Renata Camargo
A senadora Marina Silva (AC) entra neste domingo (30) para o Partido Verde (PV) depois de 30 anos de militância no PT. A filiação da ex-ministra do Meio Ambiente se transformou no maior acontecimento político do dia e será transmitida ao vivo a partir das 11h, via internet, nos endereços eletrônicos disponibilizados por três setores do PV: diretório nacional, diretório estadual de São Paulo e TV do PV.
A inovação tecnológica dá uma ideia da importância que a internet terá na provável candidatura de Marina e dos concorrentes à Presidência da República nas eleições de 2010. Vários vídeos de apoio à candidatura de Marina podem ser encontrados no youtube (assista aqui, aqui, aqui e aqui).
Nos próximos meses, a senadora concentrará esforços na reestruturação do PV e na reformulação do programa do partido. A presença de Marina, um dos nomes mais expressivos na área de meio ambiente no país, dará maior peso e responsabilidade para a legenda, hoje com uma bancada de 14 deputados no Congresso.
“A primeira expectativa com a entrada da Marina é a reformulação do programação do partido. A primeira grande mudança que teremos, que é muito importante, é a atualização do programa do partido. O primeiro programa foi feito por um grupo muito restrito e agora temos a oportunidade de fazer um programa com a participação de mais pessoas, inclusive com o uso da internet para captar ideias de muita gente”, disse ao site o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).
Como mostrou reportagem do Congresso em Foco, o Partido Verde tem como principal bandeira as questões ambientais, mas apenas 26% de suas proposições (81 das 305) se relacionam ao meio ambiente. Dos 14 deputados que compõem o partido, apenas cinco são autores de 80% dessas iniciativas (leia).
Gabeira avalia que é necessário uma reestruturação do partido não só do programa como também uma reformulação do perfil da bancada do PV no Congresso. O parlamentar argumenta que é necessária uma seleção mais rigorosa de candidatos do partido nas próximas eleições, para escolher nomes que estejam mais comprometidos com o conteúdo programático do Partido Verde.
“O partido se prepara para as eleições para ter uma bancada comprometida com as propostas do partido. E não só com a questão ambiental, como também com a questão ética. É necessário colocar a questão ética não no sentido de ter pessoas infalíveis no partido, mas pessoas que ao errar, admitam o seu erro e se comprometam a corrigi-lo”, afirmou Gabeira.
Eleições
A filiação de Marina ao PV interessa aos colegas de novo partido e incomoda os petistas, que perderam um nome de peso na legenda. O ingresso da senadora em um novo partido tira votos do PT e permite mudanças nos rumos das campanhas para as eleições de 2010. Caso a senadora decisa concorrer à Presidência da República, como o PV quer, a atual polaridade entre PT e PSDB poderá se diluir e as coligações em torno dos dois pré-candidatos mais prováveis, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), poderá ser enfraquecida.
A definição sobre concorrer para presidente nas próximas eleições só deve ocorrer no início de 2010. Marina tem afirmado que o primeiro passo será a mudança de partido e somente depois irá amadurecer uma possível candidatura. A ex-ministra, no entanto, já tem dado declarações em que demonstra consciência das limitações de se candidatar pelo PV. A legenda é minúscula perto de outros partidos, como o próprio PT, e na disputa eleitoral conta muito, por exemplo, o tempo de TV, em que certamente Marina será prejudicada, pois esse espaço está relacionado ao tamanho do partido.
A seu favor, entretanto, Marina tem a própria história, boa parte dedicada à militância no patido do presidente Lula. O Silva de Marina, assim como o de Lula, também indica a origem pobre de uma ex-seringueira que teve sua história desde cedo vinculada a movimentos sociais de resistência na Amazônia. Analfabeta até os 14 anos, foi fundadora em 1984 da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre, junto com o líder seringueiro Chico Mendes, e teve participação no Partido dos Trabalhadores desde as origens.
O que diferencia Marina de Lula – e da própria pré-candidata ministra Dilma – é o vies socioambiental de sua política. Marina tem discurso e ações que convergem com os rumos do desenvolvimento classificado de sustentável. Para ela, o crescimento econômico deve, necessariamente, ser atrelado à preservação ambiental, pois os recursos naturais são limitados. Já o governo, e a própria ministra Dilma, têm a visão mais pragmática de crescimento econômico.
Como ministra do Meio Ambiente – ministério em que esteve à frente desde o início do governo Lula até maio de 2008 –, Marina colecionou, inclusive, vários desgastes devido à divergência de visões. Com a ministra Dilma, o episódio mais emblemático foi em torno das negociações do edital para as concessões das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (RO). Enquanto Dilma cobrava mais agilidade para a maior obra de energia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Marina apertava o freio nas licenças ambientais até que fossem cumpridos os requisitos legais.
“Há uma compreensão de parte de setores importantes do governo de que as questões ambientais são barreiras para o desenvolvimento, o que no meu entendimento é um equívoco. As vantagens econômicas que nós temos são exatamente por causa dos nossos recursos naturais, mas as pessoas partem de uma posição que vai na contramão do próprio interesse que estão defendendo. Algumas pessos precisam entender que a equação desenvolvimento não se confunde apenas com crescimento”, disse Marina ao Congresso em Foco em entrevista publicada em julho deste ano.
Apoio
Ainda que não tenha definido sua candidatura, o apoio para que concorra à presidência tem crescido. Diversos intelectuais, representantes de movimentos e organizações ligados às questões ambientais e eleitores têm se posicionado a favor do nome da ex-ministra. Entre os que já apoiaram publicamente a candidatura da senadora está o empresário e fundador do Instituto Ethos, Oded Grajew, o teólogo Leonardo Boff, o consultor ambiental e ex-deputado Fábio Feldamann e o professor universitário José Eli da Veiga.
Em 2008, inclusive, nasceu o Movimento Marina Silva Presidente, surgido a partir de um encontro de pessoas de Brasília e São Paulo que planejavam o projeto Arca de Noé, que traçava estratégias para expandir para o mundo ensinamentos de paz e sustentabilidade pregadas pelo fundador da Unipaz, Pierre Weil. Além das convergências em relação ao que dizia Pierre Weil, os integrantes do grupo também tinham em comum a vontade de lançar Marina Silva como presidente. E assim fundaram o movimento que, atualmente, conta com um grupo de 6,9 mil integrantes.
Nascida em Rio Branco em fevereiro de 1958, Marina Silva é formada em História pela Universidade Federal do Acre. Iniciou a militância política por meio de movimentos da Igreja Católica. Permaneceu no catolicismo até 2004, quando se convertendo à Igreja Assembleia de Deus. Foi vereadora em Rio Branco (1988-1990), deputada estadual (1990-1994) no Acre e elegeu-se duas vezes senadora, a primeira em 1994.