Diego Moraes
Em sua primeira entrevista como ministro da Fazenda, Guido Mantega fez questão ontem de tentar acalmar mercados e investidores. Enfatizou que vai manter a política econômica, reforçou que é um defensor das metas de inflação e apontou pelo menos três prioridades para os nove meses em que vai gerir a pasta: o controle da inflação, a manutenção dos fundamentos da economia e o equilíbrio fiscal. “O desenvolvimentismo que defendo é responsável, avesso às aventuras e ao entusiasmo juvenil”, destacou.
A declaração do ministro, porém, não reverteu a agitação causada no mercado financeiro pela troca de comando na Fazenda. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em baixa de 2,4%. O dólar fechou o dia cotado em R$ 2,207 para a compra e R$ 2,209 para a venda – alta de 1,75%. Agitação – é verdade – que se deveu em grande parte ao anúncio da elevação da taxa de juros nos Estados Unidos.
O novo ministro afirmou que o momento agora é favorável para o país conquistar a confiança dos investidores estrangeiros. “Estamos viajando em céu de brigadeiro”, disse. Ele sustentou que a política econômica encampada pelo ex-ministro Antonio Palocci será mantida porque ela é “um valor do Estado brasileiro”.
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Mantega disse também que não tem qualquer tipo de atrito com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Afirmou ainda que não cogita da saída dele do cargo. “Essa é uma escolha do presidente da República”, afirmou. Crítico dos altos juros praticados pelo BC, Mantega deu sinais de que, embora tenha opiniões divergentes quanto à condução da política econômica, manterá um relacionamento cordial com o colega.
Pouco antes, o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), reiterara a permanência de Meirelles no BC. “Ele ainda tem toda a confiança do presidente Lula e vai continuar com sua função”, afirmou.
Meirelles, que também esteve na solenidade, disse não ver problemas em sua convivência com Mantega e afirmou apostar na manutenção da política econômica. “Estive também com o presidente da República hoje, que reafirmou mais uma vez a autonomia do Banco Central e o dever de continuar fazendo o trabalho que o BC tem feito até agora”, afirmou.
Metas continuarão
O novo ministro defendeu a manutenção da meta de superávit primário – economia do governo para pagar juros da dívida externa – hoje fixada em 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Disse que uma eventual redução não impulsionaria o desenvolvimento do setor produtivo.
“O que acelera o crescimento é dar crédito para fortalecer o ambiente microeconômico, fazer reformas constitucionais”, disse. Quanto às metas de inflação, salientou que pretende mantê-las. “Sou favorável às metas de inflação”, disse. O ministro afirmou que, quando era presidente do BNDES, manifestou-se contrário às metas do governo por enxergar um zelo excessivo em cumprir a meta. “Podemos discordar quanto à dosagem”, completou.
Questionado pelo Congresso em Foco sobre quando a política econômica vai gerar reflexos mais profundos do ponto de vista microeconômico, Mantega preferiu não estipular prazos. Porém, fez questão de ressaltar os avanços no mercado de crédito desde 2003 e disse que houve crescimento satisfatório.
“Promovemos uma revolução no crédito. Quantitativamente, passamos de uma faixa de 25% do PIB, para mais de 30% hoje. Qualitativamente, abrimos novas possibilidades de crédito. Por exemplo, o habitacional, o consignado. O mercado de capitais está se revigorando. Os empresários têm crédito abundante. Não falta dinheiro”, disse.
Quanto ao câmbio, o novo ministro da Fazenda ressaltou que pretende deixá-lo flutuante, como durante a gestão de Palocci. “Já passamos pela aventura do câmbio fixo e não vamos retroceder nisso”, disse, ao referir-se sobre a política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, até 1998, manteve o real atrelado ao dólar.
Em relação ao aumento das importações, causado pela valorização da moeda brasileira no mercado estrangeiro, o ministro afirmou que essa era uma reação esperada, por conta da redução de juros e do equilíbrio das contas externas. “É um efeito colateral”, afirmou.
Mantega ponderou, no entanto, que as importações não são necessariamente um problema e defendeu maior equilíbrio no saldo da balança comercial, para diminuir a enxurrada de dólares no país. “O importante não é o total de exportações, mas o volume de comércio. Se crescerem um pouco as importações, pode ter um efeito positivo”, analisou, dizendo que "não seria nenhum pecado mortal se houvesse alguma mudança de dosagem" (do superávit comercial).
Sem equipe
Visivelmente cansado, mas disposto a responder a todos os repórteres, Mantega aproveitou sua primeira coletiva para assegurar que o Ministério da Fazenda não está parado, apesar da crise que abateu na segunda-feira Antonio Palocci.
O novo chefe da pasta disse, no entanto, que ainda não teve tempo para sentar com sua equipe e definir estratégias de trabalho. “Fui avisado do cargo ontem (segunda-feira). Vim para Brasília com a roupa do corpo. Minhas gavetas no BNDES ainda estão cheias”, brincou.
O ministro afirmou que ainda não tem nome para o cargo de secretário-executivo, ocupado antes por Murilo Portugal, que pediu demissão após a saída de Palocci. Mantega acrescentou que não estranhou a atitude do ex-secretário. “O cargo de secretário-executivo é de confiança do ministro”, comentou.
Ainda ontem, a equipe de Palocci sofreu outra baixa. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, aceitou convite do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para assumir a vice-presidência de Finanças e Administração do organismo internacional. O ex-secretário de Política Econômica Marcos Lisboa, que presidia desde junho o Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB), também anunciou sua saída do governo. Os três eram remanescentes da equipe do ex-ministro Pedro Malan.
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