Carta Capital
Bye, bye, Meirelles
Henrique Meirelles já comunicou ao presidente Lula que deixará o comando do Banco Central em breve, depois de seis anos no cargo. O goiano de Anápolis, de 62 anos, passará um curto período de quarentena e muito provavelmente disputará o governo de seu estado nas eleições de 2010. Seu sonho é um dia subir a rampa do Planalto e tornar-se presidente da República.
A conferir. Um fato é inegável: a capacidade de sobrevivência de Meirelles no governo. É o único integrante da equipe econômica intocado desde o início da gestão de Lula, em 2003. Uma espécie de estranho no ninho, uma vez que o aliado Antonio Palocci foi forçado a deixar o Ministério da Fazenda, em março de 2006, chamuscado por denúncias.
Quem aspira sentar-se na cadeira de Meirelles? O que seria melhor para o País? Talvez o presidente finalmente crave um nome mais afinado com a ala desenvolvimentista do governo, hoje majoritária. Os amantes do crescimento têm esperança de que o futuro titular se alinhe a um projeto nacional e não sistematicamente sabote a economia brasileira a qualquer sinal de sopro de vida.
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Para a sucessão, o mercado discute uma “solução interna”. Trata-se mais de um wishful thinking. Os candidatos naturais ao cargo seriam o diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini, e o diretor de Política Econômica do banco, Mário Mesquita. Não representariam ruptura alguma. Os economistas críticos da atuação do BC preferem colocar as fichas em Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para o qual os executivos financeiros torcem o nariz. Seria um sinal de que os tempos de ultraortodoxia viraram passado.
Meirelles foi alçado ao BC por falta de alternativa do presidente. Os nomes cogitados no fim de 2002 não aceitaram a empreitada. O presidente teria preferido Fabio Barbosa, então executivo máximo do Banco Real e eleitor do PT. Mas ele declinou do convite. Em um ato de desespero, Lula chegou a sondar o então titular da pasta, Arminio Fraga, para permanecer alguns meses no cargo e realizar uma transição suave. O ex-operador de George Soros optou por voo próprio, ao fundar a Gávea Investimentos e partir para aquisições de empresas.
Restava Meirelles, introduzido no Planalto pelo senador Aloizio Mercadante. Era pegar ou pegar. Lula tem uma dívida de gratidão com o goiano, pois ele enfrentou o rescaldo do terrorismo financeiro praticado pelo mercado, que não suportava a ideia de um metalúrgico e nordestino comandar o País. Foi elogiado nos primeiros meses de mandato, mas parece ter tomado gosto por excessos.
Cesare: veni, vidi, vici
O foragido italiano Cesare Battisti sabia o que fazia quando escolheu como país de destino o Brasil, terra pródiga em abrigar malfeitores internacionais. Condenado à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas entre 1978 e 1979 e considerado criminoso comum, conseguiu que o ministro da Justiça, Tarso Genro, lhe concedesse asilo como refugiado político, criando um problema diplomático entre o Brasil e a Itália.
Há dois Battisti. Um, segundo a Justiça italiana, é o ex-militante do minúsculo grupo terrorista Proletários Armados para o Comunismo (PAC) e organizador de ações criminosas. O outro é um inocente escritor de livros policiais e pretenso perseguido político capturado no Rio em março de 2007. Na terça-feira 13, Tarso Genro optou pelo segundo Battisti, contrariando as Justiças italiana e francesa, sob a justificativa de que o terrorista não pôde se defender das acusações devidamente.
Se o presidente Lula não revir a decisão, o processo de extradição de Cesare Battisti seguirá suspenso no Supremo Tribunal Federal (STF) e o criminoso, posto em liberdade. O pedido de refúgio agora concedido havia sido negado pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) em novembro, por três votos a dois. O advogado do italiano, o petista Luiz Eduardo Greenhalgh, recorreu ao ministro Genro, que decidiu deferir o asilo. A notícia foi recebida com estupefação pela imprensa, pelo governo e até pela esquerda da Itália.
Afrontado o Estado italiano
O ministro da Justiça, Tarso Genro, ao conceder asilo político a Cesare Battisti, entende que a Itália é um país sem lei e sem justiça, ali não vigora o Estado de Direito. Os fatos indicam outra situação, inclusive que a Constituição italiana de 1948 é uma das mais resistentes do mundo.
