Por meio de uma nota, o Movimento Sem Terra (MST) fez uma avaliação das eleições deste ano e traçou algumas diretrizes sobre os desafios para o próximo governo. De acordo com a instituição, não houve disputas de projetos políticos nessas eleições e os partidos de esquerda demonstraram que não possuem estratégias organizativas, ideológicas e políticas. Na avaliação do MST, a campanha eleitoral foi completamente despolitizada.
"O governo Lula, crente que ganharia no primeiro turno, priorizou a divulgação das suas políticas assistencialistas e o estabelecimento de um amplo leque de alianças partidárias. Como resultado, a militância social não foi convocada e os movimentos populares se sentiram de lado da disputa eleitoral", diz a nota.
O MST coloca que a estratégia de reeleição do governo Lula excluiu os debates sobre projetos estratégicos para o país e a defesa dos interesses de classe. "Este fato, somado ao caso da tentativa de compra do dossiê, ajudou a afastar a militância e as forças populares que queriam politizar a campanha", afirma a nota.
O MST também reforça a posição de que a direita usou "sem nenhum escrúpulo" sua força nos meios de comunicação para impulsionar a candidatura do tucano Geraldo Alckmin. "Com isso, conseguiram levar a eleição para o segundo turno e dar energia à diversas candidaturas de direita nos estados".
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Apoio no 2º turno
No segundo turno das eleições, o MST, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e a Via Campesina Brasil resolveram apoiar à reeleição do presidente Lula para "impedir que as forças políticas reunidas em torno da candidatura de Alckmin saíssem vencedoras dessas eleições".
Apesar de admitir que havia interesses de classe divergentes atrás de cada candidatura, o MST explica que a vitória de Lula representou a vitória da classe trabalhadora, a manutenção de alianças na América Latina com governos progressistas e o respeito aos movimentos sociais.
"Esse novo posicionamento no processo eleitoral fez com que nos engajássemos na campanha pela reeleição de Lula. Essa opção não significou desconsiderar os erros e as fragilidades cometidas no primeiro mandato. Entre eles, a falta de um projeto claro que enfrente os problemas estruturais do povo, como a realização da Reforma Agrária", diz a nota.
Cobranças
O MST observa que chegou a hora de cobrar e exigir as mudanças políticas que atendam aos interesses do povo. "O presidente, em seus primeiros pronunciamentos após a reeleição, destacou a necessidade de promover o desenvolvimento econômico associado com medidas de distribuição da riqueza e renda. Essa afirmação não pode se restringir ao entusiasmo de quem derrotou eleitoralmente a burguesia. É preciso que ela se transforme em ações concretas. Isso exige uma ruptura com a política econômica neoliberal e, acima de tudo, um enfrentamento com os poderosos interesses dos que monopolizam as terras (rurais e urbanas), as comunicações e o sistema financeiro". (Tarciso Nascimento)