Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, as manifestações dos agentes foram feitas em perfis fechados no Facebook. Nas postagens, delegados da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, órgão que concentra as investigações da Lava-Jato, registraram ações como o compartilhamento de propaganda de Aécio e ataques a Dilma e seu padrinho político, o ex-presidente Lula. Em alguns comentários, delegados repercutiram, durante o segundo turno, a denúncia sem provas de que Lula e Dilma sabiam dos desvios na Petrobras.
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“Os policiais ajudaram ainda a divulgar notícias sobre o depoimento à Justiça de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, no qual disse que o PT recebia 3% do valor de contratos superfaturados da estatal”, diz trecho da reportagem do Estadão.
Em coletiva de imprensa no Ministério da Justiça, Cardozo disse hoje (quinta, 13) que o caso deve ser investigado o mais rapidamente possível, uma vez que as investigações da Lava-Jato estão em curso. O ministro, no entanto, recusou a fixação de prazos para que a apuração chegue a uma conclusão.
“Todos os cidadãos têm direito à liberdade de manifestação, pouco importa se são favoráveis ou contrárias ao governo. Mas, da mesma forma, quem preside uma investigação deve agir com imparcialidade, tem o dever de não endossar vazamentos indevidos nem de orientar investigações a partir dos seus pontos de vista pessoais. É exatamente para verificar se houve alguma ilicitude, alguma dimensão de atuação que fira a ética, que a Polícia Federal fará uma apuração da conduta desses agentes policiais. Se for comprovada alguma ilegalidade ou ofensa ética, as medidas serão tomadas. Caso contrário, não há que se falar em punições”, disse.
Para Cardozo, as postagens no Facebook são menos importantes do que a eventual interferência no trabalho da corporação. “Se a conduta legal foi respeitada, se a crença do delegado não foi passada para a investigação, se a investigação não foi partidarizada, não há obviamente o que se falar”, acrescentou o ministro, evitando a precipitação. “É muito ruim pré-julgar situações que depois não se confirmem. Se os fatos revelarem violação à lei ou infrações éticas, há medidas apropriadas para serem tomadas no caso.”
“O cara”
O jornal O Estado de S. Paulo detalhou registros virtuais como os do delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, durante o primeiro e o segundo turnos da corrida presidencial. Em uma das postagens no Facebook, ele comentou uma fotomontagem com diversas fotos de Aécio rodeado de mulheres, e escreveu: “Esse é o cara!!!! [sic]”. Igor, que se reporta diretamente ao superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Franco, é vinculado a delegados que conduzem as investigações da Lava-Jato. Além disso, Igor atuou na prisão de Alberto Youssef, doleiro do esquema de corrupão que, por meio de delação premiada, denuncia o envolvimento de políticos e empresários nos desvios na estatal.
Ainda segundo o jornal, o delegado participa de um grupo no Facebook intitulado Organização de Combate à Corrupção, “cujo símbolo é uma caricatura de Dilma, com dois grandes dentes incisivos para fora da boca e coberta por uma faixa vermelha na qual está escrito ‘Fora, PT!’”. “Esse grupo se autoproclama um instituto cujo objetivo é mostrar às pessoas que ‘o comunismo e o socialismo são um grande mal que ameaça a sociedade’”, diz outro trecho da reportagem.
Em outro episódio descrito pelo Estadão, o delegado Marcio Anselmo, coordenador da Lava-Jato, comenta o noticiário segundo o qual “Lula compara PT a Jesus Cristo”. Anselmo, que excluiu seu perfil no Facebook há poucos dias, posta o seguinte comentário: “Alguém segura essa anta, por favor”.
“Na reta final do 2º turno, [Anselmo] fez comentários em outra notícia, na qual Lula dizia que Aécio não era ‘homem sério e de respeito’. Escreveu: ‘O que é ser homem sério e de respeito? Depende da concepção de cada um. Para Lula realmente Aécio não deve ser’. […] Abaixo do comentário de Anselmo, o delegado Maurício Grillo, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários, aproveita para se manifestar: ‘O que é respeito para este cara?’”, mostrou a reportagem, acrescentando que Grillo é responsável pela apuração de denúncias sobre grampos na cela de Youssef que teriam causado vazamento de informações.
Segundo o jornal, os comandos da PF em Brasília e no Paraná não comentaram a conduta dos delegados.