Em meio ao constrangimento causado pelo “puxão de orelhas” feito pelo presidente Lula na véspera, o Diretório Nacional do PT aprovou hoje (10), durante reunião em Salvador, uma resolução política em que defende o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), chama o Banco Central (BC) de conservador e cobra sintonia entre a equipe econômica e os projetos do governo Lula.
De acordo com a resolução, as altas taxas de juros representam um obstáculo para o sucesso do PAC. "Para evitar a inflação, o BC mantém um patamar elevadíssimo da taxa de juros, que ainda se situa entre os mais altos do mundo. Por essa visão, o Brasil não pode crescer, especialmente se for com investimento público", destaca (leia a íntegra).
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"O segundo mandato de Lula não pode ser mera continuação do primeiro governo”, diz o texto, que reforça a necessidade de o partido aprender com os erros e os acertos da primeira experiência no Planalto. Entre as prioridades apontadas pelo documento, estão a retomada do crescimento e a realização de uma reforma político-institucional.
“Um segundo obstáculo a superar para que PAC tenha sucesso é o gerenciamento dos projetos, o que inclui a execução orçamentária. O terceiro obstáculo é contornar a pressão de setores que pretendem introduzir modificações desconformes com o Plano”, diz a resolução.
Retorno às origens
O documento também prega o fortalecimento das relações do partido com aliados históricos, como o PSB, o PCdoB e o PDT. A relação entre o PT, o PSB e o PCdoB se deterioraram com a disputa entre Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) pela presidência da Câmara.
O texto não pede mais cargos para a legenda, mas ressalta que o partido tem "quadros qualificados, política e tecnicamente, para ocupar qualquer função no segundo mandato do governo Lula". "É claro, por outro lado, que não se trata de um governo de um partido só. Trata-se de um governo de coalizão, cujo significado precisa ser melhor estudado e determinado pelo partido", pondera.
Na resolução, os petistas anunciam a realização de uma ampla conferência nacional de comunicação para discutir um projeto estratégico para o setor. “A democratização do país supõe a democratização da comunicação”, diz o texto.
Segundo o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), a aprovação do documento foi de amplo consenso e poucas divergências. "[O documento] trata basicamente de conjuntura econômica e da mobilização da sociedade em favor das novas medidas do PAC com base na conjuntura econômica", afirmou.
De crítico a criticado
Mas o sábado, na verdade, foi dia de indigestão para o partido por causa das declarações feitas pelo presidente na sexta, durante jantar de comemoração dos 27 anos da legenda. Ao fazer um apelo pelo fim das disputas internas, Lula disse que o partido “dá tiro no pé” e “tritura” a si mesmo. “Adoramos acertar nós mesmos”, afirmou.
O apelo do presidente foi rebatido pelo grupo que defende a rediscussão do programa e das bandeiras históricas do partido. Para a governadora do Pará, Ana Júlia (PT), o presidente foi infeliz em seu discurso porque reprovou o debate e as divergências.
“Não deixo de ser uma militante lulista, mas acho que não foi o mais adequado para o momento. Desestabilizar o debate interno não é a melhor proposta no momento que o PT se prepara para um terceiro congresso. Nosso maior patrimônio é a capacidade de bater e construir a unidade”, disse a governadora.
Um grupo ligado ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, divulgou à tarde um documento, intitulado "Mensagem ao partido", em que critica a postura do partido durante a crise que atingiu o primeiro mandato do governo (leia mais).
Campo Majoritário
Uma das signatárias do documento, a governadora criticou abertamente o predomínio do Campo Majoritário nas decisões da legenda. “Esse debate amplo, onde não se constitua um novo Campo Majoritário, nós não queremos outro Campo Majoritário. Nós queremos que o Partido dos Trabalhadores esteja a altura do desafio de colocar para o país uma nova agenda e um novo modelo de desenvolvimento”, afirmou.
Principal articulador do texto, Tarso Genro procurou minimizar o efeito das declarações de Lula. Petistas do Campo Majoritário entenderam que o apelo do presidente foi endereçado a Tarso. “O presidente não precisa me mandar recado, ele me orienta na hora que ele quiser”, reagiu o gaúcho aos questionamentos dos jornalistas.
Segundo o ministro, Lula quis estimular o debate, e não o contrário. “Acho que a fala do presidente estimula o debate, centrando o futuro do partido num objetivo estratégico. Essa visão que ele colocou, e que é muito clara para nós todos, de que ele não vai arbitrar as contendas do partido é essencial.”
Lula nega racha
Ainda à tarde, menos de 24 horas depois de fazer um apelo para o fim das disputas i