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Uma noiva rebelde
Aliado do governo, o PMDB ignora acordo com o PT sobre o comando do Congresso, divide-se entre Dilma e Serra e apresenta faturas cada vez mais pesadas a Lula
O PMDB é o maior partido do país. A sigla comanda 1 199 prefeituras, incluindo seis das principais capitais, que concentram 30 milhões de eleitores. Também controla sete governos estaduais e tem maioria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Esse vigor, somado à ausência de um projeto próprio de governo, transformou o PMDB na noiva mais cobiçada da próxima eleição presidencial. Com seis ministérios no governo do presidente Lula, o natural seria que a sigla estivesse empenhada em garantir a paz no consórcio governista e preocupada em viabilizar a candidatura da ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, ao Palácio do Planalto. Nada disso. Coerente com sua história recente, o PMDB tem se dedicado a re-editar uma velha fórmula política, a de dividir para governar, com o objetivo de se entronizar no poder. O partido ameaça romper um acordo com o PT sobre o comando do Congresso Nacional e, faltando dois anos para a eleição presidencial, já decidiu apoiar o adversário de Lula em cinco estados, entre eles São Paulo (veja mapa). Eis, portanto, a única certeza da próxima disputa eleitoral: o PMDB, graças a sua força e ambiguidade, estará no governo em 2011, independentemente de quem estiver no comando do país.
Criado há 42 anos, o PMDB já esteve na vanguarda dos principais acontecimentos políticos de seu tempo. Nos últimos anos, porém, perdeu consistência ao misturar em seus quadros militantes históricos e figuras que entraram para a história apenas por causa dos escândalos em que se envolveram. Transformado em uma geleia geral do ponto de vista programático e doutrinário, sua robustez eleitoral, como era de esperar, agora aguça os apetites presidenciais do tucano José Serra e da petista Dilma Rousseff. Por enquanto, a maioria dos estados está fechada com Dilma, mas a atual aliança não garante o apoio formal do partido à candidata de Lula. É que, além de lideranças importantes já estarem perfiladas ao lado de Serra, a chamada verticalização, regra que impede alianças estaduais diferentes das feitas em âmbito nacional, dificulta o apoio formal do PMDB a qualquer um dos candidatos. Também por causa disso, o presidente da legenda, Michel Temer, tem desencorajado os potenciais candidatos a vice de Dilma ou Serra.
A estratégia da divisão é tão evidente que alguns líderes falam abertamente sobre ela. "O compromisso de apoiar Lula não significa uma aliança em 2010. O mais provável é ficar neutro, dividido", diz o deputado federal Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro das Comunicações de Lula. Ele explica que a falta de unidade se deve ao fato de o PMDB possuir uma grande capilaridade nos estados, dificultando que se chegue a um consenso, o que não deixa de ser verdade. Os estudiosos da política, no entanto, garantem que a razão da divisão é o fisiologismo. "O PMDB sabe que é mais fácil atender todos os seus caciques se mantiver a dubiedade. O estatuto do partido admite a dissidência e não obriga filiados a votar de acordo com o que o partido decide. Talvez seja a única legenda do mundo democrático que não pune a infidelidade", afirma o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília. "Somos o partido do centro, do equilíbrio e da governabilidade", diz o líder do governo no Senado, o peemedebista Romero Jucá
Espionagem a crédito
Quanto custa violar os sigilos bancários, fiscais e telefônicos de um cidadão qualquer? No Brasil, os preços começam em 35 reais. Foi por esse valor que funcionários das empresas de telefonia venderam a privacidade de clientes em São Paulo. Por 800 reais, é possível levantar a movimentação bancária e a fatura do cartão de crédito das vítimas. Se barganhar, sai por 200. Por 1.500 reais, pode-se comprar uma declaração de imposto de renda extraída diretamente dos computadores da Receita Federal. Na semana passada, uma operação da polícia paulista e do Ministério Público revelou essas operações assustadoras. A investigação mostra que esse comércio é dominado por policiais corruptos e detetives particulares. Eles usam como comparsas empregados das telefônicas e funcionários dos bancos e das operadoras de cartão de crédito. As informações surrupiadas permitem que eles cometam outros tipos de crime. Extorsão, espionagem industrial, roubos, clonagem de cartões de crédito e outras fraudes financeiras estão entre os mais comuns. Ninguém está a salvo dessa gente. No rol de suas vítimas, misturam-se anônimos e ilustres, como o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, José Aníbal (SP).
