O Estado de S. Paulo
Atos secretos envolveram 37 senadores dos principais partidos
A edição de atos secretos beneficiou ou obteve a chancela de pelo menos 37 senadores e 24 ex-parlamentares desde 1995. Não há distinção partidária – PT, DEM, PMDB, PSDB, PDT, PSB, PRB, PTB e PR têm representantes na lista. São senadores que aparecem como beneficiários de nomeações em seus gabinetes ou que assinaram atos secretos da Mesa Diretora criando cargos e privilégios. A existência de tantos nomes indica que a prática dos boletins reservados era bem conhecida. Os nomes dos parlamentares surgiram nos atos publicados nos últimos 30 dias, mas com data da época a que se referem. A quantidade pode ser ainda maior, com a evolução das investigações na Casa. A Mesa Diretora receberá hoje o relatório final da comissão que descobriu cerca de 650 boletins secretos. O documento apontará indícios de sigilo intencional em boa parte dessas medidas. A investigação revela que a prática de esconder decisões envolveu todos os presidentes e primeiros-secretários que passaram pelo Senado desde 1995. O corregedor Romeu Tuma (PTB-SP) aparece na relação. O atual primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), responsável pela comissão que levantou os atos, também está no grupo dos parlamentares com cargo na Mesa que referendaram parte dos atos secretos.
Sitiado, Sarney ouve apelo para que se licencie do cargo
Senadores da base aliada e de oposição criticaram ontem abertamente o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), e propuseram o seu afastamento do cargo, entre outras cobranças. Da tribuna, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu que Sarney tire licença da presidência por 60 dias, até que sejam apuradas as denúncias de irregularidades nos 650 atos secretos editados nos últimos 14 anos. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), concordou com Cristovam, pediu a prisão do ex-diretor-geral Agaciel Maia e disse que há muitos senadores por trás dos atos secretos do Senado. Com um discurso duro, Virgílio afirmou que é mais importante “a instituição Senado Federal sobreviver à crise” do que Sarney “sobreviver na presidência”.
Senado paga funcionários em mausoléu de Sarney no MA
Dois funcionários que batem ponto no memorial que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mantém em São Luís são assessores do Senado. Um deles ganhou o cargo em 1995 e está empregado na Casa até hoje, com salário de R$ 7,6 mil. Seu nome: Raimundo Nonato Quintiliano Pereira Filho, de 46 anos. “Raimundinho”, como é chamado pelos amigos, é coordenador de projetos da Fundação José Sarney, nome que designa a entidade criada pelo ex-presidente da República para preservar sua própria história. O outro empregado da fundação nomeado pelo Senado é Fernando Nelmásio Silva Belfort, de 60 anos. Diretor executivo do museu – e também mausoléu de Sarney -, ele esteve na folha de pagamento da Casa entre agosto de 2007 e abril de 2009, quando a filha de Sarney, Roseana (PMDB), hoje governadora do Maranhão, era líder do governo no Congresso. Recebia salário de R$ 2,5 mil por mês.
Gabeira usou verba oficial em empresa da namorada
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) usou R$ 20 mil da verba indenizatória a que cada parlamentar tem direito para pagar serviços prestados pela empresa Lavorare Produções Artísticas Ltda., que pertence a sua mulher, Neila Tavares. O contrato foi feito em 2004, quando Neila era namorada de Gabeira, para montagem do portal de internet Cidade Sustentável, até hoje em funcionamento. Segundo Gabeira, neste caso, o uso do recurso público “se justifica”. O portal é voltado para prefeitos, vereadores e outros gestores públicos e discute soluções sustentáveis para problemas urbanos. “O site funciona há cinco anos”, afirmou o deputado. “Tenho orgulho de ter feito esse trabalho. A Lavorare era a empresa que podia fazer melhor o site e em melhores condições (de pagamento)”.
