Nesta última semana do ano, as revistas semanais fazem uma retrospectiva de 2007. Entre os destaques estão os escândalos envolvendo o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Senado; a abertura da ação penal contra os 40 denunciados no esquema do mensalão; o caos aéreo e o acidente com o avião da TAM em julho; a descoberta do campo petrolífero de Tupi, na Bacia de Santos; e o assassinato do menino João Hélio Vieites, de 6 anos. Leia alguns deles nas manchetes das principais revistas:
Veja
Retrospectiva 2007 – Brasil
E ele ainda riu da nossa cara
Por seis meses, Renan Calheiros agarrou-se à cadeira da presidência do Senado com a obstinação dos loucos e o cinismo dos déspotas. Acusado de malfeitorias de toda ordem, reveladas por Veja e pelo Jornal Nacional (a saber: uso dos serviços de um lobista para pagar, com dinheiro de origem incerta, pensão à filha que teve fora do casamento; apresentação de documentos irregulares para justificar a origem desses recursos; favorecimento de empresa com dívidas junto ao INSS em troca de benefício para o irmão; grilagem de terras; uso de laranjas na compra de emissoras de rádio; e intimidação de senadores dispostos a aprofundar as investigações de todas essas denúncias), o senador do PMDB manteve o semblante impassível em público, enquanto, em privado, dedicava-se a vasculhar sordidezas – reais e forjadas – de seus pares, para chantageá-los e impedir que cassassem seu mandato.
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O furacão Mônica
Começou como um problema de casal, ou melhor, de ex-casal: ex-apresentadora de TV, Mônica Veloso teve uma filha com o senador Renan Calheiros. Separou-se dele e passou a pleitear, na Justiça, um aumento de pensão para a criança. No meio da confusão – que a essa altura já havia virado um problema familiar, visto que o senador é casado há 28 anos com Verônica Calheiros –, Mônica contou a Veja que o dinheiro da pensão lhe era entregue por um lobista muitíssimo ligado a uma empreiteira. O problema, que era de casal, e passou a ser de família, tornou-se, então, nacional. Mônica provocou um furacão em Brasília.
Um segundo tempo melhor que o primeiro
A oncinha segue bebendo água. As pesquisas de opinião atestam que metade da população considera o governo de Lula ótimo ou bom. Surpreendentemente, seu desempenho atual é ainda melhor do que no primeiro mandato – algo raro na política mundial. A popularidade do presidente alimenta-se não só de sua sintonia com o povão, como pelo estado geral do país. As estimativas indicam que a economia cresceu mais de 5% em 2007. Lula tem pouco do que reclamar.
A dama do PAC
No governo, só deu ela. Dilma Rousseff começou 2007 como gerente do PAC e terminou como candidata a candidata à sucessão do presidente Lula. À poderosa ministra-chefe da Casa Civil – substituta do ex-insubstituível José Dirceu – foi delegada, em janeiro, a tarefa de gerir o conjunto de medidas que, montado para "destravar" a economia e acelerar o crescimento econômico do país, pretende também ser o grande trunfo do segundo mandato de Lula – e carro-chefe da campanha petista nas eleições presidenciais de 2010, na hipótese de dar certo. O desempenho da ministra tem agradado ao presidente, que a ungiu porta-voz informal das boas notícias.
Joaquim Barbosa, o gigante do Supremo
O Supremo Tribunal Federal levantou o tapete da impunidade com o qual o governo e o Congresso queriam cobrir a sujeira do mensalão. No fim de agosto, a corte acolheu a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e abriu processo contra os integrantes da máfia que comprou apoio para o governo Lula com dinheiro desviado dos cofres públicos. Com coragem e precisão, o relator do caso, Joaquim Barbosa, descreveu o papel de cada um dos quarenta integrantes da quadrilha e os crimes por eles cometidos.
O horror
Em fevereiro, o assassinato de João Hélio Vieites, de 6 anos de idade, deixou o país inteiro em estado de choque. Preso pelo cinto de segurança do carro, o menino foi arrastado até a morte, por ruas da Zona Norte do Rio, pelos bandidos que haviam roubado o Corsa Sedan em que ele viajava com sua mãe, Rosa, e a irmã, Aline. No enterro de João Hélio, o país inteiro chorou com sua família. Passados dez meses da tragédia, os assassinos do menino ainda não foram condenados.
O inferno é aqui
Até janeiro deste ano, o céu parecia ser o limite para Estevam e Sonia Hernandes, líderes da igreja Renascer em Cristo. Fundada em 1986, a Renascer ocupava um respeitável terceiro lugar no ranking das maiores igrejas evangélicas do país, tinha 120 000 fiéis no Brasil e cerca de 1 500 templos, no país e no exterior.
