Folha de S. Paulo
PF libera trechos de reunião e insiste que delegado quis sair
A direção da Polícia Federal em Brasília divulgou ontem três minutos e 55 segundos da gravação de quase três horas da reunião realizada na Superintendência da PF em São Paulo, na segunda-feira, em que ficou acertada a saída do delegado Protógenes Queiroz da condução da Operação Satiagraha.
A intenção da PF é comprovar que Queiroz deixou o caso por iniciativa própria, contestando a versão de que ele foi afastado por ordem do comando da corporação. No entanto, os trechos divulgados ontem não deixam isso claro.
Segundo a PF, não foi possível abrir toda a gravação porque teriam sido abordados na conversa diversos aspectos sigilosos da investigação.
A decisão de divulgar oficialmente os trechos da gravação foi tomada depois de reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro Tarso Genro (Justiça) e o diretor-geral interino da PF, Romero Menezes, ontem de manhã, no Planalto. Na reunião, Lula optou pela divulgação dos trechos para, segundo relato de presentes, evitar que continuassem a ser divulgadas versões "mentirosas" sobre a saída de Queiroz.
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Participaram do encontro de segunda Queiroz e sua equipe, o superintendente da PF de São Paulo, Leandro Coimbra, e dois membros da cúpula da PF em Brasília, o diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho, e o chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros, Paulo Teixeira. Ao todo, foram 12 pessoas. A conversa foi gravada por decisão de Troncon.
Delegado diz que fita divulgada pela PF teve sentido "adulterado"
O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz disse a amigos que a fita divulgada ontem pela direção geral da PF foi uma "adulteração" do conteúdo e da temperatura da reunião ocorrida na última segunda-feira na Superintendência da PF, em São Paulo.
Na reunião, conduzida pelo diretor de combate ao crime organizado da direção geral da PF, Roberto Troncon, foi definida a saída de Queiroz e de outros dois delegados do comando da Operação Satiagraha.
A interlocutores, Queiroz reafirmou ontem que a direção da PF promoveu o afastamento dele e dos delegados Karina Souza e Carlos Pellegrini. Ele disse a colegas que a fita compreende pouco mais de 1% do total de tempo do encontro, que começou às 14h15 e terminou por volta das 18h00.
O delegado relatou aos interlocutores que, para ele, a direção geral está "filtrando" as informações para "induzir a erro" o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cobrado por colegas da PF sobre a fala de Lula que o citou como "sujeito" que deveria dar "explicações", o delegado respondeu que planeja fazer uma declaração pública hoje à imprensa, na sede da Superintendência de São Paulo.
A Folha apurou que desde anteontem Queiroz tem pedido a íntegra da fita da reunião ao gabinete do superintendente da PF em São Paulo, Leandro Coimbra, que também participou do encontro. Sem obter uma resposta, ele protocolou no início da tarde de ontem, no gabinete de Coimbra, o pedido de acesso à fita.
Protógenes deve indiciar hoje Dantas e mais 12 antes de sair
O banqueiro Daniel Dantas e mais 12 pessoas, incluindo sua irmã, Verônica, e sua mulher, Maria Alice, deverão ser indiciados hoje pelo delegado Protógenes Queiroz por suposta gestão fraudulenta, investigada pela Operação Satiagraha.
As principais suspeitas contra o banqueiro giram em torno da manutenção e gestão do Opportunity Fund, nas Ilhas Cayman, e da falta de comunicação aos órgãos públicos e de controle interno de movimentações financeiras atípicas nas contas de correntistas do banco Opportunity.
Os advogados de Daniel Dantas e do grupo Opportunity têm negado irregularidades na gestão das empresas.
Segundo as investigações da Polícia Federal, Dantas estava legalmente proibido de organizar e gerir, a partir de meados da década de 90, o fundo das Ilhas Cayman, criado para participar da privatização de companhias estatais brasileiras.
