Jornal do Brasil
PT – Partido em busca de identidade
O PT escolhe, hoje, o seu comandante. Com o nome, definirá seu futuro, o relacionamento com o governo Lula – até agora o mais popular e carismático líder produzido pela legenda – a parceria com os movimentos sociais e sindicais. E, especialmente, seu futuro político. Um esforço para refazer a imagem e recuperar o discurso da ética na política perdido durante os escândalos Waldomiro Diniz, do mensalão, da máfia das ambulâncias e da quebra do sigilo bancário do caseiro que enfrentou e ajudou a catapultar Antonio Palocci do Ministério da Fazenda.
O partido já lavou parte da roupa suja no 3º Congresso, realizado no fim de agosto e início de setembro. Durante o encontro, a Fundação Perseu Abramo ouviu 775 dos 942 delegados. A pesquisa constatou que, para 60%, a crise de 2005 (o mensalão) ainda não foi superada. E têm razão. A cúpula petista caiu, ao longo dos meses daquele ano, juntamente com o castelo de areia da retórica em que a sigla interpretava o Bem e as adversárias travestiam-se do Mal.
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Os petistas vão às urnas hoje divididos entre sete candidatos. Representam o leque de tendências e visões que se aglutinam no partido. Em comum, apenas o fato de considerar a defesa do governo Lula essencial para a sobrevivência do PT nas urnas de 2008 e 2010 e além das batalhas eleitorais. Um presidente que se afastou do processo de escolha do novo dirigente de seu partido desde que seu preferido, o assessor especial Marco Aurélio Garcia, foi escanteado pelos companheiros do grupo hegemônico Construindo um Novo Brasil.
Barganhas travam o Brasil
Na tentativa de pressionar a parcela da sociedade que é contrária à prorrogação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o governo decidiu adiar o envio de uma reforma tributária ao Congresso e o anúncio de uma política de desenvolvimento industrial. Alegou que não há como discutir novas desonerações tributárias enquanto correr o risco de perder a receita gerada pelo imposto, cerca de R$ 40 bilhões por ano até 2011. Ao tentar enquadrar os empresários, no entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva posterga medidas que impulsionariam o crescimento da economia do país.
– O adiamento desses programas é uma pena. Sem dúvida nenhuma, o Brasil perde alguns pontos de Produto Interno Bruto (PIB) – ressalta o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Alerta para o corte de emendas
Depois de ameaçar com o aumento da carga tributária e cortes na verba destinada para a área de saúde, o governo decidiu mirar no capital político dos congressistas de olho nas eleições municipais para pressionar pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional que prorroga a CPMF. Serão as emendas parlamentares, essenciais para fortalecer os laços entre deputados e senadores e suas bases eleitorais, os maiores alvos dos cortes que o Orçamento da União para 2008 sofrerá para equilibrar as contas, depois do desaparecimento de R$ 40 bilhões de receita arrecadada pela contribuição, prega a equipe econômica do governo.
Além de dar ao Executivo a justificativa para drenar ao máximo as emendas parlamentares, o fim da CPMF vai empurrar a aprovação da peça orçamentária pelo Congresso para março de 2008, na melhor das hipóteses, segundo têm advertido ministros do Palácio do Planalto a senadores "indecisos".
– Será uma catástrofe – vaticina o relator de receitas do Orçamento 2008, senador Francisco Dornelles (PP-RJ). – Sem a CPMF, simplesmente vamos ter de começar do zero a discussão sobre o Orçamento.
Democratas, o alvo do presidente
Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou de vez em campo para defender a aprovação da proposta de emenda constitucional que prorroga até 2011 a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A pressão tem justificativa: sem o imposto, o governo deixará de arrecadar cerca de R$ 40 bilhões por ano.
O presidente elegeu o Democratas como principal alvo, partido que tem entre os seus princípios programáticos a redução da carga tributária e foi a primeira legenda a fechar questão contra a contribuição. Lula reforçou o diálogo com governadores a fim de que estes convençam senadores do DEM e do PSDB a votar com o governo. Passou também a entoar o discurso segundo o qual quem perderá com a extinção do imposto será a população, que não pode deixar de contar com os programas sociais do governo.