Caos aéreo: mais um aniversário
Em 2006, a aviação brasileira teve paralisação de controladores de tráfego, atrasos generalizados nos vôos, filas quilométricas nos aeroportos e pelo menos um grande acidente, que matou 154 passageiros da Gol. E como foi a situação em 2007? Bem… Os controladores desafiaram o governo com uma sucessão de operações-padrão, 40% dos vôos em território nacional registraram atrasos no primeiro semestre, 14 milhões de passageiros foram prejudicados por demoras, cancelamentos ou overbooking e outro grave acidente ocorreu, desta vez com um avião da TAM (199 mortos). A única diferença é que o saldo do ano incluiu a falência de uma empresa aérea, a BRA.
A maior tragédia da aviação nacional
Dezessete de julho, às 18h51. Um Airbus A320 da TAM, proveniente de Porto Alegre, atravessou a pista do Aeroporto de Congonhas sem conseguir frear. O avião saltou sobre o platô no qual o aeroporto foi construído, passou por cima de uma avenida e se espatifou contra um prédio que pertencia à mesma companhia. As 187 pessoas que estavam a bordo e outras doze que trabalhavam no edifício morreram no choque e no incêndio que se seguiu. Foi o maior desastre da história da aviação nacional.
A queda da charuteira
A leniência com o caos aéreo ganhou uma imagem simbólica no ano que passou: a de Denise Abreu, então diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), fumando charuto numa festa de casamento em Salvador, enquanto o mundo caía nos aeroportos brasileiros.
Marco Aurélio – mas pode me chamar de Top Top
Em meio à comoção nacional, uma comemoração infame: ao saber que uma falha mecânica no avião da TAM era a provável causa do acidente que matou 199 pessoas em julho, em São Paulo, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, fez o gesto pelo qual por muito tempo será lembrado. Marco Aurélio Top Top Garcia não notou que estava sendo filmado pela Rede Globo quando reagiu de forma grotesca à notícia que, a seu ver, livrava inteiramente o governo da responsabilidade no acidente. O gesto causou indignação inversamente proporcional à punição recebida pelo assessor: uma advertência da Comissão de Ética do governo e só.
Menos pirotecnia, mais verdades
A visita do papa Bento XVI ao Brasil era para ser um grandioso espetáculo da fé. Seria a primeira viagem do pontífice para fora da Europa. Na Basílica de Aparecida, no interior paulista, ele abriria a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Sua passagem seria coroada pela cerimônia de canonização de frei Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil. Tudo ocorreu como o esperado, exceto pela ausência do grandioso espetáculo da fé que caracterizou as três visitas de João Paulo II ao Brasil.
A cara do Senado (antes da CPMF)
Com sua vasta cabeleira em desalinho, a voz rouca e o estilo histriônico, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) encarnou melhor do que ninguém o espírito da pantomima encenada no Congresso ao longo do interminável escândalo Renan Calheiros. Salgado nunca apresentou nenhum projeto de lei relevante nem jamais foi agraciado com um mísero voto (era suplente do hoje ministro Hélio Costa, cuja campanha para o Senado foi quase toda financiada pela sua família). Mesmo assim, ganhou os holofotes e dominou os debates no plenário na qualidade de um dos mais ardorosos defensores de Renan na sua luta contra o decoro e a ética. Ao longo dessa atuação, criou, além de muitos constrangimentos, também uma expressão. Graças a Salgado, a palavra "chinelinho" doravante poderá ser usada para se referir aos "presentinhos", "agradinhos" e outras indecenciazinhas que, na opinião do senador, o governo deve oferecer aos parlamentares em troca de votos quando o assunto o interessa. Não fosse pela votação redentora que extinguiu a CPMF, o Senado teria chegado ao fim de 2007 com a cara de Wellington Salgado.
Uma pororoca de escândalos
Catorze novos governadores assumiram o cargo em 2007. Muitos ganharam o noticiário nacional ao implementar boas medidas administrativas. A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, foi uma das que mais marcaram presença na imprensa. Mas por outros motivos. Não houve um mês sequer em que ela não figurasse em algum escândalo – de maior ou menor magnitude. Ao tomar posse, ela empregou os irmãos e um primo no governo. Flagrada, teve de demiti-los. Depois, nomeou sua cabeleireira como assessora. Ana Júlia usou um jatinho do estado para ir à formatura do filho em Minas Gerais. Descansou na Semana Santa com os assessores mais chegados na casa de praia do governo e pagou diárias de trabalho para todo mundo. Incansável, beneficiou seu namorado, presidente do aeroclube do Pará, com um contrato de 3,7 milhões de reais para treinamento de pilotos de helicóptero. Gastaria três vezes menos se treinasse todos em São Paulo. Suas estripulias deveriam ficar apenas no folclore que tanto preza – a governadora adora saracotear ao som do carimbó. Mas, em novembro, o país estarrecido tomou conhecimento de que as coisas no seu estado andam piores do que se imaginava. Descobriu-se que uma menina de 15 anos havia sido presa com trinta homens em uma delegacia do interior. Durante 24 dias, ela foi estuprada e torturada. Depois que o caso veio à tona, soube-se que, no Pará, tão comum quanto o carimbó é prender menores e trancafiar mulheres junto com homens. Enquanto Ana Júlia requebra, os paraenses dançam em mais de um sentido.
