Entretanto, apesar de uma maior organização em comparação com os dois primeiros protestos realizados contra o governo federal no início de ano (março e abril), os articuladores ainda demonstram interesses difusos, formas de lutas distintas e reivindicações díspares.
O movimento considerado mais radical entre aqueles que lideram os protestos é o Revoltados Online. Idealizado pelo paulista Marcello Cristiano Reis, seus militantes afirmam que a luta contra o governo federal é uma disputa entre “o bem” e “o mal”. Fazem parte da autodeclarada “corrente do bem” integrantes do Revoltados Online e pessoas alinhadas ao PSDB e ao DEM. Para eles, os adversários são petistas e militantes de outros partidos de esquerda.
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Marcello Reis alega ter gastado cerca de R$ 40 mil em atos contra Dilma sem ajuda de partidos políticos. O grupo luta explicitamente pelo impeachment da presidente da República, embora não defenda um intervencionismo militar. A comunidade Revoltados Online já recebeu 933 mil curtidas no Facebook.
“Não tem essa de radicalismo porque não nos utilizamos de violência [física]. Nós apenas cobramos o nosso direito. Temos deveres a cumprir e estamos cobrando apenas os nossos direitos. Apenas aquilo que está dentro da lei”, disse Marcelo. “Eu não simpatizo muito com a cor vermelha, não me veste bem. Meu sangue é roxo. Melhor, acho que tenho sangue azul. Original”, ironizou.
Ele afirma que atualmente está sem emprego após ser demitido, no ano passado, de uma empresa de comunicação por ter sido acusado pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) de integrar um grupo neonazista. Atualmente, Marcelo diz que está “1000%” dedicado ao Revoltados Online. Ele também pensa em instituir uma fundação homônima para captar recursos para sua própria sobrevivência e a do grupo. “Estou vivendo até o momento da rescisão de contrato do meu antigo emprego”, disse.
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Já o Movimento Brasil Livre se denomina uma entidade apartidária que tem como objetivo mobilizar cidadãos em favor de uma “sociedade mais livre, justa e próspera”. Nos protestos deste fim de semana, o MBL também defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O grupo, porém, é considerado menos radical que o Revoltados Online. Em sua apresentação, o movimento também “defende a liberdade de imprensa, eleições livres e idôneas, separação de poderes, liberdade econômica e o fim da corrupção e dos subsídios direitos e indiretos a ditaduras”.
O Brasil Livre tem nas redes sociais mais de 8 mil seguidores, aproximadamente 170 mil curtidas e possui como líderes Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Renan Santos. Todos são constantemente vistos nos corredores na Câmara dos Deputados. Kataguiri, por exemplo, é apontado como um dos representantes da nova direita brasileira e tem demonstrado proximidade com os deputados deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSC-SP). “Não somos de esquerda, nem de direita. Nós somos sociais liberais. A nossa análise é que o Brasil foi administrado por um consórcio de banqueiros, empreiteiras e um partido político”, afirma Renan Santos. “Esse modelo político econômico quebrou e a conta está sendo jogada na costa dos mais pobres”, acrescenta.Os três líderes do MBL eram universitários e largaram o curso superior alegando incompatibilidade com o ensino de esquerda. Kim estudava Economia; Holiday, Filosofia e Renan, Direito. Agora, os três são autônomos. Kim se apresenta como escritor e vive também com renda de palestras e vídeos de Youtube; Renan mantém um empreendimento próprio e Holiday ainda precisa de ajuda dos pais. “Mas é claro que vários dos nossos custos são bancados com doações, como passagens aéreas”, disse Santos sem revelar a identidade dos doadores. “Não recebemos apoio de partidos políticos. Nesse aspecto, eles têm sido bem éticos ao manter-se distância do nosso movimento”, complementa.
O Movimento Brasil Livre foi responsável pela realização de uma marcha entre as cidades de São Paulo e Brasília. A caminhada de 1,1 mil quilômetros começou em abril e terminou no fim de maio.
Vem Pra Rua
Já o Movimento Vem Pra Rua, que surgiu um mês antes das eleições de 2014, cobra a investigação e o fim e dos “esquemas de corrupção do PT”. Lideranças do grupo afirmam que o impeachment, neste instante, é desnecessário. Embora, vislumbrem a hipótese em caso de plena ingovernabilidade.
Fundado pelo empresário Rogerio Chequer, de 46 anos, o grupo critica os gastos públicos em sua página na internet. “O governo gasta mal, os políticos roubam e desviam quantias vultuosas de dinheiro, e a população que paga o pato? Não. A conta de todos esses anos chegou e ela não é nossa”.A pauta de reivindicação é mais centrada em aspectos pragmáticos, como a apuração da responsabilidade da presidente Dilma no atraso proposital de repasses de recursos públicos a bancos para o pagamento de benefícios sociais, as chamadas “pedaladas fiscais”. Eles também querem a intensificação das investigações da Operação Lava Jato e dão total apoio à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal (MPF).
Mesmo mais alinhado à direita, o movimento Vem Pra Rua também se considera crítico ao ajuste fiscal proposto pelo governo federal.
Usando as hashtags #LulaNuncaMais e #ForaCorruptos, o Vem Pra Rua, que tem 600 mil curtidas no Facebook, tem a expectativa de que o ex-presidente Lula e Dilma sejam responsabilizados por seus atos de gestão.