Presos 23ª fase da Operação Lava Jato (denominada Acarajé e deflagrada em fevereiro de 2016), os marqueteiros João Santana e Monica Moura confirmaram nesta terça-feira (18) ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, que receberam dinheiro de caixa dois para coordenar a campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, em 2010. Em depoimentos anteriores, o casal havia dito que os pagamentos recebidos na Suíça eram referentes a campanhas realizadas fora do Brasil.
No entanto, neste novo depoimento, Mônica Moura, que foi marqueteira da campanha de Dilma Rousseff em 2010, disse ter recebido valores da Odebrecht em contas no exterior – dinheiro referente a caixa dois da campanha presidencial. Além disso, ela assumiu que mentiu em depoimento anterior “para preservar’ a petista, que ainda exercia o cargo de presidente.
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João Santana também relatou ter mentido para por preocupação com a “estabilidade política”. “Na época, ainda atordoado pela prisão, preocupado com a estabilidade política e com a própria manutenção no cargo da presidente Dilma, eu menti”, afirmou Santana. Esta é a primeira vez que os publicitários são ouvidos na condição de delatores, após homologação do acordo de colaboração pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante o depoimento, a marqueteira disse ainda ter recebido pagamentos da empreiteira dentro e fora do país, relativos às campanhas de 2006, 2010, 2012 e 2014. Até 2010, ela afirmou que os valores eram combinados com Palocci. Já a partir de 2014, o ex-ministro Guido Mantega passou a ser o responsável. Os repasses, de acordo com ela, eram ‘sempre’ pagos pela Odebrecht.
“Depois que eu acertava o valor com o Palocci, em 2006, 2010 e 2012, ele dizia que a Odebrecht pagaria uma parte. A Odebrecht sempre queria pagar tudo no exterior. O Hilberto [Mascarenhas, ex-executivo da Odebrecht] dizia que para eles era mais seguro [pagar no exterior], que não queriam no Brasil”, contou.
O casal disse ter recebido ao menos R$ 15 milhões entre 2010 e 2011 como pagamentos não registrados para a campanha do PT ao Planalto. Parte desse dinheiro também teria sido referente a trabalhos que os marqueteiros realizaram posteriormente, em 2012, para candidatos do partido em pleitos municipais e para a campanha de Hugo Chávez à presidência da Venezuela, segundo os depoimentos.
Além disso, Santana e Monica afirmaram que os pagamentos de caixa 2 eram feitos pela Odebrecht em espécie, quando no Brasil, ou em depósitos na conta off-shore Shellbill, na Suíça.
“Caixa 2 é regra”
Durante a audiência, Monica Moura disse a Sergio Moro que o pagamento de campanhas eleitorais por meio de caixa 2 é a regra no Brasil. “Não acredito que exista no país um único marqueteiro que trabalhe apenas com caixa 1. É uma exigência dos partidos que a maior parte [dos recursos] esteja em caixa 2”, ressaltou.
A marqueteira também disse que o casal sempre tentou que os pagamentos fossem feitos dentro da legalidade. “Mas a explicação que sempre nos deram é que o partido não podia porque campanha é muito cara. Marketing é caro, para ser bem feito. Com pouco, se faz campanha mal feita. Campanha bem feita, como televisão bem feita, como novela bem feita, como filme bem feito, é caro”.
João Santana afirmou ter caído em uma “armadilha” construída pelas suas próprias convicções. Ele disse que criou um “duplo escudo mental” que o permitiu seguir adiante com o recebimento de pagamentos ilegais. “Um [escudo] social e externo, que era a doutrina do senso comum do caixa 2, e outro interno, que é ‘recebo pelo trabalho honesto que estou fazendo’”, explicou.
Com informações da Agência Brasil