Enquanto a chegada da segunda denúncia contra Michel Temer repercutia na imprensa, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez seu último pronunciamento como chefe do Ministério Público Federal em sessão do Supremo Tribunal Federal (STF). Na menção que fez ao enfrentamento de políticos corruptos, categoria posta à prova com a Operação Lava Jato, Janot lembrou ter enfrentado “toda sorte de ataques”, o que para ele faz parte do custo de enfrentar um “modelo político corrupto e produtor de corrupção cimentado por anos de impunidade”.
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A denúncia contra Temer foi anunciada por volta das 17h30, enquanto Janot participava da sessão que julgava cinco ações sobre o novo Código Florestal. Pouco antes do encerramento da sessão, Janot pediu a palavra para se despedir da Corte.
No breve discurso – que transcorreu sem a presença de Gilmar Mendes, seu desafeto, e encerrou a sessão plenária desta quinta-feira (14) –, Janot afirmou que se sentia um “espectador privilegiado que pode assistir parte significativa da história do país” que ainda tem “desfecho imprevisível”. Mais cedo, Gilmar se despediu do procurador-geral de maneira ironicamente poética.
Ele citou a decisão do STF de permitir a execução da pena em segunda instância como um “corajoso golpe desferido por esse colegiado contra a crônica impunidade que castiga impiedosamente a nossa sociedade” e o fortalecimento das delações premiadas como um “poderoso instrumento de combate ao crime organizado”.
Em uma série de elogios ao STF, Janot se referiu à “retidão” da Corte na condução da Lava Jato, que afirmou que não se acovardou frente ao que chamou de “processo jurídico-criminal mais complexo e delicado que o país já vivenciou” e que revelou uma imagem “pungente” da classe política brasileira.
Alvo
Janot ficou quatro anos à frente do MPF. Pouco após o início de seu primeiro ano como PGR, a Lava Jato teve início, em março de 2014. Ele deixa o cargo neste domingo (17) e será substituído por Raquel Dodge, segunda colocada na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), escolhida pelo presidente Michel Temer. “Outros seguirão do ponto em que parei e certamente avançarão ainda mais no aperfeiçoamento institucional e democrático do Ministério Público”, afirmou.
Antes de encerrar seu discurso, que durou cerca de cinco minutos, Janot citou a última estrofe do poema “Para além da curva da estrada” do escritor Fernando Pessoa (veja abaixo). A presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, também teceu elogios a Janot e ao Ministério Público, e desejou “felicidades na nova etapa da vida” de Janot antes de encerrar a sessão.
O poema do mestre português:
“Para além da curva da estrada
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma”
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