“Não queremos nossos filhos pagos com cestas básicas, queremos nossos filhos vivos. Nós estamos enterrando os filhos e perdendo-os para uma guerra em que não há vencedores”, disse Christiane esta tarde, em seu discurso de estréia na Câmara.
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“Eu sei que é possível o endurecimento das leis, de maneira que esses assassinos de trânsito não apenas entrem, paguem as suas fianças e vão embora para as suas casas e, no dia seguinte, voltem para os bares para encher a cara”, emendou a deputada.
O filho dela, Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e seu amigo, Carlos Murilo de Almeida, 20, foram mortos em maio de 2009 em acidente provocado em Curitiba por Fernando Ribas Carli Filho. O então deputado estadual também tinha 26 anos à época.
“190 km/h é crime”
Após a morte do filho, Christiane criou uma campanha chamada “190 km/h é crime” e fundou o Instituto Paz no Trânsito (IPTran), que dá assistência a famílias vítimas de acidente de trânsito e faz campanhas educativas. Para ela, esse tipo de acidente não pode ser tratado como “fatalidade”. “Infelizmente, o país ainda acredita que a morte no trânsito é fatalidade. O que é uma fatalidade? É um mal que não se pode evitar. O que nós não podemos evitar é o que aconteceu no Nepal, o que aconteceu na Bahia ontem, o que aconteceu em Santa Catarina. Isso é inevitável. Mas beber e dirigir em alta velocidade, fazendo racha, isso é possível evitar”, explicou a deputada.
PublicidadeAs investigações apontaram que o então deputado estadual dirigia a 190 km por hora, com carteira de habilitação suspensa e indícios de embriaguez. Cinco anos após o acidente, o ex-parlamentar, que foi expulso do PSB e renunciou ao mandato ainda em 2009, ainda não foi julgado em primeira instância.
Há duas semanas, o Tribunal de Justiça do Paraná negou quatro recursos da defesa do ex-deputado contra a decisão de levá-lo a júri popular, ainda em 2015, conforme já havia ordenado o TJ anteriormente.
Confira a íntegra do discurso de Christiane de Souza Yared na Câmara:
“Sr. Presidente, Srs. Deputados presentes, toda esta plateia que está aqui nos acompanhando, eu quero deixar o registro daquilo que aconteceu na minha vida e que tem sido a bandeira que eu tenho levantado: a questão da morte do filho no trânsito.
Em 2009, eu fui acordada na madrugada com a notícia de uma tragédia de trânsito. Os dois agentes funerários que traziam a notícia estavam interessados no DPVAT. E, naquela loucura e no pesadelo daquela madrugada, então me veio a notícia de que o filho havia sofrido um… um atentado, porque, quando alguém, em altíssima velocidade, completamente alcoolizado, detendo poder, como um deputado estadual, avança numa velocidade absurda e voa, caindo sobre o carro que meu filho dirigia, matando meu filho e seu amigo, nos tira o chão.
A partir daquele momento, eu comecei a entender que este País vive uma guerra. Nós estamos em guerra, Sr. Presidente.
Infelizmente, o País ainda acredita que a morte no trânsito é fatalidade. O que é uma fatalidade? É um mal que não se pode evitar. O que nós não podemos evitar é o que aconteceu no Nepal, o que aconteceu na Bahia ontem, o que aconteceu em Santa Catarina. Isso é inevitável. Mas beber e dirigir em alta velocidade, fazendo racha, isso é possível evitar. Nós estamos enterrando os filhos e perdendo-os para uma guerra em que não há vencedores.
O País está lavado em sangue. Calçadas, ruas, avenidas, rodovias estão lavadas em sangue. Para o Governo brasileiro, nós temos a estatística de 45 mil mortes/ano. Para o DPVAT, que paga as mortes, somos 70 mil irmãos brasileiros que estão perdendo a vida. Para as ONGs que cuidam dessas famílias, já beiramos o número de 90 mil mortes/ano. Não é possível que este País não encare isso como uma pandemia. É uma pandemia que ocorre no nosso Estado brasileiro.
