Veja
Ao vencedor, os problemas
Após quatro meses de uma campanha marcada por trocas de acusações e ataques pessoais, as eleições chegam ao fim neste domingo com a escolha dos prefeitos das trinta cidades onde haverá segundo turno. Os institutos de pesquisa mostram disputas ainda indefinidas no Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) aparecem tecnicamente empatados, e em Belo Horizonte, com alternâncias na liderança entre Marcio Lacerda (PSB) e Leonardo Quintão (PMDB). Na maioria dos municípios, porém, os levantamentos indicam eleições praticamente decididas. Em São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) deve se reeleger, derrotando a petista Marta Suplicy. Se não houver mudanças surpreendentes de última hora, também deve ocorrer reeleição em Salvador, com João Henrique (PMDB), em Porto Alegre, com José Fogaça (PMDB), e em Belém, com Duciomar Costa (PTB). Em Manaus, a disputa deve confirmar a volta do ex-governador Amazonino Mendes (PTB). Fechadas as urnas, o eleitor estará mais uma vez diante do velho paradoxo. No último round dos debates e nas cenas finais dos programas de televisão, os candidatos falaram pouco de suas propostas e se empenharam muito em ressaltar os defeitos do adversário. Os eleitores foram bombardeados com informações sobre o estado civil dos oponentes, sabem quem já usou ou não algum tipo de droga e até quem é mais amigo do presidente Lula, mas desconhecem o que o novo prefeito efetivamente fará pela cidade – aquilo que se chama plano de governo. E é isso que interessa. "Essa eleição foi marcada pela canibalização recíproca dos candidatos, pela tentativa de desconstruir os rivais desnudando seu passado e expondo seus aliados indesejáveis", analisa o cientista político Gaudêncio Torquato, da Universidade de São Paulo.
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A farsa do rei do mensalão
O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o trem pagador do propinoduto petista no escândalo do mensalão, passou as últimas duas semanas atrás das grades. A temporada na cadeia não tem relação aparente com o esquema que o tornou famoso. Valério agora é apontado como o chefe de uma quadrilha, formada por advogados e policiais, que montou uma farsa para desmoralizar funcionários da Secretaria da Fazenda de São Paulo. De acordo com a investigação, que levou Valério e outras dezesseis pessoas para a cadeia, o operador do mensalão corrompeu policiais para abrir um inquérito fraudulento contra dois auditores fiscais que multaram a cervejaria Petrópolis em 105 milhões de reais. O objetivo de Valério com a desmoralização dos auditores seria tornar mais fácil o cancelamento da multa e, certamente, ganhar muito dinheiro com isso. Essa é a parte conhecida da história. Mas há um capítulo ainda inédito da trama: a maquinação, como não poderia deixar de ser, também tinha objetivos políticos. Ela pretendia envolver no escândalo o governador de São Paulo, o tucano José Serra.
Isto É
O PT contra o TCU
Desde o início do primeiro mandato do presidente Lula, em 2003, o PT não consegue emplacar um ministro no Tribunal de Contas da União (TCU) – 2/3 deles são escolhidos pelo Congresso e 1/3 é indicado pelo presidente e referendado pelo Senado. Um dos embates entre governo e oposição foi na eleição do ministro Aroldo Cedraz, do DEM baiano, em 2006, que derrotou na Câmara o ex-deputado petista Paulo Delgado (MG). O PT vê o tribunal como um encrave da oposição, que atrapalha a ação do governo.O que acirrou os ânimos no partido foram relatórios recentes do TCU apontando irregularidades nos gastos com cartões corporativos da Presidência da República e superfaturamento nas obras dos aeroportos.
Em pé de guerra
O Senado está para votar uma lei que tem colocado em campos opostos juízes e advogados. De um lado estes últimos, que brigam para que o desrespeito aos seus direitos profissionais seja criminalizado. Os advogados se sentem constantemente violados em suas prerrogativas, tais como: acesso aos seus clientes presos e ao processo em trâmite, ou mesmo ser recebidos por magistrados. “Numa democracia, o Estado deve ser controlado e esse controle atende pelo nome de direito de defesa do cidadão”, diz o presidente do Conselho Federal da OAB, Raimundo Cezar Britto. De outro lado, juízes que são radicalmente contra a aprovação do projeto de lei. “Estamos convictos de que isso pode causar um mal-estar entre as categorias do sistema jurídico, porque toda vez que um advogado tiver uma pretensão indeferida ele vai alegar que houve violação de suas prerrogativas”, diz o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares.