Ex-namorado de Galisteu é inocentado
O deputado Fábio Faria (PMN-RN), que usou parte da cota de passagens aéreas para levar a Natal artistas que animaram seu camarote no carnaval fora de época, além de patrocinar viagens para a então namorada Adriane Galisteu, para a ex-sogra e amigos do casal, não será submetido a processo e não receberá punição na Câmara. O caso foi arquivado pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP), que usou como base dois pareceres de juristas consagrados, pelos quais pagou R$ 150 mil. As análises não indicaram irregularidade no uso das passagens para interesse pessoal. O jurista Clovis de Barros Filho analisou o uso da cota de passagens do ponto de vista da ética pública, enquanto Manoel Gonçalves Ferreira Filho avaliou a legalidade administrativa. Os dois concluíram que as regras em vigor até março permitiam o uso das passagens para viagens particulares e até de parentes. Com isso, estão anistiados os deputados que viajaram com suas famílias às custas do poder público. O parecer de Barros Filho custou R$ 70 mil e o de Manoel Gonçalves, R$ 80 mil. Segundo a assessoria da Casa, não havia necessidade de licitação, por se tratar de profissionais com notório saber e especialização, mas houve pesquisa de preço e os dois estavam entre os que cobravam menos. Segundo assessores, Temer decidiu por contratá-los porque o questionamento sobre o uso da passagem gerou insegurança jurídica.
Procurador vai apurar denúncia contra Richa
O Ministério Público vai investigar denúncias de fraude que teria sido cometida no ano passado, durante a campanha do prefeito de Curitiba e candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB). Vídeo divulgado no fim de semana pelo Fantástico indica que 28 dos 55 candidatos a vereador pelo PRTB teriam desistido de suas candidaturas para dar apoio a Richa. Procurado ontem, o procurador regional eleitoral Néviton Guedes não quis dar declarações sobre o caso, pois ainda reunia informações.
Exército tinha campos de execução de guerrilheiros, afirma Curió
O regime militar repetiu, ao longo de 1974, nas matas do Araguaia, o método usado décadas antes pelos franquistas na Galícia para eliminar guerrilheiros republicanos presos. Após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), os vencedores utilizaram o verbo “passear” ao se referirem à “libertação” de presos e à transferência deles das celas para campos afastados das cidades, onde eram fuzilados e deixados em valetas às margens de rios e estradas. No Sul do Pará, os militares brasileiros optaram por dar ao verbo “fugir” um novo significado – execução sumária. Um dos locais de “fuga” de guerrilheiros presos fica no município de Brejo Grande do Araguaia, no Sul do Pará. Pelo menos oito foram mortos numa área conhecida por Clareira do Cabo Rosa. É o que revela o manuscrito Relatório de Prisioneiros, cedido ao Estado pelo agente da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura.
Defesa ”atropelou lei”, diz comissão
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, ligada à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, divulgou ontem nota em que acusa o Ministério da Defesa de ter “atropelado a lei” ao ignorar a legislação ao criar um grupo de trabalho para buscar vestígios dos mortos na Guerrilha do Araguaia. Na nota, assinada pelo presidente da comissão, Marco Antônio Rodrigues Barbosa, o ministério é acusado de instaurar o grupo sem consultar a secretaria. Pelo texto, houve invasão da competência legal da comissão, a quem cabe, de acordo com a Lei 9.140/95, “envidar esforços para a localização dos corpos de pessoas desaparecidas no caso de existência de indícios quanto ao local em que possam estar depositados”.
Folha de S. Paulo
Ato que aumentou verba para senadores foi secreto
O Senado aumentou o valor da verba indenizatória a que seus integrantes têm direito de R$ 12 mil para R$ 15 mil por meio de ato secreto. Trata-se de uma decisão assinada em junho de 2005 pelos sete senadores que integravam, na época, a Mesa Diretora. A medida, no entanto, só foi tornada pública no dia 14 de maio deste ano. O ato previu ainda o pagamento do valor reajustado de forma retroativa, com validade a partir de janeiro de 2005. Em março daquele ano, o então diretor-geral do Senado, Agaciel da Silva Maia, chegou a anunciar que a Casa havia voltado atrás na intenção de aumentar o valor da verba indenizatória de R$ 12 mil para R$ 15 mil. O procurador do Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), Marinus Marsico, e o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Cezar Britto, consideram que os atos não publicados não têm validade. Com isso, os pagamentos feitos aos senadores desde 2005 que ultrapassaram os R$ 12 mil podem ser considerados irregulares.
