O juiz Sérgio Moro utilizou a “ruína das contas públicas” do governo do Rio de Janeiro como uma das justificativas para determinar a prisão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Para Moro, as provas da “prática reiterada de crimes contra a administração pública e de lavagem de dinheiro” do grupo de Cabral representa um “risco à ordem pública” – situação agravada pela precariedade das finanças do estado. Segundo o magistrado, o contraste entre a opulência dos acusados de praticar crimes de maneira reiterada com o dinheiro público e o arrocho imposto à população fluminense expõe “uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres”.
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“Essa necessidade faz-se ainda mais presente diante da notória situação de ruína das contas públicas do governo do Rio de Janeiro. Constituiria afronta permitir que os investigados persistissem fruindo em liberdade do produto milionário de seus crimes, inclusive com aquisição, mediante condutas de ocultação e dissimulação, de novo patrimônio, parte em bens de luxo, enquanto, por conta de gestão governamental aparentemente comprometida por corrupção e inépcia, impõe-se à população daquele Estado tamanhos sacrifícios, com aumentos de tributos e corte de salários e de investimentos públicos e sociais”, escreveu o juiz federal no despacho que resultou na prisão de Cabral e outras nove pessoas, acusadas de desviar R$ 224 milhões dos cofres públicos.
Moro também determinou o bloqueio de R$ 10 milhões das contas de Cabral, da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, do ex-secretário Wilson Carlos e do operador Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, acusado de ser um dos operadores do esquema.
De acordo com Moro, ao menos quatro delatores declararam ao Ministério Público Federal que a Andrade Gutierrez pagou propina a Cabral, inclusive por obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em troca de contratos com o governo estadual. Ele citou o relato de Rogério Nora de Sá, ex-presidente da empreiteira, de que o ex-governador queria receber mesada de R$ 350 mil da Andrade Gutierrez.
“Considerando o modus operandi, é possível que tenha recebido propinas de todas as empreiteiras que participaram das obras no Comperj, como Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, UTC Engenharia, com valores milionários”, afirma juiz.
Sérgio Cabral foi transferido ontem à noite para o presídio de Bangu. Além de dinheiro em espécie, segundo a acusação, o peemedebista também era beneficiado com presentes de luxo, como um anel de R$ 800 mil dado à sua esposa, a advogada Adriana Ancelmo, e até uma lancha.