Veja em imagens como foi a III Marcha contra a Corrupção
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Carros de som, megafones, faixas e cartazes contra os maus políticos, personagens divertidos, criativos, cada qual com seu tom de crítica. E, claro, a adesão do cidadão que apenas aproveitava o sábado de sol para celebrar o aniversário de Brasília. Era o mosaico popular anticorrupção, que, pouco antes das 11h, iniciou a passeata rumo à Praça dos Três Poderes, em cerca de 800 metros de percurso. E, de “posse” de monumentos como o Panteão da Liberdade, sugestivamente localizado entre os três prédios-símbolos da República, realizou-se a III Marcha Brasil contra a Corrupção, o protesto dos cidadãos atentos à política – e, no ensejo da festa do 52º aniversário de Brasília, insatisfeitos com os rumos da capital e de todo o país.
Na pauta da manifestação, pluralidade de reivindicações: fim do voto secreto no Congresso e do foro privilegiado para parlamentares; extensão das regras da Ficha Limpa para todos os agentes públicos; repasse de 10% do orçamento da União para a saúde; rápido julgamento do caso do mensalão, por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Temas que mostram a atualização das demandas de protesto em relação às primeiras edições da marcha, quando em 7 de setembro e 12 de outubro, respectivamente 25 e 13 mil pessoas se uniram contra a corrupção e pela validade imediata e irrestrita da Lei da Ficha Limpa, então na pauta do Supremo – em 16 de fevereiro deste ano, a corte resolveria o impasse em torno da nova legislação (leia tudo sobre).
“Num movimento apartidário, a população, muita gente de preto em um sol escaldante, mostra a sua cidadania no aniversário de Brasília. É a verdadeira festa da democracia”, disse ao Congresso em Foco Rodrigo Montezuma, um dos organizadores do Movimento Brasil de Combate à Corrupção (MBCC), mencionando a demanda local do movimento. “Nós exigimos a moralidade no GDF. O Distrito Federal está todo sem saúde, sem educação, sem transporte. As estradas todas remendadas, ou esburacadas. Todo dia de manhã um caos no trânsito, no metrô. O cidadão brasileiro e, especialmente, o brasiliense, não aguenta mais.”
Congresso escatológico
Vestido com a camisa preta do MBCC, Rodrigo se disse feliz em ver a dificuldade de se calcular a quantidade de pessoas que participaram do ato. Antes do início da passeata, na concentração no Museu da República, o Comando Tático da Polícia Militar havia calculado o aglomerado inicial em 1,5 mil manifestantes. Mas organização do ato e um dos comandantes da PM ouvidos pela reportagem concordavam que o público pode ter alcançado entre dez e 20 mil pessoas, em multidão espalhada pela Esplanada. Segundo Rodrigo, 11 mil pessoas haviam confirmado presença na marcha por meio de redes sociais da internet.
“Brasília, com essa pecha de ser um local impregnado de corruptos, mostra que a população daqui é diferente. Os corruptos, em sua maioria, que estão ali trabalhando no Congresso Nacional, vêm de fora”, resumiu Rodrigo, orgulhoso de ter concebido a hilária “performance” em que um anão, “fantasiado” de parlamentar – terno e gravata, charuto cubano e notas de dinheiro escondidas pelo corpo –, posava sentado no prédio do Congresso. Com o detalhe de que as duas torres do edifício eram feitas de rolos de papel higiênico, enquanto as cúpulas de Câmara e Senado davam lugar a vasos sanitários inversamente emborcados.
Como lembrou Rodrigo, movimentos sociais foram convidados a participar, sem direito a voz ou voto, da CPI do Cachoeira, como convencionou-se chamar a comissão de inquérito que vai investigar as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro, com políticos diversos e o alto empresariado do país – com destaque para a Delta Engenharia, principal empresa das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Um dos protagonistas da CPI é o ex-líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (sem partido-GO), que se disse apenas amigo de Cachoeira, mas foi desmentido por escutas telefônicas obtidas pela Polícia Federal. Além da CPI, Demóstenes também é alvo de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado e de inquérito em curso no STF.
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“Será um controle social da CPI. Parece-me que vai ser encaminhado um requerimento para isso [a participação dos movimentos no colegiado] e, se aprovado pela presidência da CPI, teremos esse controle social”, festeja Rodrigo. Tarefa para o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), o nome previamente indicado como presidente da comissão, como este site adiantou na madrugada de quinta para sexta-feira (19).
Cobrança bem-vinda
“Estou aqui na condição de cidadão que está passando aniversário da cidade, e a rememoração da luta de Tiradentes aqui na capital da República. E vim olhar esse movimento – até porque a CPMI [comissão parlamentar mista de inquérito] Cachoeira-Delta vai fundo se houver a pressão popular. Então, é bom que o pessoal se mobilize”, disse ao Congresso em Foco, na “concentração” da marcha, o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), líder do partido na Câmara – e, nessa condição, um dos autores do requerimento de criação comissão de inquérito que movimenta o cenário político no Parlamento.
“Eles podem ter algum equívoco de dizer que não querem político [na marcha]. Só que quem coloca o político lá é o próprio povo. E falaram aqui, e eu já ouvi, de reforma política, voto aberto no Parlamento, cassação de Demóstenes [Torres, sem partido/GO, senador que é um dos alvos da CPI], CPI pra valer… Isso depende de quem? De quem está lá [no Congresso] exercendo o mandato. Então, vim aqui para ser pressionado”, acrescentou Chico, para quem o ato demonstra o crescimento da “consciência política” dos brasileiros, “sabendo que tem que separar o joio político”.
Por pressão dos organizadores do movimento, políticos identificados com a defesa da ética evitaram participar da passeata. Mas, em exceções raras como a de Chico Alencar, Fernando Francischini (PSDB-PR) também minimizou o caráter apartidário do protesto. Correligionário do líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR) – que foi hostilizado por ter ido aos protestos do 7 de Setembro, em meio aos manifestantes da marcha –, Francischini teve seu sigilo violado pelo Gabinete Militar do Governo do Distrito Federal, segundo investigações da PF.