Orlando Pontes, Brasília Capital
Na Câmara Legislativa, discurso não precisa, necessariamente, combinar com o voto do parlamentar. Desde o início do governo Rodrigo Rollemberg, são inúmeros os exemplos de matérias de interesse do Palácio do Buriti aprovadas com a ajuda de deputados que, num primeiro momento, as criticaram. Foi assim com o uso de mais de R$ 1 bilhão do Iprev (Instituto de Previdência dos Servidores), para pagar salários do funcionalismo; com o refinanciamento de impostos atrasados para empresas com perdão de 99% das multas e dos juros; com a venda de uma área do Parque do Guará que pode render R$ 400 milhões aos cofres do GDF; e, na última semana, com a autorização para que o governo tome R$ 600 milhões emprestados junto ao Banco do Brasil para execução de obras de infraestrutura.Leia também
A lista pode ser acrescida da aprovação da isenção da taxa de inscrição no Programa de Avaliação Seriada (PAS) da UnB para alunos de escolas públicas cuja renda per capita familiar não ultrapasse um salário mínimo e meio; do pagamento de bolsas de estudo integral em creches particulares para crianças de 4 e 5 anos que não conseguirem matrícula na rede oficial; a regularização do direito de greve dos servidores; e o acordo que possibilitará ao GDF usar Organizações Sociais (OSs) para contratar mão de obra para as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
Todas essas proposições, além de outras de menor importância, foram alvos de ataques que beiravam a indignação de parlamentares que, paradoxalmente, acabaram votando a favor do governo. Entre os mais contundentes “adversários verbais” do Palácio do Buriti está a presidente afastada da Casa, Celina Leão (PPS). Mas não se pode ignorar a postura crítica da bancada do PT – que se diz oposição – formada por Chico Vigilante, Wasny de Roure e Ricardo Valle. “Votamos a favor de matérias que são boas para Brasília”, garante o líder da legenda, Wasny de Roure.
“O governo recebe muitos ataques, mas sempre acaba aprovando as matérias de seu interesse”, afirma Lira (PHS). Ele se afastou do Buriti após trabalhar para aprovar a CPI da Saúde e perder o controle da Administração de São Sebastião, seu reduto eleitoral. Mas se recompôs com Rollemberg e indicou o atual administrador, Rodrigo Silva, funcionário de carreira do Banco de Brasília (BRB). Já Reginaldo Veras (PDT), que integra a base de apoio do Buriti e garante não ter nenhum cargo na estrutura do Executivo, estranha que colegas façam esse tipo de composição e ainda se achem no direito de atacar o governador.
PublicidadeUm aliado do Buriti, que pede para não ser identificado, cita Celina Leão: “Ela é uma guerreira, uma grande parlamentar. Tem lutado para reassumir a presidência da Casa, mas é um equívoco querer atribuir ao GDF o problema que enfrenta com as investigações da Operação Drácon. No entanto, se esta é a sua convicção, ela deveria abrir mão dos cargos onde empregou seus aliados no Detran, na administração de Sobradinho, na Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedest) e na Defensoria Pública”.
O secretário de Assuntos Legislativos, José Flávio de Oliveira, responsável pela interlocução do governo com os distritais, não discute o “suposto toma-lá-dá-cá”. Ele garante que seu papel é mostrar a importância dos projetos do Executivo para o Distrito Federal e convencer os parlamentares a votar a favor deles. Como estratégia, a cada proposta ele desloca técnicos da área para tirar as dúvidas dos deputados, inclusive com as assessorias dos gabinetes. “E a Câmara não nos tem faltado, graças a Deus”, diz.
José Flávio entende que os deputados da base “são membros da equipe do governo”. Por isso, para ele, é natural participarem da formação da equipe. Quanto aos petistas, segundo o secretário, contam com uma assessoria técnica “muito competente”. Por isso, a cada matéria são distribuídas cópias dos projetos para análise antes de chegarem aos deputados. “Eles são sensíveis às coisas importantes para Brasília, e acabam votando com a gente”, confirma.
Independentemente do que esteja em pauta, o Palácio do Buriti conta com 14 votos na Câmara Legislativa. É o próprio secretário parlamentar quem faz a lista: Agaciel Maia (PR), Chico Leite e Cláudio Abrantes (Rede), Juarezão ((PSB), Júlio César (PRB), Joe Valle e Reginaldo Veras (PDT), Robério Negreiros (PMDB), Rodrigo Delmasso (PTN), Sandra Faraj (SD), Lira (PHS), Israel Batista (PV), Luzia de Paula (PPS) e Telma Rufino (sem partido).
“A maioria dos deputados tem estruturas, cargos na administração, e essas relações acabam norteando os parlamentares”, diz Wasny, que desaprova o troca-troca. Da mesma forma, ele não considera saudável as tratativas com o PMDB, que muitas vezes se alia ao governo para garantir os negócios das empresas de famílias dos deputados com o Estado.