Social não seria afetado sem a CPMF
Para o especialista em contas públicas Amir Khair, o possível fim da CPMF teria impacto na área de seguridade social, mas não a ponto de obrigar o governo a fazer cortes em programas da área social. As obras do PAC também não sofreriam grandes reflexos, como o Palácio do Planalto tem se esforçado em divulgar, acredita.
Mas a estratégia do governo em pressionar os Estados por apoio à CPMF faz sentido. Com a regulamentação da Emenda 29, em tramitação no Congresso, os governos estaduais terão aumentados seus gastos com a saúde, a partir do próximo ano. E terão menos recursos da CPMF à sua disposição para bancar a elevação dos gastos. A emenda obriga os governos estaduais a investirem 12% da arrecadação de impostos, enquanto as prefeituras se comprometem em investir 15% e o governo federal, 10%.
Renan em contagem regressiva
O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), vai convocar já na semana que vem novas eleições para a presidência da Casa Legislativa caso o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) renuncie ao cargo antes de seu julgamento no plenário, marcado para a próxima terça-feira.
A expectativa é a de que o parlamentar alagoano seja novamente absolvido, agora pelas acusações de ter usado laranjas para comprar emissoras de rádio em Alagoas, e depois renuncie a presidência.
Parlamentares de situação e de oposição estão unidos na dúvida e não arriscam dizer quando Renan deve deixar o posto, se antes ou depois da votação da matéria que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
– Se fosse para pacificar a Casa, Renan já deveria deixado a presidência. Sua teimosia em sair transformou um caso particular em crise política e o Planalto tornou-se refém dele, pois teme que seus aliados retaliem o governo votando contra a CPMF – resume um deputado da bancada governista, que acompanha a crise com olhar crítico.
Folha de S. Paulo
65% desaprovam que Lula possa disputar 3º mandato
Rejeitam um terceiro mandato consecutivo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva 65% dos brasileiros, revela pesquisa Datafolha realizada entre os dias 26 e 29 de novembro. Em nenhuma das regiões do país, nem mesmo no Nordeste, onde é mais bem avaliado, essa hipótese contaria com o apoio da maioria da população. O Datafolha perguntou aos entrevistados se concordariam com uma mudança na lei para dar o direito a Lula de concorrer a um terceiro mandato em 2010. Apenas 31% apoiariam a idéia.
Foram entrevistadas 11.741 pessoas, em 390 municípios de 25 Estados. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A proposta de terceiro mandato não é acolhida pela maioria nem quando o questionamento é genérico, sem citar Lula. Para 63%, presidentes não devem ter esse direito. O percentual sobe para 66% quando se trata de governadores e vai a 67% no caso de prefeitos.
O terceiro mandato é defendido por setores petistas e provoca temores na oposição. Publicamente, tanto Lula quanto a direção do PT negam a intenção de trabalhar por uma mudança constitucional com esse objetivo. Em entrevistas recentes, Lula revelou o desejo de voltar à Presidência. Em 2014. Mas o PT não tem hoje nomes competitivos para disputar 2010, primeira eleição desde 1989 sem Lula na cédula.
Maioria mantém apoio a uma reeleição
A maioria dos brasileiros legitima o direito de um governante disputar novo mandato ao final de sua primeira passagem pelo cargo, mas o apoio à reeleição hoje é menor que há dois anos, mostra a pesquisa Datafolha. Para 58%, os presidentes da República devem ter direito a uma única reeleição; 39% são contra. Na sondagem feita em julho de 2005, 65% apoiavam a reeleição presidencial e 33% a rejeitavam.
A Constituição foi modificada em junho de 1997 (emenda 16), no governo FHC, para permitir que presidente da República, governadores e prefeitos fossem reeleitos uma única vez.
Em 2007, a aceitação à reeleição de governadores e prefeitos também apresentou pequena oscilação negativa, sendo, respectivamente, de 57% e 56%. Há dois anos, segundo o Datafolha, a reeleição de governadores era aceita por 64% e a de prefeitos por 63%.
Serra é o favorito para suceder Lula; Ciro aparece em 2º
A três anos da eleição presidencial de 2010, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), desponta como favorito à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Todos os quatro possíveis candidatos do PT, dependendo do cenário, aparecem com chances mínimas caso a eleição fosse realizada hoje, revela pesquisa eleitoral do Datafolha.