Senadores pedem em plenário que Sarney se afaste
Enfrentando uma das piores crises desde sua eleição para a presidência do Senado, José Sarney (PMDB-AP) foi pressionado ontem no plenário por senadores que exigiram que ele tome atitudes, rompa com a “camarilha” e, pela primeira vez, sugeriram em público que ele se licencie do cargo.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), foi o primeiro a se manifestar no plenário. “Vossa Excelência precisa romper qualquer laço com essa camarilha. Se disser que não tem condições de romper, não terá condições de continuar à frente desta Casa”, disse. Quando falou dos ex-diretores João Carlos Zoghbi (Recursos Humanos) e de Agaciel Maia (Direção Geral), ele chegou a chamá-los de “ladrões”.
350 servidores do Senado têm salário maior que STF
O Senado paga para cerca de 350 funcionários salários maiores do que os dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O número de servidores que recebem mais do que R$ 24.500 por mês, teto definido pela Constituição para o serviço público, é 10% do total de funcionários efetivos da Casa.
Os pagamentos se baseiam em parecer da Advocacia Geral do Senado de 2005, feito um mês depois de a emenda constitucional que estabeleceu o teto salarial ter sido sancionada. O documento considera como indenização vários dos benefícios pagos pela Casa, manobra que impediu que servidores tivessem cortes nos salários com a definição do teto. Na época, o Senado era presidido por Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele não respondeu às ligações da Folha ontem.
Saída de mulher de Cristovam da Casa é de zero de março
Um dos críticos de irregularidades administrativas no Senado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) teve sua mulher envolvida em uma confusão de atos de exoneração e nomeação assinados no ano de 2007 pelo então diretor-geral do Senado Agaciel Maia. Cristovam passou a tarde de sexta-feira atrás do documento de exoneração de Gladys Pessoa de Vasconcelos Buarque. Ele chegou a suspeitar que o ato de exoneração fosse secreto. Ontem, Cristovam voltou ao assunto no plenário do Senado. “Não me sinto absolutamente com rabo preso. E, se houver [irregularidade], que seja dito e que eu seja punido igualzinho a qualquer outro que o tenha também”, afirmou. De acordo com o senador, sua mulher é funcionária da Câmara dos Deputados desde 1983 e foi cedida, sem ônus, ao Senado em 2003 para trabalhar no gabinete do ex-senador João Capiberibe (AP).
Fundação José Sarney usa funcionários
O Senado empregou dois funcionários ligados à Fundação José Sarney, sediada em São Luís (MA). A Presidência do Senado informou que os dois são voluntários da instituição. Nonato Quintiliano Pereira Filho foi nomeado para secretário parlamentar, cujo salário é cerca de R$ 7.600, em 1995, e trabalha no gabinete do senador Lobão Filho (PMDB-MA), aliado de Sarney. Fernando Nelmásio Silva Belfort teve sua nomeação para o gabinete da Liderança do Governo no Congresso em 24 de agosto de 2007. Foi exonerado em 3 de abril passado. Ele ocupava cargo de assistente parlamentar, com salário de cerca de R$ 2.500. A líder do governo era a então senadora Roseana Sarney (PMDB), que deixou a Casa para assumir o governo do Maranhão.
Sarney gasta verba para organizar seu acervo de livros
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), utilizou a verba indenizatória destinada ao apoio da atividade parlamentar para contratar uma empresa para organizar seu acervo pessoal de livros e documentos. Arquivo fica em sua residência particular, na Península dos Ministros, em Brasília. Em abril e maio, Sarney pagou R$ 8.600 à Memória Viva Pesquisa e Manutenção de Acervos Históricos. Foram os seus únicos gastos com a verba indenizatória no período. Por meio de sua assessoria, ele justificou os gastos dizendo que o acervo é um importante instrumento de trabalho e serve à atividade parlamentar. O presidente do Senado disse ainda que as obras lá contidas poderão ser doadas a um órgão público num futuro próximo.
Câmara paga R$ 150 mil por parecer sobre voos
Com base em dois pareceres contratados pela Câmara dos Deputados por R$ 150 mil, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) arquivou na semana passada investigação contra o deputado Fábio Faria (PMN-RN), que forneceu passagem aérea de sua cota para a ex-namorada, a apresentadora de TV Adriane Galisteu. Os pareceres, revelados pelo site Congresso em Foco, foram pedidos para os professores da USP Clóvis de Barros Filho, de ética, e Manoel Gonçalves Ferreira Filho, de direito. Segundo Temer, os pareceres dizem que a conduta dos deputados no que ficou conhecido como “farra das passagens aéreas” foi correta.
