A ex-ministra do Meio Ambiente e senadora, Marina Silva (PT-AC), disse agora há pouco em entrevista coletiva que não se pode plantar cana-de-açúcar de "jeito nenhum" na Amazônia". "É preciso ter um outro olhar sobre a produção de grãos e criação de gado. É possível separar o joio do trigo", declarou a ex-ministra ao comentar as dificuldade que teve com o setor produtivo para defender o desenvolvimento sustentável.
Marina Silva também disse que quando não pôde mais fazer gestos sobre o que chamou de "estagnação" da política ambiental, foi preciso se afastar. "E foi o que eu fiz", disse ao justificar o pedido de demissão.
A ex-ministra negou que sua saída tenha sido decidida após a indicação do ministro Mangabeira Unger, da Secretária Especial de Assuntos Estratégicos, para comandar o Programa de Amazônia Sustentável (PAS). "Não é uma questão de pessoa, mas que você vai vendo um processo e percebe quando começa a ter estagnação. E na estagnação, devemos criar um novo processo com novos acordos e um novo ministro", afirmou.
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"Se ser isento é a capacidade de mediar o seu ponto de vista, eu me considero uma pessoa isenta. Mas eu tenho um ponto de vista", ponderou a ex-ministra sobre as afirmações do presidente Lula de que ela não seria isenta para cuidar do PAS.
A senadora também disse que vai ser "mais Marina" ao ser questionada se iria ficar alinhada ao senador Eduardo Suplicy (SP) ou Ideli Salvatti (SC), seus colegas de partido, no seu retorno ao Senado.
Desmatamento
Marina Silva enfatizou que o enfrentamento ao desmatamento deve ser retomado no nível do primeiro mandado do presidente Lula e defendeu os dados apresentados no início do ano pelo Ministério do Meio Ambiente. Os estudos mostram que houve aumento de 10% no desmatamento da Amazônia entre agosto e novembro de 2007 em relação a 2006.
"Há restrições muito fortes do Mato Grosso e de Rondônia. E de nada adianta ter um sistema de monitoramento se não são tomadas as decisões", criticou a ex-ministra. Segundo Marina, nos quatro primeiro anos do governo foram criadas 20 milhões de hectares de unidades de conservação. Além disso, segundo ela, do último ano até a sua saída foram apenas 300 mil hectares destinadas ao mesmo objetivo. "Essa agenda precisa ser retomada como no primeiro mandato", pediu.
A senadora não considerou sua saída como uma derrota e apontou uma série de conquistas da sua gestão. Citou como "reposicionamento" em favor da questão ambiental, em obras importantes do governo, a transposição do Rio São Franciso, a criação de usinas no Rio Madeira e a construção da BR-163. Na região da rodovia, disse Marinha Silva, só o anúncio da obra foi responsável por um aumento de 500% no desmatamento. Depois das ações do Ministério do Meio Ambiente, junto com as pastas da Integração Nacional e Transportes, houve uma redução de 91% no desmate, segundo os dados da ex-ministra. (Lúcio Lambranho)