Fábio Góis
Ainda não foi desta vez. A terceira colocada nas votações de primeiro turno para a Presidência da República, senadora Marina Silva (PV-AC), até compareceu à reunião de seu partido, mas não revelou quem apoiará no segundo turno, ou mesmo se apoiará alguém. Em entrevista coletiva concedida hoje (quarta, 13) em Brasília, Marina voltou a falar sobre o conjunto de propostas apresentadas aos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que disputam a preferência do PV e os votos recebidos pela ex-ministra do Meio Ambiente.
Segundo a senadora, a decisão do partido só será conhecida no próximo domingo (17), quando o partido realizará uma convenção extraordinária para definir o apoio. Marina destacou, no entanto, que a minoria que discordar da posição majoritária estará liberada para a escolha entre Dilma e Serra. “O partido assegura o direito da minoria de manifestar sua posição caso não seja unanimidade. […] Democraticamente, sabiamente, o partido já tem uma cláusula que assegura àqueles que não são maioria manifestarem sua posição.”
Acompanhada pelo presidente nacional do PV, José Luiz Penna, Marina defendeu que a definição do partido no segundo turno deve ser “programática, e não pragmática”. “Estamos utilizando os meios coerentes com os fins a que nos dispusemos, de que o Brasil possa amadurecer e avançar na política. Nós avançamos na área social, na área econômica, e vemos retrocessos na política”, declarou, negando que o PV, que sinalizava apoio a Serra em alguns diretórios regionais, rendeu-se à vontade e ao simbolismo político da ex-ministra.
“Naquela primeira coletiva [depois das votações de domingo], eu dizia que iríamos estabelecer um processo. A direção do partido já estava de pleno acordo com esse processo”, ponderou. “A partir daí nós só fizemos dar curso a um encaminhamento que já estava previamente acordado. Qualquer coisa que tenha sido dita em relação ao partido foram questões inteiramente tiradas do contexto, que já foram esclarecidas”, acrescentou a senadora, em referência às notícias de que o PV estava em franca “rebelião” contra Marina.
Marina respondeu com bom humor a um repórter que quis saber sobre as “consultas internas”, de caráter informal, realizadas pelos núcleos regionais do PV – pesquisas estas que, segundo o interlocutor, apontavam Serra como herdeiro majoritário dos votos da senadora. “Consultas informais estão em cada canto, em cada esquina, em cada rua. Eu mesma peguei um taxi hoje de manhã e o taxista não perdeu tempo: foi logo dando também a opinião dele”, disse, despistando sobre qual teria sido a opinião do motorista.
“A opinião do taxista foi mais no sentido de que ele acha que… é… Ele sinalizou muito mais pelo caminho da independência”, cravou a senadora acreana, provocando risos entre os profissionais de imprensa quando fez a pausa entre uma frase e outra. “A senhora gostou da opinião dele?”, quis saber outro repórter. “Eu estava de olho no taxímetro”, disparou Marina, arrancando ainda mais risadas.
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Plataforma
Na autoridade de quem surpreendeu ao receber 19,6 milhões de votos em 3 de outubro, levando a disputa para o segundo turno, Marina fez questão de enfatizar a importância da “plataforma programática” apresentada, na última sexta-feira (8), a Dilma e Serra – intitulada Agenda para um Brasil Sustentável.
“Ambos os candidatos manifestaram o desejo de aprofundar tecnicamente a plataforma, com suas equipes e as nossas. A partir daí, teremos desdobramentos. O bom é que esse processo se inicia e, até o dia 17 [domingo], nós temos um canal de interlocução entre as equipes técnicas e políticas”, festejou Marina, ressaltando o caráter positivo do debate para o “momento democrático” vivido pelo país. “Os temas são abrangentes o suficiente para que os candidatos possam interagir.”
A senadora ressaltou o “nível de comprometimento” entre os grupos partidários, e sublinhou os compromissos “sempre programáticos” do PV, que devem nortear a tendência de apoio. Marina disse ainda que “todo e qualquer encaminhamento seria programático, e não como uma lógica de cargos, de amizade, ou do que quer que seja”. “Isso [fisiologismo] nós rechaçamos completamente, e acho que isso está mais do que claro: qualquer movimentação do partido é por identificação programática, seja para apoio ou para composição de governo”, destacou.