Em relatório entregue ontem ao Ministério Público Federal, o Conselho Regional de Medicina (CRM) apontou que, das 273 mortes registradas no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo entre 12 e 20 de maio, 132 foram causadas por ferimentos a tiros, o equivalente a 48,3% do total. Segundo o Ministério Público, houve um crescimento "vertiginoso" no número de vítimas de arma de fogo entre os dias 12 e 19 deste mês, quando uma onda de violência foi deflagrada em São Paulo.
O índice de mortos a tiros que chegaram ao IML de São Paulo cresceu de 4,5% do total na sexta-feira (12) para 71,8% no sábado (13). O índice de mortos a tiros não baixou de 20% do total de necropsiados enquanto durou a onda de violência promovida pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Os picos de registros de mortes por arma de fogo foram registrados nos dias 13 e 15, sábado e segunda-feira passados. Dos 273 corpos que chegaram ao IML, 256 foram identificados.
Vence hoje o prazo de 72 horas dado pelo procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho, para que a Secretaria da Segurança Pública forneça a lista com o nome das vítimas. O Ministério Público Federal informou, por meio de assessoria, que não divulgará por enquanto os nomes dos mortos pela polícia nos dias de ataque.
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O MPF afirmou ainda que não é possível comentar detalhadamente o relatório apresentado pelo CRM. Os procuradores precisariam fazer uma análise mais aprofundada do conteúdo dos laudos, confrontando os dados com informações de boletins de ocorrência e inquéritos policiais. "Portanto, não é prudente ainda o acesso ao conteúdo desses laudos, enquanto não for possível definir quais são as vítimas em confronto com a polícia ou de eventuais abusos de agentes públicos", diz a nota distribuída pela assessoria de imprensa do MPF.
O Conselho Regional de Medicina classificou como assombroso o total de casos. Henrique Carlos Gonçalves, conselheiro do órgão, disse que nunca havia visto tantas mortes do mesmo tipo e considerou que houve um aumento generalizado da violência. "Sem dúvida, não é admissível num Estado de Direito, em um Estado democrático."
O órgão destacou, no entanto, que seria temerário apontar execuções. "Se você me perguntar se houve tiro na nuca, houve, mas isso não é indício de execução", afirmou Desiré Callegari, presidente do conselho.