A Polícia Federal diz ter encontrado indícios de que o presidente da maior empreiteira do país, Marcelo Odebrecht, procurou deter as investigações da Operação Lava Jato antes de ser preso. A partir de anotações feitas pelo próprio empresário em seu celular, os investigadores apontaram condutas que buscaram criar “obstáculos” e “cortinas de fumaça”, além de assumir dupla postura perante a opinião pública e atacar as apurações internas da Petrobras. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
“O material trazido aos autos aponta para o seu conhecimento e participação direta nas condutas atribuídas aos demais investigados, tendo buscado, segundo se depreende, obstaculizar as investigações”, disse ao jornal o delegado da polícia federal Eduardo Mauat da Silva, um dos coordenadores da equipe da Lava Jato.
Conforme aponta relatório de 64 páginas, um dos pontos mais graves das condutas atribuídas a Marcelo para conter os danos da operação foi a “utilização de dissidentes da Polícia Federal. “Marcelo ainda elenca outros passos que devem ser tomados identificando-os como ‘ações B’, tido aqui como uma espécie de plano alternativo ao principal”, diz documento.
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“Dentre tais ações estão ‘parar apuração interna’, ‘expor grandes’, ‘desbloqueio OOG’ (Odebrecht Óleo e Gás), ‘blindar Tau’ e ‘trabalhar para anular (dissidentes PF…’. Chama a atenção esta última alternativa, cuja intenção explícita de Marcelo Odebrecht, conforme suas próprias palavras, é para/anular a Operação Lava Jato.”
Em outro ponto das anotações do empreiteiro analisadas pela PF, foi identificada a menção a “dissidentes PF…”. “Uma referência clara à Polícia Federal, ou pelo menos a alguns de seus servidores, ora, ao que parece pela leitura do todo (anotações), Marcelo teria a intenção de usar os ‘dissidentes’ para de alguma forma atrapalhar o andamento das investigações, e, se levarmos em consideração as matérias (grampo na cela, descoberta de escuta, vazamento de gás, dossiês) veiculadas nos vários meios de comunicação, nos últimos meses, que versam sobre uma possível crise dentro do Departamento de Polícia Federal, poder-se-ia, hipoteticamente, concluir que tal plano já estaria em andamento,” consta no relatório.
“A suposta estratégia de Marcelo, desarticulada pela Lava Jato, também aponta para um confronto das investigações das comissões internas de apuração da Petrobras. “Chama a atenção também a preocupação de Marcelo em relação as CIAS (Comissão Interna de Apuração) da Petrobras estarem sendo conduzidas por ‘xiitas’ e, nas palavras dele, com seguinte linha de pensamento: temos que encontrar ‘culpado’ caso contrário vamos ser acusados de ‘incompetentes e/ou coniventes!’”, afirma o documento.
Por meio de nota ao jornal, a Odebrecht informou que “o relatório da Polícia Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais.”
“A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras”, posicionou-se a empreiteira.