Dantas e outros funcionários do banco foram intimados a comparecer hoje à sede da PF, em São Paulo, por volta das 10h. Caso Dantas não apareça, poderá ser indiciado à revelia. Queiroz deverá deixar hoje o comando da Operação Satiagraha. Outros dois inquéritos que surgiram dela passarão a ser presididos por outros delegados escolhidos pela direção geral da PF, em Brasília.
O crime de gestão fraudulenta de instituição financeira é previsto na lei federal 7.492/86, que trata dos crimes contra o sistema financeiro nacional. Prevê como pena reclusão de 3 a 12 anos, e multa.
BC vê indícios de lavagem no Opportunity
Há cinco anos, o Banco Central aponta, em relatórios, indícios de prática de lavagem de dinheiro pelo banco Opportunity. O processo administrativo contra o banco -fundado por Daniel Dantas- só foi aberto no dia 7 de novembro do ano passado.
Segundo conclusão do Decic (Departamento de Combate a Ilícitos Financeiros e Supervisão de Câmbio e Capitais Internacionais), o Banco Central identificou indícios de irregularidades "relativas a detectação e comunicação de operações suspeitas de lavagem de dinheiro". Entre eles, movimentações de recursos incompatíveis com patrimônio e renda do cliente.
No relatório de avaliação de Controles Internos e Compliance (procedimentos de prevenção à lavagem de dinheiro), o BC chega a listar exemplos de clientes com movimentação acima de sua capacidade financeira. É o exemplo de um militar aposentado com renda de R$ 9 mil mensais e patrimônio de R$ 335 mil, mas com R$ 9 milhões em aplicações.
Outro caso é do físico com renda mensal de R$ 10 mil e patrimônio de R$ 642 mil, mas com R$ 17 milhões em aplicações. A falta de documentação necessária para a abertura de contas também é um dos alvos de suspeita do Banco Central.
Embora essas sejam as conclusões do trabalho de fiscalização realizados entre abril e maio de 2006, alguns indícios de irregularidade são registrados desde 2003, segundo relatório de auditoria ao qual a Folha teve acesso.
Listas têm operações financeiras feitas só no país, diz Opportunity
Quatro anos depois da apreensão do misterioso HD (disco rígido) do banco Opportunity, a instituição afirmou ontem que as listas extraídas do computador contêm somente dados de movimentações financeiras de seus clientes no Brasil, e não no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, como suspeita a Polícia Federal.
É a primeira vez que o Opportunity se manifesta sobre a relação de clientes que supostamente fizeram remessas ilegais ao exterior. O banco contraria, em nota, os investigadores ao dizer que só mantém registrados dados de clientes e aplicações gerenciadas no país.
O HD foi apreendido em 2004 na sede do banco, no Rio, mas só agora, durante a Operação Satiagraha, a PF recebeu autorização para periciá-lo.
Laudo anexado ao inquérito policial afirma categoricamente que os brasileiros enumerados nas listas são cotistas do Opportunity Fund, fundo criado em Cayman apenas para residentes no exterior, que têm isenção de Imposto de Renda.
O banco, depois de silenciar, agora nega que a lista identifique aplicações de brasileiros no fundo: "Qualquer afirmação ou insinuação no sentido de vincular supostos clientes do banco Opportunity ao fundo estrangeiro Opportunity Fund é leviana", diz a nota divulgada.
A Folha localizou 30 empresas e pessoas físicas listadas, das quais 17 enviaram respostas ao jornal. Todos negaram ter cotas do fundo. Seis disseram ter investimentos no banco, mas no Brasil, e quatro, que não são clientes do banco. Os outros sete são empresas e executivos do Opportunity, que também negam movimentar dinheiro em paraíso fiscal.
Senadora diz que irá acionar STF contra aliado de Dantas
A senadora licenciada Kátia Abreu (DEM-TO) anunciou ontem que vai ingressar no STF (Supremo Tribunal Federal) com uma ação de interpelação judicial criminal contra o empresário Arthur Joaquim de Carvalho, cunhado de Daniel Dantas, e Guilherme Henrique Sodré, publicitário que atuaria, diz a PF, para o banqueiro.