Nenhum dos quatro petistas supera a faixa de um dígito nas intenções de voto, e muitos dos eleitores que dizem simpatizar com o PT votariam hoje em candidatos de outro partido.
A grande ameaça no caminho dos tucanos é o ex-governador do Ceará, ex-ministro da Integração Nacional e atual deputado federal Ciro Gomes (PSB).
Ciro lidera as intenções de voto quando o candidato do PSDB é o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Já nos cenários em que enfrenta o governador paulista, Ciro tem cerca da metade das intenções de voto depositadas no tucano.
No cenário em que os candidatos são Serra, Ciro, a ex-candidata à Presidência Heloísa Helena (PSOL), a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), e o atual ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB), o tucano aparece na frente com 37% das intenções de voto. Ciro aparece em segundo, com 18%, seguido por Heloísa Helena (13%), Marta (6%) e Jobim (2%).
Governo tem apoio de 50%; aprovação de mais ricos sobe
Por quase 12 meses consecutivos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém uma avaliação de governo estável e administração aprovada por cerca de metade da população do país. Para 50% dos entrevistados pelo Datafolha, o governo do petista é ótimo ou bom.
Houve uma oscilação positiva de dois pontos percentuais, dentro da margem de erro, na avaliação do governo Lula em relação à pesquisa anterior, feita em agosto. Na sondagem atual, o governo de Lula é considerado regular por 35% e ruim ou péssimo na opinião de 14% dos entrevistados.
A aprovação do governo subiu na região Sudeste, entre brasileiros que integram famílias com renda acima de dez salários mínimos e os que vivem em capitais, e também entre os mais escolarizados.
A melhor avaliação do governo está em Pernambuco, com 65% de aprovação. No Rio Grande do Sul, o percentual é de 37%. Em São Paulo, 43% acham o governo Lula ótimo ou bom. Nas capitais, a pior avaliação registrada foi em Porto Alegre: 30% ruim/péssimo, 43% regular e 26% ótimo/bom.
Senador vai pedir que PF apure suposta espionagem
O senador Marconi Perillo (PSDB-GO) afirmou ontem, via assessoria, que pedirá amanhã à Polícia Federal uma investigação sobre esquema de espionagem, do qual teria sido alvo, supostamente encomendado pela Polícia do Senado.
Reportagem da revista "Veja" desta semana afirma que a Central Única Federal dos Detetives do Brasil, com escritório em Brasília, foi acionada pela Polícia do Senado para levantar informações financeiras do senador, principalmente se ele tem uma conta milionária em bancos dos Estados Unidos.
Outro alvo da investigação era uma eventual participação societária oculta do senador nas empresas Perdigão e Schincariol, instaladas em Goiás. Perillo negou, via assessoria, que tenha participação nas empresas e conta milionária. Ontem, a Polícia do Senado soltou nota em que negou a espionagem contra o senador.
"O senador não tem conta bancária fora de Goiânia. A única conta dele é no Banco do Brasil. Ele não tem participação societária em nenhuma empresa. As empresas [Perdigão e Schincariol] foram instaladas no governo dele [em Goiás, de 1999 a 2006] e então tem sempre conversa", informou a assessoria de Perillo.
Favorito, Berzoini articula para 2º turno
O PT vai às urnas hoje em todo o país para escolher sua nova direção, mas, antes mesmo de a votação ter início, as articulações em torno de um eventual segundo turno no âmbito nacional já haviam começado.
Até ontem, a única certeza era de que o atual presidente, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), estará no segundo turno se não vencer o pleito logo nesta primeira etapa, hipótese dada como muito provável por seus apoiadores.
Ele encabeça a chapa CNB (Construindo um Novo Brasil), o antigo Campo Majoritário, corrente hegemônica no PT. A indefinição está por conta de quem deverá ser seu adversário, caso ele não consiga mais da metade dos votos válidos.
Os deputados federais paulistas Jilmar Tatto, do PT de Lutas e Massas (unido com o Novo Rumo), e José Eduardo Cardozo, da Mensagem ao Partido, e o dirigente Valter Pomar, da chapa A Esperança é Vermelha, são os mais cotados.
Na avaliação do grupo de Berzoini, a situação menos preocupante seria enfrentar o candidato do PT de Lutas e Massas, já que alguns dos líderes da Mensagem têm restrições a Jilmar Tatto.