Barros Filho, porém, afirmou à Folha que respondeu apenas a perguntas abstratas, sem referência direta nas questões ao episódio das passagens. “Meu parecer não conclui absolutamente nada sobre as passagens”, disse ele. Já Ferreira Filho disse ter concluído que a situação das passagens era “juridicamente correta”. Temer, que ainda não divulgou os pareceres, afirmou que os pediu para ter respaldo legal ao tomar decisões sobre o caso. Os documentos devem ser utilizados como argumentos de defesa pelos deputados tanto em ações no Ministério Público como na comissão de sindicância que investiga o caso.
Gabeira admite que contratou empresa da mulher
O deputado do PV-RJ admitiu que usou R$ 20 mil da verba em 2004 para contratar a Lavorare Produções, de sua mulher, Neila Tavares, para produzir um site. Segundo Gabeira, na época era sua namorada. “Desde que nossa relação mudou de patamar não a contratei mais com verba da Câmara.”
Mendes defende abertura dos arquivos do Araguaia
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, defendeu ontem a abertura de arquivos do período da ditadura (1964-1985) e da guerrilha do Araguaia, ocorrida entre 1972 e 1975, sustentando o “direito à verdade”. “Eu acho que há um direito à verdade. Se de fato esses documentos existem, eles devem ser mostrados”, disse Mendes. O presidente do STF afirmou que não vê possibilidade de proibição em relação à medida. “Tem que haver abertura [dos arquivos]. Os documentos existentes devem ser apresentados”, disse ontem, em São Paulo.
Comissão critica Jobim por não integrar buscas
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos se diz “constrangida” pelo fato de o Ministério da Justiça e a Secretaria Especial de Direitos Humanos não participarem do grupo formado pelo Ministério da Defesa para localizar corpos de guerrilheiros e militares desaparecidos no Araguaia. A nota da comissão revela a disputa que vem sendo travada no governo desde que foi criado o grupo, há três meses. Os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Secretaria Especial de Direitos Humanos) se queixaram a Lula da ausência da comissão no plano de buscas.
Richa emprega 5 ex-candidatos do PRTB
Dos 28 candidatos a vereador do PRTB que desistiram de disputar em 2008 para apoiar a reeleição do prefeito Beto Richa (PSDB), cinco ainda estão na Prefeitura de Curitiba -um deles no gabinete de Richa.
Outros três foram demitidos na quinta-feira após a revelação de um vídeo em que 24 dos ex-candidatos (incluindo os cinco servidores) recebiam dinheiro e a promessa de um cargo na prefeitura se deixassem a disputa para apoiar o PSDB. Na eleição, o PRTB se coligou com o PTB, indicando o vice na chapa do petebista Fabio Camargo, derrotado por Richa.
A suspeita é que tenha havido caixa dois na campanha, já que os supostos pagamentos aos desistentes não foram contabilizados na prestação de contas entregue pelo comitê tucano.
Correio Braziliense
Rádio de presente ao assessor
O senador Valdir Raupp (PMDB) aprovou a concessão de rádio que tem como sócio Rodrigo Sadeck Soares Rodrigues, na época da liberação, integrante no escritório político do parlamentar em Rondônia. Relator do processo na Comissão de Ciência e Tecnologia, o peemedebista deu, em dezembro passado, parecer favorável à exploração por 10 anos do Sistema Jovem de Comunicação Ltda., emissora FM no município de Cabixi, a 795km da capital Porto Velho. Após a aprovação do Senado, o decreto legislativo da rádio foi promulgado no Diário da União em 2 de abril passado. Outros dois processos de concessão do Sistema Jovem, nos municípios rondonenses de Corumbiara e Nova Mamoré, estão nas mãos de Raupp para serem relatados. Desde 2005, os sócios do Sistema Jovem de Comunicação buscavam a outorga da rádio de Cabixi. Em julho daquele ano, o processo da rádio foi aprovado pelo Ministério das Comunicações, então comandado pelo deputado federal Eunício Oliveira (PMDB-CE). Pela Constituição, a rádio só pode entrar em funcionamento após aprovação da Câmara e do Senado. As comissões de Ciência e Tecnologia das casas são responsáveis por analisar, sem a necessidade do plenário, as concessões de rádio e televisão, uma permissão de uso revogável pelo Estado.