Os policiais e promotores paulistas começaram a investigar a indústria da quebra de sigilo em 2004. Em outubro daquele ano, descobriu-se que um bando de policiais da cidade de Osasco, na Grande São Paulo, falsificava autorizações judiciais para grampos e as levava às operadoras de telefonia. Eles bisbilhotavam quem queriam. Graças a esse expediente, chegaram a monitorar dezenove linhas ao mesmo tempo. Fizeram isso com advogados e executivos ligados ao Carrefour, ao Pão de Açúcar, ao BBVA. Os policiais formavam apenas um dos filamentos dessa máfia. O grosso das informações transitava por agências de detetives particulares, que quebram sigilos a pedido de empresários, políticos, cônjuges traídos e trambiqueiros de toda espécie. Para investigar esse golpe, optou-se por uma estratégia ousada: infiltrar um agente. O policial destacado para a tarefa levava uma vida dupla. Matriculou-se em cursos de detetive, ganhou a confiança de donos de agências e passou a frequentar happy hours dessa turma. O agente identificou duas quadrilhas que prestavam serviços no atacado a quase todos os investigadores particulares da capital paulista.
Fuga anunciada
Hosmany Ramos, o médico transformado em assassino e assaltante, anuncia que vai fugir da cadeia e a polícia nada faz. A quem interessar possa, ele informa que está a caminho "de um país vizinho"
O ex-cirurgião plástico Hosmany Ramos, 61 anos, há muito não maneja um bisturi. Ex-bandido perigoso, aposentado por força da última prisão, em 1996, desde então também não pega numa arma. Uma característica, porém, ele mantém intacta desde a década de 70, quando seu nome ainda não havia migrado das colunas sociais para as páginas policiais dos jornais: o gosto por chamar atenção. Exibicionista serial, o ex-pupilo preferido de Ivo Pitanguy, cujo endereço oficial até a semana passada era a Penitenciária de Valparaíso, no interior de São Paulo, convocou entrevista coletiva no último dia 2 para anunciar que não pretendia cumprir o restante de sua pena, de 47 anos. Agraciado com o benefício da saída temporária da cadeia para passar as festas de fim de ano com a família, o ex-cirurgião declarou que, em "protesto contra as condições do sistema prisional brasileiro", havia decidido não voltar ao xadrez. Como a polícia nada fez para evitar que ele cumprisse a promessa, Hosmany deu no pé – e passou a ser considerado oficialmente foragido no último dia 3. Desde então, tem dado, por telefone, entrevistas diárias à imprensa, em que relata seus planos para o futuro. A VEJA, informou candidamente na quarta-feira: "Viajo amanhã para um país vizinho, onde vou trabalhar como médico de uma ONG internacional no atendimento a crianças carentes". Quem o ouvisse pensaria que se tratava de um cidadão livre, pagador de impostos e cumpridor de seus deveres falando – e não de um detento foragido e condenado, entre outras coisas, por homicídio, roubo e sequestro.
Não é a primeira vez que Hosmany "decide" deixar a cadeia. Em 1996, ele não retornou da saída temporária que lhe permitiu deixar o Instituto Penal Agrícola de Bauru para comemorar o Dia das Mães em família. Na ocasião, como agora, uma das primeiras providências que tomou ao se autoconceder a liberdade foi dar uma entrevista. Ao programa Fantástico, da Rede Globo, disse que pretendia fazer um curso de explosivos com o IRA, a então ativa organização terrorista da Irlanda do Norte. Hosmany gosta de parecer louco, mas, ainda que fosse (hipótese que seu prontuário desmente), estaria longe de ser um louco inofensivo. Prova disso é que, durante o período que durou sua primeira fuga, cerca de um mês, o ex-médico não foi visto praticando nenhuma atividade associada aos psicóticos, como rasgar dinheiro, por exemplo. Em vez disso, juntou-se a dois comparsas para improvisar o sequestro de um empresário. Capturado, perdeu o benefício da liberdade condicional a que teria direito em breve e foi condenado a outros 32 anos de prisão.
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