Inúmeros filmes mostraram criminosos que fogem para o Brasil para escapar à cadeia. Todos, salvo melhor juízo, mais simpáticos, ou menos perigosos, do que este Battisti, condenado na Itália, por ter sido autor de três homicídios e mandante de outro, em nome de ideais políticos inconsistentes. Como diz Omero Ciai, no La Repubblica, rapina à mão armada, seguida pelo assassinato do rapinado, é crime comum “mesmo quando é cometida com a justificativa de financiar um grupo eversivo, ou de oposição política”.
“Os advogados de Battisti – escreve Ciai –, entre eles Greenhalgh, ligado ao PT do presidente Lula, conseguiram eludir o terreno perfeitamente jurídico, ao organizar sutilmente uma entrevista de Battisti ao semanário Época e ao recorrer ao único argumento destinado a salvar o ex-líder dos Proletários Armados, a ideia de que na Itália funcionam hoje estruturas ilegais e a vida do entrevistado corre risco. Aquilo que por aqui foi tomado como brincadeira risível no Brasil fez a diferença.”
Tzipi Livni ficou brava
A reação desproporcional de Israel aos mísseis do Hamas levou à abstenção norte-americana, quando, em 9 de janeiro, foi votada a Resolução nº 1.860, pelo Conselho de Segurança da ONU.
Desde a constituição desse Conselho, apenas três vezes os EUA optaram pela abstenção. A primeira deu-se em 1988, em face de resolução condenatória de Israel pelo assassinato de Abu Jihad, líder palestino. A segunda ocorreu em 2002, quando a Resolução nº 1.435 censurou Israel. Reprovação por ter o premier Ariel Sharon realizado o cerco à sede da Autoridade Nacional Palestina, com Yasser Arafat aprisionado dentro.
A abstenção enfureceu a ministra de Relações Exteriores Tzipi Livni, ex-integrante do serviço de espionagem do Mossad e empenhada em conquistar a cadeira de premier nas eleições marcadas para fevereiro próximo.
Com o conflito em curso, uma pesquisa israelense publicada nesta semana indicou que 90% dos entrevistados apóiam a reação militar contra o Hamas. Livni, que esperava com a guerra liderar eleitoralmente, teve apenas uma ligeira melhora na sondagem, insuficiente para bater o candidato do direitista Likud, o radical Benjamin Netanyahu. E o Likud sempre pregou ações bélicas como única saída para pôr fim ao lançamento de foguetes “Qassan” (leva o nome de um líder palestino dos anos 30).
Diante da abstenção dos EUA junto ao Conselho, Livni passou a ter certeza de que despencará na pesquisa eleitoral de publicação iminente. Nos bastidores, ela não escondeu a certeza de haver sido apunhalada por Condoleezza Rice, secretária de Estado.
O desemprego na antessala
Depois de bater à porta e pedir passagem, a crise internacional entrou nos primeiros lares brasileiros. O nível de emprego na indústria, medido pelo IBGE, recuou 0,6% em novembro, após se manter praticamente estável, em -0,1%, no mês anterior. O resultado é o pior desde outubro de 2003, quando a queda foi de 0,7%. Os novos números se referem aos meses de agravamento da turbulência financeira, mas empresas e sindicatos pintam um quadro pouco animador neste início de 2009.
As montadoras de automóveis, primeiras a se ressentir da queda de vendas e segurar o ritmo de produção, saíram na frente também nas demissões. Na segunda-feira 12, a GM antecipou o fim dos contratos de 744 empregados temporários na fábrica de São José dos Campos (SP). A Volvo já havia anunciado o corte de 430 funcionários em Curitiba. Em dezembro, a cadeia automotiva demitiu 3.208 trabalhadores. Isso, apesar de muitas empresas continuarem a lançar mão de medidas paliativas, como redução de turnos e férias coletivas, enquanto aguardam uma reação na demanda.
