O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, pediu demissão do cargo ontem à noite, após afirmar, em depoimento à Polícia Federal, que entregou pessoalmente ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o extrato bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. Mattoso deixou a sede da PF indiciado pelo crime de violação do sigilo funcional. A pena, nesse caso, é de um a quatro anos de reclusão.
Mattoso afirma, no entanto, que agiu dentro da lei. Ele disse à polícia que lhe informaram de uma movimentação atípica na conta do caseiro. Foi aí que pediu que se tirasse um extrato da conta do caseiro. Ao receber o documento, ligou para Palocci para contar sobre a movimentação bancária. Mattoso disse à PF que entregou o extrato na casa do ministro, "dentro de um envelope".
O delegado responsável pelo caso, Rodrigo Carneiro Gomes, classificou o depoimento de Mattoso como "corajoso, mas de alguém que estava arrasado". Esse extrato, publicado pela revista Época, mostrou que a conta poupança do caseiro na Caixa recebeu R$ 25 mil em depósitos de janeiro até agora. Francenildo justificou a movimentação como um depósito feito por seu pai biológico, que ele pretendia usar para comprar uma casa.
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Ninguém assume vazamento
Em nota, Mattoso disse que não foi responsável pelo vazamento dos dados bancários do caseiro para a imprensa. “Não fui o responsável pelo vazamento da informação e estou convicto de que nenhum empregado da Caixa deu causa à divulgação indevida, atuando nos estritos limites da legalidade”, afirmou.
Mattoso confirmou à PF que pediu a movimentação bancária do caseiro ao consultor da Caixa Ricardo Schumann. Este, por sua vez, admitiu ter repassado a ordem a Sueli Aparecida Mascarenhas, superintendente de Gestão de Pessoas do banco, que encaminhou o pedido ao gerente Jeter Ribeiro, a quem coube tirar o extrato do caseiro.
Em depoimento à PF, anteontem, Sueli e Jeter fizeram as primeiras confissões sobre o caso. Segundo ela, Schumann alegou que precisava da informação para produzir um relatório sobre suspeita de lavagem contra Francenildo. O documento seria enviado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e ao Banco Central. “Ele (Schuman) disse que era uma demanda do gabinete da presidência”, afirmou.
Sueli alega que não quebrou o sigilo e que apenas produziu um documento interno para fins de fiscalização. Jeter disse que cumpriu ordens da superintendente. Mattoso sustenta que não está envolvido no vazamento do extrato.
O ex-presidente da Caixa diz que encaminhou os dados a Palocci, nos termos da Lei 9.613/98, que obriga as instituicões financeiras a informarem o Coaf sobre movimentações bancárias "suspeitas" ou "atípicas".
Na segunda-feira, três dias depois de o caseiro ter seu extrato bancário divulgado, Mattoso mandou abrir uma investigação interna para apurar, em 15 dias, eventuais responsabilidades.
Apesar de ter negado envolvimento no vazamento dos dados sigilosos do caseiro, Mattoso assumiu total responsabilidade pelos atos praticados no âmbito da Caixa. O ex-presidente da Caixa também não fez qualquer referência ao jornalista Marcelo Netto, assessor do ex-ministro, que estaria envolvido na operação montada para levar os extratos de Francenildo à imprensa.
Palocci ainda será ouvido pela PF. Antes de ouvi-lo, os investigadores pretendem concluir a perícia do computador portátil por meio do qual os dados bancários do caseiro foram violados.