Fábio Góis
Honrado. Foi assim, em tom de cabo eleitoral, que o músico e compositor Lobão encerrou a estreia do programa Lobotomia, que foi ao ar ontem (segunda,8), na MTV, às 23h30. Em pleno ano eleitoral, a primeira convidada do programa “racional, cerebral, a exposição de meu cerebelo”, palavras do próprio apresentador, foi a pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva. Ex-ministra do Meio Ambiente (2003-2008), Marina foi categórica ao mencionar seu principal desafeto no governo Lula, o ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger – que tomou para si o Plano Amazônia Sustentável, estopim para a saída de Marina daquela pasta.
“Mangabeira ajudou a fazer um grande mal para a Amazônia”, sentenciou Marina, no terceiro e último bloco do programa de 30 minutos, quando o assunto foi, enfim, o meio ambiente – até então, questões políticas gerais nortearam a conversa.
Leia mais sobre o ex-ministro em reportagem exclusiva do Congresso em Foco: Propostas de Mangabeira beneficiam Daniel Dantas
Provocada por Lobão (“a senhora é considerada um anjo da guarda pelo Greenpeace”), Marina criticou o “fracasso” na convenção climática em Copenhague, em dezembro do ano passado, quando Lula, segundo a senadora, só levou projeto de redução de impacto ambiental “porque a sociedade pressionou”. “Os governos foram para lá como se fossem convidados, não como anfitriões, como atores daquilo tudo”, declarou, em referência à responsabilidade das nações desenvolvidas acerca da degradação ambiental.
Marina fez críticas aos gestores públicos brasileiros no que diz respeito às políticas proativas contra desastres ambientais. Para a senadora, falta “planejamento correto, sistemas de alerta”. “Todo ano morrem centenas de pessoas em enchentes, a gente assiste a tudo e fica esperando a próxima. Isso acontece porque as pessoas estão morando nas encostas e os governantes não fazem nada”, disparou a senadora, para quem a legislação ambiental é sistematicamente desrespeitada.
“Marquetice canastrona”
Carregando nos neologismos, Lobão iniciou o programa fazendo um contraponto entre o estilo de “coloquialidade” de Marina e a máquina governista marcada pela “marquetice canastrona”. O apresentador iniciava ali uma crítica à linguagem política majoritariamente usada hoje em dia – no que foi seguido por Marina, para quem a linguagem na política “é meio morta, repetida”.
“Não consegue criar nenhum laço efetivo com as pessoas”, disse a senadora, que deixou o PT em agosto de 2008 e, no mesmo mês, assinou sua ficha de filiação no PV.
Tanto Lobão quanto Marina disseram ainda não ter visto o filme Lula, o filho do Brasil (Fábio Barreto). Com a exibição de cenas do longa (“A fotografia é excelente…”, dizia Lobão, com certa ironia), a discussão sobre o viés eleitoreiro teve início. “É inevitável não fazer essa associação com a campanha [presidencial]”, afirmou a senadora, questionando a separação entre os mundos da arte e da política. “Há uma linha muito tênue que a gente tem de manipular com muito cuidado.”
Em seguida, Lobão iniciou o segundo bloco citando a “irreverência alienada” da população diante de escândalos políticos, com direito à exibição do vídeo em que a dança baiana batizada “Rebolation” vira uma sátira sobre a corrupção: o “Roubolation”, filmete registrado também por este site na semana passada.
Leia e veja o vídeo:
“Roubolation” prepara o país para as eleições de outubro
Com menção ao “escandalão” – alusão ao mais grave escândalo da história do GDF, o mensalão do Arruda –, o apresentador criticou a acomodação e o espírito excessivamente galhofeiro da sociedade brasileira diante de casos de corrupção, em que algumas pessoas “preferem descolar um abadá e sair por aí beijando”. “É uma forma de satirizar, a gente de fato ri”, contemporizou Marina, para em seguida criticar. “Mas é difícil a gente banalizar algumas coisas, porque acaba rindo da própria desgraça. Sinto que há um fastio das pessoas em relação à política, em função dos escândalos.”
Cada um no seu quadrado
Marina fez criticas também às siglas de aluguel (partidos nanicos), e disse que sempre teve de lidar com o pouco tempo disponível na TV para apresentar suas propostas. “Isso de fato é muito ruim. O pequeno tempo na televisão sempre me persegue. Não precisa ser muito, mas preciso ter um tempo necessário.”
A senadora sorriu ao ouvir Lobão se referir à “simpatia postiça” de políticos “cafonas” e seus “jingles lá-lá-lá”. Percebendo a deixa, ela disse que seu novo partido busca justamente o caminho oposto. “Uma coisa que agente está buscando no PV é procurar uma linguagem nova. Os paridos se transformaram em máquinas de ganhar poder”, alfinetou Marina, lembrando a ausência de candidaturas “tipicamente de direita” no pleito presidencial de 2010.
Foi quando a entrevista foi entrecortada por outros vídeos hilários, a começar pelo que mostra os berros “conservadores” do eterno ex-candidato do extinto PRONA, Enéas Carneiro, morto em maio de 2007. Comentando as movimentações dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PSB), Lobão disse que os candidatos, a maioria com histórico de luta contra a ditadura, estavam “em casa”.
“Não,está cada um no seu quadrado“, emendou Marina, ao que é exibido o vídeo que se tornou fenômeno na internet, com três peculiares dançarinos executando uma coreografia impagável ao som de um funk ainda mais engraçado. Com um detalhe: com a devida montagem, a equipe da MTV pôs Dilma, Serra e Ciro como os protagonistas do show.
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