E quando sou cobrada por uma mãe que perde um filho na segunda-feira, porque um bêbado estava dirigindo o carro e atropela o filho, e, antes de completar uma semana, ela recebe a notícia da morte de outro filho — um de 23, numa segunda-feira, e, antes da outra segunda-feira, um de 27 anos, porque um bêbado estava dirigindo o carro?
O que dizer a uma mãe quando ela diz: Deputada, o que é que vocês estão fazendo lá? O que é que vocês estão fazendo por nós, o povo que tem necessidade de leis mais enérgicas, mais duras e efetivas?
Qual a posição dos Deputados? Quais são as posições dos Parlamentares que aqui se sentam e, neste Parlamento, discutem questões políticas, desesperadamente abraçando os seus partidos, enquanto o povo brasileiro morre, numa quantidade absurda, porque as leis não são aplicadas? Como fazer a diferença, Sr. Presidente? Como podemos fazer a diferença?
Está em nós esse poder. Eu sei que é possível o endurecimento das leis, de maneira que esses assassinos de trânsito não apenas entrem,paguem as suas fianças e vão embora para as suas casas e, no dia seguinte, voltem para os bares para encher a cara.
Não é possível que todos nós que estamos aqui precisemos enterrar um filho no trânsito para que algo seja feito.
E este é o recado da Organização Mundial da Saúde: Se o Brasil não abrir os olhos, se o Brasil não fizer nada até 2020, que está aí, cada família terá enterrado um filho no trânsito brasileiro.
É necessário isso? Será possível que nós não podemos acordar? Será possível que a cerveja ainda seja vendida como uma bebida que não é alcoólica?
Vocês sabiam que uma tulipa de cerveja tem uma dose de bebida destilada? Se você beber dez tulipas, você está bebendo dez doses de bebida destilada.
E nós aceitamos isto como uma coisa normal, como fatalidade, filhos sendo enterrados. Eu não enterrei meu filho! Eu plantei o meu filho e vou colher frutos desse filho plantado!
No meu Estado, eu criei uma instituição chamada Instituto Paz no Trânsito. Lá nós recebemos as famílias,que ficam completamente desestruturadas: a mãe não lava, não passa, não cozinha mais; a mãe não permite mais que o marido toque nela. Esses pais perdem duas vezes, perdem o filho ou a filha e perdem a esposa. Famílias são completamente destruídas, porque essas tragédias de trânsito entram devastando essas casas. Isso não é possível, senhores — não é possível!
O SR. PRESIDENTE (Francisco Floriano) – Só 1 minuto, Deputada. Eu vou pedir silêncio às galerias, porque está discursando a nossa nobre Deputada. Eu peço silêncio, por gentileza.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Isso diz respeito a cada um de nós — a cada um de nós. Todos nós estamos ligados. Se não somos o motorista, nós somos o passageiro. E, se não somos o passageiro, nós somos o pedestre. Não nos sobra outro espaço. Se não acordarmos para isso, meu Deus do céu, o que vamos colher? Que País teremos para os nossos filhos, os nossos netos e para nós mesmos?
É necessário que algo seja feito. É necessário que vocês entendam, que o País entenda. Esse País que queremos começa em cada um de nós, no nosso exemplo. Dá para ser feito, dá para fazer, depende de cada um de nós.
Meu Deus do céu, nessa instituição nós recebemos as famílias que perderam os filhos, reestruturamos essas casas. Depois, nós vamos para dentro dos hospitais, onde trabalhamos com as mamãezinhas que estão recebendo o seu bebezinho. Para lá nós levamos, então, esses equipamentos de segurança, afim de que essas mães já aprendam, com palestras, com instruções, como trazer a criança para a casa.
Trabalhamos com os infratores, algo espetacular, algo que é possível de ser feito no País inteiro.
Recebemos o infrator. Ele passa horas dentro do núcleo de apoio às famílias, ouve as histórias de dores. Depois, ele passa mais horas com uma psicóloga clínica. E, por fim, vai trabalhar no Hospital de Traumas. Ocorre que, de um infrator, no final desse processo, nós temos um educador.