Renan contrata aliado
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), usa parte da verba indenizatória para contratar um aliado político em Maceió. De acordo com o balanço da ajuda de custo, o peemedebista repassou, no mês de abril, R$ 2,6 mil para Fábio Lopes de Farias referente a “aluguel de imóvel” para montagem de escritório político. No endereço de Renan, funciona também o diretório regional do PMDB. O dinheiro faz parte dos R$ 15 mil mensais utilizados pelos parlamentares para financiar o exercício do mandato. Eles podem gastá-los com consultorias, viagens e outras despesas. Desde ontem, numa tentativa de amenizar o desgaste dos últimos meses, o Senado passou a divulgar informações mais detalhadas do auxílio, incluindo CPFs e CNPJs dos beneficiários dos recursos públicos. A nova sistemática vale para os gastos registrados de abril para cá. A divulgação desses registros, no entanto, revela situações até então desconhecidas do público. Caso do aluguel pago por Renan a seu afilhado político.
Senadores “viajados”
As despesas com transporte de parlamentares e servidores do Senado aumentaram 62,5% em seis anos. É o que revelam os dados da execução orçamentária da Casa consultados pelo Correio. De janeiro de 2003 até a última quinta-feira, a instituição desembolsou R$ 125,5 milhões — uma média de R$ 20 mil por servidor, se forem considerados os 81 senadores e os 6,2 mil funcionários. Somente neste ano, de acordo com a contabilidade oficial, foram desembolsados R$ 9 milhões. As passagens para o exterior ajudaram a turbinar a conta. Fecharam 2008 em R$ 3 milhões, contra os R$ 867 mil do início da série histórica. E têm sido uma dificuldade a mais para derrubar os gastos da Casa, promessa de José Sarney (PMDB-AP) assim que assumiu a presidência, em fevereiro. De 1º de janeiro até a semana passada, os trechos internacionais já haviam consumido R$ 1,4 milhão dos cofres públicos. No período, as passagens nacionais se mantêm nos R$ 15 milhões.
Ralo de horas extras também na Câmara
Terceira colocada na lista dos órgãos que mais gastam com horas extras, a Câmara dos Deputados torrou desde 2003 cerca de R$ 357 milhões com serviços(1) extraordinários. Com um universo de cerca de 15 mil servidores, a Casa gastou pouco mais de R$ 22,7 milhões somente nos primeiros cinco meses de 2009. O valor só é menor do que o gasto pelo Senado (R$ 35 milhões) e pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição (R$ 25,3 milhões). Apesar de o valor assustar qualquer contribuinte acostumado às mazelas dos agentes políticos com o dinheiro público, representa uma média inferior às despesas com horas extras realizadas nos últimos anos. O montante também é inferior aos R$ 459 milhões gastos pelo Senado em horas extras, ainda mais levando em conta que o número de servidores do Salão Azul é quase três vezes menor do que na Câmara.
Nos rastros do poder
Pelo menos 200 quilos das sobras da burocracia são descarregados todos os dias no lixão vizinho ao Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), endereço provisório da Presidência da República. O depósito fica a 50 passos da grade que delimita o Palácio do Jaburu, sede oficial da Vice-Presidência, ou a dois minutos de carro do Palácio da Alvorada, onde mora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de tão próximas, as famílias que colocam a mão nos restos do que a Esplanada produz diariamente para sobreviver são invisíveis aos olhos do poder público. O rastro de papel deixado pelas carroças que têm como destino o lixão do CCBB segue trilha paralela ao asfalto por onde passa o comboio presidencial. O cerrado, como é chamado o lugar pelos catadores, é o endereço comercial de oito famílias que tiram o sustento organizando os detritos que vêm dos ministérios, seus anexos, Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal. Uma parte do grupo que trabalha com o material mora em barracos de lona dispostos a poucos metros das pilhas de sujeira.
Um dia a dia de improvisos e dificuldades
Por semana, um chefe de família que trabalha no lixão do CCBB tira R$ 70. Em um mês, as toneladas de papel que os catadores separam não fazem o aluguel de um quarto — R$ 300 em média — na Vila Planalto, bairro próximo do CCBB. Quem vive exclusivamente dessa renda improvisa a moradia nas redondezas do lixão. Essa é a realidade de oito famílias que dependem do lixo da burocracia. Elas dormem em espumas sobre latas catadas. No lugar há um fogão a gás, com panelas infestadas de moscas. O cardápio: arroz, feijão, cuscuz. O suficiente para M., de apenas 12 anos. “Aqui ninguém passa fome não. Minha avó não deixa faltar nada, tem pasta de dente, escova, comida e eu tenho dois tênis de escola”, diz, orgulhosa, a menina de poucas vontades.
