Rudolfo Lago
O senador Renato Casagrande (PSB-ES), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, acompanhou de longe as discussões da Conferência Mundial sobre o Clima, em Copenhague. Ao contrário de vários outros parlamentares, que viajaram para a Dinamarca, Casagrande, também líder de seu partido, preferiu ficar em Brasília para as últimas votações do ano. De longe, porém, decepcionou-se com a falta de compromissos concretos assumidos pelos líderes mundiais no encontro. Casagrande foi considerado o segundo parlamentar que mais se preocupa com o meio ambiente pelos eleitores que votaram no Prêmio Congresso em Foco. Perdeu apenas para a senadora Marina Silva (PV-ES). Nesta entrevista ao site, ele cobra maior responsabilidade não apenas dos outros países, mas também do Brasil. “Não é possível que a discussão num fórum como esse de Copenhague deixe de ser ambiental para ser financeira. Os países têm que entender que todos vão precisar ceder nessa questão”.
A Conferência Mundial sobre o Clima, em Copenhague, chega ao fim sem que medidas concretas tenham sido acertadas entre os países. Que análise o senhor faz da atuação dos líderes mundiais nesse encontro?
Acho que todos nós estamos muito decepcionados. Hoje, nenhum líder mundial tem mais dúvidas sobre a gravidade das mudanças climáticas que estão atingindo o planeta. Ninguém tem dúvidas também de que algo precisa ser feito. O problema é que, na hora de realmente se tomar uma atitude, todo mundo adota uma posição conservadora. Ninguém quer abrir mão de nada.
Há quem argumente – e esse argumento ainda perpassa a ação de alguns líderes mais conservadores de países desenvolvidos – que o aquecimento global seria apenas um ciclo normal da natureza. Que já houve outros ciclos assim, e que isso nada tem a ver com a ação do homem.
O que é inegável? É inegável que o planeta está passando por uma grande mudança. E que essa mudança pode colocar em risco a vida na terra. Ok, pode ser que seja uma tendência natural, como alguns argumentam. Admitamos isso. Mas não há a menor dúvida de que esse processo está sendo acelerado pela intervenção do homem no planeta. Então, temos que limitar essa ação humana. Temos que implementar todas as medidas que forem necessárias para isso. Agora, quem vai dar o primeiro passo?
Se já é um consenso que vivemos um grande risco, o que impede, então, os países de darem esse primeiro passo?
Esse é o problema porque, a partir daí, a discussão deixa de ser ambiental para ser financeira. Isso é triste e lamentável. Os países desenvolvidos não avançam, porque temem, ao reduzir o seu volume industrial, perder competitividade para os países emergentes, como a China, ou nós, o Brasil. E os países pobres só aceitam entrar nessa dança se receberem dinheiro como contrapartida. Aí, infelizmente, o tema principal deixa de ser a nossa sobrevivência para virar uma discussão menor, financeira.
Perdeu-se, então, a oportunidade em Copenhague?
Ainda torço para que os países despertem e percebam que, para preservar o planeta, todos terão que abrir mão de alguma coisa. Essa não é uma discussão para se querer tirar vantagem da situação. É preciso haver um entendimento. É preciso sair do impasse.
E ainda há tempo para esse despertar?
Ainda há tempo, mesmo que o impasse não se resolva em Copenhague. É ruim, mas ainda há tempo. O Protocolo de Kioto vai até 2012 [compromisso dos países, não assinado pelos Estados Unidos, de redução da emissão de gases para diminuir o aquecimento global]. Se nada se resolver agora na Dinamarca, o entendimento tem, porém, que acontecer no ano que vem, para que possamos implementar um novo protocolo até 2013.
Como o senhor avaliou a participação do Brasil em Copenhague?
O Brasil levou uma boa proposta. Assumiu uma responsabilidade voluntária de diminuir consideravelmente a sua emissão de gases. Agora, é preciso de fato se implementar isso. Até porque é uma meta que vai ultrapassar o atual governo. Isso não pode ser só discurso. O Brasil tem que ter responsabilidade.
E estamos, de fato, exercendo essa responsabilidade?
Temos muito o que fazer. Por exemplo: teremos no início do ano o primeiro leilão de energia eólica. Será uma produção ainda pequena, de 1.800 megawatts. É pouco. Mas temos que começar. E ir fazendo leilões periódicos para aos poucos substituir as termelétricas – que hoje usamos como alternativa à energia hidrelétrica -, que são altamente poluentes. A energia eólica tem um custo de geração maior, mas um custo menor de transmissão. E, o que é infinitamente mais importante: não tem custo ambiental.
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