Veja
Ele é um canhão à solta
Em setembro do ano passado, duas semanas depois de revelados os primeiros abusos na, de outra forma bem-sucedida, operação que levou à condenação do ex-banqueiro Daniel Dantas, o delegado Protógenes Queiroz foi espontaneamente à Procuradoria da República dar sua versão sobre o caso. Ele negou ter cometido ilegalidades, mas fez uma revelação que, se verdadeira, pode vir a ter consequências graves. Protógenes disse à Procuradoria que a operação não foi uma ação comum, mas o desfecho policial de uma investigação sigilosa que teria sido realizada "por determinação da Presidência da República". O depoimento de Protógenes Queiroz à Procuradoria-Geral da República, ao qual VEJA teve acesso, traz uma segunda revelação incômoda. O delegado afirma que a atuação dos mais de oitenta espiões da Abin no caso era do conhecimento do juiz federal Fausto de Sanctis e do procurador da República Rodrigo de Grandis. Prorrogada por mais sessenta dias, a CPI dos Grampos é o foro próprio para que essas perguntas sejam feitas e respondidas. A comissão quase encerrou seus trabalhos de maneira melancólica há duas semanas. Isso só não ocorreu porque veio à luz parte do conteúdo dos arquivos de computador de Protógenes Queiroz apreendidos pela corregedoria da Polícia Federal. Publicado por VEJA, o material demonstrou que a equipe do delegado espionou ministros do governo, entre eles a poderosa Dilma Rousseff e Mangabeira Unger, senadores, juízes, jornalistas e advogados. Na semana passada, indagado sobre a suposição de que teria recebido ordens do presidente da República para investigar o banqueiro Daniel Dantas, Protógenes reagiu da maneira surrealista que o caracteriza. Primeiro, tentou desconversar, deixando pairar a dúvida sobre o possível papel de Lula no episódio. Disse o delegado: "Acredito que o presidente saiba responder melhor do que eu". Depois, em uma palestra para estudantes universitários em Goiás, afirmou que não fazia "parte de nenhuma guarda pretoriana a trabalho de algum governo".
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O Senado perde a compostura
A eleição de José Sarney para a presidência do Congresso deu novo impulso à, digamos assim, carreira política de Renan Calheiros. Mas, até para quem já conhece o padrão moral de Renan, o que está acontecendo no Senado não deixa de espantar. Milhões de reais são pagos em horas extras durante o período de férias dos senadores, aditivos milionários são assinados com data retroativa e funcionários públicos estão sendo remunerados para executar missões privadas. Entre o recente festival de absurdos, o mais gritante é o pagamento de 6,2 milhões de reais em horas extras a 3 883 funcionários do Senado, mais da metade de seu quadro funcional. O trabalho deveria ter ocorrido em janeiro passado, quando os senadores se encontravam em férias, o Congresso estava em recesso e não houve uma única reunião, sessão, votação ou atividade legislativa em Brasília. O pagamento foi autorizado pelo senador Efraim Morais (DEM-PB), conhecido pelos laços políticos e de amizade com Renan Calheiros. A presepada foi corretamente debitada na conta do PMDB graças à ligação de Efraim com Renan e à tibieza com que o partido tratou o caso. "Eu acho um absurdo. Não acho correto, não", afirmou o presidente Sarney, para em seguida dizer que não teria como anular o pagamento.
Socialismo? Qual? Onde?