Golpes financeiros
A montagem do modelo financista mundial – que agora se esboroa – começou a ser preparada logo no pós-guerra, concomitantemente com a definição do Acordo de Bretton Woods, que restringiu o jogo especulativo, o livre fluxo de capitais e as jogadas com o câmbio. É importante entender esse mecanismo cambial. Desde o início da financeirização mundial, ainda no século XIX, o melhor terreno para a acumulação rápida de capital residia nas grandes operações de arbitragem de moeda e de operações com títulos públicos.
É a maneira mais rápida e indolor de conseguir as grandes tacadas, sem chamar atenção. Em razão de sua complexidade, essas operações passam ao largo da opinião pública. Estão fora da compreensão não apenas dos não economistas como dos economistas que não dispõem de conhecimento sobre os mecanismos do mercado financeiro.
Em geral, a montagem depende de poucas pessoas: as autoridades econômicas, os banqueiros aliados e os especuladores previamente informados. Os que detêm conhecimento sobre esse universo compõem uma comunidade fechada, misteriosa, que lucra com os desequilíbrios orçamentários (trazendo dúvidas sobre a solvência do Estado) e externos (dúvidas sobre a capacidade de honrar pagamento em moedas estrangeiras). Diria, quase sem medo de errar, que provavelmente a maior parte das grandes fortunas geradas no Brasil nos últimos 150 anos proveio dessas operações.
Revista IstoÉ
"Só tive ônus, bônus, não colhi"
A primeira vez que Lurian Cordeiro Lula da Silva apareceu na política nacional foi como pivô de uma das maiores baixarias eleitorais. Na reta final da eleição presidencial de 1989, Fernando Collor exibiu na tevê depoimento da enfermeira Miriam Cordeiro acusando seu ex-namorado, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, de incitála a fazer um aborto. Lurian, então com 15 anos, chegou a defender o pai na televisão. Depois que Lula foi eleito, ela voltou a ser personagem política ao ser acusada de desvio de dinheiro da ONG Rede 13 e de uso irregular do cartão corporativo do governo federal.
Hoje, jornalista formada, ela resolveu entrar para valer na vida pública. Acaba de assumir a Secretaria de Ação Social do município de São José, na região metropolitana de Florianópolis. "Agora é Lurian", diz ela nesta entrevista à ISTOÉ, a primeira vez em que responde às acusações e comenta as agruras sofridas por ser filha de quem é. "Só tive ônus. Bônus, não colhi nenhum." Antes de assumir a secretaria, procurou Lula. "Aceita, aceita", disse o pai.
Mas garantiu que não o consultará sobre gestão. Casada e mãe de um casal de filhos, diz que sua família tem uma vida simples, sem ostentação. "Não sou filha do presidente, estou filha do presidente." Como secretária, anuncia a extinção da "arcaica" cesta básica – tradicional moeda de troca na política – e pretende criar o cartão-cidadão para as famílias carentes escolherem livremente seus alimentos.
Como construir uma candidata
O rosto mais sereno, de olhos mais abertos e boca bem desenhada, resultado de uma cirurgia plástica a que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff , submeteu-se no final do ano passado em Porto Alegre, foi apresentado ao País pela primeira vez na segunda-feira 12. A mudança no visual é parte de uma estratégia bem planejada com um único propósito: o de conferir a Dilma um perfil menos sisudo e mais simpático e ser a embalagem que faltava para transformar a até então mera técnica competente no principal nome para disputar, como candidata do governo, a eleição presidencial em 2010. Para avaliar junto ao eleitorado a repercussão das mudanças estéticas da ministra, o Palácio do Planalto encomendou uma pesquisa qualitativa. Foi montado um grupo heterogêneo, de pessoas de diferentes classes sociais, para opinar sobre a nova Dilma Rousseff , que apareceu pela primeira vez em São Paulo, na abertura da Couromoda. Sem os antigos óculos de aros redondos, revelaram-se olhos menos pesados e mais abertos, depois de uma correção cirúrgica nas pálpebras. As antigas rugas que vincavam o rosto de Dilma desapareceram, e ela ganhou um novo nariz, levemente arrebitado. Os cabelos, outrora curtos e castanho-escuros, ganharam um tom avermelhado mais claro e uma ligeira franja que esconde parte da testa. O resultado final pode ser resumido em uma palavra: suavidade.