Com aquela cara de festa à fantasia
Muitas das produtoras de eventos investigadas por suspeita de participação no esquema de fraudes para a realização de festas no interior de Minas Gerais existem apenas no papel. Outras estão impedidas de contratar com a administração pública ou aparecem como inativas no site da Receita Federal. Algumas têm ou já tiveram o mesmo endereço e os mesmos sócios. Todas são investigadas pela Procuradoria-Geral da República em Governador Valadares, por causa das festas promovidas na Região Leste do estado com recursos do Ministério do Turismo, liberados por meio de emendas parlamentares ao orçamento da União. Só ano passado foram R$ 11 milhões em emendas parlamentares para a promoção de festas em 54 municípios dessa região. Todos são alvos de investigação aberta pela Procuradoria-Geral da República em Governador Valadares.
O Globo
Senadores denunciam chantagem de ex-diretor
Pelo menos dois senadores acusaram ontem o ex-diretor da Casa Agaciel Maia de chantagear parlamentares com os atos secretos. “O senhor Agaciel Maia, que é formado, tem doutorado e mestrado em chantagem, transformou em secretos atos que não tinham por que ser secretos, para acumular poder. É a lógica do chantagista”, afirmou Arthur Virgílio (PSDB- AM), que chamou Agaciel de Gonococo – (bactéria da gonorreia). O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) confirmou tentativas de intimidação contra parlamentares e sugeriu que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se licencie do cargo. Com apoio de colegas, Virgílio e Cristovam defenderam, a demissão de Agaciel e do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi. Alvo de pressões, Sarney disse que não foi eleito para limpar as lixeiras da cozinha do Senado”. O corregedor da Casa, Romeu Tuma (PTB-SP), afirmou não ver motivo para abrir investigação contra Sarney.
Lula e Dilma visitam sem-terra e fazem série de promessas
Num discurso para 2 mil sem-terra no Norte do Paraná, o presidente Lula prometeu ontem ampliar em mais de um milhão o número de residências atendidas com energia elétrica, até o fim de 2010, ano eleitoral, assim como aumentar o valor destinado a famílias carentes para a construção de moradia. Logo depois, ainda no discurso, acompanhado de sua pré-candidata, a ministra Dilma Rousseff, o presidente deu o seguinte conselho:
– A gente precisa acertar nos políticos em que a gente vai votar, porque a gente tem chance de melhorar as coisas ainda mais.
Ex de Galisteu não será punido
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), decidiu arquivar o caso do deputado Fábio Faria (PMN-RN), ex-namorado de Adriane Galisteu, que usou sua cota de passagens aéreas para levar artistas ao camarote de sua propriedade, no carnaval fora de época de Natal. Para entrar no local e ficar próximo aos artistas, eram cobrados ingressos entre R$ 500 e R$ 700. Segundo a assessoria da Câmara, Temer considerou que Faria não teve intenção de auferir lucro, apenas cometeu um erro de procedimento e já devolveu o dinheiro. Depois do escândalo, Faria devolveu à Câmara R$ 21,3 mil, gastos com viagens de 11 pessoas, entre 2007 e 2008, e R$ 2.405,00, pelas sete viagens feitas com a cota por Galisteu. Alegou que ela era sua companheira à época, mas devolvia o dinheiro para “evitar polêmica”.
Diretor do Senado boicotou investigação de atos secretos
Além de pressões políticas para que tratasse como meras falhas administrativas a falta de publicação de mais de 650 atos secretos, a comissão técnica que investigou as irregularidades ainda foi boicotada pelo atual diretor da Secretaria de Recursos, Ralph Campos Siqueira, que substituiu João Carlos Zoghbi e faria parte do grupo do ex-diretor geral da Casa Agaciel Maia. Partiu de Ralph a ordem para que o chefe do serviço de publicação do boletim de pessoal do Senado, Franklin Albuquerque Paes Landim, publicasse os mesmos atos secretos que ele próprio havia deixado de publicar ao longo dos últimos anos, com datas retroativas, para confundir a comissão técnica que iniciava a elaboração do relatório que será divulgado nesta terça pelo 1º. secretário, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), durante reunião da Mesa Diretora.