Eminências da direita mais empedernida da política americana deram para denunciar que as medidas tomadas por Obama para combater a crise estão colocando os Estados Unidos na rota do socialismo. O ex-quase-presidenciável Mike Huckabee, que perdeu a disputa pela candidatura para o senador John McCain, disse que Obama está criando "repúblicas socialistas" no país, e completou: "Lenin e Stalin iam amar isto aqui". O assunto virou capa de revista e está no parachoque dos carros na forma de adesivos que saúdam o presidente como "camarada Obama" e o país como "União dos Estados Socialistas da América". Os trombeteiros do "socialismo americano" começaram a se agitar porque, para domar a crise, o governo americano está drenando oceanos de dinheiro público na economia, despertando o perigo do gigantismo estatal. A coisa piorou quando Obama entregou ao Congresso sua proposta de Orçamento para o ano fiscal de 2010. Com 3,6 trilhões de dólares, a proposta é ousada e promete uma guinada radical em boa parte das políticas públicas que o país vem adotando nos últimos trinta anos. Obama propõe universalizar o sistema de saúde, incorporando os 40 milhões de americanos que hoje não têm nenhum tipo de assistência. Quer ampliar o papel do governo na educação primária, aumentar a ajuda federal aos estudantes de baixa renda que entram na universidade e implantar uma política de proteção ambiental inteiramente diferente, que força a redução da emissão de poluentes à base de taxações. Para financiar tudo isso, em parte, Obama pretende aumentar os impostos dos 5% mais ricos – os que ganham acima de 250 000 dólares anuais.
Istoé
Lula o plano 2014
O presidente Lula considera "uma questão de honra" fazer seu sucessor em 2010 e também se mostra muito preocupado com os efeitos da crise econômica sobre a imagem de seu governo. Essa atitude pode passar a impressão de que suas atenções estão voltadas exclusivamente para a disputa eleitoral de 2010. Mas, na verdade, Lula está olhando mais à frente. A exemplo do que aconteceu com Getúlio Vargas em 1949, quando o presidente foi procurado por políticos no autoexílio para voltar ao poder, Lula acredita que poderá retornar ao Palácio do Planalto em 2014, nos braços do povo. No caso de um oposicionista vencer as eleições presidenciais em 2010, o retorno de lula para disputar o planalto em 2014 é fato consumado. "Se o PSDB estiver no po der, a questão (Lula concorrer em 2014) é líquida e certa", disse à ISTOÉ o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, ainda um dos principais interlocutores do presidente. Se Lula não admite abertamente um eventual retorno depois de deixar a Presidência em 2010, seus planos para os quatro anos longe do poder indicam que o presidente quer ficar o mais próximo possível da política e da vida partidária nacional, para manter seu cacife eleitoral.
Cercada por todos os lados
Quando ganhou a eleição de maneira surpreendente, rompendo com 11 anos de alternância entre o PT e o PMDB no Palácio Piratini, Yeda Crusius parecia ser uma novidade para os gaúchos: paulista, tucana e mulher, ela prometia renovar a polarizada política do Rio Grande do Sul. Em três anos, saneou as finanças do Estado, mas um escândalo de corrupção no Detran local colocou seu projeto de ser a terceira via numa contramão macabra. No dia 17 de fevereiro, um Toyota Corolla amanheceu vazio sobre a ponte Juscelino Kubitschek em Brasília. Ele pertencia a Marcelo Cavalcante, 41 anos, cujo corpo foi encontrado no dia seguinte, boiando no Lago Paranoá. Até julho do ano passado, ele comandava a representação do governo do Rio Grande do Sul em Brasília. Sua demissão foi uma tentativa de Yeda de se afastar do escândalo do Detran. Considerado testemunha- chave, ele tinha um depoimento marcado para 5 de março e pretendia negociar com o Ministério Público a delação premiada, dispositivo legal que permite a redução da futura pena em troca de informações privilegiadas. Cinco dias antes de o carro ser encontrado sobre a ponte, Cavalcante havia desaparecido de casa, mas enviara mensagens à mulher, Magda Koenigkan. Dizia que "estava indo para outra vida". Abalada com a morte do marido, Magda diz que vai esperar a investigação. "Para mim está sendo muito difícil, pois colocaram como suicídio", afirma ela. "Estou passando por uma pressão violentíssima, há uma investigação grande da polícia." "Ele estava sendo ameaçado", diz a deputada Luciana Genro (PSOL-RS). A polícia, por sua vez, apura informações de que Cavalcante teria se encontrado em Brasília, dias antes de sua morte, com o lobista Lair Ferst, que em 2006 ajudou a arrecadar recursos para a campanha de Yeda. Ferst é o pivô da Operação Rodin, desencadeada pela Polícia Federal, sobre um esquema que desviou R$ 44 milhões de verbas do Detran entre maio de 2003 e novembro de 2007.
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