O embrulho que hoje embala a ministra da Casa Civil é resultado de um processo ocorrido em etapas desde o final de 2007, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a ventilar a ideia de que Dilma poderia ser a sua sucessora. A menos de dois anos das eleições presidenciais, a equipe responsável pelas transformações de Dilma é formada por seis integrantes: o marqueteiro João Santana, o jornalista Laurez Cerqueira, a cabeleireira Tian, o ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, o cirurgião Sérgio Panizzon e o próprio presidente Lula, como conselheiro informal. Hoje, o principal nome é o marqueteiro João Santana. É ele quem está por trás da maior parte das mudanças experimentadas por Dilma. Santana começou a trabalhar a partir de uma orientação vinda do próprio Lula. É do presidente a percepção inicial de que a imagem de Dilma precisava ser suavizada. Foi ele quem primeiro disse isso a ela. E coube a Santana concretizar a ideia em termos práticos.
Marcos Valério leve e solto
Depois de passar 98 dias no presídio de Tremembé II, interior de São Paulo, o publicitário Marcos Valério de Souza deixou a cadeia na quinta-feira 15, graças a um habeascorpus do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Valério emagreceu 15 quilos e está extremamente abatido. Sua mudança física e psicológica pode estar relacionada, além do afastamento da família, com as últimas semanas, quando dividiu cela com quatro policiais federais, detidos em outras operações da PF. Ele foi preso por supostamente participar de esquema para tentar incriminar delegados da PF e auditores da Receita. Além disso, o aumento do cerco imposto pela PF e pela Receita sobre a família do publicitário, com o bloqueio das contas bancárias e dos bens, obrigou Valério a fazer todas as suas operações em espécie. Com a alteração do estado físico e psicológico de Valério, apareceram em Brasília versões de que o publicitário pudesse fazer novas revelações sobre o esquema do mensalão. "Novas revelações? Isso é uma pergunta que só ele pode responder", diz o advogado Marcelo Leonardo, que defende Valério. "Os episódios decorrentes do processo do mensalão provocaram vários desdobramentos. Ele ficou numa situação de prisão ilegal, que considera injusta."
Além das versões sobre novas revelações, a saída de Valério da prisão provocou indignação no Ministério Público e no Congresso Nacional. O que mais irrita os promotores e os parlamentares é que o ministro Gilmar Mendes, para libertar Valério, mais uma vez desprezou a súmula 691, que proíbe a corte de analisar habeas-corpus quando o Superior Tribunal de Justiça não tiver julgado o caso em definitivo, queimando instâncias do Judiciário. "Tenho vários casos aos quais o próprio STF não concedeu liminar pelo fato de não terem passado por outras instâncias", diz o promotor José Carlos Blat. "O ministro Gilmar Mendes tem uma postura mais liberal com relação à questão da prisão preventiva e temporária, que considera um remédio muito amargo para determinados réus." A procuradora paulista Luiza Frischeisen também reclamou: "Quando um habeas-corpus cai nas mãos de Mendes, já se sabe que ele vai conceder, é só ficar esperando quando." Marcelo Leonardo discorda: "O número de precedentes que existe na jurisprudência nos permite dizer que hoje é corrente a superação da súmula 691."
O deputado Gustavo Fruet (PSDBPR), um dos sub-relatores da CPI do mensalão, lamenta que Valério ainda não tenha sido condenado. Mesmo com todo esse festival de adiamentos em torno de uma decisão jurídica definitiva para Marcos Valério, no entanto, Fruet tem esperança na condenação definitiva do publicitário. "A situação dele está cada vez mais complicada", diz o deputado. "O Marcos Valério vai quebrando a primariedade e qualquer hora ele vai cair numa cela e não vai sair nunca mais." Valério terá de apresentar sua defesa à Justiça Federal até a próxima semana. O advogado Marcelo Leonardo não quis antecipar quais os argumentos que vai apresentar à Justiça para tentar livrá-lo de mais um inquérito da PF.
