As campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) iniciaram com ataques a nova série de programas eleitorais de rádio e TV com vistas ao segundo turno. Com as primeiras pesquisas de intenção de voto dando vantagem ao tucano, ambos os candidatos tentaram ressaltar o que consideram falhas e desvios não só de suas condutas, mas de seus partidos e grupos políticos – a campanha petista fez, inclusive, menções negativas ao ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
Dilma foi a primeira a entrar em campo, de acordo com o sorteio da Justiça Eleitoral. Iniciou com agradecimentos ao eleitorado, que a fez vitoriosa em primeiro turno em 15 das 27 unidades da Federação, lembrando que foi a segunda mais votada em outros dez estados.
O programa enfatiza em seguida que Aécio perdeu para Dilma no próprio reduto eleitoral, Minas Gerais, com oito pontos percentuais a menos que a petista (41,59% a 33,55%). O PT também lembrou que Dilma terá, em uma eventual segundo mandato, aliados em 15 das 27 novas cadeiras no Senado, além de governadores recém-eleitos como Fernando Pimentel (MG) e Rui Costa, ambos vitoriosos em primeiro turno.
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“Entendi perfeitamente o recado das urnas. Meus eleitores disseram que a melhor forma de continuar mudando é acelerar e aperfeiçoar o que está em andamento”, disse Dilma, passando aos ataques a Aécio. “O que está em jogo O que está em jogo é um modelo de país. Para Dilma, a população não quer mais “um modelo que quebrou o país três vezes, abafou todos os escândalos de corrupção, que se curvou ao FMI [Fundo Monetário Internacional], que esqueceu dos mais pobres”.
Sem citar uma vez sequer o nome de Aécio, ela conclamou o povo a “lutar contra esse passado que esse candidato tanto defende”, mostrando imagens de trabalhadores em ação em várias regiões do país. Nesse ponto do programa, figuras como Fernando Pimentel, Rui Costa e a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), reeleita, defenderam o voto em Dilma.
Ataque
O programa petista fez uma menção nada honrosa a Fernando Henrique Cardoso, lembrando a frase a ele atribuída na qual aposentados precoces são chamados de “vagabundos”. Também foi citada entrevista recente em que FHC diz que a maioria dos eleitores do primeiro turno votou em Dilma “não porque são pobres, mas porque são menos informados”. Foi o que ressaltou o locutor, antes de dizer que o Brasil na gestão tucana, entre outros pontos negativos, foi o segundo do mundo em desemprego.
Dilma finalizou o programa com proposições em áreas como educação, saúde, segurança pública, economia, políticas sociais e combate à corrupção. Ao fim do programa, depoimentos de cidadãos humildes, em exposição de conquistas que teriam conquistados a partir da gestão Dilma, deram o tom de atenção aos mais pobres que a campanha pretende fixar no eleitorado.
Tancredo
O programa de Aécio teve início com imagens de arquivo do presidente eleito Tancredo Neves (1910-1985), avô de Aécio, que morreu antes de tomar posse. “Curioso como o mundo dá voltas”, eis a primeira frase do programa, em breve histórico de Tancredo como um dos protagonistas da luta pela redemocratização, nos anos 1980.
As “voltas do mundo” a que o filme tucano se refere são o fato de que, quase 30 anos depois da morte de Tancredo, “outro mineiro” surge no cenário político nacional – nesse ponto do programa, Aécio aparece como ares de quem pode levar o Brasil a uma realidade socioeconômica mais próspera.
“Quem venceu, de verdade, esse primeiro turno foi o desejo de mudança do povo brasileiro”, diz um Aécio sorridente, em tentativa desmistificar a votação de Dilma Rousseff. Nesse instante, Aécio tenta arregimentar mais eleitores. “A quem não votou em mim, mas votou na mudança, te convido agora a vir com a gente”, disse, passando ao chamado aos “revoltados com a política”. “No fundo, no fundo, você também quer mudar”, disse o senador mineiro.
Os ataques de Aécio vieram aos poucos, com menções à “corrupção generalizada” e às supostas táticas eleitorais do PT. “Nossos adversários já mostraram que não têm limites quando se trata de manter o seu projeto de poder”, declarou.
Ao fim da fala do tucano, o programa passou a mostrar imagens de campanha e regiões do país, com um samba de letra otimista como fundo musical, conclamando ao povo a “mudar essa nação”. Em seguida, destaca-se uma fala do próprio Aécio gritando “muda Brasil” em um palanque, em apoio à luta pela democracia de que o avô participou à época do movimento “diretas já”.
O fim do programa de Aécio é reservado a comparações entre a gestão Dilma e a do próprio tucano à frente do Governo de Minas Gerais, quando diz ter enxugado a máquina administrativa e obtido números melhores sobre indicativos sociais e econômicos. Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV) e Roberto Freire (PPS), os dois primeiros presidenciáveis derrotados no primeiro turno, aparecem em seguida, antes da música de encerramento, em entusiasmados discursos de apoio feitos ontem (quarta, 8), no ato que marcou a retomada da campanha tucana em Brasília.
Apoio
Encerrado o primeiro turno, diversos rearranjos partidários já foram executados na direção dos presidenciáveis. Partidos como PSB, PPS e PV já manifestaram apoio ao tucano. Já Dilma conta com a força da base aliada e do PMDB, partido com mais eleitos ao Senado e um dos mais numerosos do país nos demais cargos eletivos.
A expectativa agora é quanto ao apoio individual de Marina Silva, candidata do PSB que recebeu 21,32% das preferências para presidente (22,1 milhões de votos). Hoje (quinta, 9), seu grupo político entregou à campanha tucana uma lista de condições para que ela apoie Aécio no segundo turno. Depois da resposta do senador, garante Marina, “no momento oportuno” será definida sua posição.
Datafolha e Ibope: Aécio 46%; Dilma 44%