Reportagem publicada hoje pelo jornal Correio Braziliense e assinada pelo repórter Solano Nascimento revela que o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR) se beneficia de suas relações com empresas ligadas a produção e comercialização de transgênicos. De acordo com a matéria, o deputado Abelardo Lupion teria comprado uma fazenda no Paraná, de 351 hectares, da Monsanto – multinacional que domina o mercado de transgênicos -, sem ter desembolsado nenhum centavo para o pagamento de juros e por um preço abaixo dos valores de mercado.
A fazenda Santa Rita foi oficialmente quitada seis anos depois do início da compra por R$ 690 mil. Corretores da região avaliam que a terra vale pelo menos três vezes mais que o valor declarado na operação, ou seja, algo próximo de R$ 2,3 milhões e R$ 2,9 milhões. Lupion e sua assessoria jurídica explicam que a venda demorou, porque a Monsanto teve dificuldades para passar certidões referentes à regularização do imóvel, o que impede a escrituração, e na maior parte do tempo não houve pagamento de juros justamente porque o atraso era culpa da vendedora, e não do comprador.
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O deputado responsabiliza as dificuldades para apresentação de certidões da fazenda pela demora na quitação do imóvel, mas a escritura registrada em um cartório paranaense mostra que em maio de 2004 foram repassadas a Lupion todas as certidões, e mesmo assim a terra só foi oficialmente paga um ano depois, quando já corriam entre adversários políticos de Lupion boatos sobre a transferência do imóvel da Monsanto.
O pagamento da fazenda foi formalizado em São Paulo no dia 25 de maio de 2005. No mesmo dia, no município de Cascavel (PR), começava o IV Encontro da jornada de Agroecologia, no qual foi discutida a suspeita de irregularidades na venda da Santa Rita e decidida a apresentação de uma denúncia formal contra Lupion. Mais tarde, a acusação foi arquivada porque a Corregedoria da Câmara entendeu que os agricultores não teriam o direito de fazer a representação.
Um dos organizadores do IV Encontro da Jornada da Agroecologia Darci Frigo acha estranho que a transferência da fazenda tenha ocorrido coincidentemente no dia em que estava sendo discutida a lei de biossegurança. A lei, que autorizou a comercialização e produção de transgênicos, foi apelidada por ambientalistas de “Lei Monsanto”.
Relações antigas
O deputado Abelardo Lupion, que preside a Comissão de Agricultura da Câmara, alegou que suas relações com empresas ligadas à agricultura se devem a sua atuação como ruralista antes de assumir uma cadeira no Congresso. ” Dentro do agronegócio brasileiro, eu me relaciono com todas as empresas. Antes de ser deputado federal, eu era produtor rural, a minha vida inteira foi de produtor rural”, e acrescenta: “eu defendo o agronegócio, mas não estou defendendo empresa alguma, estou defendendo um sistema, eu defendo o produtor rural.” Lupion nega irregularidades na transferência de uma fazenda da Monsanto para seu nome e diz não ter favorecido empresas.
Lupion também conta que adquiriu a fazenda Santa Rita para fazer melhora genética de bovinos.”A Monsanto colocou à venda, porque ela já tinha outras fazendas de pesquisa”, relata. Ele afirma que a demora de seis anos entre o início do processo de compra e a quitação do imóvel ocorreu por dificuldades da Monsanto para fornecer certidões relativas ao imóvel. Segundo o deputado, foi por causa desses empecilhos que não foram pagos juros durante cinco anos.
O pefelista ainda negou que a fazenda tenha sido subavaliada. “Eu paguei mais do que valia” , garante. “Tudo tem nota, tudo está escriturado, eu não fiz nada do que não fosse à luz do dia”. A Monsanto afirmou por meio se sua agência de Comunicação que a dívida de Lupion pela compra da fazenda foi paga e que o imóvel foi vendido pelo “melhor preço”.