Capitalismo sem memória
O Brasil, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), ainda é o país mais resistente aos efeitos da crise financeira internacional. Embora os sinais de desaquecimento estejam mais evidentes, o relatório mensal da OCDE, grupo dos 30 países mais ricos do planeta, concede à economia brasileira um certo fôlego antes de cruzar a linha da recessão. O mercado, de acordo com a pesquisa Focus, também empresta ao País o crédito de uma previsão de crescimento de 2% do PIB em 2009. Mas boa parte das grandes empresas decidiu que a crise já é uma doença a demandar medicamentos de tarja preta. Esta semana, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) quase convenceu a Força Sindical a aceitar uma redução de salários e de jornada de trabalho como único remédio contra o desemprego.
Pela primeira vez, capital e trabalho poderiam usufruir de uma medida extrema prevista na Constituição de 1988 – encolher a jornada e os salários mediante acordo coletivo. No entanto, antes que houvesse qualquer entendimento, a General Motors anunciou na segunda-feira 12 a demissão de 744 empregados temporários de sua fábrica em São José dos Campos. A decisão da GM deixou explícito que o tratamento prescrito pelas empresas poderia agravar a doença porque a garantia de estabilidade estava fora do acordo. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reagiu e condicionou a transferência de recursos do FAT e do FGTS à contrapartida de manutenção dos empregos. “Tem empresário esperto forçando a mão nos lucros”, disse Lupi ao jornal O Estado de S. Paulo.
Novo comando
Poucos executivos são tão influentes na vida econômica brasileira quanto o presidente de uma instituição como o Bradesco. Passam pelo crivo desse profissional as grandes operações de crédito e alguns dos maiores projetos financeiros em andamento no País. Graças à sua posição, suas opiniões são seguidas de perto pelos principais líderes empresariais e políticos – e, por isso mesmo, o que ele diz costuma aparecer com destaque nas páginas de revistas e jornais. Na semana passada, o Bradesco anunciou o nome que vai desfrutar desses privilégios. Trata-se de Luiz Carlos Trabuco Cappi. Ele estará à frente do segundo maior banco privado do Brasil, atrás do Itaú-Unibanco. Aos 57 anos, Trabuco, como ele é conhecido no mercado, substituirá Márcio Cypriano, que deixa o comando porque o estatuto do Bradesco não permite presidentes com mais de 65 anos. Cypriano sai de cena com uma performance avassaladora. Nos últimos dez anos, ele multiplicou o valor de mercado do Bradesco de US$ 5 bilhões para US$ 30 bilhões.
Trabuco será apenas o quarto presidente na história de 65 anos do Bradesco. Os outros três foram Amador Aguiar, o fundador, Lázaro Brandão, atual presidente do conselho e responsável pela indicação de Trabuco, e Cypriano. O novo presidente, que assume no início de março, tem uma forte identificação com a cultura do Bradesco. Em seus 40 anos de casa, passou por áreas estratégicas como previdência privada e marketing. Precoce, com apenas 47 anos foi promovido a vice-presidente. Foi como chefe da Bradesco Seguros que seu trabalho chamou a atenção. Sob seu comando, a participação de mercado da Bradesco Seguros passou de 23% a 25% do total de prêmios. Melhor ainda: a contribuição da seguradora no resultado do banco aumentou de 26% para 35%. Nascido em Marília (SP), a mesma cidade de Amador Aguiar, e formado em filosofia pela Universidade de São Paulo, Trabuco tem um estilo parecido com o de seu antecessor. Usa ternos discretos, é comedido nas palavras e evita qualquer sinal exterior de riqueza. Estimativas de mercado indicam que seu pacote de remuneração, incluindo salários e bônus, será de R$ 1 milhão por mês.
Revista Veja
Obama: é o começo ou o fim de uma era?
Na noite em que conquistou o direito de candidatar-se à Casa Branca, em junho passado, Barack Hussein Obama comemorou diante de eleitores entusiasmados com um discurso de otimismo. "Nesta noite, marcamos o fim de uma jornada histórica com o começo de outra – uma jornada que trará dias melhores para o país", prometeu. Agora, ao falar sobre o conteúdo do discurso que fará em sua posse, Obama disse que pretende apenas ser o mais honesto possível com o povo americano sobre "quais são as circunstâncias" do país. A redução da escala retórica, das alturas de "dias melhores" para a dureza das "circunstâncias", é um reflexo sombrio da realidade. Nesta terça-feira, ao tomar posse como o 44º presidente dos Estados Unidos, Obama herdará um país de poderes incontrastáveis. É um mamute militar, a maior economia do planeta, uma potência tecnológica e cultural. Mas, como sombra de mau agouro sobre todo o seu gigantismo, o país se encaminha para uma das maiores crises econômicas de sua história, cuja gravidade coloca em xeque a própria hegemonia americana no mundo.
