O PMDB oficializa hoje, em convenção nacional, a reeleição do deputado Michel Temer (SP) como presidente do partido. Apesar do boicote pregado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) à convenção, apoiadores do ex-candidato Nelson Jobim devem comparecer à votação, apaziguando os ânimos exaltados na última semana com a aproximação entre o presidente Lula e aliados de Temer.
Com isso, Lula caminha para consolidar com o partido que detém a maior bancada na Câmara e no Senado uma aliança que chegou a ser costurada quatro anos atrás pelo então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O acordo acabou não se concretizando, no início do primeiro mandato, porque o presidente preferiu, na ocasião, negociar no varejo com os parlamentares, inclusive de outros partidos.
Por causa disso, apenas parte do PMDB apoiou Lula no primeiro governo, embora o partido comandasse ao menos dois ministérios desde 2004. Nos próximos dias, o presidente deve confirmar a indicação do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) como novo ministro da Integração Nacional.
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Defensor da participação do partido no governo desde o primeiro momento, Dirceu declarou ontem (10) que o PMDB é fundamental para a sucessão de Lula. Jogo de cena ou não, até admitiu que o PT pode apoiar um candidato do partido à Presidência em 2010. "O PT pode e deve ter um candidato, mas se a coalizão não pode ter um candidato que não é do PT, não é coalizão. Acho que a aliança do PMDB com o PT é a chave para uma coalizão, não só para dar governabilidade, mas para eleger o sucessor do presidente Lula", afirmou (leia mais).
Cabo eleitoral de Temer, Geddel tornou-se pivô da renúncia de Jobim na semana passada. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), cuja candidatura foi incentivada pelo próprio Lula, entendeu a recepção dada pelo presidente no Palácio do Planalto ao deputado baiano como uma interferência em favor da reeleição do atual comandante da legenda.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e o senador José Sarney (AP), aliados de Jobim, acusaram o Palácio do Planalto de “traição”. Renan chegou a sugerir que não tinha mais compromisso com o governo. Mas a confirmação da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e Romero Jucá (PMDB-RR) como líderes do governo no Congresso e no Senado, respectivamente, amenizou o desgaste com o presidente.
Temer agiu rápido: após o boicote pregado por Renan à convenção nacional do partido, ofereceu cargos em sua chapa a partidários da candidatura de Jobim, como os governadores Sérgio Cabral Filho (RJ) e Marcelo Miranda (TO), que aceitaram prontamente as vagas abertas. Com isso, o único grupo dentro do partido a fazer oposição ao governo Lula é o ligado ao ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que vê sua força diminuir dentro do partido à medida que Cabral se descola de sua imagem.
Ainda não se sabe se o PMDB, dono de um reconhecido apetite por cargos e que já ocupa os ministérios de Minas e Energia e das Comunicações, se contentará apenas com uma nova pasta – no caso, a Integração Nacional. Ou se, na prática, continuará como sempre esteve desde 1985: dividido entre governistas e oposicionistas.