Em conversa gravada pela Polícia Federal com autorização judicial e que consta do relatório da Operação Satiagraha, Carvalho fala a Sodré que Abreu teria recebido R$ 2 milhões para modificar uma medida provisória sobre o setor de portos. Ela nega a acusação.
De acordo com Carvalho, a propina teria sido paga pela OAS. Procurada nos últimos dois dias, a construtora não quis se manifestar sobre o caso.
Abreu apresentou emenda para permitir que controladores de portos privados pudessem movimentar cargas de outras empresas sem limites de quantidade. A emenda beneficiaria Eike Batista, que tem o projeto de investir R$ 6 bilhões em um porto em Peruíbe (SP).
A mudança, no entanto, contrariava os interesses de Dantas, dono da Santos Brasil, que opera terminal portuário. "É um tiro na nossa testa", disse Carvalho, durante a conversa com Sodré no dia 27 de maio.
Empresa acusa Eike de fraudar licitação de porto no Amapá
Além de ter a concessão da estrada de ferro do Amapá questionada pela Polícia Federal, a mineradora MMX, de Eike Batista, também será acionada na Justiça para que perca os direitos de exploração do porto de Santana (AP), principal ponto de escoamento do minério de ferro retirado da Serra do Navio (AP).
Segundo a Alto Tocantins Mineração, antiga dona dos direitos e que pedirá a nulidade da concessão da MMX na próxima semana, a empresa de Eike só conseguiu o controle sobre o porto depois que Antônio Netto, então advogado da Alto Tocantins, forjou uma procuração, transferiu irregularmente as ações da mineradora para seu nome e renunciou à concessão. Laudos da PF indicam a ocorrência de fraude.
O dono da Alto Tocantins, Jorge de Carvalho, afirmou à PF que Netto advogou para sua empresa entre setembro de 2004 e dezembro de 2006, mas que, nesse meio tempo, em 2005, atuou paralelamente como advogado da MMX.
Isso demonstra, para Carvalho, que a empresa de Eike contratou Netto para obter a renúncia da concessão.
Em depoimento à PF neste ano, Carvalho afirmou que ouviu de funcionários da própria MMX que seu ex-empregado recebeu cerca de R$ 4 milhões para trocar de mineradora e fazer a transação.
Netto disse à Folha que "presta serviços" para a MMX por meio de uma empresa de consultoria. A MMX negou ter algum vínculo com Netto.
De volta, Cacciola diz que "confia na Justiça"
Extraditado do principado de Mônaco e distante do Brasil havia oito anos, o ex-banqueiro Alberto Salvatore Cacciola, 64, disse ontem, em sua volta ao país, que não é "nenhuma bomba" e que espera ser colocado em liberdade pela Justiça.
"Se eu quisesse falar, teria falado em Roma. Não tenho nada para falar, não sou nenhuma bomba. Tudo está no meu livro ["Eu, Alberto Cacciola, Confesso" (2001, editora Record)] e nos autos do processo", disse.
Seus advogados afirmaram que ele não pretende voltar à Europa caso tenha o pedido de habeas corpus aceito.
Cacciola relembrou a situação de colegas do caso Marka. "Francisco Lopes [ex-presidente do BC] foi condenado, Tereza Grossi [ex-diretora do BC] foi condenada. Estão em liberdade. Eu também estava respondendo ao processo em liberdade, por carta rogatória, só que na Itália", disse, no vôo.
"As pessoas que foram condenadas comigo no processo estão trabalhando, livres, ganhando seu dinheiro. Eu não estava fazendo mais do que eles estão fazendo aqui. Só que estava na Itália", disse em entrevista na Superintendência da PF no Rio. "Confio na Justiça."
Seus advogados entraram com pedido de habeas corpus no STJ, alegando que o prazo de prisão preventiva aceito pela jurisprudência no país -81 dias- foi expirado.
STJ vai definir prazo máximo para grampos
Assim que o recesso no Judiciário acabar, em agosto, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) vai concluir o julgamento em que se discute o prazo máximo para as escutas telefônicas em investigações policiais. A tese de que as interceptações não podem ultrapassar 30 dias está vencendo por um voto a zero na Sexta Turma.
