Um dia depois de voltar sua artilharia contra o Campo Majoritário, principal tendência petista, a corrente Movimento PT ampliou hoje seu alvo sobre "os tucanos" do Banco Central. Na tese fechada neste domingo, que apresentará no encontro nacional do partido, em julho, o grupo ao qual está ligado o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), pede mudanças profundas na política econômica e cambial.
"O grande desafio do segundo mandato é exatamente superar a política econômica do primeiro, adotando um novo modelo, desconcentrador de renda e riqueza", diz o texto. Como saída, o Movimento PT propõe "uma meta de superávit primário mais condizente com uma política de investimento e desenvolvimento".
Em entrevista à Agência Estado, o secretário de Organização do PT, Romênio Pereira, um dos líderes da tendência, defendeu a "destucanização" do BC. "O Banco Central é hoje um ninho de tucanos. Precisamos ‘destucanizar’ o BC", disse. Em sua tese, a corrente afirma que a autonomia do BC, uma das discussões recorrentes dentro do governo, é um dos "baluartes do neoliberalismo" e algo "absolutamente ideológico".
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"O Banco Central tem que se alinhar ao projeto do presidente da República. Hoje há contradição clara entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a linha do Henrique Meirelles (presidente do BC)", afirmou a deputada federal Maria do Rosário (RS), vice-presidente do PT.
O Movimento PT afirma que o partido, hoje, adquiriu o hábito do "gabinetismo" e viu acontecer no governo federal o aparelhamento, o que serviu de apoio a "projetos pessoais e partidários", relata a repórter Lisandra Paraguassú. "Essa prática é a principal responsável pela grave crise política vivida por nosso partido e nosso governo", diz o texto.
A tendência voltou a responsabilizar o Campo Majoritário pelas crises do partido e do governo Lula. "Não temos dúvida de que foram os métodos e a política usados pelo ex-Campo Majoritário que gerou a crise e quase fez sucumbir um projeto que foi construído por todos", continua o documento.
A principal reclamação contra o Campo Majoritário, que tem entre seus expoentes o ex-ministro José Dirceu, é de que, embora represente 42% do partido, a tendência ocupa 95% dos cargos do PT no governo. O Movimento PT tem hoje 11 deputados mas nenhum cargo no governo.
Ontem, além de dizerem, por exemplo, que o Campo “faliu e quase faliu o PT”, representantes do Movimento miraram a pressão feita pelo grupo predominante para a nomeação da ex-prefeita Marta Suplicy como ministra. "O nome da prefeita não é um consenso dentro do PT. É um dos nomes e uma indicação do Campo Majoritário do partido", criticou Romênio.
Lula sinaliza com Turismo e Infraero para Marta
O presidente Lula estuda a possibilidade de transferir a Infraero da alçada do Ministério da Defesa para o Ministério do Turismo, informa a Folha de S. Paulo. Com a mudança, Lula tentaria convencer a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT) a assumir uma pasta que hoje tem orçamento e projeção política limitados.
O Campo Majoritário, corrente petista à qual Marta é ligada, tenta emplacar a ex-prefeita como ministra das Cidades, ministério que Lula pretende manter nas mãos de Marcio Fortes, indicado pelo PP. De acordo com reportagem de Kennedy Alencar e Valdo Cruz, com a incorporação da Infraero pelo Ministério do Turismo, a tendência é que Marta reveja sua posição e aceite a oferta.
A idéia teria partido do atual titular da pasta, Walfrido Mares Guia, no ano passado, quando ele ainda não contava com sua transferência para Relações Institucionais – outra mudança que deve ser confirmada nos próximos dias. Mares Guia teria proposto a Lula assumir a Infraero para incrementar o negócio de turismo no país sob o argumento de que o órgão precisa ter um foco na melhoria da infra-estrutura turística nos aeroportos.
Ao repassar a Infraero ao Turismo, Lula reforçaria também uma estratégia para evitar a instalação da CPI do Apagão Aéreo, a primeira crise de 2007 do governo no Congresso. Com a Infraero na alçada da ex-prefeita, o presidente ganharia mais força dentro do PT para barrar as investigações sobre o setor.
Nesse cenário, diz a Folha, Lula deixaria de criar uma secretaria de Portos e Aeroportos, reservada para o PSB. Poderia criar apenas um órgão para tratar dos assuntos portuários, seja em forma de secretaria ligada ao Planalto, seja retirando essa atribuição dos Transportes.