Meu Deus do Céu! Tantas coisas podem ser feitas. Precisamos fazer! É possível fazer! Se depender de nós, iremos fazer. Essas cadeiras aí não vão sair às ruas e dizer: Nós estamos fazendo alguma coisa. Não são as cadeiras, somos nós. Cada Deputado, Cada Deputada que está aqui tem que abraçar a causa do trânsito, porque os seus filhos dependem disso também. Há um país ferido, machucado, um país que precisa de mudanças.
O Sr. Gilberto Nascimento – V.Exa. me concede um aparte, nobre Deputada?
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Pois não, Deputado. Por favor.
O Sr. Gilberto Nascimento – Deputada Christiane, é claro que nós gostaríamos de viver em um país onde não houvesse um discurso como o de V.Exa. É muito triste, Deputada, sepultar um filho. É muito triste quando nós sepultamos alguém que amamos, principalmente na condição em que V.Exa. sepultou seu filho. Nós como pais não nascemos para sepultar filhos. Isso, logicamente, é uma situação adversa da vida. Eu, infelizmente, já sepultei um filho e sei a dor que V.Exa. sentiu. Agora, V.Exa. sepultou um filho por, infelizmente, haver um irresponsável no Paraná, que, arvorando-se de autoridade pública, entende que neste País não tem lei, que neste País matar uma pessoa ou matar uma formiga é a mesma coisa. Alguém assume o risco porque, quando bebe, quando fica numa balada até a madrugada e pega o seu carro, sabe que, se ocorrer alguma coisa, nada vai lhe acontecer. Muitas vezes, ele está em um carro possante, em um carro blindado, matae, infelizmente, quando chega a uma delegacia de polícia, trata-se de um crime culposo.
Nossa legislação é muito falha. Nossa legislação é muito frouxa. Nós víamos, ainda ontem, nesta madrugada, nos canais de televisão, nos noticiários deste País, um bêbado, um maldito bêbado. Quem bebe tem que assumir a responsabilidade. Temos que pôr bêbado na cadeia, sim.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Tem que ficar preso!
O Sr. Gilberto Nascimento – Bêbado tem que ficar preso. Ele tem que assumir, de qualquer forma, a responsabilidade. Deveríamos ter isso como crime doloso, porque ele tem que assumir a responsabilidade — mais uma vez, eu digo.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Exatamente.
O Sr. Gilberto Nascimento – Ontem, por exemplo, alguém saiu da pista e pegou cinco pessoas, matando-as, inclusive uma criança de 4 anos de idade. O que vai acontecer com esse preso? Provavelmente, hoje, ele já tenha pagado uma fiança, talvez de 500 reais, e esteja na rua, bebendo novamente e zombando de seus familiares. Esta Casa, sim, tem a responsabilidade, Deputada. E, felizmente, V.Exa. está aqui. E eu quero me juntar a V.Exa….
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Obrigada.
O Sr. Gilberto Nascimento – Para termos uma legislação mais dura, uma legislação que não deixe que nós tenhamos 45 mil mortes por ano neste País. É um dos Países onde mais se mata no mundo, mas por quê? Porque também não tem legislação. Eu tenho certeza, nobre Deputada, nós temos alguns projetos nesta Casa, e tenho certeza de que agora, com a presença do Deputado Eduardo Cunha na Presidência desta Casa, sem dúvida nenhuma, nós vamos juntos falar com ele e dizer: Deputado Eduardo Cunha, nosso Presidente, vamos colocar um projeto como esse na pauta, é o que o povo brasileiro espera. Eu imagino quantas mães, quantas pessoas se dirigem a V.Exa. para dizer o seguinte: Também perdi uma filho nesta condição, e o que é que nós vamos fazer agora?
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Exatamente.
