Em entrevista por e-mail ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente Lula afirmou que pretende construir um governo de coalizão com aliados, liderado pelo PT, "para dar ao país a tranqüilidade de que ele necessita" e "garantir uma base de sustentação no Congresso". Lula disse que pretende “fazer pessoalmente quantos acordos forem necessários com a oposição sobre questões de interesse nacional” se for reeleito e deixou claro que quer o PMDB na base de sustentação. O presidente declarou ainda que "não vai mudar as regras do jogo" para tentar um terceiro mandato e que nunca defendeu a reeleição.
O presidente foi o único dos principais candidatos ao Planalto que não compareceu à sede do jornal, no mês passado, para o ciclo de entrevistas Eleições 2006 no Estadão. Apesar da ausência, o presidente se prontificou a responder às perguntas dos jornalistas Roberto Godoy, Celso Ming, José Nêumanne Pinto, José Márcio Mendonça, Dora Kramer e Josué Leonel – profissionais do Grupo Estado que entrevistariam o presidente no auditório do jornal e formulariam também perguntas de internautas.
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Na entrevista, o presidente defendeu a manutenção do superávit primário “da ordem de 4,25%” e a aprovação da proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso e evitou se comprometer com a redução da carga tributária. Prometeu, ainda, um "crescimento vigoroso" da economia e a aprovação de uma reforma política "urgente".
Quanto às denúncias de corrupção envolvendo o governo federal e integrantes da base aliada, Lula mais uma vez não disse por quem foi "traído" no escândalo do mensalão e responsabilizou o Ministério Público (MP) por não haver concluído até agora o inquérito do caso Waldomiro Diniz.
Ainda sobre os escândalos que envolveram a administração federal, o candidato petista afirmou que o governo" fez tudo o que precisava ser feito" para punir os responsáveis, em um processo de aprendizado "às vezes doloroso". Ele citou o afastamento de supostos envolvidos e a determinação para a abertura de investigações pela Polícia Federal (PF) e Controladoria Geral da União (CGU).
"Não colocamos obstáculo a que as outras instituições, como o Ministério Público e o Legislativo, com três CPIs, também investigassem com total independência (…). Nunca, nem um dia sequer, deixei de cumprir rigorosamente a agenda de governo em função da crise. Essa talvez tenha sido a principal lição: a de que o melhor remédio quando se têm problemas é trabalhar mais duro ainda.”
Veja alguns dos principais trechos da entrevista do presidente ao Estadão:
Coalizão
“Não poderia repetir uma coisa que não fiz e com a qual não concordo, como é o caso da cooptação. Se reeleito, vou assumir pessoalmente a construção das alianças que o governo tem de fazer para garantir uma base de sustentação no Congresso e levar adiante os projetos necessários para continuar mudando o Brasil. Vou conversar com os aliados, com o PMDB, com outros partidos políticos e com os governadores. É assim que vamos construir as condições políticas para dar ao País a tranqüilidade de que ele necessita.”
Terceiro mandato
“Se eu for reeleito, não há a menor hipótese de mudança nas regras do jogo para permitir um terceiro mandato. Aliás, nunca defendi sequer a reeleição nem mudei as regras do jogo durante o meu governo.”
Distanciamento do PT
“A estrela vermelha está presente na minha campanha. Sou fundador do PT e tenho muito orgulho do meu partido e da contribuição essencial que nós demos à democracia e aos direitos sociais no Brasil. O PT, nestes 26 anos, trouxe para a cena política atores sociais que jamais tiveram voz no País. Além disso, se existe uma pessoa no Brasil que não precisa de uma estrela para dizer que é do PT sou eu.”
Reforma política
“O Brasil precisa fazer a reforma política com urgência. Ela é a mãe de todas as reformas. Nosso governo sempre teve consciência disso, embora a iniciativa e deliberação a respeito do assunto caibam ao Legislativo e não ao Executivo. De toda forma, tivemos de atender a outras prioridades, como vocês sabem, porque recebemos um país praticamente quebrado. (…) Tenho certeza de que a grande maioria da sociedade sabe que é preciso mudar a estrutura política – com a fidelidade partidária, o financiamento publico de campanhas e outras medidas – para corrigir desvios e combater ainda mais eficazmente a corrupção.”
Reforma tributária
“Não faltou vontade política. Ao contrário, essa foi uma prioridade do nosso governo. Ninguém pode esquecer que, em abril de 2003, eu fui ao Congresso Nacional com 27 governadores para levar uma proposta de reforma tributária. A parte federal foi votada, mas a estadual, ainda não. No mês passado, fizemos novo esforço para tentar a aprovação, propusemos até a concessão de 1% a mais do Fundo de Participação dos Municípios. A oposição, porém, não quis votar. Caso mude de idéia, poderemos ter a reforma tributária ainda este ano, com a redução do número de alíquotas do ICMS de 27 para 5.”
MST
“As relações do nosso governo com o MST e com todos os movimentos sociais e organizações da sociedade civil são boas, e podem melhorar ainda mais. Elas são sustentadas pelo diálogo constante e por negociações em que os interlocutores se respeitam, mesmo quando debatem questões divergentes. Felizmente, passou o tempo no Brasil em que as organizações sociais eram tratadas como inimigas e o Estado não lhes oferecia um diálogo democrático.”