Em seu programa semanal de rádio, o presidente Lula disse hoje (20) que o Brasil precisa ficar “de antena ligada” para não ser arrastado pela crise financeira internacional. Segundo ele, a crise atinge, no momento, apenas os países ricos, mas pode avançar sobre os demais caso o cenário de recessão se agrave nos Estados Unidos e na Europa.
De acordo com o presidente, uma das principais iniciativas do governo brasileiro para impedir que a crise se instale no país tem sido aumentar a oferta de crédito.
“Nós estamos cuidando com muito carinho de não permitir que falte crédito. Ou seja, estamos cuidando da liquidez dos bancos brasileiros. Estamos cuidando de ajudar os setores que mais necessitam, como a agricultura e a construção civil. Ao mesmo tempo, nós vamos ficar olhando como é que está a questão do crédito no Brasil, para que a gente possa ficar incentivando e colocando mais recursos, facilitando com que as pessoas tenham acesso ao crédito no Brasil”, afirmou.
Ainda no Café com o Presidente, Lula fez um balanço das visitas que fez semana passada à Espanha, à Índia e à África. Ele se disse otimista com a possibilidade de retomada das negociações da chamada Rodada de Doha. Segundo ele, o assunto deve voltar à tona logo após as eleições presidenciais nos Estados Unidos.
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"Eu estou convencido que há o interesse do primeiro-ministro indiano, estou convencido que há o interesse dos Estados Unidos, há o interesse da União Européia, há o interesse do G20. Portanto, nós não podemos morrer na praia por conta de detalhes", destacou, referindo-se aos principais opositores das negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) para reduzir as barreiras comerciais em todo o mundo. (Edson Sardinha)
Leia a íntegra do Café com o Presidente:
"Apresentador: Presidente, o senhor está falando de São Bernardo do Campo, e nós estamos aqui nos estúdios da EBC, em Brasília. Na semana passada o senhor esteve na Espanha, na Índia e na África. Na Espanha, inclusive, recebeu um prêmio por colocar a língua espanhola como segunda língua no ensino fundamental brasileiro. Qual o balanço que o senhor faz dessas viagens?
Presidente: Luciano, eu penso que mais importante do que o prêmio foi a oportunidade que eu tive de discutir com o presidente de governo José Luís Zapatero, da Espanha, e com o rei Juan Carlos as relações entre Brasil e Espanha, sobretudo, as relações consulares para tratar dos brasileiros na Espanha, e também discutir a questão da cooperação no setor de energia. E, também, nós discutimos a crise econômica internacional causada pelo subprime nos Estados Unidos que já envolveu praticamente toda a Europa.
Apresentador: Presidente, o senhor tem falado que essa crise internacional é uma boa oportunidade para a retomada das negociações da Rodada de Doha. Aliás, a possibilidade de retomar essas negociações também foi um dos temas levados pelo senhor para a Índia, não?
Presidente: É, foi o principal assunto discutido entre eu e o primeiro-ministro Singh, na Índia, porque eu tinha conversado com o presidente Bush, e o acordo da Rodada de Doha ele não se deu por causa de uma divergência, sobretudo, entre os subsídios americanos, por seus produtos agrícolas, e o tratamento especial que a Índia deseja que seja dado a ela em função de que a maioria da agricultura indiana é a agricultura familiar. Eu conversei com o primeiro-ministro Singh e mostrei para ele de que neste momento de crise internacional era importante que nós concluíssemos o acordo de Doha, para que a gente pudesse apresentar ao mundo alguma coisa positiva, alguma coisa que devolvesse o otimismo à humanidade e, sobretudo, aos países que estão envolvidos na Rodada de Doha e aos países mais pobres também. Eu senti que há grandes possibilidades, e, depois das eleições americanas, de nós conseguirmos concluir a Rodada de Doha. Eu estou convencido que há o interesse do primeiro-ministro indiano, estou convencido que há o interesse dos Estados Unidos, há o interesse da União Européia, há o interesse do G20. Portanto, nós não podemos morrer na praia por conta de detalhes. Eu voltei da Índia mais otimista, e também porque participei da reunião do IBAS junto com a África do Sul e que foi extremamente importante fortalecer a trilateral que compõe Brasil, Índia e África do Sul. Também lá, nós discutimos a questão da crise econômica, discutimos a necessidade dos presidentes dos Bancos Centrais desses países, mais os ministros das Fazendas se reunirem para propor junto ao FMI [Fundo Monetário Internacional], junto às Nações Unidas e junto aos ministros das Fazendas do G20 uma proposta de aproximação ainda maior dos países em desenvolvimento do BRICs [composto por Brasil, Rússia, Índia e China] para que a gente possa enfrentar essa crise com possibilidade de derrotá-la, sobretudo, nos países emergentes.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. E em Moçambique, presidente, como foi?
Presidente: Luciano, essa ida nossa a Moçambique ela foi importante porque, primeiro, demonstra que a democracia está se consolidando em vários países africanos. A economia está crescendo em vários países africanos, e um país como o Brasil tem responsabilidade de transferir tecnologia para que esses países possam crescer, se desenvolver. E nós pretendemos, com esse comportamento do Brasil, fazer com que esses países se desenvolvam, melhore o fluxo na balança comercial entre Brasil e esses países, para que o Brasil tenha novas opções de comercialização. Mas, o mais importante de tudo, Luciano, foi o meu encontro com o ex-presidente Nelson Mandela. Eu tenho um profundo respeito e admiração pelo Mandela. Tinha encontrado com ele em 1994 e pude retomar as conversas com Mandela lá mesmo em Maputo. Eu voltei muito satisfeito dessa visita que eu fiz a Moçambique. Não só pelos acordos que nós firmamos com o presidente de Moçambique, o Guebuza, mas também pelo encontro que eu tive com o Nelson Mandela.
Apresentador: Presidente, passada mais uma semana da crise. Como é que está a situação. Qual é sua avaliação no momento.
Presidente: Olhe, Luciano, eu tenho conversado todo dia com o ministro Guido Mantega, tenho conversado com o presidente do Banco Central, o Meirelles, tenho conversado com outros governos, tenho conversado com empresários. Nós precisamos ficar de antena ligada. Analisando todo dia, acompanhando o que está acontecendo no mundo, porque, embora essa crise seja uma crise apenas dos países ricos, ela pode atingir os países BRICs, os países do G20, os países mais pobres, na medida em que se houver recessão na Europa e nos Estados Unidos vai ter implicações em outros países. Nós temos que tomar algumas medidas. Primeiro, aqui no Brasil, nós estamos cuidando com muito carinho de não permitir que falte crédito. Ou seja, estamos cuidando da liquidez dos bancos brasileiros. Estamos cuidando de ajudar os setores que mais necessitam, como a agricultura e a construção civil. Ao mesmo tempo, nós vamos ficar olhando como é que está a questão do crédito no Brasil, para que a gente possa ficar incentivando e colocando mais recursos, facilitando com que as pessoas tenham acesso ao crédito no Brasil.
Apresentador: Muito obrigado presidente Lula. Até semana que vem.
Presidente: Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana.
Apresentador: O Programa Café com o Presidente volta na próxima segunda-feira. Até lá."