Mário Coelho
Apesar da pouca presença de senadores, o discurso de Aloizio Mercadante (PT-SP) justificando sua permanência na liderança do PT despertou comentários dos parlamentares. “Se ele se enquadrar, acabou o Mercadante”, disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que falou da tribuna logo depois do petista.
Para o peemedebista, a permanência do senador paulista na liderança só tem legitimidade se ele mantiver a posição de diálogo e não de “enquadramento”. “O Mercadante teve uma atuação importante na condução do processo [de denúncias contra José Sarney]. Desde o começo ele defendeu que Sarney deveria se afastar, teve sempre essa posição”, afirmou Simon.
O senador gaúcho reforçou que Mercadante precisa ter uma posição independente em relação ao Palácio do Planalto e à direção do partido. “Talvez não tão aguerrida como antes, mas não pode se enquadrar”, afirmou. O peemedebista disse que a carta enviada por Lula, lida em plenário pelo petista, faz parte de uma combinação anterior. “O Lula não ia mandar uma carta se o Mercadante fosse renunciar.”
Confusão
A senadora Marina Silva (sem partido-AC), que anunciou sua saída do PT na quarta-feira (19), não deixou de fazer críticas ao partido após o discurso de Mercadante. Para ela, o PT precisa resgatar seu diferencial, que era a luta pela ética na política. “O PT hoje passa por uma grave confusão entre partido e governo, entre governabilidade legítima e governabilidade a qualquer custo”, disse.
Para a senadora acreana, essa confusão não faz bem à democracia. “Todos os partidos têm problemas. Mas o PT tem uma história que não pode ser renegada”, ressaltou. Em aparte durante o discurso de Simon, Marina disse que Mercadante se esforçou para manter a posição de que era necessário que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se afastasse enquanto durassem as investigações.
“Por entender ser a melhor para o Congresso, para o Brasil e, inclusive, para a governabilidade, porque a governabilidade não se estabelece a qualquer custo e a qualquer preço. Quando ela acontece dessa forma, pode prejudicar a própria governabilidade. O que eu ia dizer ao senador Mercadante é que eu respeito a decisão dele. O que ele expôs aqui só demonstra a dificuldade que teve de enfrentar essa questão, pelas relações, a conversa que teve com o presidente, a carta que recebeu”, disse Marina.
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