Pesquisa de opinião do instituto DataSenado publicada hoje pelo jornal Correio Braziliense mostra que, apesar de o Congresso Nacional viver envolvido em escândalos, a adoção de um regime parlamentarista no Brasil é vista com bons olhos. Do total de 1.094 entrevistados em todo país, 56% é a favor da alteração do sistema de governo e 23% é contra.
O paradoxo da situação é visto com cautela por especialistas. Professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o cientista político Luiz Werneck Vianna acredita que a informação colhida pela pesquisa do Senado deve receber importância apenas relativa. Parlamentarista e defensor da adoção da tese pelo seu partido o deputado petista Cândido Vacarezza (SP) duvida dos dados do DataSenado. "Defendo o governo de gabinete, mas sei que o povo é contra, quer votar no cidadão", diz.
Autor de uma Proposta de Emenda Constitucional que institui o parlamentarismo no Brasil, o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL) animou-se com o resultado do levantamento."Se fizermos uma campanha de esclarecimento, aposto que a população votaria a favor", sugere Collor.
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Os brasileiros já foram convocados a decidir sobre o sistema de governo duas vezes. Em 1963, o parlamentarismo obteve 12% dos votos. Trinta anos depois, avançou para 24,6% e o presidencialismo foi mantido, com 55,4% dos votos. "Apesar da derrota, a preferência só fez crescer", constata o ex-presidente.
Reforma política
Os entrevistados também foram questionados sobre pontos polêmicos da proposta de reforma política que tramita na Câmara – a reeleição, o financiamento público de campanha, a fidelidade partidária e o voto obrigatório.
Para 42%, a regra atual, que garante a chefes do executivo um mandato de quatro anos com direito a concorrer a uma reeleição está de bom tamanho. Outros 30%, porém, são contra a reeleição.
O financiamento público de campanha é rechaçado por 49% dos pesquisados e tido como a melhor alternativa por outros 31%. Para 13%, o dinheiro utilizado pelos candidatos a cargos públicos nas disputas eleitorais deve ter origem mista, tanto pública quanto privada.
Um alto percentual de 61% acredita que, quando eleito, o político deve ser obrigado a permanecer no partido pelo qual disputou as eleições por pelo menos três anos. Questionados sobre a posse do mandato, 29% afirmaram que o cargo pertence ao partido.
Por último, 61% dos entrevistados pelo DataSenado afirma que o voto obrigatório não colabora para o bom exercício democrático porque não gera o comprometimento dos eleitores.
A pesquisa, feita entre os dias 21 e 28 de maio, tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. As entrevistas foram feitas por telefone, com pessoas maiores de 16 anos sorteadas aleatoriamente. (Carol Ferrare)