No dia 22 de março, algo como 2.500 pessoas de todo o país se reuniram em São Paulo para discutir, ao longo de todo um dia, as lutas que ocorrem hoje no país e preparar as mobilizações durante a Copa. Eram ativistas do movimento sindical, popular e estudantil de amplos espectros políticos que se indignam com as injustiças cometidas durante a preparação dos jogos, como os recursos públicos destinados à Fifa e as remoções forçadas, e se dispõem a se mobilizar contra isso.
Mas não foi fácil. Se uma simples manifestação de rua hoje já provoca o temor dos governos e seus aparatos de repressão, falar em organização então é suscitar desespero nos governantes e autoridades. E bem que tentaram acabar com o nosso encontro. Uma semana antes, uma conhecida revista semanal, cujos métodos passam ao largo de qualquer tipo de ética jornalística, publicou uma nota afirmando que o PSTU se reuniria com os black bloc’s e a torcida do Palmeiras a fim de organizar atos de vandalismo durante a Copa. Torcida do Palmeiras porque a nossa reunião estava marcada para ocorrer na quadra da Mancha Verde, espaço que alugamos para comportar os participantes que já se preparavam para ir a São Paulo. Logo em seguida, a direção da torcida começou a receber ligações da polícia e da própria Federação Paulista de Futebol a fim de cancelarem a contratação do espaço. E foi o que fizeram.
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Dificultaram, mas não conseguiram impedir o encontro, que foi bastante representativo. O espaço, uma quadra improvisada num sindicato da capital, ficou apertado, é verdade, mas não limitou nosso encontro. E o que aconteceu lá? Uma grande reunião que aglutinou as principais forças sociais e políticas que estão se mobilizando nesse momento. Foi organizado pela CSP-Conlutas, o agrupamento “CUT Pode Mais” (que reúne sindicatos filiados à CUT no RS), a Condsef (Confederação dos trabalhadores no Serviço Público Federal), a Feraesp (Federação dos trabalhadores assalariados rurais de São Paulo), mas reuniu entidades sindicais e movimentos populares de todo o país, como o Andes (Sindicato dos Docentes das Universidades Brasileiras) e o Jubileu Sul (rede de movimentos sociais que mantém relações com a igreja católica). Foram inúmeras entidades e movimentos que estiveram lado a lado com a juventude, estudantes, movimentos populares e de luta contra a opressão.
Foi como se juntássemos, naquele encontro, a expressão do que ocorreu em junho, ou seja, a força e a impulsividade da juventude, com as organizações mais clássicas da classe trabalhadora, como os sindicatos, além dos movimentos populares. Marcaram presença ainda representantes das principais greves que ocorreram neste país nos últimos meses, como rodoviários de Porto Alegre, os operários do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio), que ainda estão em greve e, principalmente, uma delegação de garis da capital fluminense. Essas greves, de setores e lugares diferentes, têm algo em comum. Foram e são mobilizações muito fortes que irromperam pela base e atropelaram as direções de seus respectivos sindicatos. A dos companheiros garis conquistou o apoio massivo da população e se tornou um verdadeiro símbolo.
Tivemos, então, nesse encontro, um reflexo da situação política do país após junho de 2013. As mobilizações massivas que varreram o país naquele mês conseguiram derrubar os reajustes das tarifas do transporte público em várias capitais, o que havia desatado a onda de protestos. Como todo movimento espontâneo, ele refluiu no período seguinte, não conseguindo dar sequência às demais reivindicações colocadas, como uma solução ao caos da saúde e da educação pública, por exemplo. Mas por outro lado, após junho, os trabalhadores se sentiram mais fortalecidos e confiantes, pois viram que, com luta, é possível obter conquistas e é possível melhorar a vida.
O que fizemos nesse encontro foi dar um passo importante para dar continuidade às mobilizações que vêm desde junho. Por que isso é necessário? Porque os governos não atenderam nenhuma das principais reivindicações daquele processo de mobilização popular. A saúde pública continua um caos, a educação pública cada vez pior, os transportes coletivos, a moradia popular, a reforma agrária, tudo isso está abandonado pelos governos que só sabem dar dinheiro para empreiteiras e grandes empresas, como a Fifa, com a Copa do Mundo.
Além do descaso com suas demandas, os movimentos sociais só têm recebido dos governos a repressão violenta da polícia às suas manifestações e a criminalização de suas lutas e dirigentes. Por isso é preciso dar continuidade às mobilizações populares. O Encontro de 22 de março ocorreu para reunir, numa só luta, os setores da juventude que encabeçaram as jornadas de junho e os setores da classe trabalhadora que estão se mobilizando neste momento em busca de melhores condições de vida.
Já no mês de abril começarão os protestos que se estenderão pelo mês de maio e terão o primeiro grande momento no dia 12 de junho, data do primeiro jogo da Copa. Em todas as grandes cidades do país, neste dia, trabalhadores e jovens sairão às ruas para protestar. Chega de dinheiro para a Fifa e para empreiteiras. Queremos recursos para a saúde, educação, moradia, transportes coletivos e reforma agrária. Esse será o lema destes protestos. Que não reste dúvida: “Na Copa vai ter luta”.
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