Outro fator que alenta o grupo de Berzoini é que o ministro Tarso Genro (Justiça), estofo da candidatura de Cardozo, não deve recusar um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para votar em Berzoini.
Dois candidatos a presidir PT paulista são denunciados
A escolha do novo presidente do PT paulista se dará em meio à suspeitas de uso da máquina partidária e abuso de poder econômico e político por parte dos dois candidatos com mais chance de vencer a disputa.
Edinho Silva, prefeito de Araraquara (noroeste de SP) e candidato pelo CNB (Construindo um Novo Brasil), e José Zico Prado, deputado estadual lançado pelo Novo Rumo, foram alvo de representações no Diretório Estadual assinadas pela adversária Angélica Fernandes, da corrente de esquerda A Esperança é Vermelha.
Segundo ela, ambos enviaram cartas aos militantes que feriram as normas das eleições aprovadas pelas chapas. "Espero uma posição oficial do Diretório Estadual", disse.
No caso de Edinho, a representação anexa correspondência assinada por Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na carta, ele pede votos para o prefeito.
Angélica reclama o fato de Carvalho ter assinado o texto na condição de "chefe-de-gabinete pessoal da Presidência da República", o que configuraria abuso do poder político. As correspondência também foram postadas por uma agência de publicidade, o que estaria em desacordo com as regras.
"Na hora da campanha eleitoral do Lula, todo mundo pede votos juntos. Na hora da disputa no PT, as coisa mudam", afirma a candidata.
O Estado de S. Paulo
PT decide hoje quem comandará a maior máquina eleitoral do País
Os filiados do PT vão hoje às urnas para eleger de forma direta a nova direção do partido. Concorrem sete chapas com candidatos à cadeira de presidente – a mesma que já pertenceu a Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu e José Genoino. Nos debates que antecederam o pleito de hoje falou-se aqui e ali da questão ética e das crises ideológicas e políticas que sacodem o partido desde o vendaval do mensalão, em 2005. Mas esse não foi o centro real da discussão. Ela girou sobretudo em torno das articulações para as próximas eleições e do controle da máquina partidária.
Os dirigentes eleitos neste domingo só deixarão o comando partidário em 2009. Isso significa que terão poder para influir nas eleições municipais de 2008 e também nas negociações para a sucessão do presidente Lula, em 2010.
Não se trata de um poder desprezível. Mesmo fragmentado em tendências e às voltas com crises internas, o PT dispõe hoje da mais bem articulada máquina eleitoral do País, com milhares de pessoas em cargos estratégicos – que podem servir ao partido e ao grupo hegemônico em seu interior. Elas estão instaladas na Presidência da República e nos 15 ministérios e secretarias especiais controladas pelo partido, além de terem cargos em estatais, autarquias e assessorias.
Legenda começa a colher assinaturas por Assembléia Constituinte exclusiva
O PT inicia hoje a coleta de assinaturas para apresentar ao Congresso um projeto de iniciativa popular. Nele vai propor a realização de um plebiscito em 31 de janeiro de 2009, para que a população decida se a reforma política deve ou não ser feita por uma Assembléia Constituinte exclusiva.
Pela Constituição, um projeto de iniciativa popular precisa da assinatura de pelo menos 1% do total de eleitores, em pelo menos cinco Estados – hoje, cerca de 1,3 milhão de assinaturas. Com isso, o projeto chega à Câmara, mas entra na fila e é examinado sem nenhuma precedência sobre outras propostas.
"Único plano é construir um candidato do PT"
Empenhado em obter mais um mandato, o atual presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, diz que o partido não trabalha com a possibilidade de não ter candidato a presidente em 2010. Para ele, a militância petista não cogita a hipótese.
Qual deve ser a prioridade da nova direção do PT?
Continuar o processo de coesão do partido. A nova direção vai liderar o PT até 2009, portanto será decisiva para conduzir o PT tanto no aspecto institucional, quanto no de mobilização, para chegar em 2010 forte o bastante para liderar a sucessão do presidente Lula.
Com a cabeça da chapa?
É o ideal. Com todo respeito aos partidos da base, depois de governar o País por 8 anos – obviamente com os demais partidos -, com posição de liderança, governando 5 Estados e com a maior votação na Câmara, o PT trabalha com a lógica de que terá candidato e, na minha opinião, terá. Acho que a militância não cogita em hipótese alguma qualquer outro processo.
