Em depoimento à Polícia Federal, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) contradisse ontem as declarações dadas por seu ex-assessor Hamilton Lacerda e pelo ex-secretário do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas.
Ouvido pelo delegado Diógenes Curado, responsável pelas investigações do dossiê Vedoin, Mercadante disse que nunca tinha visto Gedimar Passos e Valdebran Padilha, presos com R$ 1,7 milhão em um hotel em São Paulo, e negou que sua campanha ao governo paulista tenha utilizado caixa dois.
Segundo o senador, Lacerda não tinha nenhuma atribuição relacionada à arrecadação da campanha de Lula e que as únicas funções do ex-assessor em sua campanha eram cuidar dos assuntos relacionados à região do ABC e acompanhar seus programas de TV.
À PF, Lacerda disse que havia boletos de arrecadação da campanha do presidente Lula nas malas que ele carregou no hotel onde estavam os petistas presos com cerca de R$ 1,7 milhão. Mercadante contestou a versão do ex-assessor, afirmando que não a considerava "factível".
O ex-líder do governo no Senado reafirmou que jamais se associou "à iniciativa" de pagar pelo dossiê dos Vedoin, que não teve qualquer participação no episódio e que não autorizou ninguém (inclusive seu ex-assessor Lacerda) a participar.
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Expedito e Bargas
O senador também complicou Oswaldo Bargas ao contar que, no último dia 4 de setembro, foi procurado pelo petista e pelo então diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso. Bargas teria sugerido a ele e à senadora Ideli Salvatti (PT-SC) que utilizassem a audiência do dia seguinte no Conselho de Ética do Senado, com o empresário Luiz Antonio Vedoin, para vincular José Serra, Barjas Negri e Abel Pereira ao esquema sanguessuga.
"O encontro foi a pedido de Bargas. Eles estavam juntos e Expedito Veloso, que eu não conhecia, estava mais informado sobre os detalhes", disse Mercadante. Bargas e Expedito, ex-integrantes do comitê de campanha do presidente Lula, são suspeitos de envolvimento na operação de compra do dossiê.
“Disseram que o PT estava sendo muito atacado. […] Achavam que a nossa bancada deveria atuar no Conselho de Ética, porque os Vedoin estavam sob delação premiada e não estavam revelando tudo o que sabiam", relatou o senador.
Mercadante disse que recomendou a Bargas e Expedito que procurassem a CPI e que os dois não lhe falaram sobre dossiê. As declarações do senador se chocam com as dadas por Bargas à CPI e à Polícia Federal.
Na comissão, o petista disse que conhecia apenas muito superficialmente o conteúdo do dossiê, omitiu o encontro com Mercadante e Ideli e afirmou sua única participação no caso foi acompanhar a entrevista concedida pelos Vedoin à revista Istoé.
No depoimento à PF, Bargas declarou que havia sido procurado no dia "4 ou 5 de setembro" por Jorge Lorenzetti para tratar de um assunto relacionado a "uma denúncia" que havia recebido. No encontro, Bargas afirmou que não se lembrava se Lorenzetti "já teria lhe falado naquela ocasião se as denúncias eram contra membros do PSDB".