Entre os diversos registros de vídeo feitos antes de se apresentar à Polícia Federal, o ex-presidente Lula disse em deles que teria fugido do país, se quisesse, e teve diversas oportunidades para tanto, como o asilo em embaixadas. A gravação foi feita por Lula em 7 de abril, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, pouco antes de ir ao encontro de agentes da PF do lado de fora do prédio, que estava cercado por milhares de militantes.
Feita por Ricardo Stuckert, responsável pelos registros audiovisuais do ex-presidente, a gravação foi publicada neste domingo (22) nas redes sociais do ex-presidente. Em um minuto e meio, o petista se dirige ao “povo brasileiro” e explica porque preferiu ficar no Brasil e dar início à pena de 12 anos e um mês de prisão.
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“Primeiro, que eu não tenho medo das denúncias contra mim, porque sou inocente. E não sei se meus acusadores são inocentes. Segundo, eu poderia ter fugido. Estive na divisa do Paraguai com o Brasil, estive em Foz do Iguaçu, vizinho do Uruguai e da Argentina. Eu poderia ter saído, poderia ter ido para uma embaixada”, afirma o ex-presidente.
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Assista ao vídeo:
“Não quis fugir porque quem é inocente não corre, enfrenta os problemas. E quero provar minha inocência. Se tem político que não tem honra e não se defende, eu tenho muita honra e quero me defender. É por isso que estou muito tranquilo e vou a Curitiba saber o que ‘seu Moro’ quer, o que ‘seu Dallagnol’ quer. Saber se eles estão dispostos a discutir comigo e debater, publicamente, os processos”, acrescenta o petista, referindo-se ao juiz que o condenou e o coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.
“Quero provar que eles estão mentindo a meu respeito. Eles sabem que [a acusação] é mentira e estão quase que serviçais da Globo. A Globo é que dá veracidade à mentira que eles contam, e eu resolvi enfrentá-los”, continua Lula, antes de exortar seus correligionários à “luta”. “Estou com a consciência tranquila dos inocentes.”
Trincheira e ação de cinema
O que se seguiu ao anúncio de que Lula, que desperta idolatria e revolta Brasil afora, seria preso paralisou o país com cenas de cinema durante três dias seguidos de noticiário intenso. Cercado de apoiadores, o petista ficou entrincheirado no sindicato, berço do PT em São Paulo, desde a noite da quinta-feira 5 de abril, quando o juiz Sérgio Moro ordenou sua prisão como prazo especial em razão da “dignidade do cargo” que Lula exerceu.
Na manhã do sábado (7) houve discursos inflamados – com destaque para o do próprio Lula, que falou por 55 minutos – depois da missa em memória de dona Marisa Letícia, esposa de Lula morta no ano passado. No caminho de volta do palco, improvisado em cima de um caminhão, para o sindicato, Lula foi carregado nos braços pela militância apaixonada, de maneira a produzir a foto que, certamente, será utilizada nas próximas campanhas do PT.
A certa altura do sábado (7), o prazo fixado por Moro estava vencido há mais de 25 horas, e a militância mobilizada continuava a impedir o início do cumprimento da pena de seu líder maior. Para tanto, cogitava-se a formação de um cordão humano para evitar a remoção do petista. A confusão foi grande no final daquela tarde, quando Lula se preparava para deixar o local. No instante em que seu carro se aproximava de uma das saídas do prédio do sindicato, seguranças tentavam abrir um portão do sindicato e, sem sucesso, iniciou-se um empurra-empurra, o que resultou no portão quebrado (leia mais e veja o vídeo da confusão).
Temia-se um confronto entre a polícia e os manifestantes. Na iminência da prisão de Lula, a situação deu sinais de que poderia sair do controle já na sexta-feita (6), em mais de 50 pontos do país, quando grupos como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Frente Brasil Popular promoveram ações como interrupções de estradas com barricadas e pichações com palavras de ordem em defesa do líder petista. A animosidade foi mantida nos dias seguintes, quando grupos pró e contra Lula saíram às ruas e, em situações pontuais, deixaram autoridades policiais sob alerta. Foram diversos os registros de agressão mútua.