Com pautas plurais, manifestações do último domingo não tiveram tanta representatividade nas ruas como as anteriores que pediam o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff. Apesar da inclusão de assuntos diversos como reformas da Previdência e trabalhista, fim do foro privilegiado, apoio à Operação Lava Jato e fim ao desarmamento, o atual presidente da República, Michel Temer (PMDB), ficou fora dos itens reivindicados. Para líderes dos movimentos, ainda não há motivos para manifestações contra Temer.
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Líder nacional do movimento Vem Pra Rua, Rogério Chequer, disse ao Congresso em Foco que, apesar das insatisfações com o governo, não há motivações legais para pedir o afastamento do presidente. “O movimento tem críticas ao presidente Temer, mas não chegam a um ponto de trazer o assunto impeachment à tona. Não há motivos ainda para isso”, defende.
O coordenador do Movimento Brasil Livre em Minas Gerais (MG), Pero Cherulli, destacou que o “Fora Temer” não esteve presente por não ser um protesto que possa gerar algum resultado como no caso do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Para Cherulli, gritar “Fora Temer” é seguir um entendimento da “esquerda”.
“Os movimentos não vão falar fora Temer porque esse é um jargão da esquerda e não faz parte da pauta. Se nos utilizarmos para isso, estaríamos sendo fantoches da esquerda e isso não vai acontecer”, enfatizou. “Os movimentos são inteligentes e não vão fazer algo que não é plausível. Não existe nenhuma acusação formal contra o Temer como havia contra a ex-presidente Dilma, que teve as pedaladas fiscais. Ele não está sob esse julgo. Não tem por que fazer isto”, reafirmou Cherulli.
No quesito, a líder do movimento Nas Ruas, Carla Zambelli, também defende Temer. “Ele não cometeu nenhum crime e a gente pensa que quando não há crime, não há motivação”.
Público reduzido
No último domingo (27), milhares de pessoas foram às ruas em protesto a temas diversos que estão em discussão na Câmara. Entre eles, a mais nova e ainda desconhecida “lista fechada”. Para Carla Zambelli, a desinformação quanto ao impacto desses temas junto à sociedade é um dos motivos do baixo número de adeptos.
“A maioria das pessoas não sabem o que significa [a lista fechada]. As grandes mídias não estão noticiando e as pessoas não estão entendendo a gravidade da lista fechada. O tema pode não ter atraído tanta gente por conta da desinformação”, ressaltou.
De acordo com ela, um dos temas entoados pelo grupo, o fim do desarmamento, teve boa receptividade do público e foi motivado pelo alto índice de criminalidade no país. “Existe uma fumaça dizendo que é um tema polêmico, mas a verdade é que a maioria da população não aprova o desarmamento. Estamos vivendo uma guerra civil e não estamos percebendo. Essa é uma pauta que surgiu por conta do que aconteceu no Espírito Santo. São muitos crimes que ficam sem solução e a segurança está terrível”, defendeu.
O líder do Vem Pra Rua também defende que o desconhecimento sobre os assuntos que estão em questão contribuíram para queda na adesão ao movimento. “Estamos em uma fase diferente. Tinha uma fase binária que ou você era a favor ou era contra [o impeachment]. O assunto de ontem não é tão trivial. Se trata da renovação política que a gente pode ou não ter no Congresso no ano que vem”.
O Vem Pra Rua tinha como tema central a renovação política. Dentro do tema, os manifestantes pediam fim do foro privilegiado, não à aprovação da lista fechada, ao aumento do financiamento público de campanha e à anistia ao caixa dois. “Fomos para rua contra as manobras que os políticos estão fazendo para preservar poder privilégio e impunidade. A pauta era simples, era por essa renovação. Eu acho que ontem foi um dia importante para sociedade começar a acordar quanto a isso”, defendeu.
Para o coordenador do Movimento Brasil Livre em Minas Gerais (MG), Pero Cherulli, houve baixa adesão de público nas ruas por conta da extensa pauta de assuntos “polêmicos” e indefinidos. “Tivemos um conflito de temas. Foram pautas extensas e assuntos polêmicos que ainda estão em grande discussão. O pessoal não chegou nem a ter opinião formada, nem contra e nem a favor. As pessoas não têm posicionamento definido ainda sobre muitos desses assuntos”, explicou.
Na capital mineira, os protestos, de acordo com Cherulli, tiveram uma média de 2 mil pessoas, o que ele considera um dos melhores resultados entre os estados que participaram do ato. “Aqui, focamos a pauta apenas no fim do foro privilegiado e no apoio à Operação Lava Jato. Esse pode ser um dos motivos pelo qual tivemos boa representatividade nas ruas”, diz.
De acordo com o Movimento Vem pra Rua, as manifestações de domingo ocorrem em 130 cidades de todo o país e também em Lisboa, em Portugal. Os atos foram convocados pelas organizações Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua e Nas Ruas – os mesmos que lideraram a mobilização pró-impeachment de Dilma.