"Chega de ecopicaretagem"
Pela semelhança física, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, já foi confundido nas ruas com o ator americano David Carradine, famoso pelo seriado Kung Fu. Como o personagem Gafanhoto, que usava golpes da luta marcial para se defender, o papel principal do ministro Minc no governo Lula é enfrentar adversários de peso. A briga do momento é com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. Minc incluiu os assentamentos do Incra no topo da lista do desmatadores. "Os assentamentos na Amazônia não são sustentáveis", disse ele em entrevista à ISTOÉ. Sua próxima briga será contra os vendedores de planos de manejo. O ministro calcula que metade do manejo em todo Mato Grosso, por exemplo, está sob suspeição. Naquele Estado, ele pretende aumentar de duas para seis as barreiras da Polícia Rodoviária Federal. Minc diz que está destravando a burocracia que emperrou a gestão de Marina Silva. "O Fundo Amazônia, por exemplo, com doações contra o desmatamento, vinha da gestão Marina, mas estava encalacrado há um ano e meio", explica. "Sou ecologista, mas sou favorável ao desenvolvimento."
Época
Fernando Henrique Cardoso – “Lula tenta enganar, mas a crise está aí”
Para o ex-presidente, os gastos do governo podem complicar a economia e criar um cenário favorável a Serra.
O prefeito quer ficar? Bom sinal
Uma pesquisa indica que as cidades onde o prefeito tenta se manter no cargo e há segundo turno de votação gastam melhor o dinheiro público. "Nessas cidades, os prefeitos gastam menos com salário de funcionários públicos e investem mais", afirma Sérgio Firpo, da Fundação Getúlio Vargas.
Da prosperidade à preocupação
Depois das perdas com a queda da Bolsa e com a alta do dólar, o brasileiro começa a sentir os efeitos do aperto no crédito e até da ameaça de desemprego.
Movimentos na sombra
Grampos da PF mostram como o lobista Marcos Valério, o operador do mensalão, mantém contatos em Brasília e no empresariado. E como ficou sabendo antes que ia ser preso.
O inimigo oculto de Barack Obama
Depois de vencer quase todos os obstáculos, ele se prepara para enfrentar um rival cujo nome poucos ousam pronunciar – o racismo nas urnas.
Carta Capital
A bóia brasileira
O governo Lula vem negando peremptoriamente a necessidade de edição de um pacote contra os efeitos da crise internacional. Nada, por enquanto, indica que o Brasil venha a precisar tomar medidas semelhantes às adotadas nos Estados Unidos e na Europa. Mas, na quarta-feira 22, ante o aprofundamento das incertezas no cenário mundial e sinais de riscos maiores no sistema bancário brasileiro, a equipe econômica tomou uma decisão que vai além das intervenções pontuais feitas até agora. A Medida Provisória 448 vai permitir ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal agir rápido, caso a equipe econômica avalie ser necessário o resgate de uma instituição financeira ou empresa privada para manter a confiança no sistema. A concessão de poderes aos bancos públicos, por si só, não significa que haja chance real e iminente de quebradeira no mercado. Ficou claro, porém, o temor do governo de que a situação dos bancos médios e pequenos evolua da atual falta de liquidez para um quadro de insolvência.
Vai passar…
A atual crise financeira fez a sua primeira aparição no problema dos subprimes dos Estados Unidos. Foi lentamente revelando a sua verdadeira dimensão, estendendo-se às operações estruturadas dos bancos de investimento e, finalmente, produziu uma paralisia das atividades financeiras. O resultado final foi o desaparecimento do elemento catalítico essencial para o funcionamento da economia de mercado: a confiança entre os agentes. Não importa procurar os culpados ou criticar a incompetência das autoridades monetárias que confundiram a crise com um simples problema de liquidez, e que fingiram ignorar (ou ignoravam mesmo?) o problema. O que importa é reconhecer as recentes medidas heróicas dos governos para enfrentá-la. Eles decidiram financiar transitoriamente os prejuízos com a participação de recursos públicos no capital das instituições financeiras, o que deve levar a uma redução da volatilidade dos mercados. Mas isso não elimina o deletério (e incontornável) problema da disfuncionalidade produzida pelo sistema financeiro sobre a economia real de todos os países, que agora começa a cobrar o seu preço. A economia real é a que tem a ver com o cidadão comum, que ganha a vida com seu trabalho e que depende da produção e do emprego.
Atualizada às 09h59
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