"Eu falo que o partido errou, aponto as falhas"
Valter Pomar é secretário de Relações Internacionais do PT e representa a corrente Articulação de Esquerda na disputa.
O que pretende fazer se vencer a eleição?
Minha plataforma tem dois objetivos e cinco tarefas. Os objetivos são superar a crise, virando uma página na história do PT, e preparar o partido para a disputa de 2010. As tarefas: vencer as eleições de 2008, reaproximar o partido dos movimentos sociais; melhorar as relações com o partidos de esquerda; aumentar a influência do PT no governo Lula e implementar as resoluções do terceiro congresso, realizado neste ano.
"Esse governo de coalizão só nos faz passar vergonha"
A candidatura de Markus Sokol agrega militantes da linha trotskista, na extrema esquerda do partido.
O que o sr. critica na atual direção do PT?
O fato de ser subordinada ao Planalto e não dizer ao presidente o que as bases do partido pensam. No último congresso, em setembro, o PT decidiu apoiar a consulta popular sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, que consideramos um escândalo. Mas em seguida Lula disse que o assunto sequer fazia parte de sua agenda. O que os líderes do partido fizeram diante disso? Nada.
O que mais diria a Lula?
Esse governo de coalizão só nos faz passar vergonha. Quando sai o escândalo Renan, entram o do Mares Guia, o do Silas Rondeau e outros.
"O PT está acanhado, envergonhado, tímido"
Afilhado político da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, o deputado Jilmar Tatto (SP) avalia que o PT está "acanhado, envergonhado e tímido" na relação com o Planalto. Para ele, cabe ao partido forçar o governo em direção à área social.
Qual deve ser a prioridade da nova direção do PT?
Do ponto de vista externo, organizar e articular para o PT ganhar a eleição de 2008. Segundo, o PT deve ter uma relação privilegiada com movimentos sociais. E, já que a gestão vai até 2009, preparar o partido para a disputa de 2010.
O sr. defende a candidatura própria em 2010. Como viabilizá-la?
Temos que construir as bases de uma candidatura forte, partindo de um diagnóstico evidente de que igual ao Lula é difícil encontrar neste momento. A candidatura tem de sintetizar as conquistas de Lula, ter apoio do presidente e apresentar à sociedade um aprofundamento do que ela precisa.
"O lulismo extrapolou os limites do partido"
Gilney Viana, o único dos sete candidatos de fora de São Paulo – é de Mato Grosso -, milita na área ambiental e representa pequenos grupos do partido.
O PT deveria ter mais autonomia em relação ao governo?
O PT e o Lula eram irmãos, mas estão virando primos. O lulismo cresceu muito, extrapolou os limites do PT, criou nova relação com a massa. Políticos de outros partidos estão tentando se apossar dessa herança lulista para as eleições de 2010. Mas o PT é o partido com mais legitimidade sobre essa herança e deve lutar por ela, se não quiser ser passado para trás. Defendo o governo Lula, ao mesmo tempo que desejo que avance na reforma agrária, na reforma urbana, na economia.
"Os outros são favoráveis à coalizão. Eu não concordo"
Sindicalista, José Carlos Miranda representa a tendência Esquerda Marxista.
O que distingue o programa de sua chapa das outras?
Todos os outros candidatos são favoráveis ao governo de coalizão, à união com forças que historicamente sempre se opuseram ao PT. Eu não concordo e votei sozinho no diretório nacional contra essa política. Se fosse eleito, a primeira coisa que faria seria reabrir a discussão, em toda a estrutura do partido, sobre o governo de coalizão. A política econômica do governo Lula guarda similaridades, senão raízes, na política de Fernando Henrique Cardoso. O que pensa um militante da base do PT quando olha os lucros que os bancos acabaram de ter? Como o Sérgio Cabral pode estar na base aliada, se defende ações do Bope, no Rio, com policiais montados em helicópteros para atirar em negros e pobres?
"Temos que trazer de volta o debate livre"
Defensor do resgate da ética no PT, o deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP) prega a democratização da direção partidária. Além disso, ele insiste que falta transparência do partido na gestão de recursos financeiros.
Qual deve ser a prioridade da nova direção do PT?