A semana
O caos chamado Paquistão
Às portas da II Guerra Mundial, o estadista inglês Winston Churchill descreveu a União Soviética como "uma charada envolta em um mistério dentro de um enigma". Com suas lutas intestinas violentas, uma ditadura militar infiltrada por extremistas islâmicos e ogivas nucleares prontas para ser disparadas, o Paquistão oferece o mesmo grau de dificuldade para ser decifrado – com a agravante de que o pavio está aceso. O retorno da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto ao país, em outubro, para concorrer às próximas eleições parlamentares, sinalizava a possibilidade de o país vir a ter um respiro democrático, capaz de se contrapor ao crescente fanatismo religioso. A esperança acabou abruptamente no fim da tarde da última quinta-feira, dia 27. Depois de participar de um comício em um parque da cidade de Rawalpindi, vizinha à capital Islamabad, Benazir, de 54 anos, deixava o local quando um desconhecido se aproximou. Ele sacou um revólver e disparou dois tiros contra a ex-primeira-ministra, que acenava para a multidão do alto do teto solar do carro.
Justiça italiana manda prender brasileiros ligados à Operação Condor
O presidente Lula assumiu o governo com a promessa de quebrar um tabu e dar início à abertura ampla e irrestrita dos arquivos da ditadura militar. Cinco anos se foram, os documentos oficiais não apareceram e a história continua refém de um passado ainda não totalmente conhecido. Na última semana, num gesto embaraçoso para o Brasil, coube a outro país revelar mais um capítulo do que por aqui se tenta esconder. A Justiça da Itália determinou a prisão de treze brasileiros, entre militares e civis, acusados de envolvimento na morte de dois cidadãos italianos no começo da década de 80.
Época
A segunda vida das mulheres
Como elas estão transformando a crise da meia-idade em uma oportunidade de mudar para melhor.
Al-Qaeda assassinou Benazir, diz agência
Um dirigente da al-Qaeda no Afeganistão, Mustafá Abu al-Yazid, reivindicou a responsabilidade pelo assassinato da ex-primeira-ministra do Paquistão Benazir Bhutto em nome da organização terrorista, informou a agência de notícias Adnkronos International (conhecida como AKI). "Acabamos com um ativo muito valioso dos Estados Unidos, que tinha jurado derrubar os mujahedin", disse Yazid.
Sem CPMF, governo reforça controle de operação financeira
Com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o governo criou, nesta sexta-feira (28), outro instrumento de fiscalização com base na movimentação financeira dos contribuintes. Os bancos serão obrigados a informar operações de ‘alto valor’.
Na fronteira com as Farc
Como é a vida dos militares brasileiros no pedaço da Amazônia dominado pelos guerrilheiros colombianos.
O efeito do Enem no vestibular
Educadores querem que a avaliação dos alunos do ensino médio substitua o exame tradicional de acesso à universidade. O que fazer para que o sistema seja justo.
Listas de Época – As melhores listas de 10 mais do ano
O ano de 2007 foi marcado pelas listas em Época, que escolheu as melhores listas de "dez mais" do ano nos assuntos mais variados, como esportes, política, economia, celebridades e cultura. Veja os dez destaques na editoria Brasil:
Top 10 Brasil
1. Como Renan Calheiros preservou o mandato de senador
2. O Supremo Tribunal Federal e os mensaleiros
3. Como um imposto provisório deixou de ser permanente
4. A batalha pela sucessão presidencial já começou – Oposição PSDB 2002 x PSDB 2010
5. O fim da troca de partido
6. O Brasil avança no Índice de Desenvolvimento Humano
7. Petróleo e gás no campo de Tupi
8. Um ano de muitos planos de aceleração do crescimento
9. As intrigas nos e-mails dos ministros do STF
10. O recorde de mortes em acidentes aéreos
Carta Capital
O país a 10 mil quilômetros
Depois de quase 20 anos percorrendo o mundo como camelô da ciência, Miguel Nicolelis diz ter aprendido a identificar os sinais da diáspora que fez florescer, ao redor do mundo, inúmeros Brasis.
Lula flerta com as elites
Cresce a aprovação ao governo e ao presidente entre os de maior renda e os mais escolarizados.
As reformas que o Brasil quer
A maioria entende que mudar o sistema político é a prioridade. Logo atrás ficaram as alterações na Previdência Social, nos tributos e na estrutura sindical.