Cristovam propõe que Sarney se licencie por 60 dias
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) defendeu nesta segunda-feira que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se licencie por dois meses. Na opinião do senador, Sarney não está conseguindo tomar medidas para a reestruturação da Casa.
– O presidente Sarney dará uma contribuição maior participando dos debates do que presidindo a mesa. Aprendi muito com ele aí embaixo. Eu creio que (ele) não está tendo a percepção da crise ou, pelo costume dele com o Congresso antigo, não está conseguindo nos conduzir, nos liderar na reestruturação do papel do Legislativo – disse Cristovam.
Garotinho está de volta à base de Lula
O ex-governador Anthony Garotinho filiou-se ontem ao PR, o quinto partido de sua carreira política e pelo qual tentará voltar ao Palácio Guanabara, em 2010. Ele esqueceu antigas críticas ao presidente Lula – de quem já foi aliado e contra quem disputou a Presidência, em 2002. Disse que, “desde que ela deseje”, abrirá seu palanque para a ministra Dilma Rousseff, na campanha dela à Presidência.
PAC da Rocinha sofre pressões, diz arquiteto
Responsável pelo projeto do PAC na Rocinha, o arquiteto Luiz Carlos Toledo afirmou que a planta que fez para um hospital da comunidade foi bastante modificada. Ele disse suspeitar que a alteração tenha ocorrido para permitir que o governo inaugure a obra já em 2010, ano de eleição.
Neda, a mártir da rebelião no Irã
Neda Agha-Soltan, a jovem iraniana que teve morte rápida e brutal provocada por um tiro da milícia Basij, na manifestação de sábado, acabou imortalizada como o primeiro símbolo do levante das ruas contra a reeleição do presidente Ahmadinejad. Ontem, as várias versões do vídeo tremido no YouTube, que a mostram agonizante, já tinham sido vistas por mais de 500 mil pessoas. Enquanto vigílias em sua memória eram realizadas fora do Irã, o Conselho dos Guardiães reconhecia pela primeira vez que houve “problemas” em 50 distritos, que registraram mais votos do que eleitores. A oposição alega que há fraudes do mesmo tipo em 170 cidades. Mas, segundo o porta-voz do Conselho, as irregularidades afetam três milhões de votos e não terão impacto no resultado. Ainda assim, manifestantes desafiaram ameaças das forças de segurança, prisões e assassinatos, e voltaram às ruas. Foram violentamente reprimidos por paramilitares e policiais, que tomaram a capital Teerã.
Bird prevê Brasil pior e derruba bolsa
O Banco Mundial prevê queda maior para a economia brasileira este ano. Em março, esperava expansão de 0,5% e agora aponta recuo de 1,1%. O banco só melhorou projeções para China e Índia. A Bovespa caiu 3,66% e o dólar subiu 2,58%, voltando a fechar acima de R$ 2.
Jornal do Brasil
Fogo no Senado
Foi o dia dos mais contundentes discursos desde o início das denúncias de irregularidades no Senado. Senadores como Cristovam Buarque (PDT-DF) e Arthur Virgilio (PSDB-AM) defenderam o afastamento do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), e disseram que alguns de seus colegas foram chantageados pelo ex-diretor Agaciel Maia. O tucano classificou de “criminosos” os ex-dirigentes da instituição. Mas o corregedor Romeu Tuma (PTB-SP) afirmou que não há elementos para abrir investigação contra Sarney, que insistiu não ter sido eleito para “limpar a lixeira da cozinha”. A divulgação do relatório da primeira comissão de sindicância criada para analisar os atos secretos, prometida para hoje, deve aumentar ainda mais a temperatura.
Denúncia recorde de violência infantil
A morte da menina Sóphie, de 4 anos, por maus-tratos, encorpa a estatística da violência infantil: o número de denúncias diárias deste ano, 92, já é o maior desde maio de 2003, quando foi criado o Disque Denúncia de Proteção contra Abuso e Exploração contra Crianças e Adolescentes.
Mais verba para a agricultura
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem o Plano Agrícola e Pecuário, que vai liberar cerca de R$ 107 bilhões para a safra 2009-2010, 37% a mais de recursos em relação à safra anterior.
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