Basta mais um voto favorável a dois empresários do Paraná, grampeados durante dois anos pela PF, para que a condenação deles em primeira instância seja anulada. A decisão do STJ pode abrir precedente capaz de comprometer provas da Operação Satiagraha. Os investigados por desvio de verba pública e crime financeiro tiveram as conversas telefônicas monitoradas por agentes da PF por pelo menos um ano. Desde julho de 2007, quando a Justiça autorizou as escutas de Dantas e outros suspeitos, os diálogos se tornaram provas do inquérito.
Congressistas antecipam suas férias de julho
Senadores e deputados anteciparam as suas férias de julho. Ontem, quando ainda deveria haver votação no plenário, o dia serviu para que os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), fizessem o balanço do semestre, mais uma vez, com críticas ao excesso de edição de medidas provisórias.
Os parlamentares devem voltar ao trabalho em agosto. Com eleições em outubro, no entanto, os quóruns dos dois próximos meses deve ser baixo. Chinaglia enviou telegrama aos deputados convocando sessão para as duas primeiras semanas do mês que vem.
O Estado de S. Paulo
PF divulga áudio para atribuir a Protógenes desistência do caso
Para tentar afastar os rumores de que o delegado Protógenes Queiroz foi afastado do comando da Operação Satiagraha por pressões políticas, a direção-geral da Polícia Federal divulgou ontem trechos gravados na reunião de segunda-feira, em São Paulo, quando foi decidida a saída do delegado do caso. Protógenes, que reclamara de boicote, admitiu na reunião que teve o apoio da cúpula da PF, que "errou" ao chamar a imprensa para filmar as prisões e que criou "um grande problema para os colegas".
Com os diálogos selecionados, só com algumas das falas de Protógenes na reunião, a PF quis provar que o delegado, diante dos erros cometidos, foi naturalmente afastado da operação. A divulgação foi feita com o consentimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de, anteontem, ele ter pedido em público que Protógenes voltasse à chefia da operação. Com o gesto, Lula quis eliminar as suspeitas de que haveria uma articulação no governo contra o delegado e a favor dos alvos da Satiagraha – investigação sobre suposta "organização criminosa" comandada pelo banqueiro Daniel Dantas, preso pela PF duas vezes e libertado por determinação do Supremo Tribunal Federal.
Integrantes da equipe do delegado permanecem
Uma longa reunião na sede da Polícia Federal em São Paulo reconduziu à missão Satiagraha os delegados Carlos Eduardo Pellegrini Magro e Karina Murakami Souza. Os dois integram a equipe de Protógenes Queiroz, comandante da investigação que levou o banqueiro Daniel Dantas para a prisão.
Eles haviam se afastado do caso diante da forte pressão da cúpula da instituição, que os puniu com o rótulo da insubordinação – o comando da PF alegou, inicialmente, que o grupo de Protógenes teria se recusado a fornecer detalhes da operação.
Na noite de quarta-feira, depois que o presidente Lula desafiou Protógenes a vir a público para declarar os motivos que o levaram a sair do caso, seus colegas trancaram-se em uma sala com Roberto Troncon, o número 1 da Divisão de Combate ao Crime Organizado.
Troncon, homem de confiança da direção-geral, veio de Brasília especialmente com a missão de apaziguar ânimos e evitar desgaste maior à PF. Primeiro, encontrou-se com Leandro Daiello Coimbra, superintendente regional da PF em São Paulo, para acertar os detalhes de como deveria ser conduzida a conversa com Pellegrini e Karina.
Força-tarefa será criada para comandar o inquérito
A Polícia Federal decidiu criar uma força-tarefa para comandar o inquérito da Operação Satiagraha, em substituição ao delegado Protógenes Queiroz.
Estarão à frente da tarefa dois jovens delegados: Ricardo Saadi, chefe da Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros (Delefin) da Superintendência da PF em São Paulo, e Erika Mialik Marena, que atuou no caso Banestado.
Na próxima segunda-feira, os policiais federais começam a parte mais densa da investigação, com a análise dos HDs, DVDs, disquetes e aproximadamente uma tonelada de documentos apreendidos durante a operação, desencadeada no último dia 8.