A nova direção terá que modificar a democracia interna. No PT, um pequeno grupo de pessoas decide o que todo o partido vai fazer. Há uma crise autoritária, que trata quem diverge da direção como inimigo. Além disso, falta transparência na gestão financeira. Temos que saber de onde vem o dinheiro e para onde vai.
Não melhorou desde o mensalão?
Não há transparência. Defendemos, por exemplo, o orçamento participativo nos municípios. E temos que trazer de volta o debate e a discussão livre dentro do PT.
Tuma investiga se Renan usou Senado para espionagem
O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), vai abrir investigação sobre o suposto envolvimento da Polícia Legislativa em espionagem de adversários políticos do presidente licenciado da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), conforme denúncia publicada na edição desta semana da revista Veja. Se confirmada, a denúncia pode gerar mais um processo por quebra de decoro contra Renan, desta vez por prevaricação e abuso de poder. Tuma vai levar o caso amanhã à Polícia Federal para que seja aberto inquérito. "O fato é extremamente grave", disse o corregedor.
Segundo a revista, um agente não identificado da Polícia do Senado procurou um escritório de espionagem. Os detetives, que seriam ex-policiais federais, teriam contratado o escritório Agatha & Holmes, em Goiânia, que tem como representante Luzia Tanganelli, a "Cleópatra". A missão seria descobrir se o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), favorável à cassação de Renan, era sócio oculto da Perdigão e da Schincariol, instaladas em Goiás quando ele era governador.
Correio Braziliense
A um passo da absolvição
Nos corredores do Senado, ninguém ousa afirmar que Renan Calheiros (PMDB-AL) será cassado no julgamento marcado para terça-feira. Depois de quase oito meses de crise, uma absolvição no currículo e mais cinco processos por quebra de decoro, o senador ainda demonstra força na Casa. Por três motivos, segundo seus colegas: corporativismo, bom relacionamento político com os parlamentares e a falta de um prova concreta contra ele, apesar dos vários indícios de quebra decoro.
Em um passado recente, outros dois presidentes do Senado não suportaram tanto tempo de tiroteio e abandonaram a Casa. Um deles foi Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), que renunciou ao mandato na esteira da violação do painel na votação que cassou o senador Luiz Estevão (DF). O outro, Jader Barbalho (PMDB-PA), que abriu mão do mandato após ser acusado de desvio de dinheiro público. Mesmo afastado da Presidência desde 11 de outubro, Renan não demonstrou enfraquecimento.
Eleições diretas em todo o país
Com a expectativa de levar pelo menos 300 mil filiados às urnas em todo o país, o PT renovará hoje os quadros dirigentes de seus diretórios municipais, estaduais e nacional mobilizado em torno de dois desafios: a construção do futuro do partido e a sucessão presidencial de 2010.
Dos sete candidatos que concorrem à presidência, três têm chances reais na disputa. O atual presidente do partido, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), é candidato pela corrente Construindo um Novo Brasil, o antigo Campo Majoritário, do qual fazem parte o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários dos envolvidos no escândalo do mensalão, como o ex-ministro José Dirceu.
O deputado federal Jilmar Tatto (SP) , integrante do grupo político da ministra do Turismo, Marta Suplicy, conta com o respaldo de três correntes, que formam a chapa Partido é para Lutar. Já o deputado federal José Eduardo Cardozo (SP) disputa em nome da Mensagem ao Partido, corrente do ministro da Justiça, Tarso Genro (RS).
Cotada para 2010, Dilma vira alvo do fogo amigo
Cotada na banca de apostas como candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão em 2010, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, enfrentará dificuldade para convencer o PT a lançá-la na disputa. A avaliação é de ministros, senadores e deputados do próprio partido. Eles alegam que a ministra não participa das decisões internas da legenda. Não debate nem defende os projetos petistas. E vive num universo à parte, dedicando-se exclusivamente ao governo.
A Dilma não é orgânica. O PT não aceita a candidatura de quem não é orgânico, sobretudo em disputas majoritárias, diz uma estrela da bancada do partido no Senado. Ele aposta que a ministra, egressa do PDT e supostamente sem história nas hostes petistas, será mais uma vítima do fogo amigo. Se realizados, os ataques questionarão a política energética do governo, que seria incapaz de afastar o risco de racionamento em médio e longo prazos. Além disso, reforçarão o coro dos descontentes com a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).