O Sr. Gilberto Nascimento – Nós, todos nós —todos os Deputados desta Casa, de todos os Estados —, devemos uma satisfação ao povo brasileiro. E principalmente, devemos endurecer a legislação, para que tenhamos presos aqueles que tiraram a vida dos seus semelhantes, quando simplesmente se embriagaram, sabendo que teriam que assumir o risco e a responsabilidade, porque tirariam vidas.
Muito obrigado. Meus sentimentos, acada dia, a V.Exa., porque eu sei que, mesmo quando nós plantamos um filho, a nossa vida passa a ser uma antes e uma depois. Deixo a minha solidariedade a V.Exa.e o meu compromisso de estarmos juntos nessa luta para mudar essa legislação. Parabéns, e que Deus abençoe a senhora.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Muito obrigada. E éisso mesmo, Deputado, porque o País que não pune não educa. Nós não conseguimos educar porque não punimos. A leitura que fica é muito fraca.
O que nós temos são jovens que bebem, senhores e senhoras que bebem e que, muitas vezes, não estão nem habilitados, que matam e não são punidos. E, se você conversar com qualquer um deles, eles vão lhe dizer a mesma coisa: Não dá nada. Não dá nada!. Como não dáem nada? As famílias, os amigos e aqueles que amam ficam completamente desestruturados.
Deputado, nós estamos num momento em que o País precisa de mudanças. Vamos fazer essas mudanças. Eu preciso de V.Exas. comigo. Eu preciso que V.Exas. entendam para que as leis aprovadas sejam duras, duras leis, severas leis para esses assassinos, para esses indecentes, para esses transgressores que ainda acreditam que beber e dirigir não dá em nada.
O Sr. Moroni Torgan – Deputada Christiane, V.Exa. me permite um aparte?
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Por favor.
O Sr. Moroni Torgan – Primeiro, quero parabenizar o discurso de V.Exa. Eu vejo mais a mãe, até, do que a Deputada aqui hoje, no sentimento de V.Exa. E, realmente,perder um filho é uma coisa terrível, ainda mais nessas condições, um filho que a gente queria ver pelo resto da vida, progredindo, vendo os netos e tudo o mais. Eu não senti isso, mas meu pai sentiu. O meu irmão faleceu antes do tempo, e eu ouvi quantas meu pai dizendo, durante o enterro: Eu queria estar no teu lugar, meu filho. Então, é terrível.
O trânsito. As pessoas não se dão conta de que quando pegam na direção de um veículo elas pegam numa arma, e numa arma mortal. Por isso que eu duvido que uma pessoa embriagada pegue um revolver e comece a brincar com ele, comece a dar tiro para tudo quanto é lado; ou outra pessoa que não esteja no seu estado normal não chegue alguém e diga: Aqui, meu amigo, tu estas meio fora de si, por isso me dê essa arma aqui! Eu não entendo por que amigos deixam uma pessoa sair bêbada, também, e não se incomodam com isso, porque se ela estivesse com uma arma na mão, iriam dizer: Não, não, não vai mexer nessa arma, porque tu não estas em condições de fazer isso! Ou seja, eles devem tomar essa atitude com essas pessoas. E muitas vezes eu vejo também os pais não ensinarem os filhos sobre como fazer a travessia de uma rua. A travessia de uma rua é como atravessar um campo de tiros. Quer dizer, quando é que se atravessa um campo de tiros? Quando o instrutor diz: Parem! Aí todo mundo para, vão lá, pegam os alvos ou coisa parecida e atravessam o campo de tiros. Numa rua deve-se fazer a mesma coisa. A sinaleira. Deve-se observar quando uma sinaleira sinaliza PAREe a outra sinaliza SIGA, para ver quando poderá atravessar a rua. Nós temos que entender isso, tanto os motoristas que usam a arma quanto os pedestres que estão à mercê da arma. E nós temos que educar os dois lados sobre esse ponto. E, principalmente, é lógico, quem usa a arma tem a maior responsabilidade, por isso deve ter a maior punição.