As expectativas maiores residem nos discos rígidos e outras mídias eletrônicas que foram encontradas em uma parece falsa na casa do banqueiro Daniel Dantas, no Rio de Janeiro. Ele foi preso na operação, apontado como cabeça do esquema.
Declaração de Lula é ”blefe”, diz oposição
A oposição classificou como "blefe" e "jogo de cena" a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu anteontem a volta do delegado Protógenes Queiroz ao comando da Operação Satiagraha – a Polícia Federal manteve o afastamento. Para o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), Lula "minimiza a inteligência do povo brasileiro".
O presidente do PPS, Roberto Freire, chamou de "pantomima" o apelo de Lula. Na véspera, o presidente reagiu à alegação de que a saída de Protógenes tenha ocorrido por intervenção do governo. "Isso parece jogo combinado. Está claro que existem duas facções dentro da PF e que o delegado não é da facção afinada com o governo. Diante da repercussão negativa do afastamento, ele recorreu ao blefe e defendeu a continuidade do Protógenes", afirmou Freire.
Ele disse que as declarações do presidente parecem ter sido feitas "por um ator de quinta categoria, que fugiu do script". "Essa encenação do presidente da República, se não causa vergonha a ele, causa vergonha aos brasileiros."
Mendes abre brecha para caso ir ao STF
Uma decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, em favor do senador Heráclito Fortes (DEM-PI) pode abrir caminho para que o inquérito da Operação Satiagraha saia da primeira instância, onde está sob os cuidados do juiz Fausto De Sanctis (6ª Vara Federal Criminal de SP), e passe para a tutela do próprio STF.
Heráclito pediu para ter acesso aos autos do inquérito, diante de notícias de que é citado nos grampos telefônicos autorizados pela Justiça. Na decisão, Gilmar Mendes incluiu o senador no rol dos "investigados". "O mesmo direito deferido aos pacientes de acesso aos autos do procedimento investigatório deve ser estendido a todos os demais investigados, no que se inclui o senador Heráclito Fortes, ante a plausibilidade do argumento de que sob tal condição figura naqueles autos, conforme amplamente divulgado pela imprensa", argumentou Mendes na decisão.
Se identificar sinais de que é mesmo um dos investigados, o senador, que dispõe de foro privilegiado, poderá pedir que o caso deixe a Justiça de primeira instância e passe para o STF.
PF vê ”lavagem de dinheiro” em operação triangular de Dantas
O Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Federal cruzou as informações obtidas pela fiscalização do Banco Central no Opportunity – que resultou em processo administrativo, como revelou ontem o Estado – com dados do disco rígido do banco apreendido pela Operação Chacal, em 2004, e encontrou uma triangulação característica de "lavagem de dinheiro". A partir de uma conta do banqueiro Daniel Dantas, R$ 37 milhões tiveram como destino uma empresa cujo principal sócio é o Opportunity Fund, baseado nas Ilhas Cayman, que seria controlado pelo próprio Dantas.
Segundo relatório do IC, a empresa Topázio Participações Ltda. recebeu de Dantas, em 29 de maio de 2005, um crédito de R$ 37.690.000. Na mesma data, a Topázio transferiu R$ 37.415.589,00 para a empresa Parcom Participações S/A, cujos principais sócios, conforme organograma obtido pelos agentes federais, são o Opportunity Fund e a Fortpart S/A. Com isso, o dinheiro de Dantas, que seria de origem ilícita, teria sido lavado e retornado indiretamente às suas mãos.
A Parcom e a Fortpart são consideradas pela PF "empresas de prateleira", e tinham como diretora Verônica Dantas, irmã de Daniel.
CVM já puniu quatro diretores do Opportunity
Quatro dos principais executivos e instituições ligadas ao Grupo Opportunity acumulam punições da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador e fiscalizador do mercado. Desde 2000, receberam três penalidades administrativas por irregularidades e multas que totalizam R$ 910 mil.