Como o primeiro negro a presidir o país, a posse de Barack Hussein Obama, 47 anos, é, mesmo, o coroamento de uma jornada histórica. A dúvida é saber se seu governo marcará o início de uma nova era, aprumando os EUA para manter seu status de potência dominante no século XXI, ou se será o começo do fim de uma supremacia que moldou o planeta tal como o conhecemos hoje (veja, nas páginas seguintes, reportagens sobre os desafios americanos na área social, econômica, militar, tecnológica e cultural). Sua posse, como convém aos impérios, será um evento global. A segurança é espetacular, com 20.000 homens, 150 equipes de agentes à paisana e especialistas em tudo – segurança cibernética, material biológico, libertação de reféns. Para chegar aonde as coisas estarão acontecendo, qualquer cidadão terá de cruzar anéis de segurança, cada um mais restritivo que o outro, em que toda a bagagem será revistada e não passará nem guarda-chuva.
Dilma: de corpo e alma em 2010
A inauguração pública na semana passada da nova fisionomia da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não deixou ninguém indiferente. Ao lado do presidente Lula e do governador de São Paulo, José Serra, Dilma reapareceu em grande estilo na abertura de uma feira de moda. Ela estava quase 10 quilos mais magra e sem óculos, que foram substituídos por lentes. O cabelo ficou ruivo, com um corte repicado que se derruba elegantemente pela testa. O PAC da ministra, Plano de Aprimoramento Cosmético, incluiu também uma cirurgia plástica que lhe deu ar mais jovial e atraente (veja o quadro). Um dia depois da estreia do novo visual, Dilma e Lula conversaram a sós em Brasília. O presidente reafirmou o desejo de vê-la disputando sua sucessão, pediu à ministra que transfira aos poucos suas funções na Casa Civil, que se dedique intensamente ao PAC original, o Programa de Aceleração do Crescimento, principal aposta eleitoral de Lula, e à montagem de uma aliança política consistente. A combinação entre a exibição de sua nova face e o despacho a sós com Lula é a evidência mais forte de uma suspeita antiga: apesar dos despistes de praxe, a ministra-candidata já está mergulhada, de corpo e alma, na campanha presidencial de 2010.
A transformação estética, naturalmente, é a etapa mais fácil da caminhada de Dilma Rousseff rumo ao Palácio do Planalto. Agora, seu maior desafio como candidata é herdar a extraordinária popularidade do presidente, seu padrinho político e fiador de sua candidatura. Lula já pediu a todos os ministros uma lista de inaugurações para montar uma agenda política conjunta com Dilma. O objetivo é apresentá-la ao eleitorado e fixar sua imagem como a candidata do presidente, a única capaz de dar continuidade a seu governo. Lula espera transformar parte de sua popularidade recorde, que chega aos 70%, em votos para Dilma. Para receber a herança bendita, porém, a ministra precisa se tornar conhecida. Hoje, apenas metade do eleitorado sabe quem ela é. "Ser conhecida é fácil. O difícil é ser vista como viável tanto para os políticos como para o eleitorado", diz o publicitário Fernando Barros, presidente da Propeg, um dos responsáveis pela propaganda da Presidência da República.