O dolo eventual veio justamente para punir aqueles que sabiam que, através da sua conduta, poderiam praticar um delito. Acho que podemos ir além: aquele que realmente sai embriagado de um lugar e sem condições de dirigir tem que ser responsabilizado mais duramente. É como eu disse, ele vai pegar numa arma e vai começar a disparar para tudo quanto é lado, porque a direção de um veículo se torna uma arma letal quando a pessoa não tem condições de usá-la. Parabéns pelo discurso, Deputada!
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Obrigada, Deputado. Quero fazer um registro impressionante. Vocês acreditam que, para cada motociclista que morre, 50 ficam sequelados? É algo assustador! De cada 10 leitos dos hospitais brasileiros, 7 são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. O que está acontecendo com este País! Temos uma Nação machucada, ferida com ferida de morte. Há no País 47 milhões de sequelados. E a previsão é que isso aumente assustadoramente. O que precisamos fazer! Precisamos endurecer, porque o país que não pune não educa. Precisamos educar os nossos jovens! Precisamos fiscalizar o que está acontecendo!Precisamos punir, sim, seriamente! Meu Deus, quando é que vamos acordar para tudo isso, essa tragédia quese instalou no Estado brasileiro! Até quando vamos entender que isso é fatalidade! Jovens, senhores, mulheres, indivíduo que bebe e dirige, que dirige em alta velocidade, que não possui habilitação tem que ser punido, senão não mudamos. O que está acontecendo neste País!
E o que está acontecendo neste País, meus amados irmãos, irmãos brasileiros, amigos Deputados, colegas de trabalho, o que está acontecendo neste País é a guerra que se instalou, são uma pandemia as mortes no trânsito.
Deputado Jácome, por favor.
O Sr. Antônio Jácome – Deputada Christiane, gostaria de me solidarizar com o pronunciamento de V.Exa. Esse é um tema que precisa ser recorrente neste plenário, porque, apesar da Lei Seca e de outras medidas, o número de ocorrências, o número de mortes, de feridos e de sequelados ainda é muito grande. Eu conheço de perto o tema, porque durante muitos anos fui médico plantonista do maior hospital de urgências do meu Estado.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Você sabe bem do que eu estou falando.
O Sr. Antônio Jácome – Quantas vezes atestei óbitos de jovens adolescentes mortos por irresponsabilidade de alguém. Assim como V.Exa., carrego comigo as marcas da irresponsabilidade no trânsito, porque perdi dois irmãos no mesmo acidente alguns anos atrás. Concordo que precisamos de uma legislação mais severa. Entretanto, precisamos de algo mais.
Se a gente quer, de fato, diminuir a incidência de mortes no trânsito é inconcebível que, no Brasil, o trânsito ainda continue matando mais do que o câncer de pulmão, por exemplo. Nós precisamos que a educação no trânsito, Deputada Christiane, seja uma matéria curricular.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Com certeza.
O Sr. Antônio Jácome – Que desde a primeira infância, a criança entenda que hoje, num país de dimensões continentais, num país onde a rodovia é o principal meio de transporte, com máquinas poderosas, com carros e motos que chegam a 250, a 300 quilômetros por hora, é preciso uma cruzada nacional em favor da educação no trânsito.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – É necessário.
O Sr. Antônio Jácome – E ninguém com mais autoridade do que V.Exa. para encampar, para comandar essa grande cruzada nacional para que a gente tenha a diminuição considerável do número de mortos e acidentados e que a gente estimule mais as Blitze da Lei Seca.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Com certeza.
O Sr. Antônio Jácome – Porque a gente vê, muitas vezes, Deputada, só para concluir, nas mídias sociais, a juventude tentando driblar. Até grupos no WhatsApp dizendo: a Blitz da Lei Seca está em tal avenida e a tentativa de burlar ou driblar.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – É verdade. Nós temos que mudar esse comportamento.
O Sr. Antônio Jácome -Exatamente. E mudar comportamento não é fácil.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Mas é possível, ouviu, Deputado. É possível mudar comportamentos. É um processo.
O Sr. Antônio Jácome – É possível num processo demorado, permanente, como eu disse, iniciando pela educação no trânsito como matéria curricular. Obrigado e parabéns pelo pronunciamento.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Obrigada, Deputado.