Constam dos autos da CVM os nomes de Verônica Dantas, irmã do banqueiro, Dório Ferman, presidente do banco e principal gestor dos fundos de investimento, Arthur Carvalho e Maria Amália Coutrim, todos detidos na Operação Satiagraha. Maria Amália foi a única não multada, mas a comissão a considerou inabilitada para operar no mercado financeiro, punição imposta também a Verônica e Arthur Carvalho.
Todos eles continuam atuando no mercado, sem restrições, enquanto aguardam o julgamento dos casos pelo Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, que funciona como uma segunda instância para as decisões tomadas pela CVM.
Banqueiro tem prisão pedida pela terceira vez
Daniel Dantas teve a sua prisão pedida na Justiça Federal ontem pela terceira vez em pouco mais de uma semana. Desta vez, a medida foi negada pela juíza Janaína Rodrigues Valle Gomes, da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O motivo de outro pedido é a suspeita de que Dantas teria tentado influenciar no processo criminal originado na Operação Chacal, em 2004. Ele foi acusado de contratar a empresa Kroll para espionar seus desafetos pessoais, integrantes do governo Lula e a Telecom Itália.
Conforme revelou o Estado, o delegado Protógenes Queiroz afirmou, no inquérito da Operação Satiagraha, que há indícios de que Dantas voltou a montar esquema de espionagem, desta vez contra juízes de São Paulo.
Senadora nega favorecer OAS e Eike
A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) negou ontem a acusação de que teria recebido propina de R$ 2 milhões da empreiteira OAS para aprovar emenda que alterava o modelo de concessão de terminais portuários privados, conforme trechos de escuta telefônica feita pela Polícia Federal. "Sempre tive compromisso com segmentos econômicos e defendo logística dos setores de transporte e portos para não inviabilizar o agronegócio", afirmou, ressaltando que, durante a discussão da Medida Provisória 412, o DEM fechou questão em favor da exploração dos portos pela iniciativa privada.
Kátia Abreu ressaltou que essa é uma posição ideológica de seu partido, que sempre defendeu a economia de mercado. "Sempre lutei contra os cartéis", disse, para acrescentar que, se a emenda fosse aprovada, o "cartel de Dantas", que explora 46% dos contêineres do Porto de Santos com a empresa Santos Brasil, seria prejudicado. Do outro lado, beneficiaria outros empresários que desejam investir no setor portuário, que ela considera fundamental para o agronegócio.
Mudar MPs é prioridade da pauta, diz Chinaglia
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), elegeu como prioridade para o segundo semestre legislativo a votação da reforma tributária e a proposta que muda as regras de edição e de tramitação de medidas provisórias. Chinaglia apontou o número excessivo de MPs editadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a obstrução das votações pela oposição como os principais obstáculos na pauta dos trabalhos da Câmara nesse semestre legislativo que terminou ontem.
A reforma tributária constava na pauta de prioridade do semestre que se encerrou, mas não chegou ao plenário. "Se o governo quiser fazer reforma tributária tem de mitigar o apetite de editar medidas provisórias toda hora", afirmou Chinaglia. Mesmo com as dificuldades de votação, ele considerou que a Câmara teve uma "altíssima" produção.
"Não trabalho com a idéia de frustração. Não conseguimos votar a proposta que muda a edição de MP, mas vamos votá-la no segundo semestre com a reforma tributária", disse.
Uma medida provisória para o crítico das medidas provisórias
Líder na cruzada contra as medidas provisórias, o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB), acabou recorrendo à idéia de pedir uma MP para conseguir a liberação de recursos para obras em seu Estado, o Rio Grande do Norte. Garibaldi esteve no Ministério do Planejamento para solicitar o dinheiro e a edição da medida. "Estive pedindo uma MP para liberação de verba para uma obra de emergência. Não sei exatamente quando foi, mas não faz muito tempo, não. É só neste tipo de caso que elas se justificam", disse ele ao Estado ontem, quando embarcava para Natal.
No último dia de trabalho antes do recesso do Congresso, que começa hoje e segue até o dia 31 deste mês, Garibaldi reclamou mais uma vez do excesso de MPs. Mas argumentou que, no caso dele, não há problemas. "Era obra de emergência. Neste caso, não tem problema nenhum. E é exatamente apenas para casos como esses que as MPs deveriam ser editadas."
