Surpreendido pela disparada, por longos dois minutos, da campainha do plenário, em uma cena de constrangimento registrada pela TV Senado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou à tribuna nesta terça-feira (4) depois de ter sido afastado do exercício do mandato entre 18 de maio e a última sexta-feira (30), quando recebeu decisão favorável do ministro Marco Aurélio Mello no último dia antes do recesso do Judiciário. Investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o tucano volta à Casa na condição de denunciado por corrupção passiva e obstrução de Justiça. Reiterando jamais ter cometido crime, Aécio se disse vítima de armação supostamente orquestrada pelo “bandido” Joesley Batista, um dos donos da JBS e delator da Operação Lava Jato.
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“Não obtive, em tempo algum, vantagem financeira em razão da política”, garantiu o senador, sem receber palavras de apoio durante a sessão. Antes de iniciar seu discurso, ele já havia avisado que não haveria apartes dos colegas, como ficou acertado. Aécio falou por cerca de dez minutos e, depois, foi receber os cumprimentos dos pares em plenário.
“Fui condenado sem qualquer chance de defesa”, reclamou.
Gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley, Aécio foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e está formalmente investigado no STF, onde também é alvo de quase dez outros processos, todos eles relacionados à Lava Jato. Os relatos de que integrava esquema de corrupção levaram ao afastamento do senador também da presidência nacional do PSDB, posto ora ocupado pelo senador Tasso Jereissati (CE). O senador nega irregularidades e diz que o dinheiro serviria para bancar sua defesa na Lava Jato. Mesmo afastado do mandato, Aécio recebeu quase R$ 20 mil em junho, como este site mostrou ontem (segunda, 3).
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A volta do tucano divide os holofotes do noticiário no mesmo dia em que o Senado votará um pedido de urgência para a votação da reforma trabalhista e o PMDB prepara a escolha do substituto de Renan Calheiros (PMDB-AL) na liderança de sua bancada. No Congresso, a palavra de ordem do governo é manter o aspecto de normalidade, mesmo que o cenário apresenta a mais grave crise política enfrentada pela gestão Temer desde a chegada do peemedebista ao poder, em maio de 2016.
O senador chegou ao Senado no início da tarde desta terça-feira (4), e preferiu não comentar sua situação com a imprensa. Reuniu-se com seus companheiros de bancada no gabinete de Tasso Jereissati (CE), de onde saiu para fazer discurso em plenário. O pronunciamento foi acompanhado por tucanos e alguns poucos aliados, mas também por senadores que atuam em campo oposto ao do senador, como Roberto Requião (PMDB-PR).
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