Nesta entrevista ao Congresso em Foco, Molon afirma que “quem imagina ser possível parar o processo [de cassação] não está entendendo o que está acontecendo no Brasil”. O deputado fluminense se refere a políticos da base governista e oposicionista. Para o deputado, Cunha tem sido cortejado tanto pela base aliada quanto por oposicionistas – o que, em sua opinião, revela uma forma ultrapassada de alcançar governabilidade.
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“O deputado Eduardo Cunha faz acenos ora para oposição, ora para o governo, preocupado única e exclusivamente em quem poderia salvá-lo. Eu percebo que tanto um lado quanto o outro também fazem a mesma reflexão: se é possível um acordo com ele para conseguir o que desejam”, observa o ex-petista.
Segundo esse ponto de vista, a oposição deseja o impeachment da presidente Dilma Rousseff e projeta todas as esperanças no papel institucional de Cunha, a quem cabe aceitar ou rejeitar pedidos de impedimento presidencial. Em troca, oferece apoio incondicional ao peemedebista, que corre o risco de ser apeado do cargo e até ser condenado por envolvimento na Operação Lava Jato, caso tenha êxito denúncia já formalizada junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Para Molon, a impressão que a oposição passa é de arrependimento pela divulgação da nota assinada por líderes de PSDB, DEM, PSB, PPS e SD na Câmara com pedido de afastamento do presidente. “Toda vez que [a oposição] se nega a ter uma postura clara em relação à responsabilização do deputado Eduardo Cunha, desmoraliza o seu discurso de luta contra a corrupção e ética na política. Essa é uma bandeira que os partidos de oposição que defendem Eduardo Cunha não podem mais levantar”, diz o parlamentar fluminense.
Quanto à suspeição de que Cunha pode barrar pedidos de impeachment de Dilma e, como recompensa, receber o arquivamento do processo por quebra de decoro que poderá enfrentar no Conselho de Ética da Câmara, Molon prevê: “A sociedade brasileira não aceita mais isso. Se o Parlamento tentar engavetar essa representação e impedir que a Justiça seja feita, vai ver a sociedade brasileira se levantar contra o Parlamento”.
Do PT para a Rede
Segundo parlamentar a se filiar à Rede – partido que passou a contar com cinco deputados e um senador uma semana após sua criação –, Molon diz que a legenda levará a “luta” pela cassação de Eduardo Cunha “até onde for necessário, até que seja vencida”.
Antes de aderir ao partido da ex-ministra e ambientalista Marina Silva, Molon tem um histórico de 13 anos dedicados à vida pública pelo PT. Enfrentou o abalo que o partido sofreu com o escândalo do mensalão quando exercia seu segundo mandato como deputado estadual do Rio de Janeiro. Com o petrolão, desistiu.
Segundo ele, o PT está “refém do seu passado” e incapaz de “fazer uma autocrítica”. Molon, que abraça seus ex-correligionários pelos corredores da Casa legislativa, diz que não sente como se tivesse abandonado o barco em plena luta para recuperar a identidade do partido. “Eu lutei tudo que eu pude para que isso fosse feito. Levei propostas ao 5º Congresso do PT em Salvador. Propostas estas apoiadas por 35 dos 63 deputados do PT, portanto, por mais da metade da bancada, e nenhuma delas foi aprovada no congresso. Eu não estou conseguindo perceber no PT esse desejo de virar essas páginas para avançar em direção ao seu futuro. O PT ainda é refém do seu passado”, lamentou ele.
Vindo de um partido que, desde seus primórdios, está conectado a movimentos sociais e à luta pelos direitos humanos, Molon passa a integrar um conglomerado de parlamentares desfiliados de cinco diferentes siglas. Tal pluralidade não impedirá que a Rede se consolide ideologicamente, crê o deputado. “Acredito que nós vamos conseguir construir essa unidade ideológica em cima dos valores que estão presentes no manifesto, em cima desse desejo de uma nova forma de fazer política e em torno também dessa figura emblemática que é a Marina Silva”, pondera, com entusiasmo.
E se Marina Silva, essa figura que une todo o partido, mais uma vez anunciar apoio a uma sigla avessa às bandeiras que Molon sempre ergueu, como aconteceu nas eleições de 2014, quando a ambientalista apoiou o senador Aécio Neves (PSDB-MG)? A hipótese não chega a ser um problema, rebate o deputado. Ele não tem dúvidas: Marina não precisará apoiar ninguém, pois estará na disputa do segundo turno em 2018.
“Eu tenho convicção de que, nas próximas eleições, a Marina Silva vai estar no segundo turno. Então, esse não será um dilema para a Rede nas próximas eleições, porque a Rede vai para o segundo turno e, no meu entendimento, há uma grande possibilidade de vitória em 2018”, aposta o deputado.