Ricardo Ramos |
Por mais competentes e preparadas que sejam, as funcionárias públicas brasileiras ainda encontram dificuldades para alcançar os principais postos no Executivo Federal. A exemplo da iniciativa privada, o serviço público está longe de dar oportunidades iguais a homens e mulheres. Pesquisa acadêmica realizada em Brasília revela que, apesar de nunca terem exercido tantos cargos na administração federal como agora, as mulheres ainda estão distantes dos homens na ocupação dos postos decisórios do governo Lula. "As conquistas não terminaram", avisa Tânia Maria Fontenele, autora da tese de mestrado recentemente defendida na Universidade de Brasília (UnB) sobre a situação da mulher na administração pública. Em "Mulheres no Topo de Carreira: Flexibilidade e Persistência", ela demonstra com números e depoimentos o difícil percurso para a mulher se tornar chefe no governo federal. Leia também Dados do Ministério do Planejamento, de 2004, indicam a discrepância na participação dos gêneros nos postos de alta hierarquia. Existem 17.907 cargos comissionados – as chamadas funções de direção e assessoramento superior (DAS) – espalhados pela Esplanada dos Ministérios. Desses, 7.719 são ocupados por mulheres, o que representa 43,1% do total. O problema, contudo, está na distribuição dos cargos de confiança, aqueles que estão sujeitos a indicações políticas, como diretorias, secretarias-executivas ou ministérios. Enquanto no primeiro nível (DAS-1) a proporção é de quase um homem para cada mulher comissionada; no topo da hierarquia (DAS-6), essa proporção é de quatro homens para cada mulher gerente (leia mais). Apesar dos degraus a serem galgados na busca do equilíbrio entre os gêneros nos cargos de comando, é possível afirmar que houve relativa evolução nos últimos quatro anos. Baseada em dados da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), a pesquisa aponta que, em 1998, sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso, o percentual de mulheres em postos decisórios (DAS-6) no governo federal era de 13%. Ano passado, já no governo Luiz Inácio Lula da Silva, esse índice subiu para 19,3%. Tânia Fontenele atribui o avanço da participação feminina à "pura competência delas". A economista lembra que boa parte das mulheres atravessou os dois governos nesses cargos de chefia. "Esses dados refletem o que está enraizado na cultura brasileira: os espaços de decisão são masculinos", constata Maria Laura Sales Pinheiro, secretária-adjunta da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). "Em qualquer ambiente de trabalho, essa desigualdade entre homens e mulheres persiste", observa Giane Boselli, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFMEA). As estatísticas brasileiras são semelhantes às registradas em países mais desenvolvidos economicamente do que o Brasil. Na Grã-Bretanha, por exemplo, 9% das servidoras estão nos altos escalões de governo. Nos Estados Unidos, na Austrália e no Canadá, esse percentual é de 18% e – ainda menor que o brasileiro. "Por isso é preciso desenvolver ações afirmativas", destaca Tânia. |
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