Antes de passar a palavra ao nosso caro Deputado, eu só quero deixar aqui o registro de que nós não queremos os nossos filhos pagos com cestas básicas. Nós queremos os nossos filhos vivos! Queremos os nossos amados conosco! Cestas básicas, horas de serviço à comunidade, para voltar às ruas e infringir novamente?!
Nós temos que rever muitas coisas, mas é possível fazer, porque no Estado do Paraná, em Curitiba, nós conseguimos, com ações, diminuir em 30% as mortes no trânsito. Então, é possível fazer. O que nós temos que fazer é levar isso para o País, um País que vai abraçar, porque esse grito silencioso já ecoa em todos os lugares. Ele não é mais silencioso, está na dor e na alma dessas mães, desses pais, desses amados que gritam que os seus estão indo!
Indiferentemente de quem seja o algoz do filho, a Justiça fica indolente e leva anos para julgar esses casos — anos! Chegam a prescrever! É uma vergonha!
E o nosso trabalho aqui, como representantes do povo… E eu, que represento 200 mil votos pelo Estado do Paraná, como a candidata mais votada, a Deputada mais votada no Estado; eu, que represento o grito e a dor dessas famílias, eu venho aqui exigir que nós, como parceiros do povo, façamos a nossa parte. É necessário mudar, é necessário fazer. Nós temos é que juntar as forças.
Deputado, por favor, o aparte.
O Sr. Heráclito Fortes – Deputada Christiane Yared, eu, a princípio, achava que o melhor testemunho que eu poderia dar era minha solidariedade através do silêncio.
Depois, achei que não, que eu tinha o dever como cidadão, como pai, como avô de me associar a essa sua dor, que não tem fim,para ver se desperta as autoridades com relação a fatos como esse para que não se repita a sua dor, a dor de Cissa Guimarães, da nossa colega Keiko Ota. Elas têm que servir de horizonte para as autoridades deste País. Vejo a senhora jovem, com a vida toda pela frente, acabada pela metade. A sua vida se torna um vazio terrível porque perde da maneira mais inesperada, mais brutal do mundo um filho pelo qual lutou tanto para criar, vê-lo ser uma pessoa importante na nossa sociedade. Nós temos que encontrar mecanismos para dar um basta a isso. Eu quero dizer a V.Exa. que estarei solidário no meu silêncio. Agora, dou-lhe um conselho: não pare de gritar.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Obrigada, Deputado. Com certeza, não iremos parar porque essa é uma causa legítima de cada cidadão brasileiro que luta e espera que nós façamos nosso trabalho neste lugar.
Concedo um aparte à Deputada Benedita.
A Sra. Benedita da Silva – Deputada Christiane, apenas para ter aqui uma voz de mulher, uma voz de mãe, uma voz de quem também játeve perda de filho, mas não nessa circunstância, para dizer que estamos juntas para levantarmos esta bandeira. Não aparteei antes, porque quando cheguei V.Exa. estava em sua abordagem e eu não quis aparteá-la, mas compartilho da sua angústia, compartilho da sua dor, compartilho da sua veemência. E quero dizer que se nós calarmos as pedras clamarão. Então, é preciso que nós estejamos mesmo não só clamando, mas denunciando e buscando fazer cumprir aquilo que nós já conquistamos. As leis estão aí para serem aplicadas com eficácia. Por isso, eu agradeço a concessão do aparte por V.Exa.
A SRA. CHRISTIANE DE SOUZA YARED – Só para encerrar, Presidente, eu quero dizer que nós não iramos nos calar, que eu sei que aqui nós temos amigos e irmãos, porque caminhamos juntos. E lembrar que quando nós acendemos a luz para alguém iluminamos o nosso próprio caminho. E que Deus nos ajude. Que Deus nos fortaleça, para que possamos fazer a nossa parte e a mudança que este País necessita, começando em cada um de nós.
Muito obrigada, Sr. Presidente.”