Assim há de ser. Recordei que, aos 22 anos, deixei São Paulo para trabalhar na Itália, na redação do jornal La Gazzetta del Popolo, de Turim. Declarava-se “matutino independente”, ou seja, sem ligações com partidos, mas a maioria dos meus colegas era de esquerda e votava no Partido Comunista. Eu também votei.
Alguns entre eles poderiam ser definidos como muito ortodoxos, apostavam na ditadura do proletariado. Logo me pareceu, de resto em coincidência com outros colegas, que o proletário quer ser burguês, e que nesta aspiração legítima reside a sua força. É o que o empurra a reivindicar, se for o caso a ameaçar o patrão com a fatídica arma da greve. O proletariado italiano e sua capacidade de pressão foram decisivos para transformar em potência mundial um país saído em escombros da ditadura fascista e da guerra.
À época comunistas e socialistas eram aliados, inclusive na maior central sindical, a CGIL, e sem a sua ação não haveria distribuição de renda e reforma agrária, fatores determinantes daquele que foi chamado de milagre italiano. A frase de Lula, um ex-proletário desejoso de se tornar classe média, e largamente habilitado a realizar seu intento, teve o poder e a graça de evocar meus anos verdolengos, bem como em definir um caminho que o Brasil ainda não percorreu. Na Itália hoje em grave crise, aquela esquerda faz muita falta.
Mão pesada de Barroso
Apoiado por Zavascki, o juiz propõe uma importante mudança na lei do foro privilegiado. A ideia emplacou
A passagem do julgamento dos processos contra parlamentares do Plenário do STF para as turmas do tribunal para dar mais rapidez às decisões nesse tipo de processo é uma iniciativa decisiva para modernizar o regimento da mais alta corte do País.
As turmas, que só têm cinco membros e cujas sessões não são exibidas na TV Justiça, têm uma dinâmica muito mais ágil. A alteração foi obra conjunta dos dois ministros novatos, indicados pela presidenta Dilma Rousseff. Luís Roberto Barroso ofereceu, no fim do ano passado, uma proposta simples: o recebimento de denúncias contra parlamentares deveria passar do plenário para as turmas. Teori Zavascki concordou e propôs que todo julgamento contra parlamentares fosse de competência das turmas.
Levantamento do jornal digital Congresso em Foco indica que, até agora, dos 566 deputados que assumiram mandato em 2014, considerando titulares, suplentes e licenciados, 114 são investigados no Supremo. Nesse bolo há 243 inquéritos e ações penais.
A ideia de Barroso e Zavascki emplacou. E pode até ir mais além. Quem sabe abrir caminho para a moralização do instituto do foro por prerrogativa de função previsto na Constituição.
O fator Neymar
A Seleção pode afetar o humor nativo? às vésperas da Copa, a economia entrou em sincronia com o pessimismo dominante em relação ao torneio
A pouco dias da abertura da Copa do Mundo, a economia entrou em sincronia com o pessimismo de uma parcela da população em relação ao torneio. A última pesquisa Focus do Banco Central mostrou uma queda da perspectiva de crescimento do PIB no ano, de 1,63% para 1,5%. A produção industrial teve o segundo declínio mensal seguido, de 0,3% em abril em relação a março. Comparada a abril do ano passado, retrocedeu 5,8%, segundo o IBGE. A taxa de desocupação aumentou de 6,2% no último trimestre de 2013 para 7,1% nos primeiros três meses deste ano, mas caiu diante dos 8%, resultado de 12 meses atrás.
O último confronto é o mais correto, por descartar a sazonalidade.
As notícias negativas suplantaram as positivas, da estabilidade da previsão de inflação em 6,47% e da taxa Selic em 12% até dezembro à expectativa de investimentos externos diretos acima de 60 bilhões de dólares neste ano. O tempo para reverter o ambiente ruim parece escasso: 2014, do ponto de vista econômico, já era. Resta a Dilma Rousseff apostar no fator Neymar.
Uma derrota prematura ou vexaminosa da Seleção só deixaria o brasileiro mais amargurado.
Muito mais dinheiro
O Congresso aprova em definitivo o Plano Nacional de Educação com meta ousada de investimentos nos próximos anos
O plano nacional de Educação (PNE) foi definitivamente aprovado pela Câmara dos Deputados na terça-feira 3, após a análise dos destaques apresentados pelos partidos, todos rejeitados. Entre as 20 metas para o próximo decênio estão a erradicação do analfabetismo, o incentivo à formação de professores, a ampliação da oferta de ensino integral e infantil e o aumento de 5,3% para 10% do PIB do total aplicado no setor.
Em tese os recursos seriam direcionados para as escolas públicas, mas a ampliação do investimento será dividida com instituições privadas por meio do financiamento do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), do Ciência sem Fronteiras, do Universidade para Todos (ProUni) e das creches conveniadas. “Haverá prejuízos para a realização das metas que requerem investimento direto do Estado, entre elas a ampliação de vagas na educação infantil e integral”, critica Salomão Ximenes, da ONG Ação Educativa.
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