O excesso de MPs tem travado as pautas do Senado e da Câmara. Assim como Garibaldi, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), também se queixa delas freqüentemente. Ontem, Chinaglia também repetiu o mantra sobre as MPs e insistiu que o governo deve diminuir o apetite por elas.
O Globo
PF divulga trechos de reunião com delegado e agrava crise
Em mais uma tentativa de demonstrar que o delegado Protógenes Queiroz não sofreu pressão para deixar o comando da Operação Satiagraha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou que a cúpula da Polícia Federal divulgasse o áudio da tensa reunião de segunda-feira em que o delegado saiu das investigações sobre o banqueiro Daniel Dantas. Do encontro de três horas, no entanto, só foi divulgado um áudio de pouco mais de quatro minutos, o que acabou agravando a crise na Polícia Federal. O presidente do Sindicato dos Delegados da PF de São Paulo, Amaury Portugal, criticou a edição do áudio e classificou a decisão como “absurdo” e “infantilidade”. Outras fontes da PF reafirmam que houve pressão sobre o delegado, já que a repercussão do caso atingiu integrantes do governo. O inquérito será chefiado por Ricardo Saadi.
Opportunity desmente lista da polícia
O Opportunity, em nota, disse que não é verdadeira a lista de supostos investidores em um fundo do banco no exterior, peça-chave no inquérito da PF. Clientes negam ter aplicado lá fora, mas, para a PF, há sinal de evasão de divisas.
Após 8 anos, Cacciola está preso no Rio
Após fugir do país há oito anos, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola chegou ontem ao Rio. Extraditado, depois de ficar preso dez meses em Mônaco, deu uma surpreendente entrevista coletiva, em plena sede da Polícia Federal, esbanjando bom humor. Disse que nunca foi foragido e que confia na Justiça. Sem algemas, seguiu para o Presídio Ary Franco e poderá ser transferido para Bangu 8.
Correio Braziliense
Planalto pesa a mão sobre delegado da PF
Um dia depois da pressão pública feita pelo presidente Lula, direção da Polícia Federal distribui gravações com trechos editados de uma reunião de trabalho dando a entender que o delegado Protógenes Queiroz, o mesmo que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, pediu para ser afastado do caso. Medida faz parte da estratégia contra a versão de que o governo tenta abafar a Operação Satiagraha.
Cacciola, do Principado para o xadrez
Ex-dono do Banco Marka, Salvatore Alberto Cacciola chegou ao Brasil disposto, sorridente e bronzeado. Concedeu uma rápida entrevista coletiva, na qual jurou que sempre esteve à disposição da Justiça brasileira, só que na Itália. O ex-banqueiro foi mandado para o Maracanã, como é chamado o presídio Ary Franco, no subúrbio do Rio, onde teria de dormir no chão de uma cela comum.
“Eu fui para a Itália com o passaporte carimbado, graças a uma decisão do STF. Só que, quando eu estava lá, a decisão foi anulada. Então, eu resolvi ficar.”
Revolta em Congonhas
No aniversário de um ano da tragédia que matou 199 pessoas, familiares das vítimas organizam protesto contra a TAM no aeroporto paulista.
Bafômetro em ação
A tolerância zero contra o álcool ao volante ganha reforço a partir de hoje com o fim da greve da Polícia Rodoviária Federal por melhores salários. Durante os 48 dias da paralisação, 12 pessoas morreram em acidentes nas BRs que cortam o DF. De volta às vias, os policiais vão concentrar a fiscalização em motoristas de ônibus e caminhões.
Apesar do laudo que apontava “hálito etílico presente” e “equilíbrio e coordenação motora alterados”, Tribunal de Justiça extingue processo contra motorista que provocou acidente. A convite do Correio, quatro mulheres fizeram o teste do bafômetro após ingerir substâncias alcoólicas. Aline, que bebeu uma dose de licor, teria a habilitação suspensa.