Renata Camargo e Rudolfo Lago
De um lado, o sisudo José Serra, com suas pretas olheiras. De outro, a cara de lua branca e redonda de Mão Santa, com suas piadas estranhas e suas citações literárias pouco convencionais. Terá essa dupla alguma chance de vir a suceder Luiz Inácio Lula da Silva e José Alencar? Pelo menos no entender do senador Mão Santa (PSC-PI), sim.
Em todos os pleitos, os eleitores deparam com candidatos nada convencionais para os mais diversos cargos. São as versões humanas do rinoceronte Cacareco e do Macaco Tião, que ganharam votos em pleitos passados. Mão Santa (PSC-PI) aposta que será um desses candidatos aparentemente inusitados que irá surpreender o público. Nas últimas semanas, o senador piauiense ganhou a atenção da mídia nacional ao voltar a afirmar que tem sido cotado para ser vice do candidato tucano à Presidência da República, José Serra (SP). Mão Santa afirma que é pré-candidato à reeleição do Senado, mas que seu nome está “muito, muito forte” para a Presidência.
Parece pouco provável a dobradinha de Serra com esse piauiense, que se aproveitou da crise no Senado, para, na ausência de José Sarney (PMDB-AP), presidir durante o ano passado a quase totalidade das sessões não deliberativas. Assim, enquanto os senadores faziam seus discursos transmitidos pela TV Senado, Mão Santa os apresentava, fazia comentários sobre seus currículos e repetia seus bordões. Sob a proteção de “nosso patrono, Ruy Barbosa”, passou o ano a repetir, da cadeira de presidente, que aquele Senado, desmoralizado por uma série de denúncias, “era o melhor da história”. E, dali, Mão Santa mandava recados para Lula, ou “Luiz Inácio”, como gosta de chamar. Folclórico ou não, ele garantiu assim bem mais que seus regulamentares 15 minutos de fama.
Em breve entrevista ao Congresso em Foco, em que foi procurado para falar sobre gastos com verba indenizatória (leia aqui), Mão Santa jurou que tem recebido mais de mil e-mails por mês com pedidos para que se candidate à Presidência. Mão Santa, conhecido pelos seus discursos irreverentes, que chegam a ser cômicos em alguns momentos, afirma: “Sou melhor do que o Lula, porque entendo do Nordeste e do Brasil e não falo com erro de português”.
Leia o breve diálogo da repórter com o senador Mão Santa:
– Bom dia, senador. É Renata, do Congresso em Foco, como vai o senhor?
– Muito bem, minha filha.
– Senador, estamos produzindo uma matéria sobre gastos de combustíveis pagos com verba indenizatória do Senado. Vi aqui que o senhor gastou bastante com pagamentos a postos de gasolina, então gostaria de alguns esclarecimentos? Gostaria de saber quais outros serviços usados além de compra de combustíveis, quantos carros foram abastecidos com a verba…
– Ah, minha filha, eu não sei dessas coisas não. Quem sabe é o Doca, do meu gabinete. Ele é que cuida dessa parte. Eu estou preocupado é com o Brasil. Estou me preparando para ser presidente da República.
(…)
– O senhor está se preparando para ser presidente, senador?…
– Eu estou me preparando é para ser candidato a vice-presidente. O PMDB se acovardou e não quis lançar minha candidatura. Então, eu saí e fui para um partido menor, peixe pequeno que não tem possibilidade de lançar candidatura própria. Mas eu, com certeza, posso ser vice-presidente…
– Então o senhor irá se candidatar a vice-presidente? Vice de quem senador?
– Me admira que você não saiba, minha filha… Meu nome está muito, muito forte para ser vice do Serra. Eu vou me candidatar novamente a senador, mas meu nome está muito forte para a Presidência. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a chapa do partido dele, o PSDB, é fraca no Nordeste e que vai ser preciso um nome forte no Nordeste, porque lá é região do Bolsa Família, e o candidato do Lula é forte. E Fernando Henrique falou em meu nome, disse que o candidato mais preparado sou eu. Eu sou melhor do que o Lula, porque entendo do Nordeste e do Brasil e não falo com erro de português. Recebo mais de mil e-mails por mês dizendo para eu me candidatar à Presidência. As pessoas falam comigo na rua. Sou um dos políticos mais preparados do Brasil. Morreu Rui Barbosa, ficou só eu.
Ao final da conversa, Mão Santa sugeriu que fizéssemos uma CPI na vida dele para investigar se há algum gasto irregular com verba indenizatória em seu nome. O senador encerrou a conversa com uma frase direta sem meias palavras: “A minha vida é um livro aberto, não sou aloprado não, minha filha”.
Eles cruzaram 115 vezes a Terra. E você pagou
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