Obrigado, Tarso Genro
A decisão do titular da Justiça, Tarso Genro, de conceder refúgio político ao italiano Cesare Battisti abriu uma fenda diplomática nas relações do Brasil com a Itália e empurrou o ministro para o paredão: Tarso, metralharam seus críticos, teria se precipitado e tomado a decisão com base em simpatias ideológicas. Faz sentido. Battisti foi condenado em seu país à prisão perpétua pela morte de quatro pessoas quando encabeçava um grupo extremista de esquerda, os Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Ao recusar-se a extraditá-lo para a Itália como criminoso, optando por abrigá-lo no Brasil na condição de perseguido político, Tarso Genro dispensou o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e contrariou dois pareceres, ambos emitidos por órgãos técnicos e insuspeitos: o Comitê Nacional para os Refugiados e a Procuradoria-Geral da República. Além disso, o ministro já havia dado mostras recentes de que, se ninguém o segura, ele se deixa facilmente levar pelo caminho obscuro das convicções esquerdistas. Em outubro, ele propôs a revisão da Lei da Anistia com o intuito de punir torturadores do regime militar, um surto de revanchismo e inoportunidade que provocou reações até mesmo dentro do governo. Tarso só recuou depois de um puxão de orelhas dado pelo presidente Lula. Tudo isso somado contribuiu para que se concluísse que a concessão do refúgio ao italiano foi mais uma das reações ideológicas automáticas do ministro. Nesse caso, no entanto, a hipótese de que Tarso Genro tenha tomado uma decisão correta não pode ser descartada sem um exame mais minucioso.
Battisti nega que tenha participado ou ordenado os assassinatos pelos quais foi condenado. "Não matei ninguém e abandonei o grupo quando o PAC se decidiu pela luta armada", vem repetindo Battisti há mais de dez anos. Tarso afirma ter estudado o processo do italiano a fundo, durante seus catorze dias de férias de fim de ano (é de esperar agora que tenha o mesmo cuidado quando lhe chegar às mãos um processo contra alguém acusado de ter sido torturador da ditadura). Diz ter terminado a análise convencido de que "exceções legais", criadas pelo estado italiano no ambiente de convulsão social que aquele país vivia no fim dos anos 70, podem ter prejudicado a defesa de Battisti. Cita como exemplo o fato de sua condenação ter se baseado unicamente no depoimento de uma pessoa – Pietro Mutti, também integrante do PAC, que fez suas acusações no contexto de um programa de delação premiada. Se o ministro estiver certo, terá ajudado a reparar uma injustiça que dificilmente poderia ser corrigida pela Justiça italiana, uma vez que Mutti mudou de identidade e hoje vive em lugar não sabido. Se estiver errado, porém, terá deixado à solta um assassino que executou pessoas apenas por discordarem de sua organização terrorista. Tarso deixou a porta aberta para rever o caso se surgirem provas mais contundentes contra o italiano.
Israel: está na hora de parar
A ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, iniciada no dia 27 de dezembro, tinha o objetivo explícito de parar a chuva de foguetes disparados pelo Hamas contra seu território. O objetivo velado era enfraquecer o Hamas, movimento islâmico que domina a Faixa de Gaza, fortalecer o Fatah, que controla a Cisjordânia, e assim desequilibrar a queda-de-braço disputada entre os dois partidos palestinos desde 2006. Israel está próximo de conseguir sua primeira meta. O Hamas sofreu fortes baixas, embora a maior parte de seus líderes ainda esteja aquartelada no subsolo do principal hospital do território. Já a tentativa de promover o Fatah foi por água abaixo. Seu líder, Mahmoud Abbas, não pode simplesmente desembarcar em Gaza a bordo de um blindado israelense. Se fizer isso, será visto por muitos palestinos como um traidor que se alinhou a Israel contra o próprio povo. No momento, as chances de o partido voltar a controlar a Faixa de Gaza são nulas.
O tempo para reverter a situação está se esgotando. A ofensiva israelense já deixou 1 100 mortos, 400 dos quais são mulheres e crianças. Na semana passada, projéteis israelenses atingiram um depósito de alimentos da ONU enquanto o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, visitava Israel. Um hospital e um edifício que abriga escritórios de agências de notícias também foram bombardeados. A continuação da ofensiva e as inevitáveis misérias causadas pelos combates podem provocar mais danos à imagem internacional de Israel do que vantagens no campo de batalha. O Hamas ofereceu um cessar-fogo de um ano. Caso aceitem a proposta, os israelenses poderão contar com forças internacionais para vigiar a porosa fronteira de Gaza, por onde entram as armas do Hamas. No longo prazo, no entanto, Israel continuará sob a ameaça de vizinhos truculentos. O Hamas, embora enfraquecido, deve continuar fiel ao projeto de destruir o estado judeu, e o presidente Mahmoud Abbas não tem autoridade para representar todos os palestinos. Até agora, a incontestável vitória militar não parece ter tornado a paz mais provável.
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